• 7 • : "Missão de retorno: Donzela em perigo"
Assim que o Jimin recebe acesso para entrar na sala de reuniões, encontramos todos os meninos ao redor de uma mesa, além do meu pai. Parecia sério, como quem estava muito preocupado com algo. Nós dois sentamos nas cadeiras vazias restantes e um silêncio pesado pairou no ar por alguns segundos antes de começar. Lembro desses momentos de silêncio antes da tempestade. Seja lá qual era a próxima que estava por vir.
Enquanto Namjoon mexia em um tablet enorme, Jungkook mexia com uma lâmina entre os dedos, parecendo nervoso. Cada um na mesa demonstrava certa ansiedade pelo que estava prestes a ser dito.
Meu pai finalmente respira fundo e ergue seus olhos primeiramente na minha direção.
- Mikhail Abramov. - Me surpreendo ao ouvir falar esse nome. - Noris Abramov. - Percebo nervosismo na fala do meu pai, nervosismo este que também estava expressado no seu rosto, enquanto ele batia com os dedos na mesa. - Creio que todos lembrem desses dois nomes, certo?
- Mikhail Abramov é um amigo de longa data do senhor, correto? E Noris sua filha? - Namjoon diz. Ele estava certo. Meu pai faz que sim com a cabeça assim que ele o diz, com um pesar nos ombros.
- Chamei vocês todos aqui pra falar sobre a nossa primeira missão com todos juntos novamente. Não esperava que fôssemos ter uma tão cedo. E nem que seria algo desse tipo. - Ele respira fundo mais uma vez. É uma missão de favor, como se costume. Mas...não vamos receber nada em troca. Nem agora e nem no futuro. E peço que entendam. Mesmo sendo um líder responsável, não posso simplesmente fazer com que um amigo de longa data fique em dívida com a máfia. Principalmente Mikhail. Ele não poderia dar nada em troca, de qualquer forma. Espero que possam entender.
- Bem, estamos nesse serviço faz bastante tempo. Não estamos de fato precisando de retorno, não é? - Seokjin se pronuncia entre Namjoon e Yoongi, usando seu belo jaleco branco. - Por mim, estou dentro, como sempre, seja lá o que for. Não vou ficar em prejuízo e acho que é o mesmo para os outros.
- Acho que por ser uma ajuda para um amigo é especialmente importante e honroso. Estou dentro também. - Hoseok diz.
- Concordo com todos. Respeito o senhor como um líder sábio e um bom homem, senhor Burns. Não me importo em não ter retorno. - Namjoon, ao lado de meu pai, se pronuncia também.
- Eu agradeço que já tenham começado a se voluntariar tão rápido, mas é importante sabermos cada detalhe. Essa missão precisa de certo cuidado. Temos uma vida muito valiosa em risco. - Meu pai diz e direciona seu olhar diretamente para Taehyung, que parecia especialmente nervoso desde que ouviu o sobrenome dos Abramov. - Noris Abramov foi sequestrada. E os homens estão pedindo resgate faz tempo. Um valor absurdamente alto. Mikhail obviamente não pode pagar.
Quando meu pai profere tais palavras, Taehyung recosta bruscamente na cadeira e joga a cabeça pra trás, olhando pro teto. Me pergunto o que estava fazendo sua reação se destacar da dos outros. Todos pareciam igualmente tensos, mas tentando se manterem calmos, com exceção de Yoongi, que parecia excessivamente tranquilo, como tem agido desde que cheguei. Eu, que conhecia Noris desde antes deles, estava me sentindo muito preocupada também. Afinal, Noris sempre se mostrou tão tranquila que me doía o peito de a imaginar nas mãos de algum homem nojento. Com meu sangue fervendo, certo os punhos com o pensamento. Mas tento manter-me concentrada no que meu pai dizia.
Aliás, apesar de conhecê-la por muito tempo, acredito que nem seja possível me considerar uma amiga dela mais, visto que fazem tantos anos desde que a vi pela última vez. Éramos bem novinhas. E mesmo quando nos víamos, era raro, por conta do meu treinamento intenso no Núcleo.
- Mikhail me ligou ontem pela manhã, desesperado, dizendo que esteve tentando fazer contato comigo por muito tempo, mas estava sendo vigiado pelos sequestradores desde que levaram Noris. Observando qualquer movimento suspeito dele, prontos pra cumprir a ameaça de morte da Noris. Mas, hoje foi estranhamente mais tranquilo. Nenhum carro estranho fora de casa nem nada do tipo. - Ele pega um caderno que estava entre ele e Namjoon e o folheia até chegar em determinada página. - Então ele me ligou e passou algumas descrições físicas dos sequestradores. E, graças a isso, eu e Namjoon conseguimos uma pista de com quem estamos lidando.
Então ele vira o caderno na nossa direção. Sinto meu coração acelerar quando vejo o desenho aparentemente feito às pressas nas folhas do caderno. Uma lua crescente. Ouço alguns resmungos vindo de todos na roda. Não sou a única que ficou incomodada com esse adversário, então.
- Pai... - Ele olha pra mim. - ...Werewolves? O senhor tem certeza?
- O próprio Mikhail descreveu três pessoas. Dois homens e uma mulher. Todos eles com máscaras, mas todos com os braços de fora. Cada um com uma tatuagem de lua crescente no braço direito, e cada uma com uma cor. - Suspiro.
Werewolves. Um grupo secreto em ascensão. Não se sabe ao certo o que eles fazem, mas sabe-se que uma das coisas que fazem é oferecer serviços em troca de algo, como nós. São um grupo com quatro divisões no total, e cada uma delas representada com uma tatuagem de uma fase da lua no braço direito. Cada uma das quatro divisões oferece um serviço, mas a única que realmente sabemos o que faz, é a Lua Crescente. São sequestradores. Puramente. Trabalham pra qualquer um que tenha dinheiro o suficiente ou por alguma outra troca justa pra eles. Geralmente muito agressivos, mas não tão difíceis assim de lidar. Ao menos, não eram. E estão com a Noris.
- Com a ajuda do Namjoon, conseguimos roubar algumas informações e descobrimos algumas coisas sobre eles. O chefe deles vai dar um baile hoje à noite. E descobrimos uma coisa importante também, dentro do plano deles, que explica porque eles se recolheram das ruas. - Ele hesita antes de continuar. - Hoje é a deadline do pagamento de resgate. Eles pretendem matar a Noris durante a festa. Por volta da meia noite.
- O quê?!?! - Taehyung se pronuncia pela primeira vez desde o início da reunião, colocando as duas mãos na mesa e se inclinando pra frente, parecendo ainda mais nervoso do que antes. E isso faz com que minhas suspeitas comecem a deixar de serem suspeitas e virarem certezas. Imagino se ele tem algo em particular com Noris, que eu não saiba. - Senhor Burns precisamos fazer alguma coisa!!
- Eu sei, Taehyung. Nós iremos. Eu entendo como se sente, mas por favor, se acalme. Nós temos um plano pra lidar com isso. Eu e Namjoon temos falado sobre isso desde ontem, quando recebi a ligação de Mikhail, e sabemos o que vamos fazer. Então peço a colaboração de todos. - Meu pai diz, calmo, com um certo tom severo, mas com um um olhar e jeito compreensivos o bastante para corrigir e acalmar Taehyung, que se relaxa na cadeira novamente. Ou tenta.
- Perdão, senhor Burns. - Ele diz, ainda parecendo certamente frustrado.
- Bem. Atenção agora. Sabemos qual o local e tudo que precisamos fazer até a hora de agir é planejar por onde podemos entrar e como podemos nos dividir. Teoricamente são poucos homens. Não querem criar alarde por conta do baile, mas vamos nos preparar pro pior. Junto com a nossa equipe comandando grupos de aliados do outro prédio do território do Núcleo, podemos concluir essa missão com poucos problemas...ou ao menos é parte do plano. - Meu pai diz, dando um sorriso nervoso no final do discurso. - Aval final dos agentes disponíveis?
Meu pai põe a mão no centro da mesa e Hoseok, Namjoon e Seokjin se juntam a ele na hora e sorriem.
- Estou dentro. - Taehyung diz de imediato e põe sua mão no meio. Seu olhar brilhava com tamanha determinação que queimava. Dava quase pra sentir o quanto ele desejava estar nessa missão. O quanto ele queria sair de lá ganhando. Ele gosta dela.
- Também estou. - Jimin, ao meu lado, também se voluntaria.
- Contem comigo. - Jungkook sorri e larga sua lâmina na mesa para unir sua mão as dos outros.
- Vou levar flechas extras essa noite. - Yoongi diz antes de empilhar sua mão com as dos outros.
Meu pai olha pra mim.
- Margot? - Todos olham pra mim também.
Troco breves olhares com cada um, demorando um pouco mais em Jimin que sorria pra mim como se zombasse da minha coragem. Sorrio de volta com as mãos nos braços da cadeira, prestes a se unirem as deles.
- É claro que estou dentro. Vamos foder uns filhos da puta. - Me inclino na direção do centro da mesa. - E qual é o plano?
Meu pai sorri e puxa de debaixo da mesa um papel enorme, que ao abrir vemos que era uma planta de uma casa, provavelmente do lugar que iríamos invadir.
- Certo. Esse é o mapa do local. Eu tenho sugestões mas quero a opinião de todos. Principalmente de vocês, Hoseok e Jimin. Agora, escutem com muita atenção... - Meu pai começa a tagarelar sobre a missão, e sinto o frio na barriga vindo rastejando, bem devagar, tentando não ser notado tão claramente agora, dando apenas o breve ar da sua presença, como quem singelamente anuncia que algo muito perigoso virá.
🌘
Está escuro na floresta. Estamos caminhando fazem alguns minutos nesse breu que as copas das árvores formaram, tornando a noite ainda mais sombria, onde nem as luzes das estrelas e da lua podiam nos tocar. Dependentes dos óculos de visão noturna, estamos sendo liderados pelo meu pai e pelo Hoseok, que estão andando mais à frente do grupo. Fomos deixados aqui pela equipe e nos separamos. Além dos dois na posição frontal, Jimin também nos me acompanha, ao meu lado, ligeiramente afastado. Taehyung, Jungkook e Yoongi foram por trajetos diferentes com alguns outros homens que não conheço por trajetos mais calmos. E nós, os que conseguem se esgueirar pelas sombras com mais facilidade, viemos pelo trajeto mais perigoso. Aquele que leva para dois pontos mais movimentados: O portão principal e o alojamento.
Está frio e úmido ao nosso redor, e o silêncio que a ausência dos passos que ouvíamos antes quando o grupo era maior causa uma leve solidão, uma ligeira sensação de que estamos sozinhos quando não deveríamos. Vulneráveis. Mas precisava ser assim. Quanto mais pessoas, mais agentes para lutar, sim. Porém, também teríamos mais barulho, mais movimentação no mesmo espaço. Uma possível fraqueza do nosso grupo que poderia nos entregar considerando o lugar para onde estamos indo. Com o destino da nossa caminhada, quanto menos gente, melhor. O que podemos fazer agora é confiar na furtividade de cada um, porque daqui em diante, o silêncio precisará ser cada vez mais agoniante. Mas absoluto. Qualquer som no momento errado, e a missão pode desmoronar. Vamos ser descobertos, uma confusão começará, e possivelmente, seremos mortos, neutralizados, e denunciaremos o ataque, comprometendo os demais. Precisamos ser calmos e precisos, ou tudo acaba para nós.
Ainda estamos um pouco distantes da local, e enquanto todos estão mandando a quietude o máximo possível, Hoseok e meu pai apenas se comunicando quando necessário por sussurros, eu e Jimin caminhamos cada um no seu ritmo, ele parecendo concentrado, enquanto eu estava imersa em pensamentos confusos. Estava empolgada por estar de volta, vendo meu plano e de meu pai de reunir um bom grupo de parceiros dando certo, finalmente ao lado dele de novo e sendo capaz de lutar. Preocupada com como faríamos para a missão suceder sem problemas até o fim, para podermos salvar Noris e entregá-la para Mikhail em segurança. Estava insegura, com medo de atrapalhar com o espaço em branco na minha prática em campo que ficou depois de passar anos com a minha mãe. Fiz o máximo possível para não perder tudo o que aprendi, mas foram três anos, ainda assim. Estou enferrujada e não há como negar. Só espero que eu possa ajudar, e que eu não atrapalhe, acima de tudo.
Suspiro, olhando ao redor, preocupada com a possibilidade de uma pequena distração causar qualquer problema. Toco no coldre na minha cocha, onde minha arma estava guardada. Senti-la sob meus dedos trazia uma leve sensação de mais segurança, apesar do metal frio.
Volto a atenção de forma mais confiante pro caminho, pisando de forma mais firme e olhando mais reto e com postura em frente. Não quero recomeçar de forma covarde. Preciso ter coragem e fazer o possível. Vamos resgatar Noris.
- Não tem muitas missões de vida e morte no dia a dia normal da capital moderna, né? - Escuto a voz dele, Jimin, sussurrando do meu lado. Ele tinha aproximado mais para falar, como Namjoon e Hoseok tinham feito pra se comunicar sem causar alarde. Olho pra ele e vejo um leve sorriso no seu rosto enquanto andava.
- É tão notório que estou nervosa? - Pergunto com uma risada abafada, soltando ar pelo nariz. Olho para os pés por um segundo.
- Ah, na verdade não. Eu notei porque tenho habilidades especiais. - Jimin entona de forma orgulhosa, erguendo sua postura.
- Habilidades especiais? De que tipo? - Olho para ele, interessada no caminho que a graça dele ia.
- Do tipo que me faz conseguir notar detalhes nos gestos físicos das pessoas a ponto de entender como elas estão se sentindo. - Ele me olha.
- Ah, eu sei como se chama. É paixão. - E assim que digo, ele desvia o olhar, rindo abafado como eu.
- Claro. - Ele responde, um pouco mais baixo que antes.
- Mas cuidado. Eu também tenho essas habilidades.
- Ah, tem, é? - Ele diz, olhando pra mim se rabo de olho, enquanto passa a mão pelo cabelo.
- Tenho sim. E o que você está fazendo agora, desviando o olhar, mexendo no cabelo, encarando seus pés...é constrangimento. - Digo, e ele flexiona os músculos do corpo e movimenta o rosto como quem quer se livrar de algo ou alguma sensação, forçando seriedade. - Não precisa fingir. Mas recomendo que siga a missão, agente. Ou pode ser pego de surpresa. Além de que...assim eu vou realmente acreditar que me conhecer e ter certas experiências comigo te afetou de verdade.
Dou um tapinha nas suas costas e ele em olha com as sobrancelhas erguidas e lábios partidos, com um olhar fixo e ligeiramente surpreso. Eu sorrio. Em seguida, ele meneia com a cabeça com um sorriso indignado.
Alguns segundos se passam em silêncio. Estávamos chegando perto. Fico séria novamente. Um pouco tensa. Está chegando a hora. A missão vai começar de verdade para nós. O medo sobe um pouco pelo meu corpo, querendo dominar meus pensamentos. Cerro os punhos. Preciso relaxar.
- Estamos juntos. A missão é nossa. Sea poie em nós que nos apoiaremos em você. Qualquer coisa, respire e conte até três. - Olho para o lado surpresa com o mísero segundo que baixei a guarda com o nervosismo e Jimin apareceu no pé do meu ouvido, recitando tais palavras. Olho para ele e ao encontrar seus olhos, me prendo neles involuntariamente, sabendo que fazia isso porque queria e precisava de alguém para me dar um chão. Estava nervosa demais.
Os olhos de um aliado. Era o que eu precisava.
Seus lábios se curvam em um sorriso gentil. Meu coração se acalma. Mesmo que apenas um pouco. E então sinto que vamos conseguir. Mesmo que apenas um pouco.
Aceleramos levemente o passo para alcançarmos do meu pai e de Hoseok, que estavam parados atrás de uma grande árvore mais à frente. Chegamos em um dos postos. Paramos perto dos dois. Meu pai inicia a fala com uma voz cautelosa e suave antes que qualquer um se pronuncie. Seus olhos estavam fixos nas luzes que vinham detrás do muro.
O alojamento.
- Margot e Jimin, deixamos vocês dois aqui. Existe um ponto de acesso um tanto vulnerável para vocês entrarem. Um rio que passa por debaixo do muro, descendo através de um arco. O espaço é estreito e baixo, mas devem conseguir passar. Com certeza tem guardas do outro lado, no entanto, por isso, tomem muito cuidado. - Meu pai narra tudo com detalhes para nós dois. Ambos ouvidos com extrema atenção, como se cada detalhe fosse fatal. E é.
- Essa é a última separação do nosso grupo. Não fiquem sozinhos. Façam qualquer coisa em dois. É mais seguro. - Hoseok diz, por fim.
- Tudo bem. Não se preocupem. Cuidaremos um do outro. - Jimin assegura, tocando o ombro de Hoseok.
- Nós vamos para o portão. Sabem onde é. Não se esqueçam. Qualquer coisa, falem com o Namjoon. Ele está sempre na escuta. - Meu pai toca no próprio ouvido, onde o ponto que nos dava acesso a comunicação com Namjoon estava. - Se tiverem dúvidas ou precisarem de ajuda com qualquer coisa técnica ou eletrônica, é com ele. Passagem por sistemas também.
- Perfeito. Pode deixar. - Respondo, soltando ar enquanto falo. Sinto receio de estar passando nervosismo demais, e me pai logo me nota e me lança um olhar preocupado, mas calmo. Seu sorriso se ergue como um sol sob eu mundo aterrorizado.
Só me senti assim na minha primeira missão, antes atrás. Como é estranho.
- Filha, você consegue fazer isso. É uma Burns. Está no seu sangue. Você marcou na pele quem você é. Nada pode te tirar isso. Sejam uma equipe, e tudo vai dar certo. Estamos juntos. - Ele me diz devagar, derramando em meus ouvidos estas palavras preciosas, como Jimin fez. Suas mãos se fechando no meu ombro e me apertando, dando sensação de firmeza e realidade.
Estamos aqui. E isso precisa ser feito. Precisam de mim porque sou confiável. Capaz. Forte. Habilidosa. Não me daria essa tarefa se eu não conseguisse. Preciso me acalmar. Pelo meu pai. Pelo Jimin. Pelo Hoseok e os outros. Por mim. E pela missão.
Assento rapidamente e sorrio, ainda levemente nervosa. E segundos depois, estávamos separados. Meu pai e Hoseok foram pelo lado contrário, buscando o portal principal, enquanto eu e Jimin fomos deixados perto do rio que deixava o alojamento. Vejo os dois sumirem da minha visão e meu coração aperta um pouco.
- Vão ficar bem. - Olho para Jimin, que olhava para os dois com um olhar tão tenso quanto o peso no meu peito. Depois ele franze o cenho e olha pra mim, assentindo. Faço o mesmo de volta. - Vamos.
Sigo Jimin por mais alguns metros e logo começamos a ouvir vozes. Vozes graves e passos pesados. Além disso, ouvimos o som da correnteza. Fraca. Mas sinal claro de água. Estávamos perto do rio. E perto do inimigo. Precisávamos suavizar os nossos passos e preparar os olhos para observar minuciosamente o ambiente. Nos agachamos na sombra do grande muro, de costas para ele, Jimin com sua bolsa grande e preta, parecendo pesada, encostado na parede e olhando na direção aposta a mim. Sua respiração estava pesada, apesar de parecer determinado e focado. Seu peito inflava por debaixo do colete à prova de balas. Estávamos iguais. Nervosos mas dando o nosso melhor.
Abaixada igual a ele, tiro os óculos de visão noturna. Não seriam mais necessários. Logo, ele tira os dele também. Nossos rostos já um pouco suados são levemente iluminados pelas luzes que escapam para fora do muro pelo arco baixo e apertado por onde passava o rio. Era onde estávamos abaixados, nos esgueirando para observar o outro lado. Procurando uma oportunidade para agirmos.
Observo tudo o que já ao redor. Parece que estamos em um acampamento. Provavelmente um lugar onde os capangas do chefe podem treinar e estarem sempre fortes e prontos para defendê-lo se for necessário. E é exatamente o que torna essa uma das regiões mais difíceis de entrar. Tem muitos soldados ao redor. É muito arriscado. Mas precisávamos nos dividir e tentar buscar por fraquezas, diminuir a quantidade de inimigos se possível sem causar furdúncio, e acima de tudo, encontrar Noris. Ela poderia estar me qualquer lugar, literalmente. Se tem algo que os Werewolves são, é ousados. Eles se garantem demais para um grupo que são, aparentemente, os menores na hierarquia da organização a qual eles pertencem. Mas não deixam de ser competentes. O que quer dizer que fariam de tudo pra esfregar na nossa cara o que queremos, ao mesmo tempo que não estão expostos o suficiente pra serem estúpidos e fáceis de vencer. São um grupo grande e agressivo. Noris pode estar em qualquer lugar, mesmo que seja na nossa cara, mas não será fácil encontrá-la. E menos ainda salvá-la.
Novamente analisando o acampamento, vejo diferentes barracas, a maioria bem grande. Refeitórios, dormitórios, armazéns. Todos com símbolos pintados nas suas respectivas barracas. Tão organizado quanto poderia ser.
- Estão até que bem. Para meros servos. - Digo, não perdendo um trecho de vista. Deve haver algum ponto fraco. Ouço uma risada baixa vinda de Jimin.
- Pois é. São todos bichinho de estimação. O problema real está dentro da mansão. - Sigo o dedo que ele aponta na direção de um grande foco de luz vindo detrás de um agrupamento de árvores ao longe. Provavelmente o lugar onde tanto queríamos chegar. Vibro com a esperança que bate no peito de encontrarmos Noris por lá. - São com aqueles de quem deveríamos ter medo mesmo.
Suspiro. Só de pensar em homens e mais homens ao redor de uma garota que não consegue se defender como Noris, meu sangue começa a correr mais rápido. É tamanha a raiva que sinto. Esse monte de músculos orgulhosos que se erguem e fazem o que querem. É mais como uma implicância pessoal minha, mas não posso evitar sentir mais repulsa do que sentiria se fossem mulheres. Esses caras me dão nojo. É tudo o que sinto. E é o que me move.
Volto meus olhos para uma parte do acampamento que não tinha reparado antes. Um campo de corrida de um lado, vazio e quieto. E do outro, uma área quadrada muito grande e rodeada de arame farpado. Não parece ter nada dentro. Seria uma nossa sessão? Ou um espaço reservado? Após pensar por mais alguns segundos, penso em uma possibilidade. Meus lábios se partem em surpresa.
- Um campo minado... - As palavras saem como brisa. Baixas. Suaves. Mesmo assim, Jimin olha pra mim.
- Binóculo. Preciso do binóculo.
Jimin me entrega o binóculo avançado hesitante por não entender meu ponto, e então aproximo o máximo que posso pelas lentes, tentando enxergar o chão. Confirmo minhas suspeitas quando avisto pequenas luzes vermelhas emergindo. Empurro o binóculo na frente de Jimin. Ele o pega lentamente e põe na frente do rosto, tentando ver o que eu vi. Seus lábios se partem como os meus quando ele percebe.
- Eles tem um campo minado! - Ele exclama, tirando os binóculos da frente do rosto e trocando olhares comigo. Tão surpreso quanto eu.
- Eles realmente construíram um acampamento bem completo. Imagino quantas coisas mais existem sob essas barracas. Devem treinar de tudo aqui, realmente. Esse campo deve ser pra treinar cautela e velocidade como um que tínhamos no núcleo. Mas esse parece mais primitivo. Combina bastante.
- Bom. - Ele ri abafado. - Mas não vou negar que me deixou interessado em saber quanto essas belezinhas fazem. - Ele volta a observar o campo pelo binóculo e eu volto a observar outros pontos.
- Divirta-se analisando. - Rio abafado também. - Só não esqueça da missão, garoto estalinho.
- Pode deixar, Christina Gray.
Meneio com a cabeça e continuo a vigia. Com tantos homens ao redor, vai ser realmente difícil encontrarmos uma forma de entrar sem sermos vistos e causar um estrago no plano. Mas precisamos levar as coisas pra frente. Noris não tem muito tempo. O problema é: Como passar por todos eles?
- Tem muitos deles. - Observo os pés se movimentando para lá e para cá. Alguns, mais ou menos perto de onde estávamos, pareciam realmente estar em patrulha, enquanto outros estavam com a guarda mais baixa, conversando sentados mais distantes de onde os outros e nós dois estávamos. - Temos que ser cautelosos. Aqueles caras mais nos fundos, conversando, se perceberem alvoroço vão se envolver também e isso vai tornar as coisas mais complexas. O plano precisa se livrar de um sem chamar atenção de outro. Pensei em algum elemento de dist...
Estava falando sem olhar para o Jimin. Por isso me surpreendo quando vejo ele tirar um objeto oval que cabia exatamente na sua mão fechada. Quando ele o coloca no chão e clica em um botão no centro superior do objeto, ele cria pequenas pernas e se ergue do chão, piscando algumas luzinhas.
- Mas que merda é essa?! - Viro pra ele de súbito.
Ele olha pra mim e sorri.
- Ah, é um android. Namjoon quem criou ele. Se chama SB001. É um besouro. Ele entra no modo furtivo e consegue passar despercebido em qualquer lugar. É pequeno, rápido, silencioso e tem minha característica favorita... - Ele para sua sentença no meio com um tom sombrio.
- ...que é? - Pergunto, mas fico sem resposta.
- SB001, execute R1 e vá até as minas. Quando chegar lá, execute R5 ao lado de uma delas. E você não deve subir nelas. - Jimin dá comandos que não consigo entender e após alguns segundos, o android começa a andar rapidamente na direção das minas.
- Jimin, o que você está fazendo exatamente? O que são R1 e R5? E no que esse android vai ajudar na nossa infiltração? - Pergunto, me aproximando dele.
- São comandos. Cada um dos 5 R's que os androids do tipo dele tem consiste em uma regra que eles tem que seguir. Está na diretriz deles. Na programação. Namjoon cria e ele seguem. R1 significa analisar ou mapear. Serve pra eles entenderem o lugar que eles estão ou o que estão encarando. E bem...quando ele executar R5...você vai entender como ele ajuda na nossa infiltração. Apenas observe. - Jimin me entrega o binóculo novamente e quando avisto SB001, tento acompanhá-lo. É bem rápido, então é fácil perdê-lo de vista.
Mais alguns metros à frente, ele entra no campo minado por debaixo do arame farpado. Ele se afasta um pouco da região por onde entrou, indo na direção das minas mais afastadas dos soldados. Pouco tempo depois, ele para. Fico esperando algo acontecer, muito focada na imagem do android parado. Por isso, quando o android simplesmente EXPLODE. Me desequilibro e quase caio sentada. Por pouco consigo ficar de pé. Aliás, agachada. Como estamos desde que começamos a observar. E é uma explosão bem maior do que seria esperado de um android tão pequeno. E faz muito estrago, uma vez que explode algumas minas consigo com o tamanho a sua explosão. O estrondo assusta todos ao redor e consigo sentir o chão tremendo.
Rapidamente muitos soldados começam a gritar ordens entre si e correr com armas na direção da explosão. Mesmo os homens sentados se juntam a um grupo que corre pra lá, e poucos restam perto de nós. O caminho agora está muito mais aberto.
- Bom, a R5 significa...
- Autodestruição. Entendi. - Interrompo Jimin, com um tom de voz ligeiramente mais alto, já que não tem quase ninguém perto de nós agora. Ele sorri como quem diz "de nada".
- Agora podemos prosseguir, não? Se formos rápidos vamos conseguir adiantar bastante deslocamento.
- Sim. Certo, vamos então. - Nos viramos na direção oposta ao das minas explodindo e começamos a andar por detrás das plantas, ainda agachados. Observando com calma tudo ao nosso redor, rapidamente nos deslocamos debaixo do céu estrelado.
Conseguimos.
É o que ecoa pela minha cabeça.
Finalmente estamos dentro, e ninguém nos notou.
É no que quero acreditar.
Mas tudo está parecendo muito fácil e isso me preocupa. Podem ser os mais baixos da hierarquia, mas ainda são parte de uma grande organização. Sinto que estamos subestimando esses caras.
Será que nos notaram mas estão deixando que entremos? E se estiverem planejando algo maior? E se for muito pior do que achamos? O que acontecerá conosco e os outros?
Um monte de inseguranças entra na minha mente enquanto passamos pelas folhagens. Paramos em alguns momentos para ter certeza de que ninguém está nos seguindo ou suspeitando de algo. Tudo parece estar limpo.
- Burns. - Jimin chama pelo meu nome em um tom calmo. - Precisamos checar as barracas. Pode ser perda de tempo, mas não sabemos onde a Noris está. Acho que vale a pena checar. Não parece tão idiota considerar que ela poderia estar aqui uma vez que tem tantos homens capacitados ao redor.
- Tudo bem. Vamos então. Tem uma aqui perto. Podemos começar nela. - Olho para a pintura feita no tecido. - É o refeitório.
- Tudo bem. Vamos então.
Lentamente nos aproximamos pela traseira da barraca e tentamos passar por um beco entre esta e uma outra barraca menor. Está tudo parecendo muito quieto. E continua assim enquanto nos aproximamos da entrada da barraca. Um pequeno pátio se abre na nossa frente. Olhamos ao redor, um pra direita e o outro pra esquerda. Ninguém. Nem uma alma viva. Viramos para a nossa direita sem baixar a guarda. Devagar, e paramos na entrada. Estava aberta, com o tecido que a fecharia preso para o lado.
- Vigia a retaguarda, Burns. Me avise caso alguém volte. - Hesito por um momento antes de assentir, com receio de deixar ele sozinho. Mas como não estaríamos longe, concordei.
- Qualquer coisa me chame. - Ele faz que sim e entra.
Eu me viro para trás e tiro minha arma do coldre, segurando ela firmemente. Olho para todas as direções a todo momento, com medo de um capanga desses imbecis entrarem no pátio a qualquer momento, vindo dos curtos becos entre as barracas. Qualquer um deles poderia estar bem ali, me observando, sabendo que estamos aqui e pronto pra atacar a qualquer momento. A insegurança dessa possiblidade me dá arrepios. Me deixa mais tensa ainda considerar o quanto esse tipo de nervosismo pode atrapalhar na missão. Preciso me concentrar. E parar de deixar cada pensamento inseguro meu me tirar da realidade toda vez.
Foi quando ia dar um passo à frente para olhar melhor o perímetro, que ouvi um som brusco de golpe seguido de queda. Logo depois, um som de tiro. Olho para trás rapidamente, minhas duas mãos segurando na arma agora. Meu corpo se enrijece, contraindo os músculos de nervoso. A primeira coisa que meus olhos encontram quando me viro é Jimin jogado no chão, se arrastando na minha direção.
- Não! - Eu grito.
Memórias ruins me vem na mente, e volto meus olhos para a pessoa que o derrubou no chão. Um homem alto, largo, cheio de cicatrizes e um sorriso maníaco nos olhos ia na direção do Jimin como se encarcerasse uma presa. Não tinha pressa. Parecia ter certeza de que estava vencendo. E parecia estar mesmo. O rosto de Jimin estava ferido e roxo. Sangue escorria pelo canto da sua boca. Deve ter levado um soco. Ele se arrastava tentando pegar sua arma, que estava mais perto de mim, pro lado da saída. Não vejo mais ferimentos. Me pergunto quem recebeu o tiro.
Foi tudo muito rápido e confuso. Vi o homem tentando agarrar Jimin pelo pé, e antes que o conseguisse analisar bem onde mirar, já estava atirando. Dois tiros atingiram o homem, que se ajoelhou grunhindo de dor. Me abaixei na direção do Jimin, pegando sua arma no caminho e dando na sua mão.
- Ele estava escondido... - Ouço Jimin sussurrar no meu ouvido quando o puxo pra perto de mim.
Olho para o homem novamente, que se contorcia bem na nossa frente. Me levanto rapidamente com Jimin que não parecia sentir tanta dor assim e conseguiu seguir andando sozinho, e saímos correndo dali o mais rápido possível. Porém, não conseguimos ir muito longe até ouvirmos outros disparo. Dessa vez, eu sou o alvo. Uma dor insuportável me atinge e eu tropeço. Uma dor profunda deixa minhas pernas bambas. Me ajoelho no chão. Olho pra minha coxa direita. Levei um tiro na perna. Ótimo.
- Burns! - Ele é quem se abaixa agora para me ajudar a me erguer novamente. Sou puxada do chão muito rápido e tento mover as pernas e forçá-las a andar, apesar da dor extrema. - Vamos, não temos tempo pra isso. Vamos morrer se ficarmos.
E sou arrastada pra longe dali.
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