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Stella

"Uma vez escutei que tudo na vida depende de um ponto de vista, para os grandes heróis há os grandes vilões, para o certo há o errado, e para mim, há um assassino em série.

Vou começar te dando acesso a minha mente, e agora que estabelecemos conexões, poderá me acompanhar nessa caçada.

Confesso que estou com medo, pessoas estão morrendo e a polícia está mais perdida que cego em tiroteio. A cidade está um completo caos, a desconfiança está pairando como uma neblina densa e as pessoas estão cada vez mais insatisfeitas com a situação.

Moro em uma cidade do interior que até uns dias atrás era desconhecida por grande parte da população nacional. Sou formada em jornalismo e me chamo Stella Stone, e certamente faço parte de um plano de um maníaco psicopata.

Vou puxar o fio desde o começo, e espero que possa obter sua ajuda para resolver este caso."


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Lashbury, 07 de abril

— Stella, a cidade está um caos... acharam um corpo em frente ao centro administrativo... não sei ao certo, mas parece que era uma mulher... os policiais locais afirmaram que o lugar estava repleto de simbologias, e pelo que parece, estão achando que foi obra de alguma seita...

— Calma Jasper, não estou entendendo nada e a chamada está cortando, me explica isso direito.

— Hoje pela manhã recebemos um chamado de um dos seguranças do departamento, tinha uma moça com um corte profundo do pescoço à pelve e estava tudo muito sujo de sangue, uma verdadeira cena de horror. Havia diversos símbolos espalhados, algo que parecia ser um chifre de carneiro estampava a parede central e alguns símbolos que os analistas deduziram ser frases gregas.

— Mas que caralhos está acontecendo. Precisa da minha ajuda com a tradução das frases? — O rápido tom de choque foi substituído por preocupação.

— Não é bem isso, infelizmente sei que vai gerar uma ótima reportagem investigativa, mas não é por isso que eu estou te ligando. — Soava a voz temerosa no telefone.

— Ainda não consigo compreender, seja direto, por favor.

— Encontraram um bilhete perto do corpo, e seja lá o que você fez ou quem provocou, seu nome está nele Stella. Olha, não queria ser o portador de tantas notícias ruins assim, de uma vez, mas a qualquer momento você pode ser intimada para depor. — A ligação caiu.


*


"Fui escolhida por alguém sádico para jogar um jogo não tão interessante.

Pouco tempo depois da ligação, fui intimada. Se a cidade estava um caos, a delegacia estava pior em todos os sentidos.

Recebi alguns olhares que facilmente rotularei aqui de nojo, um toque de repugnância e um frescor de ódio. Fui levada diretamente para a sala do delegado, que parecia estar com uma terrível dor de cabeça, exalava a estresse e cheirava a cigarros. Apesar dos fatos, foi um "simpático".

Obviamente, a primeira coisa que ele quis saber foi por qual razão tinha um bilhete com o meu nome se segundo eu mesma, não tinha contato nenhum com a vítima, e claramente nem eu mesma sabia. Expliquei tudo, desde onde estava, horários, rotina, círculo social, e até mesmo a minha árvore genealógica. Quanto mais tempo se passava, mais perguntas a respeito do meu envolvimento com o caso eram feitas.

Preocupado, Roman Lloyd, se levantou e começou a andar de um lado para o outro. Espontaneamente analisei-o, deve ter 1,83 de altura, seu cabelo negro está começando a ficar grisalho nas têmporas, marcas de expressão marcam seu cenho e olhos, e parece estar sofrendo de insônia, suas olheiras estão bem demarcadas. Completos sintomas de estresse no trabalho, mas, não é de se esperar menos de um delegado nessa altura do campeonato.

É, já me disseram que eu preciso parar de encarar as pessoas, ainda mais na hora que começo a observá-las de forma mais precisa e minuciosa.

O delegado Lloyd até que não é alguém para se jogar fora, apesar das circunstâncias, ele é um homem bonito, que parece cuidar do corpo e da saúde, com exceção dos cigarros. Gentil, porém, hoje está um pouco irritável e autoritário."


*


— Senhorita Stone, pode parar com sua análise? 

— Eu? Analisando-o? Não, não, não. — Acabei ficando um pouco ruborizada.

— Se nunca lhe informaram, você acaba fixando demasiadamente o seu olhar nas pessoas enquanto faz aquela cara de que está detalhando fielmente suas características em um bloquinho.

— Me perdi em alguns pensamentos, apenas. Estou tentando entender ainda qual é o meu vínculo com tudo isso, e nada me vem à cabeça. — Tento mudar de assunto.

— Aqui, pegue a ficha da garota. Tem algumas fotos e informações necessárias sobre ela, espero que isso possa refrescar sua memória de alguma forma. — O vejo pondo a pasta aberta sobre a mesa.


|Ariah Becker

07/04/1998, Lashbury.

Morena, 1,72 m, cabelos vermelhos, olhos pretos, 66 kg.

Formada em administração, trabalhava no setor de finanças.

Filha única de Martin e Rita Becker.|


— No dia do aniversário dela, que merda. — Digo enquanto leio atentamente cada verso do documento.

— Infelizmente sim, imagino que os pais estejam desolados. — Completou o delegado.

— Quem é tão cruel a esse ponto? — Murmurei incrédula.

— Espero que não tenha sido você. — Indagou com um leve tom de frieza.

— O senhor está me acusando? É isso mesmo? — Me levanto ainda calma com um tom questionador.

— Era o nome da senhorita naquele bilhete, como vou saber que não foi uma pista deixada pela vítima? De qualquer forma, você querendo ou não, está envolvida nisso. — O sarcasmo acaba me incomodando.

— Já sequer pensou na hipótese de que eu posso ser a próxima, senhor delegado? Ou até agora apenas se baseou no seu achismo de que posso ser a assassina. — Questiono, enquanto o encaro.

— Pensei em muitas teorias, mas nada que você necessite saber. — Um sorriso rápido e fechado surge em seu rosto.

— Posso ajudar nisso. Sabe que posso ajudar a resolver esse caso. — Me prontifiquei, com um certo ar de súplica.

— Respondendo a todas as minhas perguntas, você já me ajuda bastante, senhorita. Uma pessoa já morreu, não quero e nem pretendo deixar que outras morram. Sei do seu histórico e de todas as suas contribuições para com essa instituição, mas me deixe fazer o meu trabalho. — Ele diz com seriedade.

— Não vou tentar convencê-lo, mas eu tenho experiência.

— Eu sei disso, mas não vai fazer com que eu mude de ideia. — Afirmou ao sentar-se de frente para mim.

— Faça as perguntas certas. Por que o meu nome estava no bilhete, se eu não tinha ligações com a Ariah? E os elementos da cena, não é muita coincidência que tenha justamente frases em grego? O que eu, uma jornalista investigativa tenho com isso? Provoquei alguém que não gostou e agora está tentando me incriminar. — As frases saíram como uma forma desesperada de provar minha inocência.

— Hum, acho que está na hora de parar de brincar de detetive, Stone. — O homem usou seu sarcasmo.

— Que irônico, Roman! Mas eu realmente posso ajudar, provavelmente a esse ponto do campeonato deve saber que fiz um curso de grego e astrologia na faculdade. O símbolo do carneiro representa o signo de Áries, e o círculo em volta deve ter alguma relação com o horóscopo, que olhando atentamente, o espaço do lado marcado é onde esse signo está posicionado astrologicamente. E por fim, esses pontos com rabiscos aqui é a representação de uma constelação. — Mostro-lhe cuidadosamente cada detalhe.

— Bem, acho que acabou de se tornar uma peça-chave na investigação. — A seriedade retorna à sua face.

— Mas a pergunta que não quer calar é, por que eu? — Sussurro para mim mesma.


*


"Não só martelou a minha cabeça, mas também como a do delegado. A cada tentativa falha de interligar o elemento chave, eu sentia três neurônios morrerem.

Vamos a suposições. Uma moça é encontrada morta no dia do seu aniversário, a cena do crime é brutal, nela, um bilhete com o nome de uma jornalista local. O que o assassino quer com isso? Qual a motivação? E a escolha das frases em grego, é só uma pura coincidência?

Algumas horas depois, os pais de Ariah chegaram à delegacia. Pobres pessoas, sua única filha morta de um jeito tão horrendo. Se mantiveram calmos, apesar da dor explícita nos olhares durante todo o procedimento, e o delegado privou-os de algumas informações a fim de poupá-los, a pedido dos próprios Beckers.

Fui chamada para um tipo de teste de reconhecimento, o delegado Lloyd perguntou ao Sr. e a Sra. Becker se já haviam me visto alguma vez, se sabiam de algum envolvimento da minha parte com a Ariah, e as demais perguntas previsíveis que você possa imaginar.

E como já esperado, eles nunca tinham me visto ou sequer tido nenhum conhecimento de qualquer relacionamento existente. A não ser o fato de lerem as minhas reportagens no jornal todas as segundas e sextas.

Completou-se cinco horas desde que cheguei para depor, e me sentia totalmente esgotada. Lógico, mal tinha dormido, pois passei boa parte da madrugada fazendo milhares de pesquisas, tudo para acordar com uma bomba dessas, e acabar sendo interrogada por causa de um homicida que decidiu sair fazendo joguinhos com estranhos.

Respondi aos últimos questionamentos e fui liberada.

Jasper, meu amigo de infância e um dos policiais da equipe de Roman, ficou encarregado de me acompanhar até em casa para promover minha segurança durante o trajeto. Chegando lá, a porta estava completamente arrombada, o apartamento estava todo revirado e sujo de um líquido gosmento escuro, objetos quebrados, janelas, paredes pichadas com o símbolo do zodíaco, papéis por todos os lados, e um cheiro horrível de algo podre. O dia teve sim como piorar.

Na entrada, um papel impresso com o meu nome dizia:

|Stella Stone,

Você foi escolhida para jogar comigo, e se descobrir quem sou eu, vencerá. Caso não, morrerá.

Cada morte terá seu devido prazo, e o meu próximo passo envolve Pamplona, na Espanha.

Só você poderá jogar, e qualquer comunicação será propositalmente direcionada a seu rumo.

Entenda, a teoria vem primeiro que a prática.

Seus erros terão consequências, então pense meticulosamente bem quais serão as suas jogadas. Lembre-se que está em xeque-mate.

Atenciosamente, o Astrólogo.|


Estou em uma grande enrascada. Isso é fato.

Terminei de ler o bilhete e Jasper acionou o departamento logo em seguida. Sem aguardos, me levou novamente para a delegacia."


*


— Delegado Lloyd? Tem mais um minuto para mim? — Perguntei adentrando a sala.

— Senhorita. Já estou sabendo do ocorrido. — Ele se levanta da cadeira e vem até mim.

— Então já deve saber também sobre o bilhete.

— Superficialmente, sim. — Ele pega o bilhete da minha mão e observa com cuidado cada recorte.

— E então, ainda acha que sou a mandante do crime? — Falei com um misto de insatisfação e irritação.

— Não posso tirar conclusões baseadas em um bilhete que você facilmente poderia ter forjado. Mas, mesmo assim, acho bom você entrar em um programa de proteção à testemunha. — Ele me olha por cima da nota.

— Não posso largar tudo assim, e a minha família? — Indago frustrada.

— Se quiser sobreviver vai ter que entrar no jogo desse maluco, e de preferência, continuando viva. Saiba que agora você não terá mais uma vida pública, interações com outras pessoas, além de mim e da minha equipe, e acho que já faz ideia de que terá que se afastar de sua família. — Ele diz sentando-se sobre a mesa.

— Preciso ligar para minha mãe! E para Sebastian também! Isso não pode estar acontecendo comigo... — O nervosismo me dá náuseas e me sento na cadeira.

— Ei, precisa ficar calma. Vou pedir para Jasper ligar para eles, soube que vocês têm um vínculo antigo, e vou pedir também para alguém trazer um copo de água com açúcar. — Sua preocupação é notória.

— Que merda! — Digo alterada e me levanto, indo até uma das janelas.

— Você entrará no programa de proteção à testemunha agora mesmo. E eu mesmo me encarregarei pela senhorita. Estamos lidando com seja lá o que for, talvez um maníaco, e não podemos subestimá-lo. E sabe como é, melhor manter o inimigo próximo. — Um sorriso forçado surge no canto dos lábios dele enquanto me dá o copo.

— Eu tenho alguma escolha? Seja lá quem foi que armou tudo isso, conseguiu acabar com minha vida agora.

— Entendo, e queria poder te consolar, mas não temos tempo para lamentações, não há o que fazer. — O tom coloquial e meio irônico continua em sua voz.

— E o que eu vou fazer agora? — Meus olhos lacrimejaram lentamente.

— O tenente Miller a levará para o abrigo, enquanto isso, vamos nos comunicar por este telefone descartável, não pode ser hackeado ou rastreado. Tenha em mente que agora vamos conviver bastante. — Ele entrega um dos telefones. — Não chore, por favor. Odeio ver mulheres bonitas chorando.

*

"Ironicamente falando, e friso no ironicamente, acho que me tornei a pessoa mais feliz do mundo!

Através do meu antigo telefone, liguei para minha mãe e pedi para que se protegesse. Mas, já tinha em mente que ela sabia de tudo isso e mais um pouco. Expliquei o que tinha acontecido, que eu não tinha matado aquela moça, e que essa seria a última vez que nos falaríamos. Pelo menos até tudo voltar aos encaixes, e esse psicopata ser preso.

São vidas, e mesmo não querendo, estou tendo o controle de quem morre ou não, e isso é um peso enorme para se carregar.

Seja lá o que eu precise fazer, eu farei, e vou salvar essas pessoas.

Mas, preciso tomar cuidado, meu passado ainda me condena, e não posso deixá-lo interferir nessa luta.

O tique-taque do relógio faz-me lembrar de que o tempo está se esgotando. 10... 9... 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1... BOOM."







Notas da Autora


Revisão concluída ✅

Espero que tenha gostado, e não se esqueça de comentar e curtir!

Obrigada se leu até aqui, e fique a vontade para corrigir qualquer erro (na qual peço desculpas de antemão).

Beijinhos! ✨🖤

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