Ariah
⚠️ Tópicos sensíveis ⚠️
"Talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida."
"Eu sou a Ariah, e como você já deve saber, eu morri.
Isso vai soar mais como uma carta aberta do que como uma descrição de todos os fatos que acabaram desencadeando a minha morte.
Não acreditava em signos, mas pelas pesquisas alheias, eu era de Áries. O que servia como uma ótima desculpa para a minha impulsividade e falta de paciência para diversos assuntos.
Era como aquele trecho da música do Skank: 'Vou deixar, a vida me levar para onde ela quiser, seguir a direção de uma estrela qualquer...'. Que culpa tenho de ter crescido com tais influências musicais? Meu pai é um grande fã do rock brasileiro.
No início do dia seis, acabei discutindo feio com minha colega de apartamento, Sybil Walsh. Por quê? Ela levou um completo estranho, um homem qualquer, que provavelmente havia acabado de conhecer por acaso em um barzinho diretamente para a nossa casa, e piorando a situação, o rapaz era um completo de um nojento.
Como não queria ter que voltar novamente a morar com meus pais, decidi aguentar só mais um pouquinho, seria o tempo necessário para comprar uma casa no fim da Sparkles. No sul de Lashbury, podíamos encontrar alguns bairros com longas árvores, casas bem iluminadas, simples e bem espaçosas, e isso se aplicava veemente a este local. Mas, por enquanto, tinha que suportar conviver com Sybil, minha amiga de infância e dona do apartamento.
Incrivelmente, neste dia, acordei sentindo-me mal, não conseguia explicar, sentia que algo ruim iria acontecer. Não poderia pensar em perder alguém, e meus pais eram os meus maiores tesouros.
Me dizia que tudo ia ficar bem, esperando sinais de que realmente ia.
E não ficou. Nunca mais ficaria.
Me formei em administração e trabalhava para uma empresa na área de finanças. Tinha acabado de realizar um sonho, havia sido promovida a supervisora de departamento no dia anterior.
Recebi uma mensagem as nove horas da manhã, com o seguinte:
Ariah, viva como se fosse suas últimas horas.
Número desconhecido, sem assinatura.
Senti um frio na espinha, como se eu tivesse acabado de descobrir o porquê de me sentir tão mal e estranha.
Preferi levar como um trote qualquer, já que era recorrente, e suponho que se tivesse resolvido isso a princípio na delegacia, hoje em dia estaria viva. Ok, sei que deve estar pensando que foi burrice minha, e eu concordo. Não acreditei nem na minha intuição, e nem na minha racionalidade.
Fui trabalhar. E informalmente recebi a notícia de que haveria mais um novo grupo de novatos para auxiliar, e eu adorava quando isso acontecia. Por mais que fosse impaciente às vezes, sentia prazer ajudando como podia, e apesar de estar em um posto superior ao deles, sempre aprendia algo novo.
Um deles me chamou atenção, não por sua aparência em si, mas porque sentia que já tinha o visto em algum lugar por aí, e não era um sentimento nada bom.
Ele era esguio, tinha o cabelo loiro e amarrado que formava algo parecido com um coque, usava óculos e seus olhos pareciam ser feitos do mais divino tom de violeta, transmitia algo como nervosismo e crueldade."
*
— Bom dia, novo agrupamento! Me chamo Ariah, e sou a supervisora do departamento de finanças. Estou aqui para auxiliá-los nessa breve jornada. — Meu tom de confiança e animação ecoou por todo salão.
— Bom dia, supervisora. — Todos responderam em harmonia.
— Como já sabem ao menos o básico sobre mim, quero saber pelo menos o nome de vocês. Será essencial para que possamos caminhar lado a lado nessa nova jornada.
*°*
— Supervisora? Tem um instante? — O loiro caminha e senta-se em frente a mim.
— Claro, no que posso ajudá-lo? — Levanto o olhar para o rapaz — Desculpe, qual seu nome mesmo?
— Andreas, Andreas Draviar. — Seu tom de voz era frio — Estive olhando um dos relatórios recentes, e vi que constavam algumas inconsistências, mas creio que a senhorita sabe disso, não? Seu selo de revisão está presente nele, e queria apenas averiguar de que não foi um engano. Sabe, poderia ser catastrófico um erro desses. — O jeito indiferente e irreverente do rapaz deixou-me nervosa.
— Bom, sempre tento revisar meus documentos muito bem, e posso ter realmente apenas me enganado.
— Aqui. — Ele se põe de pé, entregando-me o envelope.
— Obrigada. Precisa de mais alguma coisa? — A impaciência para que o homem fosse embora começava a se fazer presente na minha cabeça.
— Não, com licença.
*
"Faltando meia hora para o almoço, fui até o meu apartamento. Estava com tanta fome que poderia facilmente comer as paredes e o reboco.
Tinha comida congelada, como sempre. Sybil não sabia cozinhar, era uma ótima atriz de teatro, mas uma péssima cozinheira. E com isso, sempre acabo relembrando do episódio em que ela quase queimou a nossa casa fritando um ovo, sim, um mísero ovo.
Senti que deveria apenas ficar ali, descansar um pouco e pôr a mente no lugar novamente. Malmente engoli a última garfada e acabei cochilando na poltrona da sala.
Até que escutei algo estranho, algo como uma batida única na porta, então olhei em volta e através do relógio que havia acima da porta de entrada, soube que já era três da tarde. Sybil tinha a chave, e se chegasse, seria tarde da noite ou no dissipar da madrugada.
Levantei abruptamente, relembrando da mensagem que havia recebido mais cedo, e me alonguei para tentar diminuir a tensão que estava sentindo nas costas, parecia até que tinha carregado inúmeros pacotes pesados. Estava um pouco nervosa, talvez aquele "aviso" tenha mexido com a minha cabeça. Ou era só o efeito de ter acordado tão rápido com a barriga ainda cheia.
Fui até a porta, e por baixo havia um papel, que era um recorte de uma matéria.
|SAIBA MAIS SOBRE STELLA STONE, A NOVA QUERIDINHA DOS JORNAIS!|
Fiquei sem entender absolutamente nada, pois não conhecia nenhuma Stella Stone, e por quais raios eu iria querer saber quem é ela? Será que Sybil tinha alguma coisa a ver com isso?
Amassei o pedaço de recorte e joguei no lixo.
Me preparava para voltar ao trabalho, enquanto remexia em algumas coisas da gaveta procurando por um pente, e achei meu carimbo. Confusa estava, confusa permaneci.
Porém, o mais estranho de tudo isso, era como eu poderia ter marcado aquele documento que o Andreas levou até mim, se em todo esse tempo ele estava em casa?
Senti-me com medo e receosa, e assim, decidi ir até a delegacia. Fiz os procedimentos normais e acabei sendo escoltada até o meu trabalho.
Antes das quatro, já havia chegado no departamento. Estava tudo nos conformes, e no mais completo silêncio. Todos trabalhavam na maior concentração, e acredito que nem perceberam a minha chegada.
Entrei na minha sala e me deparei com outro bilhete, que dizia o seguinte:
Trabalha como se vivesses para sempre. Temes como se fosses morrer hoje.
Ok, se isso não era uma ameaça, então o que mais poderia ser? Pensei comigo mesma, até lembrar que todos os anos, trotes como esse eram feitos.
Confesso que fui agressiva na cena a seguir e não me orgulho, estava com medo e não soube reagir de forma racional."
*
— Quem colocou isto no meu escritório?! — Esbravejei da porta enquanto todos levantaram o olhar encarando-me assustados e confusos.
— Senhorita Becker, esse papelzinho chegou minutos depois que saiu para o almoço. Não tinha remetente nem nada do tipo, apenas o seu nome, então pus na sua mesa. — A secretaria pôs-se de pé em meio a gaguejos.
— Susan, quem trouxe isto?! — Disse enquanto me aproximava da moça.
— O carteiro, estava junto com as outras correspondências. — Explicou assustada.
*
"Senti alguns olhares ociosos, e constrangida, voltei rapidamente para minha sala me jogando na cadeira colocando e meu rosto entre as mãos. Me sentia prensada e assustada, quem poderia estar por trás dessas brincadeiras horrendas?
Cada vez mais eu sentia algo estranho crescer dentro de mim, algo diferente. Talvez medo? Ou ceticismo?
Por alguns longos minutos refleti sobre o que poderia levar algumas pessoas a fazerem certas coisas, essas coisas.
Um exemplo disso acabou sendo Sybil. Tão nova, linda, talentosa, e já envolvida com drogas e bebidas. Seus cabelos ruivos em tonalidade de fogo estavam lentamente se apagando, sua pele havia ficado flácida, seus olhos verdes ficaram fundos e opacos e seu corpo antes esbelto, sofria com alguns hematomas e escoriações, além da perca de peso exagerada causada pelo excesso de pó.
Lembro-me de uma noite que a vi caída no portão de entrada do edifício. Estava ensanguentada e machucada, e imaginei que se envolveu em uma briga com um viciado em um beco qualquer por cocaína. Sentia desespero sempre que a encontrava nesses estados, ver a pessoa que cresceu com você se matando aos poucos diariamente era frustrante, ainda mais por saber que sua ajuda não era bem-vinda.
Na faculdade de administração era um caos, sempre tinha um fumante de um lado a outro. A fumaça torturava meus pulmões, então constantemente reclamava com alguns colegas, que faziam questão de me ignorar com veemência.
Saí do meu transe e caminhei até a larga janela da sala, observando a vista límpida de Lashbury e o sol que estava se pondo em meio ao emaranhado de árvores grandes e volumosas que gerava um misto de colorações. Imaginei-me em um campo de margaridas, o mesmo campo que meu pai me levava quando eu tinha dez anos.
Papai, meu doce e querido pai, sempre tão atencioso e zelador.
Sempre tivemos uma relação maravilhosa. Passeávamos na quinta, aos sábados caminhávamos em volta do Winter Park e nos domingos assistíamos filmes antigos com muita pipoca e refrigerante. Ele sempre me deixava escolher os filmes, e me deixava até repetir meus favoritos.
Conto tudo isso porque quero lhe mostrar que não fui só uma vítima qualquer, gosto que veja que no meu pouco tempo de vida, eu vivi e tive muitas histórias para contar, alguns sonhos que realizaria ainda, como outros desejos e feitos.
Minha mãe era especial, sempre sentia quando eu estava precisando de um abraço. Mas não era isso que a tornava assim, havia algo nela que me fazia sentir segura nas mais diversas ocasiões, ela me passava tranquilidade e paz.
Enquanto pensamentos iam e vinham, anoiteceu.
Constavam sete, oito, nove, dez horas. E a cada instante o departamento se esvaziava mais e mais.
Eu era a última a sair, pois estava responsável por fechar o escritório naquela noite e não estava muito a fim de chegar em casa cedo, logo o pensamento de que provavelmente Sybil estaria bêbada, chapada ou os dois invadiam minha mente, me fazendo temer um pouco.
Marcando onze horas em ponto, fui em direção a saída. Levei no máximo cinco minutos para fechar tudo, e segui rumo ao ponto de ônibus.
O último da grade sempre passa por volta das onze e vinte, então não tinha tamanha preocupação em perdê-lo.
Mas, acredito que você chegou a reparar que eu nunca consegui chegar sequer no ponto, já que realmente, eu nunca consegui chegar.
Caminhava rapidamente, se não bastasse estar tarde e alguns dos postes estarem queimados, eu era mulher. A um quarteirão de chegar, notei a sombra de alguém me perseguindo. Por sorte, naquela mesma hora, uma viatura passou e pedi para que me acompanhassem até o ponto de ônibus.
Prestes ao entrar no automóvel, os policiais foram fazer uma vistoria na região a meu pedido, e foi aí que meu pesadelo começou.
Subindo o primeiro degrau puxaram-me rapidamente, tapando minha boca e nariz com um tecido encharcado com algum tipo de substância que instantaneamente acabei inalando. Era uma mistura de clorofórmio, éter e metanol.
Como sei que era isso? Estou morta, ué.
Estava meio desacordada, mas podia sentir ele me arrastando pelo chão úmido e pegajoso.
Um homem alto, retirou minhas roupas enquanto pronunciava palavras em latim enquanto arrastou-me pelos cabelos até a entrada do departamento. Sim, arrastou meu corpo já inanimado por todos os cinco quarteirões enquanto falava ao telefone com alguém. Puxou uma grande adaga do enorme casaco de couro preto e começou a abrir-me de cima a baixo, em uma grande linha reta, enquanto proferia algum tipo de frase filosófica grega.
Depois de ser apagada, senti minha alma saindo lentamente do meu corpo, o que foi muito estranho. Era como se meu espírito já soubesse que minha hora havia chegado, então eu meio que pude presenciar e sentir a minha própria morte.
Em um tom sádico e pervertido, brincou com meus órgãos como se fossem amebas gigantes, e encheu um grande cálice de prata, que tinha algumas frases no corpo talhadas em latim, e usou do mesmo líquido para escrever e desenhar nas paredes algumas simbologias e frases.
Continuou seu ritual, e... não consigo continuar, desculpa.
Eu acabei de presenciar e sentir a pior cena de toda a minha vida, e sim, foi pior que qualquer cena gore de filmes de terror, já que dessa vez eu estava me vendo.
E novamente aquele nome surgia. Stella Stone. Seja lá o que venha a significar, ela está correndo um grande risco.
Só então pude ver nitidamente quem estava por baixo daquele capuz. O homem retirou sua peruca, e sua máscara. Seu rosto estava desfigurado com cortes e símbolos satânicos, e seus dentes eram dentaduras. Andreas Draviar era uma fachada.
O que agora era real?
A minha teoria do carimbo se encaixava perfeitamente. De alguma forma ele sabia coisas sobre mim, como funcionava minha rotina, meu trabalho, minha vida, quem era minha família. E por um descuido besta de Sybil, ele poderia ter facilmente entrado no apartamento e tido acesso aos meus pertences.
O que eu faria agora? Nada.
Afinal, quem sou eu e como cheguei aqui?
Eu não sou ninguém. Sou apenas um espírito perdido, procurando um lugar para ir.
Enquanto isso, ao longo da cidade, poderia se ouvir o tintilar dos sinos. Era dia sete, meu aniversário.
Enfim, chegou a hora da minha partida definitiva. Uma trilha se formava em minha frente, e um portal, com uma fila de pessoas no mesmo estado em que me encontrava, aguardava-me.
Espero que o descubram, e que alguém possa me vingar."
Notas da Autora
Revisão Concluída ✅
Espero que tenham gostado do capítulo, e do decorrer da história. É crucial que saibam os pontos de vista de cada uma das vítimas, já que as mesmas, podem dar algumas pistas sobre o terrível Astrólogo.
Não se esqueçam de comentar e curtir!
Se avistar algum erro, não hesite em sinalizar (lembrando que gentileza gera gentileza).
Beijinhos, e até mais. 🖤✨
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro