2 - O DEFUNTO
A polícia não demorou muito a chegar no local. Logo a cidade despertaria e pareceria com um formigueiro, e quanto mais rápido, mais pistas poderiam ser achadas. O Barco parou no muro e se prendeu nos manguezais.
"Seu Toinho", na vontade de ajudar o pobre defunto, que estava sendo comido pelos pássaros, pulou no barco e deixou suas digitais em todo o local, enquanto afugentava as aves com os galhos dos manguezais.
Um Opala 75 vermelho, estaciona próximo ao local do crime. Delegado Aloísio desce e caminha com cara de poucos amigos.
Ele desce por uma escada até um barco que o leva até o local que o defunto está.
-O que ele faz aqui?- Pergunta o Delegado vendo que "Seu Toinho", ainda está no local.
-Ele é o pescador que viu o barco com o infeliz e ainda estamos pegando seu depoimento inicial.- Fala Hércules, um dos agentes de campo.
Aloísio olha para a frente do barco e ver que o corpo ainda está amarrado. Ele vai até o morto, que teve seus os olhos comidos, a língua colocada para fora da boca e pregada no queixo com um prego grosso.
Na língua, há o desenho de uma seta virada para dentro do corpo feita por uma lâmina supra afiada.
O perito estava mexendo cuidadosamente pelo corpo, registrando com fotos e o áudio no seu gravador de bolso, tudo que estava vendo.
-O que sabemos?- Pergunta Aloísio.
-Ainda temos muito pouco, mas, o que tenho certeza é que todas as digitais que encontrarmos será do pescador. - Afirma Afonso. - Um assassino que faz uma coisa igual a essa, não acredito que cometeria o erro de deixar uma digital.
-Merda. - Reclama Aloísio. - Merda, Merda e Merda!
Afonso se surpreendeu com a irritação do Delegado. E continua olhando minuciosamente o corpo.
O defunto é um homem branco, aparentando uns trinta e oito anos, está vestindo uma calça preta com uma camisa de marca no tecido fino e na cor vinho. Não está com aliança, nem relógio, ou uma carteira. Nada que o identifique. Apenas suas digitais.
Afonso sabe que vai ser um dia daqueles. Espera que o corpo do homem fale.
Aloísio entra na cabine do barco. Observa as cordas, que estão frouxas. Ele foi colocado ali já morto, o que falta é saber quando ele morreu, a hora da morte, e o delegado só vai saber quando o defunto chegar no IML.
-Senhor, terminamos com o pescador, deseja falar com ele?- Pergunta Gustavo.
-Não! Pode libera-lo. Estou mais ansioso para saber o que o corpo vai falar.
-Estou liberado senhor?-Pergunta o Agente,
Para saber se pode seguir para Homicídios.
-Posso ler o que você anotou? - Pede Aloísio esticando o braço direito e começa a ler.
Levanta uma folha, depois passa a segunda, até chegar na última.
-Gustavo, chama o pescador! - Fala com certa urgência na voz.
"Seu Toinho" volta e aperta a mão do delegado.
-Bom dia "dotô!"
-Bom dia Sr Antônio. Desculpe pedir para o senhor voltar... É que andei lendo seu depoimento e teve uma coisa que o senhor falou que chamou a atenção... Você pesca aqui na ponte há muito tempo não é mesmo?
-Sim "sinhô"! E também por todo o Capibaribe.
-O senhor tem barco?
-Não delegado. Tenho um barquinho de remo.
-Mas, o senhor conheceria qualquer barco que pesque por aqui, sem precisar ler o nome?
-Sim! Eu não "seio" lê, mas conheço qualquer barco que "ande" por aqui.
-Quem é o dono do barco "Rainha do Mar"?
-O Zé Barbosa!
- Onde posso achá-lo?
-Morreu há sete dias. - Sr. Antônio se benze três vezes.
-Ele morreu de que?
- Cachaça "doto".
-Certo... Sr Antônio muito obrigado. O senhor ajudou muito. - O delegado aperta a mão do pescador que o agradece de volta. Quando o "Seu Toinho" vai subindo a escada na parede, ele volta e diz:
-Delegado...a "fia" dele trabalha na Casa da Cultura, numa lanchonete lá... O nome dela é Conceição. - Aloísio anota no caderno de bolso.
-O que não vi, Delegado?- Pergunta Gustavo.
-Gustavo... Ele chamou o barco com outro nome. O nome que está pintado no lado é "7 Mares" ... E ele lhe falou "Rainha do Mar". Algo me diz que esse nome foi pintado por cima. Verifique e peça para alguém ir na Casa da Cultura conversar com a filha do pescador, talvez ela possa ter alguma informação.
O tempo vai passando, O sol vai deixando o asfalto mais quente e o cheiro da maresia misturada com o defunto vai aumentando.
A perícia sobe o corpo, e a multidão está por todos os lados. A Polícia Militar abre o caminho por entre os curiosos e coloca o corpo no utilitário branco e seguem para o Instituto de Medicina Legal.
Aloísio segue o utilitário do seu carro.
Ao chegarem ao local, O delegado acompanha a equipe. Eles entram. Os homens param e vão comer. Depois de um longo tempo seguem à sala da autopsia. Afonso pega seu gravador de mão, liga e começa a trabalhar.
Enquanto espera alguma informação, Aloísio liga para o Dorival, o perito que vai analisar o barco.
-Dorival e aí? Já chegou no local?
-Ainda não Delegado! O trânsito está horrível!
-Avisa quando chegar.
-Pode deixar senhor. Ligo assim que chegar lá.
Aloísio se vira e ver Afonso vindo apressadamente em sua direção.
-O que temos? Sua cara está apreensiva.
-Ele morreu por sufocamento. O assassino pregou sua língua no queixo, enquanto ele lutava para não deixar, e depois enfiou um papel goela a baixo. Faz dois dias que ele morreu.
-Há alguma pista ou resquício pelos dentes da vítima?
-Se o senhor está perguntando sobre DNA não! Mas a garganta está toda rasgada, dilacerada. Achei pedaços de madeira nos ferimentos. O Assassino socou o papel boca a dentro, quebrando os dentes da frente. - Afonso vai entregando um plástico zipado com um papel dentro.
-Cacete...- Aloisio se espanta, isto estava dentro do cara?
-Delegado, na traqueia, para ser mais exato. O cara teve tempo para fazer o que fez. A vítima deve está há no mínimo uns dois dias sumido. Ele trabalhou muito nele, se o senhor me entende...
-Sim com certeza! Veja se tem alguém sumido com essas caraterísticas.
Aloísio pega o saco plástico transparente e com cuidado abre-o. Está escrito:
"Sou guardada por quatro deusas, duas em cada lado.
Nasci de um Conde estrangeiro, que fez um boi voar por cima de mim...mentiu para dinheiro ganhar e prejuízo do bolso amortizar.
Mas ao invés de receber nomes de realeza, Conceição e Antônio, no início me deram por certeza. Na frente da Justiça, minha história te revelo com clareza."
-Que porcaria é essa? -Pergunta Aloísio.
-Uma charada chefe. - Responde Afonso.
-Isso eu sei, ora bolas, na verdade estou dizendo que tenho o sentimento que esse calhorda não vai parar nesse cara... Essa porcaria vai continuar.
- O senhor acha que vão surgir novos defuntos?
-Sim... Uma pessoa que faz esse nível de crueldade tem um objetivo claro.
-É... Pode ser que sim? O senhor está indo para onde ?!- Pergunta Afonso.
-Para o local que ele indicou? Procure mais pistas pelo corpo ou na roupa. Ele não deve ter parado por aí, deve ter mais alguma coisa. -Aloísio vai falando e se afastando em direção ao seu carro, para voltar à Ponte Mauricio de Nassau.
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