29 - MEMÓRIAS QUE MATAM
O silêncio na sala que fora usada para torturar Caetano é sepulcral.
Um desanimo e falta de fé misturados com desespero toma conta de todos ali dentro.
Caetano está desmaiado e as meninas choram em silêncio.
John Lennon chega no local.
Entra na sala e ver Caetano desmaiado.
Aproxima-se dele como um leopardo que espreita sua vítima, ele abaixa, para logo em seguida fazer um afago em seu rosto e ver que lhe fora tirado o dedo.
As três meninas se mexem sentindo uma presença maligna no recinto.
Sem fazer esforço, John ergue-se elegantemente e sai da sala, da mesma forma como entrou: Em silêncio.
Ele olha em volta e ver o objeto que procurava... O dedo que está sobre um pano.
Perto de um furador... Pega-o e faz um carinho, depois o beija. Suspira. Coloca-o de volta no pano. E o guarda.
Suas memórias viajam para um passado recente... Lembra-se da primeira vez que se encontrou com Caetano, logo depois que voltou a Recife, para colocar em ação seu plano de vingança.
Ele já havia seguido Caetano vários dias e nessa noite, aconteceu o inesperado depois de muita espera: O namorado dele não foi ao encontro, aconteceu alguma coisa e não apareceu mais.
John viu Caetano desolado. Puxou conversa, ofereceu um drinque e conversaram bastante, trocaram telefone e depois cada um seguiu para um lado.
Uns dois dias depois conversaram por WhatsApp, que para surpresa de John, foi Caetano quem entrou em contato com ele.
— Carlos é o Caetano! Lembra-se de mim?
— Caetano?! Como poderia esquecer? Ainda hoje estou rindo! Você não existe! — Responde surpreso Carlos/John.
— Lógico que existo e estou ligando por que tenho dois ingressos para uma apresentação no Teatro Santa Isabel, da Orquestra Filarmônica do Recife!
— Sério? Que maravilha, mas e seu namorado? — Pergunta Carlos/John.
— Trabalhando! Ele está fazendo uma peça jurídica para defender um cliente e não vai poder ir! Não queria ir sozinho!
— Você não vai! E ele não se importa que vá acompanhado?
— Claro que não! Confiamos um no outro! Você disse que era de São Paulo, e não sei se conhece o Teatro Santa Isabel.
— Isso mesmo não conheço! Morei um período na Itália, mas, mau marido morreu, então escolhi o Recife para recomeçar minha vida.
—Trabalha com que mesmo?
— Com a arte! Sou um "Marchand"!
— Então você vai amar conhecer o Teatro Santa Isabel! — Anima-se Caetano.
— Ele é tão importante assim? — John Lennon conhece a história do teatro.
— O Teatro de Santa Isabel é um teatro com um genuína arquitetura neoclássica, da primeira metade do século Vinte brasileiro. Foi uma homenagem à Princesa Isabel.
— Interessante, comecei a gostar... E o que mais? — John realmente começa a ficar interessado pela inteligência de Caetano e a forma empolgada dele conversar.
— Bem, o Teatro recebeu visitantes ilustres como o imperador Dom Pedro II ou Joaquim Nabuco em suas campanhas pró abolicionista.
— Hum, aposto que o Teatro Santa Isabel já cantou o amor.
— Sim! Foi nele que Castro Alves conheceu o seu grande amor: Eugénia Câmara.
— Será que vou conhecer também meu grande amor nesse Teatro? — John sorri para Caetano que desconversa e rir timidamente.
Estava tudo indo conforme o combinado, Caetano estava mordendo a isca ou será que foi John que havia sido fisgado?
A noite chegou, Caetano já estava o aguardando na entrada do Teatro.
Na verdade, John nunca havia entrado nele, logo, ficou ainda mais fácil de se impressionar com a belíssima estrutura.
A Orquestra Filarmônica do Recife, única apresentação, estava como sempre inspirada.
Terminada a apresentação foram ao Recife Antigo, no Bairro do Bom Jesus,
Caetano ainda falava empolgado sobre a apresentação.
John escutava admirado, e fazia questão de ouvir Caetano falar mais coisa sobre o Teatro de Santa Isabel.
O quanto amava aquele local.
Era onde ele viajava no tempo e nos acordes.
Numa tarefa árdua, até por que o Brasil não tinha profissionais qualificados, como engenheiros e arquitetos ou mesmo os pedreiros e carpinteiros não tinham condições de executarem a obra.
— O Teatro Santa Isabel foi o primeiro Teatro a ser construído por civis.— fala Caetano, olhando os artesanatos sangria do Bom Jesus.
Os dois procuraram um bar e entraram pra conversar mais à vontade.
Eles sentaram e logo chegou um garçom.
— E sempre foi chamado de Teatro Santa Isabel? — John perguntou fomentando ainda mais a aula gratuita de história, e pediu ao garçom, um Dry Martine para Caetano e uma dose de uísque 21 anos para ele!
— Não! Começou a ser chamado do Teatro de Pernambuco, porém um pouco antes da sua inauguração, mudaram o nome para Teatro Santa Isabel. — Caetano provou o "Dry Martini", John achou um tempo no decorrer da explicação, para pedir um brinde.
— Um brinde à nossa amizade!— Comemora John.
— Sim! Não tenha dúvidas. — Eles brindam — Sei que o assunto está chato, parei.
— Estou adorando a conversa. Gosto de aprender! — John galanteia a sabedoria de Caetano.
— Você está gostando dessa conversa? Você é mais cara de pau que imaginava! — Caetano pergunta rindo.
— Lógico que estou! Não estou mentindo! — John Lennon sorrir.
— Sei que não está, mas vou parando por aqui..
John Lennon escuta Douglas chegando e volta, sai das lembranças, olhar o dedo de Caetano na sua frente, e recebe de Douglas, um abraço pelas costas.
— Amor, chegou faz muito tempo? — Pergunta Douglas apertando o abraço.
— Há uns vinte minutos. — Douglas, ao tentar dar um beijo em John, ele vira o rosto.
— O que está acontecendo? — Pergunta Douglas olhando para John Lennon.
— Você se lembra da primeira vez que me viu nu?
Douglas deixa de abraçá-lo.
— Isso de novo?! Não acredito que vamos voltar nesse assunto!
— Você,quando me viu nu, deixou-me na cama e saiu. Mas, poupei a sua vida, sabia que nunca foi fácil, nem pra mim, quanto mais para uma pessoa que iria me ver pelado pela primeira vez.
— Você quer, eu peço desculpas de novo.— Replica Douglas.
— Caetano, — Prossegue John — Foi o único que olhou para mim nu e não vomitou ou saiu de perto de mim, como se tivesse uma doença contagiosa ou fosse uma aberração, igual você fez! Ele foi o único que me entendeu e me enxergou!
Douglas fica em silêncio, ele sabia que John não gostava de ser interrompido quando estava falando, e parecia que estava absorto em seus pensamentos, viajando em cada frase que pensava.
— O que eu pedi a você? — John vira-se tão calmo quanto faz a pergunta e olha para Douglas que continua em pé por trás dele.
— Meu amor, você está tão perto de conseguir sua vingança com todos que te prejudicaram. — Douglas fala apontando para dentro do quarto. — Estamos próximos... E tenha certeza que faria tudo de novo por você... Até ser quebrado novamente por Medeiros.
John olha incrédulo para Douglas.
— Ele viu você!
— Oi?! Como é?
John Lennon suspira, e olha dentro dos olhos de Douglas.
— Agora, por sua causa, vou ter que matar Caetano! Não tenho como levá-lo vivo, seria muito arriscado dar errado e ele te identificar. — John aproxima-se de Douglas enquanto fala. Beija-o e pega a faca de caça presa na sua cintura e dar as costas.
— Você quer que eu...
A faca entra na carne macia do pescoço de Douglas, abaixo do "Pomo de Adão, e depois John, rasga-lhe os músculos do pescoço para fora.
— Eu detesto quando não fazem o que mando! — Grita John gesticulando com a faca e continua: — Eu detesto quando respondem com outra pergunta. — Douglas começa a se sufocar com próprio sangue. Bolhas de ar, são formadas enquanto balbucia o que não se pode entender, nem John queria saber o que ele falava.
— Eu avisei que ele seria o último, te disse para não tocar nele. Mas, você com esse ciúmes de merda, não me escutou.— John Lennon está ensandecido. Louco — Só, quem poderia tocar nele era eu! Somente eu! — Douglas vai ruindo. Desmoronando aos poucos.
Seus olhos com derrame, vermelhos, inundados com sangue, não param de fitar John Lennon e vão se fechando.
— E você, — Como se o estupor da ira estivesse passado, ele volta a falar polido e baixo. — Ainda revelou sua identidade. O que deu em você? — Ele ajoelha-se a poucos centímetros de Douglas pegando no seu queixo. — Seu idiota ciumento. — O namorado cai sem resistência... Morto sufocado pelo seu próprio líquido vital.
John Lennon levanta e observa o mar de sangue envolta de Douglas.
Ele não aceitava insubordinação, principalmente por algo tão mesquinho igual ao ciúmes.
A morte era sublime demais para ser relegada a esse sentimento.
– Você assinou seu atestado de óbito quando tocou nele... Isso não fazia parte do nosso acordo. — John Lennon limpa a faca na perna e faz uma ligação.
— O que você quer irmão? — Questiona a voz do outro lado.
— Matei o Douglas!
— Como é?! Por que? Você esta louco?— Surpreende-se o irmão de John Lennon.
— Não me chame de louco novamente. Não sou. Ele tirou a máscara e mostrou o rosto para Caetano.
— É ser muito idiota. Filho da...
— Vou precisar de você aqui para darmos continuidade no plano.
— O que você vai fazer agora? Estou sabendo que Aloísio liberou Medeiros para dormir em casa.
— Ótimo! Vou deixar um presente para ela! E irmão... Obrigado!
— Ainda não me agradeça, ainda não concluímos o que vamos fazer!
— Mesmo assim... obrigado! — John termina de agradecer o irmão, pega o dedo, procura o furador e calmamente vai tornando-os uma só peça de arte, uma escultura grotesca e de horror.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro