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Guia-me

⚠️Tópicos Sensíveis⚠️

"E se guiar o cego outro cego, ambos cairão em uma vala."


Gamma pov.

"Calma, não é porque você está tendo acesso a minha mente que eu morri, muito menos a minha irmã.

Estou aqui para lhes contar os últimos acontecimentos da minha perspectiva, e suponho que Gália vá fazer isso também, uma hora ou outra.

Acharia confuso eu contar um pouco de como nossa vida começou a virar de cabeça para baixo? Na verdade, eu só quero desabafar com alguém que não esteja com as mesmas dores que eu. Sim, estou falando da minha querida irmã.

Nós compartilhamos tudo, por ser gêmeas, sempre nos divertimos fazendo tudo igual, ou tendo as mesmas coisas, vestindo as mesmas roupas, até fingindo ser uma à outra na escola.

Temos a mesma altura, os mesmos olhos verdes brilhantes, o mesmo cabelo preto como a noite e até o mesmo formato corporal. Gália cortou o cabelo depois que nossa mãe faleceu, se diferenciando um pouco de mim, e fez algumas tatuagens e piercings também.

A dor fez com que ela se rebelasse contra si mesma, fez com que se perdesse.

Eu sou a mais velha, nasci dois minutos antes, por isso, sempre tive um extinto de proteção com minha irmã, que sempre foi mais propensa a fazer mais besteiras.

Quando nossa mãe, Florence Hahn morreu, nós tínhamos acabado de concluir o ensino médio e estávamos ingressando na faculdade, lembro que o baque foi tão forte que por um momento eu me senti sem ar, sem rumo, perdida. Áli (apelido que nossa mãe deu para Gália) caiu no chão lamacento do lago Borrow e chorou até desmaiar.

Tudo bem, vou começar de novo para você entender.

No dia que nossa mãe foi encontrada morta, havíamos discutido porque queríamos ir a uma festa em uma clareira que ficava na floresta de Lashbury, próximo ao lago Borrow. Tínhamos acabado de nos formar, estávamos animadas e com aquele fogo de estar prestes a entrar em uma faculdade, e o desejo de ir era forte.

Fomos ao escritório dela depois do almoço, no qual ela não apareceu, e pedimos com tamanho receio. Ela estava esquisita, parecia psicótica, e bebia sem parar. Os olhos castanhos, outrora brilhantes, estavam fundos e opacos, e ela parecia estar sempre com medo, como se algo estivesse à espreita e pudesse a atacar a qualquer momento.

Ela se levantou bruscamente, caminhou até nós e fez com que prometêssemos que não íamos sair de casa naquele dia. Áli, demonstrando um pouco de rebeldia enfrentou nossa mãe. Coisas como "você vive sempre bêbada", "não liga para nós" e outras coisas parecidas foram ditas.

A discussão chegou ao ponto de recebermos um tapa no rosto, que foi o estopim para irmos a clareira escondidas.

Durante o decorrer da tarde, escutamos algo como vidro se quebrando, e imaginamos que ela tinha derrubado outra garrafa de gim, ou quem sabe um copo. Nos arrumamos, e sabendo do costume que nossa mãe tinha de vir verificar se estávamos bem, nos deitamos e nos cobrimos, mas ela nem sequer apareceu.

Estranhamos um pouco, mas não totalmente, ela estava diferente. Ela poderia estar chateada ainda com o que falamos, poderia estar ocupada na prefeitura, ou bêbada dentro da limusine.

Fomos a clareira, a fogueira estava acessa e a festa já tinha começado. Havia coolers com cervejas e garrafas de outras bebidas, ao lado oeste avistava-se um grupo fumando suas ervas e mais ao leste adolescentes dançavam sem parar, e é claro, tinha que ter música alta.

Em cerca de dez a vinte minutos que chegamos, de repente, as luzes das viaturas piscaram entre as árvores, e o som das sirenes ecoaram pela floresta. A música foi substituída pelo silêncio tenso. Todos pararam, olhando uns para os outros com medo nos olhos.

A polícia invadiu a clareira, lanternas brilhando, uniformes escuros e rostos sérios.

O delegado Lloyd se aproximou de nós duas, e com uma breve sutileza informou que devido a uma ligação anônima, encontraram o corpo da nossa mãe no fundo do lago Borrow, no bagageiro da limusine.

Ao ouvir o aquilo, Gália saiu correndo em meio a floresta na tentativa vitoriosa de chegar as margens lamacentas do lago, que já estava cercada de policiais. E eu, acompanhei-a veemente por todo trajeto.

Ver minha irmã desabar e chorar feito uma condenada me mutilou profundamente, ou, acho que só foi uma forma de me martirizar ainda mais.

Depois de todo o ocorrido, saímos de Lashbury e fomos cursar Relações Internacionais em Nova Iorque, em homenagem a nossa querida e falecida mãe. Mas isso não bastava, e não iria mudar o fato de que ela tenha se suicidado, ou quem sabe tenha sido assassinada.

Nesse meio tempo que estávamos fora, Áli mudou muito. Cortou seu cabelo, outrora grande, e pintou de um vermelho escuro e intenso, além de ter começado a se vestir com roupas mais escuras e largas. Também havia feito inúmeras tatuagens, e diversos piercings. Eu sabia que ela estava se mutilando, sabia que estava sofrendo, e não a ajudei. Que droga de irmã eu era?

Seis meses depois, recebemos uma carta da prefeitura solicitando a nossa presença. Iriam homenagear a mulher, que outrora foi a melhor prefeita, e como parentes de primeiro grau não poderíamos faltar. Então, voltamos para Lashbury.

A homenagem foi transmitida ao vivo, enquanto uma jornalista ficava responsável pelas entrevistas. Stella Stone era seu nome.

Fomos para nossa antiga casa, e nada havia mudado. O sofá continuava no mesmo lugar, as cortinas beges ainda eram as mesmas, o lustre de cristais ainda brilhava a noite, as escadas ainda tinham as marcas do tempo... seu cheiro ainda permanecia no lugar."

*

— Áli, preciso conversar com você. — Puxo seu braço.

— O que é, Gam? Estou cansada, e esse lugar está começando a me dar arrepios.

— Eu sei o que está fazendo.

— O que é que estou fazendo? — Seu olhar confuso penetrou minha alma, e me envergonhei.

— Os cortes. — Olho para seu cóccix.

— Não sabe do que está falando. — Puxou o braço para si com brutalidade.

— Áli, deixe-me...

— Me deixa em paz, Gamma! Vai viver a sua vida, e deixa que da minha eu cuido.

*

"Não dá para dizer a esse ponto que eu não tentei, não é mesmo? Ou eu deveria ter insistido mais?

O fato é que já não éramos mais as mesmas pessoas há algum tempo, e o nome da causa era Florence Hahn.

Prestes a voltarmos para a faculdade, foi descoberto um corpo em um departamento de alguma coisa, não lembro mais, talvez fosse de finanças? A questão não é essa, porém, isso fez com que as saídas da cidade ficassem temporariamente fechadas. E quando finalmente se abriram, eram utilizados processos complexos, até descobrirem a próxima morte e as fecharem novamente.

Duas mulheres haviam morrido em questão de um mês e alguns dias, e a polícia estava louca e desesperada. A última delas, foi até noticiado que tinha sido salva e estava com vida ainda, mas no fim, todas encontraram o mesmo fim. A morte.

Alguns dias, fomos chamadas a delegacia. Que diabo Gália tinha aprontado agora?

Mas quem dera minha irmã tivesse feito algo, quem dera Áli fosse a motivadora de terem solicitado nossa presença.

O delegado Lloyd, acompanhado da jornalista que era a principal suspeita dos crimes, Stella, nos esperavam na sala. Pareciam preocupados, intrigados, e até mesmos cansados. Juro, não sei quem parecia pior, ele, ela, ou nós duas.

E mais uma vez, outro baque.

Como assim eles estavam suspeitando que nós duas seriamos as próximas vítimas do tal Astrólogo? E por que nos duas?

Fomos encaminhadas até um prédio em Sticklehaven que eu achava ser abandonado, e acompanhadas por um oficial alto, moreno, forte e com traços asiáticos, entramos em um programa de proteção por prevenção.

O lugar era tudo, menos abandonado, e isso eu tinha absoluta certeza.

Mesmo assim, ela continuava ali, nos seguindo.

Seu cheiro de sândalo, sua risada baixa e elegante, seu rosto no espelho... ela está aqui.

Em uma noite, acordei com um galho batendo na minha janela e me levantei assustada. Mas o que me impressionava era que eu estava no sétimo andar da ala C.

Estava suada, minha cabeça começava a doer, talvez por causa do Rivotril que tomei para combater a ansiedade, a brisa estava estranhamente gélida demais, e eu podia a ouvir. Ela falava comigo, me chamava.

Fui até a cozinha, e bebi dois comprimidos de analgésico. Sua voz me angustiava, estava lamurienta, e eu a segui, finalmente tive coragem e a segui. Ela clamava por mim, insistia que eu fosse até ela, ela sentia minha falta... e eu sentia tanta saudades, só queria falar com ela novamente.

Caminhei até varanda, e a vi. Estava tão linda, mais linda do que o costume. Ela voava, sua pele pálida e transparente, seu rosto meigo e carinhoso, seus olhos estavam brilhantes novamente e suas mãos tentavam me alcançar. Lá estava ela, tinha voltado para mim.

Me aproximei do parapeito estendo meus braços para pegá-la, mas ainda estava distante. Ela clamava por mim. Me estiquei mais, porém ainda havia uma distância considerável. Ela clamava por mim. Tentei mais, sentindo meu corpo fazer uma pressão no parapeito, murmurando para que ela viesse até mim. Ela clamava por mim...

De repente, sinto algo me puxando de volta. Era Áli."

*

— Está louca?! O que estava querendo? Cair do parapeito?! — Vi seu rosto assustado e raivoso.

— Ela está aqui, Áli, olhe-a. Ela está chamando por nós, ela quer que nos juntemos a ela. — Disse calma e animada — Olhe, ali está ela, voando com os braços estendidos.

— Você não está bem, está alucinando.

— Não Áli, olhe, olhe!

— Não tem ninguém aqui, Gam. Nossa mãe se foi, tem que aceitar isso de uma vez por todas. — Falou baixo enquanto me puxava para dentro.

*

"Posso dizer que talvez tenha sido apenas um efeito colateral dos remédios que venho tomando para conseguir dormir. Desde aquela noite não consigo fechar os olhos, porque ela insiste em me chamar, insiste em clamar por mim.

Gália não acreditava em nada disso, dizia que o meu "vício" em remédios para dormir estava afetando a minha cabeça, que eu estava alucinando a ponto de estar parecida com nossa mãe em seus dias finais. Psicótica.

Ela mentia, eu sabia que mentia.

Eu estava perfeitamente bem, totalmente bem, só estava com a cabeça cheia.

Nosso aniversário estava se aproximando, seria daqui a dois dias, e talvez por isso mais policiais estavam postos a nossa porta.

Eu estava em frente a janela que iluminava meu quarto, o dia estava neblinado, as árvores balançavam com a brisa gélida do outono enquanto suas folhas alaranjadas davam um toque colorido as pistas cinzentas. Ela havia sumido, havia parado de vir até mim.

Sinto a mão de Áli, sua cabeça em meu ombro, e seu doce cheiro."

*

— Eu te amo, minha irmã. — A voz ecoou com uma triste melodia.

— Eu também te amo, vamos ficar bem.

*°*°*

Gália pov.

"Não vou te dar falsas esperanças de que até o final desse meu pensamento, eu ou minha irmã Gamma estejamos vivas.

Não quero ser pessimista, apenas realista. Se estamos mesmo na mira desse assassino, se somos mesmo as próximas, não tem por que tentar te enganar. Não, não como minha irmã tenta.

Ela tem passado por uma fase difícil, sim, acho que posso denominar assim, apenas uma fase difícil.

Lembro-me do dia em que nossa mãe morreu, Gam havia discutido feiamente com ela, e lembro-me até do tapa que recebemos no nosso rosto. As coisas tinham passado do ponto, mas eu tinha certeza de que no dia seguinte seria resolvido, ou até mesmo esquecido.

Mamãe estava esquisita nas últimas semanas que antecederam sua morte, e sempre desconfiei vagamente que algo não estava certo desde o princípio de sua psicose abrupta. Ela bebia sem parar, falava coisas sem sentido, e vivia desconfiada.

A noite tomou outro rumo quando, na clareira, o delegado Lloyd nos informou da morte dela.

Vi meu Norte virar sul, e meu Oeste virar leste. Olhei para Gam, que estava paralisada e pálida, com as lágrimas escorrendo por todo seu rosto, ela estava se quebrando.

A vi correr, adentrando a floresta com vasta velocidade, e ir até as margens do lago Borrow.

Policiais andavam de lado a outro com suas lanternas, procurando algo que pudesse ser pistas, enquanto eu tentava confortar minha irmã, que pela primeira vez, a tinha visto desmoronar.

Eu era mais nova que Gamma, nasci dois minutos depois, e sim, eu sou mesmo a mais propensa a fazer alguma besteira, mas era porque ela sempre me ajudava a encobrir minhas cagadas.

Saímos de Lashbury, e fomos cursar Relações Internacionais, em homenagem a nossa mãe. Eu tinha que proteger Gam, e essa era uma oportunidade perfeita, já que eu sabia o tamanho da profundidade do corte que estava em seu peito.

É obvio que fiquei triste com a morte da nossa mãe, mas eu tinha que seguir minha vida, e queria que minha irmã também tivesse feito isso, mas ela só se afogou em remédios fortes para dormir e acabou recorrendo até a automutilação.

Tentei-a ajudar, mas ela não me ouvia, estava psicótica, assim como mamãe. E eu tentei diversas vezes levá-la a algum profissional, mas pelo visto, muito tudo em vão.

Depois que fomos convidadas pela prefeitura para a homenagem solene a nossa mãe, Gam piorou em seu quadro de saúde emocional. Ao voltarmos para casa, percebi que ela tinha dissociado novamente, estava em um de seus quadros de confusão mental, que estavam se tornando frequentes.

Sinto-a me puxar, e estranho tal reação."

*

— Áli, preciso conversar com você.

— O que é, Gam? Está passando mal novamente?

— Eu sei o que está fazendo.

— Quero cuidar de você, o que está acontecendo? — Me aproximo, conferindo com a mão se não está com febre.

— Os cortes. — Vejo-a olhar para meu cóccix.

— Do que está falando, Gam? Você fez isso novamente? — Me desespero por um minuto.

— Áli, deixe-me... — Ela aperta meu braço, e me desvencilho rápido.

— Isso não foi legal, Gamma!

*

"As cenas seguintes se resumiram apenas a levá-la até o quarto e ajudá-la a deitar na cama.

De fato, não éramos mais as mesmas. A família Hahn estava definhando, pouco a pouco, e a julgar pelo caminhar, todas nós cairíamos uma hora.

Depois de toda volta que a vida estava me dando, percebi que eu não me encontrava mais, não tinha personalidade e minha aparência já não condizia com o que eu estava sentindo.

Pintei meu cabelo de vermelho, e por ser preto, ficou uma cor intensa e mais escura, fiz algumas tatuagens e coloquei um ou dois piercings, essa era a minha nova era, esse era o meu novo recomeço, e a partir dali eu iria viver a minha vida e ser quem eu realmente era.

Mas Gamma precisava de mim mais do que tudo nesse momento. Meu porto seguro queria ter um porto seguro para ela, queria alguém que a ajudasse e desse o suporte que precisava, mas o vício em remédios controlados chegou primeiro que eu. Que péssima irmã eu fui, pobre Gam.

Alguns dias depois, fomos até a delegacia por uma solicitação do delegado, que esperava por nós juntamente com a jornalista Stella Stone, a mesma que ficou responsável por encobrir o "suicídio" da nossa mãe, e a mesma que estava sendo indiciada como principal suspeita. Não, não. Todos sabiam que ela foi assassinada, mas isso era muito assustador para a população, e era claro que iriam dizer que era suicídio. O que uma mulher acusada de lavagem de dinheiro, bêbada e psicótica estava fazendo no porta-malas de sua limusine? Isso mesmo, suicídio!

Conversei com eles a respeito ao que se tratava o motivo urgente, e estremeci como nunca havia estremecido antes. Éramos as próximas... como assim éramos as próximas?!

Por fim, o delegado decidiu nos colocar em um prédio, que mais parecia abandonado, como forma de prevenção. Era em Sticklehaven, perto da nossa antiga casa, mas como eu já disse, tinha uma aparência de abandonada e ninguém tinha coragem de pisar lá, Lashbury é muito supersticiosa com o que se trata do além-túmulo.

Um oficial, com traços asiáticos bem marcante nos acompanhou até lá, Tenente Maicon? Não, era Maike, espera... Mako, sim, Tenente Mako. Pobrezinho, quem dava um nome desses ao próprio filho? Certamente seus pais o odiava.

Era um lugar confortável, o ambiente era calmo e silencioso, seria perfeito para cuidar de Gamma e tentar sobreviver por um tempo.

Consegui me adaptar um pouco rápido demais, no caso, mais rápido do que imaginei que conseguiria, a não ser o fato das alucinações de Gamma terem retornado.

Algo em torno de dois a três dias depois que fomos parar no edifício, a vi conversando sozinha, em seu quarto, virada totalmente para o espelho. Sim, retirei o espelho do quarto dela, tenho a absoluta noção de que ela poderia acabar se machucando com o vidro. Qual é, eu posso ter me tornado a irmã "rebelde", mas não mudei meu senso de proteção e segurança.

Ela parecia mais dissociada, as alucinações estavam piorando, diziam que via nossa mãe, que falava com ela, dizia que logo iriam se encontrar e que nossa mãe estava vindo nos buscar de uma vez por todas.

Aquilo me assustava, arrepiava a minha alma de uma forma sem explicação, cheguei a pensar até que talvez ela pudesse estar com razão, mas Gam estava doente, precisava de um bom psiquiatra, e talvez pudesse até se tratar direito.

Mas claramente era impossível.

Éramos as próximas, e nosso fim estava se aproximando. Ou eu poderia estar apenas enganada.

Em uma noite, acordei com um tremendo susto, estava molhada de suor. Havia sonhado que estava em um precipício com Gam, e ouvia nossa mãe chamar por nossos nomes. Caminhávamos até a ponta, onde havia ramos grossos e secos o que supus ser outrora uma árvore. Nossa mãe voava, estava pálida, e seus lindos olhos castanhos brilhavam novamente, agora, um brilho diferente, mais... nocivo. Seus braços estavam esticados até nós, tentando nos puxar para o meio do abismo, até que... Gamma!

Ouvi sussurros vindo da varanda, e fui até lá, encontrando Gam pressionada contra o parapeito tentando pegar algo no ar. Que terrível semelhança com o meu sonho, e o terrível sentimento de senti-la aqui."

*

— Está louca?! O que estava querendo? Cair do parapeito?! — Disse com uma mistura de sentimentos.

— Ela está aqui, Áli, olhe-a. Ela está chamando por nós, ela quer que nos juntemos a ela. — Disse calma e animada — Olhe, ali está ela, voando com os braços estendidos.

— Você não está bem, está alucinando novamente... venha, vamos entrar.

— Não Áli, olhe, olhe! — Apontava para o nada.

— Não tem ninguém aqui, Gam. Nossa mãe se foi, tem que aceitar isso de uma vez por todas. — Falei baixo enquanto puxava-a para dentro.

— Ela vem nos buscar, ela me disse isso, ela está vindo!

— Tudo bem, você precisa dormir.

*

"Levei Gam até seu quarto, e esperei que adormecesse.

Isso estava ficando demais para mim, então fui até a cozinha beber um pouco de chá.

Eu precisava conversar, precisava desabafar.

Nosso pai morreu quando fizemos dez anos, então, sempre foram as garotas Hahn, mamãe costumava dizer isso e nós sempre ríamos. Nunca mais seria as garotas Hahn novamente.

Peguei meu chá, e fui até a entrada. Ele estava lá, o asiático com nome de série da Disney dos anos dois mil."

*

— Senhorita, deveria estar dentro de casa. — Sua voz era suave e grossa ao mesmo tempo.

— Vou enlouquecer se continuar lá dentro.

— Vocês estão bem? — Seu corpo continuava impassível.

— Nunca vamos ficar bem.

— Sei que é difícil passar por tudo isso.

— Não, não sabe, mas obrigada por tentar me confortar de algum jeito.

— Se precisar de algo, é só me chamar.

— Tem cigarros? Não gosto de fumar quando estou com a Gam, pode piorar o estado clínico dela.

— O que ela tem? — Questionou ao me entregar o cigarro já aceso.

— Ela anda tendo algumas alucinações, mas vai melhorar... só precisa de tempo. — Dou uma tragada.

— Entendo.

— Sabe, nossa vida virou uma merda depois da morte da nossa mãe. Gamma ficou doente, não conseguimos mais sair daqui de Lashbury, e agora... — rio sarcasticamente — agora somos possíveis vítimas de um assassino em série.

— Sinto muito que tenham que passar por isso.

— Nosso aniversário se aproxima, não sei se estou pronta para morrer. — Dei outra tragada, vendo seu corpo se virar até mim.

— Não vão morrer! Não vou deixar que isso aconteça.

— Sua esperança me emociona... — sorrio forçadamente, dando minha última tragada e jogando a bituca no chão — Mas precisamos ser realistas aqui.

*

"Entrei, e por algum motivo, consegui me sentir mais aliviada, desabafar realmente ajuda. Ser pessimista, não.

Faltando dois dias para nosso aniversário, encontrei Gam em frente a janela do seu quarto, observando o clima, e as folhas alaranjadas que coloriam as ruas cinzentas. Me aproximei, a tocando levemente, e apoiando minha cabeça em seu ombro."

*

— Eu te amo, minha irmã. — Sua voz doce ecoou pelo quarto com uma melodia triste.

— Eu também te amo, vamos ficar bem e vamos sobreviver.

— Nossa mãe está vindo...

— De novo com essa história Gamma?

— Mas é verdade! — Se virou para mim, com animação — Ela me disse hoje que o homem mal vai nos levar até ela!

— Do que está falando? Está delirando novamente.

— Por que não acredita em mim, Áli? — Questionou com súplica.

— Nossa mãe está morta! E vamos ficar bem!

*

"Eu odiava quando ela começava a falar dela, não tinha o direito de desenterrar as memórias da nossa mãe dessa forma.

Me afastei, e a deixei no mesmo lugar que a encontrei.

As noites seguintes foram tormentosas, não porque eu sabia que iria morrer, tudo bem, posso não morrer, mas não sei o dia de amanhã, voltando, mas porque ela não me deixava em paz.

Me vi em meio a um casarão escuro e abandonado, as paredes se mexiam e se contorciam, e era muito quente a ponto de me sufocar. Mamãe chamava por mim incessantemente, e eu caia no chão. Me levantava em um campo escuro tomado pelo mato grande, suas folhas me cortavam enquanto eu insistia em andar até o precipício, mamãe continuava... continuava a me chamar... sem parar... sem parar... sem parar... até que caio no abismo, e acordo.

O dia foi a mesma merda que os outros.

Deixei Gamma no quarto descansando, enquanto fui até a porta com uma cadeira. Confesso que estava gostando de desabafar com o Marcus, sim, este é o nome dele, por que ele sempre me ouve, mesmo sabendo que ele não tem muita escolha."

*

— Aqui, tome seu cigarro.

— Mas eu nem pedi. — Olho para ele confusa.

— Você, nas últimas dez vezes que se sentou ao meu lado, sempre pediu um cigarro.

— A que ponto chegamos. — Dou um breve sorriso de canto e me sento, encostando a cabeça na parede.

— Por que não sai daqui? — Indago com certa calma.

— Sabe, é meu trabalho.

— Não estou falando no sentido literal. Por que não sai de Lashbury?

— Porque preciso te proteger. Digo, você e a sua irmã. — Seu nervosismo transpareceu.

— Seu trabalho termina hoje à noite, vai ficar livre. — Digo fechando meus olhos e dando uma última tragada.

— Não diga isso, odeio quando é pessimista assim. — Seu rosto se vira até mim.

— Iria amar a Gamma então, ela que sempre teve esse poder de ser positiva nas situações.

— Mas não quero amar ela. — Olha para mim, e sinto seu olhar penetrar meu corpo.

— Vou entrar, daqui a pouco Gam acorda, e quero estar com ela. — Me levanto, mas sinto ele pegar meu braço.

— Vocês vão ficar bem, amanhã te desejarei parabéns e comparei até uma cesta de chocolates.

— Você sabe que não vai ficar. — O olho, e dou leves tapas em sua mão — Não se iluda tanto.

— Áli?

— Oi? — Me viro, e sou surpreendida com um abraço forte — Por que fez isso?

— Porque, garota punk, você conseguiu a proeza de fazer eu me apaixonar por você em menos de um mês e meio. E eu não quero te perder hoje à noite.

— Não podemos... — Me afasto e entro fechando a porta, mas volto atrás — Marcus?

— Oi?

— Estou ansiosa para te ver amanhã. — O surpreendo com um beijo rápido e entro para dentro do apartamento.

*

"O que foi isso que acabou de acontecer?

Não, não, não... não poderia me dar ao luxo de encontrar um par romântico a essa altura do campeonato, ainda mais com tudo isso que está acontecendo!

A noite se aproximava, e Gam estava bem agitada, digo, bem mais do que o habitual.

Fiquei com ela até que adormecesse, e fui até meu quarto. Será mesmo que essa noite iriamos morrer?

Me deitei, sem sono algum, e ouvi o tilintar dos sinos. Sem sinal dele.

Aliviada, fechei meus olhos para dormir, e dessa vez não sonhei com nada, apenas uma escuridão sem fim que me engolia infinitamente. Nem ela apareceu dessa vez, será que conseguimos burlar o sistema, ou quem sabe foi um erro de cálculo da Stella e do Roman, e nós duas não somos as próximas?

Acordei as duas da manhã, minha boca estava seca e me sentia tonta, mas não lembro de ter tomado nenhum dos remédios de Gamma, e toda vez antes de dormir eu tomo um copo d'água. Além de sentir uma tontura exacerbada, me senti de certa forma fraca.

Com dificuldades, levantei e fui até a porta. O lugar todo estava escuro, então fui até o disjuntor, mesmo assim a luz não quis acender. Que merda estava acontecendo? Isso era outro sonho fudido?

Com o auxílio da parede, fui tateando até achar a porta do quarto de Gamma, que estava trancado. Espera, estava trancado? Mas eu que guardo a chave do quarto dela...

Gritei para que ela abrisse a porta, mas nem sinal. Bati, esmurrei, chutei e a porta nem saiu do lugar.

Cadê o Marcus? Por que ele não veio me ajudar?

Vou até a cozinha, e acendo uma vela que achei em uma gaveta com vários objetos úteis, mas não vejo a fita adesiva cinza que geralmente fica aqui... isso está estranho.

Ilumino meu caminho de volta ao quarto de Gamma, e vejo um líquido escorrendo por baixo da porta. Toco as pontas do meu dedo, relutante de que possa ser sangue, e começo a me desesperar profundamente. Isso tinha que ser apenas um daqueles malditos sonhos!

Bato novamente na porta, e escuto algo caindo lá dentro.

Com o auxílio de um extintor que tinha debaixo da pia da cozinha, bato na fechadura da porta até que eu conseguisse abrir aquele maldito cômodo e finalmente ver que minha querida irmã estava sã e salva.

Consegui finalmente abrir, e caio no chão, gritando com toda a força que essa merda de mundo me permitia.

Minha Gamma, minha Gam, minha irmãzinha, meu porto...

Me arrasto até seu corpo mutilado, ainda não acreditando que aquela, sim, que aquela era a minha irmã. Não, não pode ser verdade.

Seu corpo todo estava mutilado, assim como o meu ficou no meu último sonho, e sua barriga estava aberta de um lado a outro. Seus órgãos sumiram, seu sangue drenado, e seus olhos, ah, seus olhos... retiraram seus olhos.

Lembro da música que ela começou a cantar quando achou o corpo da nossa mãe as margens do lago Borrow, e começo a cantar baixinho enquanto balanço sua carne sem vida e gélida.

'Cold bones, yeah that's my love

She hides away, like a ghost

Does she know that we bleed the same?

Don't wanna cry but I break that way

Cold sheets, but where's my love?'

Me levantei, e com o resto de vela que me sobrava, corri até a porta de entrada. A abri, e me deparei com Marcus caído no chão sobre uma enorme poça de sangue em volta de sua cabeça. Mas não só ele, os outros oficiais também.

Malmente tive tempo de me agachar para ver se ainda conseguia encontrar um vestígio de sua respiração, e fui agarrada por alguém. Mais forte, com sangue nas mãos, e com um terrível cheiro de podridão.

A vela se apagou, e fui jogada no meio da sala que estava um breu.

Sim, era ela. Ela falava comigo...

Me senti tonta, com náuseas, e minha última memória foi ver aquela figura esguia e pálida caminhar até mim e fazer menção a pisar em minha cabeça."










Ooi, espero que tenham gostado!

Me diz aí, o Marcus está vivo? E a Gália?

Gostaram deles juntos? Se sim querem um cap. bônus mostrando como foram esses dez "encontros" deles?

Boa leitura, e até a próxima!

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