25- E foi embora
CAPÍTULO VINTE E CINCO
"E foi embora"
Fui subir o morro e levei um tiro
Parei no hospital, mas quem morreu foi o bandido
Dentro do meu leito sofri uma emboscada
Tinham dois traficantes com a doze engatilhada
♦ ♦ ♦
A jovem deu um suspiro longo, em alívio.
Não era o momento certo de ela se sentir vitoriosa daquele feito. Devia ter chamado um Uber antes. Mas e agora? Sacaria seu celular na frente de todo mundo? Não. Era perigoso demais. Não só por um possível roubo ou assalto. Mas por coisa pior. De qualquer forma, não poderia ficar parada na rua. Ainda mais com sujeitos perigosos por perto.
O homem do rádio continuava lá. Parecia estar bastante atento em seus movimentos.
Por mais que estivesse nervosa, não poderia demonstrar isso. Os bandidos preferem as presas fáceis. E Astrid não seria uma. Ergueu a cabeça e a virou para sua direita.
Em passos firmes e rápidos, andou para onde parecia ser uma praça. Precisava ir para um lugar mais movimentado para que se sentisse segura.
Não podia confiar em ninguém ali. Sua aparência era bem diferente dos moradores dali. Branca, loira dos olhos azuis. Chamava muita atenção. Todos sabiam que não era dali. Por vezes, atraía olhares não muito confortáveis.
Engoliu em seco quando um rapaz cruzou o seu caminho e, com um olhar malicioso, acompanhou seu andar após dar as costas para ele.
Seus olhos arregalaram quando observou, estacionado na praça, um carro prateado com os vidros pretos, bloqueando a visão para seu interior.
Mas ela conseguiu notar o selo que distinguia os veículos oriundos do 10º Batalhão de Polícia do Exército.
Pelo modelo do automóvel, podia deduzir que era de um oficial ou sargento. Primeiramente porque era bastante caro. Dificilmente um militar de patente inferior conseguiria adquirir um daquele modelo. Em segundo lugar, para conseguir o selo, era necessário ser oficial, subtenente ou sargento com a comprovação da carteira de habilitação.
Respirou aliviada, indo direto para o veículo. Estava ciente de que a observavam. Afinal, havia saído da casa de Isaque repentinamente. Mas ela precisava colher as informações de Diego e mostrar que era uma amiga deles na investigação.
E o fato de ser civil contribuiu para que as informações fossem lhe passadas com mais facilidade.
Ao se aproximar cerca de um metro do automóvel, a porta do carona se abriu.
O jovem que também a observava de longe logo saiu do carro com os olhos estreitos. Seu coração disparava forte. Também observava a caminhada da moça. Não com malícia ou como se ela fosse um pedaço de carne. Mas com curiosidade, interesse e admiração. Não podia negar que a beleza da moça o deixou meio desconcertado.
Era necessário que a tratasse como uma suspeita fugitiva. Que havia acabado de sair da moradia de um bandido.
— Astrid Rógen? — Perguntou-lhe, com o cenho franzido. A jovem ficou estática por alguns instantes, até cair em uma gargalhada — O que...
— Ah, desculpa! — Ela disse, entre risos, e abriu a porta do banco de trás, entrando logo mesmo sem ser chamada — Meu nome se pronuncia Rêigan. Por isso eu achei engraçado.
Ele se virou e levantou uma de suas sobrancelhas.
"Que garota é essa?"
Entrou no carro novamente. Dessa vez, no mesmo banco que ela, e fechou a porta.
— Senhorita Hoegen — falou pausadamente, dessa vez, da forma certa — Sou o Aluno Vinícius Dantas e este é o Tenente Jean Smith. Nós somos da Polícia. Estamos investigando o assassinato de Leandro Magno e Vitor Mendes. Você não foi avisada de que deveria estar lá no Batalhão para prestar seu depoimento?
— Primeiramente, desculpe-me por entrar assim sem mais nem menos! — Ela disse, dando um suspiro aliviado e pousando a mão direita sobre o peito — Tinham três caras olhando pra mim de forma bem estranha! Eu precisava sair da vista deles.
— Oh, não. Não se preocupe... — Foi Jean que falou, observando pelo retrovisor a conversa que se iniciava ali — Mas como entra no carro de qualquer um assim?
— Bem, então... — Ela começou, ajeitando-se sobre o assento — O modelo do carro e o selo. Sabia que eram do Batalhão. Sabia que viriam atrás de mim também. O cabelo curto de vocês e a face lisa me fizeram ter mais certeza. Por favor, só quero ficar longe daqueles olhos de caçador.
— Ok. Está tudo bem. A gente só quer fazer umas perguntas! — Vinícius explicou, tentando deixá-la calma.
Mas ela já havia se acalmado. Podia perceber a boa intenção daqueles dois.
— Está bem. Eu realmente devo muitas respostas para vocês. Sei que não devia ter saído da casa do Zack sem mais nem menos. Mas eu precisava. Meu patrão havia acabado de ser assassinado! Não podia esperar. Eu tive que vir.
— Espera... O quê? Não entendi.
— Quando soube da morte de Leandro, eu corri pra casa do Alan. Dei meus pêsames à Carmen e tive uma conversa com o Zack. Ah, Zack! — ela deu um suspiro. Seus olhos brilharam ao falar do militar — Aquele garoto... Ele tem depressão. E está em um estado bem preocupante. Me sinto tão mal em saber que, durante esse tempo todo, não o ajudei...
— Vocês eram íntimos de alguma forma?
— Oh, não. Pra falar a verdade, nunca trocamos muitas palavras. Meu contato mesmo era com Carmen e Leandro. Meus patrões. Eu ia fazer meu trabalho nos finais de semana. Não recebia muito, mas era o suficiente pra custear uns projetos meus da igreja e algumas coisas da faculdade.
— E o que falava exatamente com eles?
— Com o senhor Leandro, coisas cotidianas. Como um "Oi! Tudo bem". Raramente conversávamos sobre outras coisas. Já com a Carmen, na semana passada, eu tomei a liberdade para falar um pouco sobre sua vida. Mais precisamente, sobre como eu via o rompimento dela com o marido.
Aos poucos, Vinícius foi ficando mais à vontade com a moça. Pôs a mão no queixo e observava a fala da dona de uma voz doce, suave e melodiosa.
Aquilo agradava os ouvidos do militar, que vez ou outra se pegava distraído naquele belo par de olhos azuis.
— Está bem... E o que falou com Isaque? — Perguntou, voltando a se concentrar na investigação.
— Na verdade, foi ele quem falou. Simplesmente o deixei dizer o que sentia. E ele me contou. Contou tudo o que o angustiava. Suas dores, seus medos, traumas... Digo, todas que se lembrava, né? Não tinha nem tempo pra falar de tudo. Mas eu me dispus a ouvi-lo. Ofereci um ombro amigo. E fiz questão de deixá-lo o mais à vontade possível. Ele chorou, gaguejou e resmungou muito. Você não sabe o quanto aquilo o fez bem... — Deu uma pausa, tentando se lembrar daqueles momentos — Depois de tudo, perguntei-lhe um pouco mais sobre o que havia feito naquela noite e sobre Diego.
— E ele te contou?
— Contou — disse, afirmando com a cabeça — E disse que seu antigo padrasto lhe fez uma visita. Foi ele quem falou que tudo já estava feito e que estava tudo bem.
— E o que mais?
— Ele também disse que pensou em se suicidar ainda hoje. Que não aguentava mais. No entanto, pensou melhor. Vai dar mais uma chance à vida.
— Ufa! — O rapaz suspirou, aliviado — Ainda bem!
— A mente dele ainda está frágil. Não se sabe quando ele vai ter uma crise de novo.
— Tem razão — confirmou, voltando seu assunto para o antigo traficante — E quanto a Diego? O que conversou com ele?
— Está tudo gravado aqui — ela falou, pegando, do bolso de sua blusa, um chip. Um dispositivo diminuto com plug USB.
Jean apanhou o aparelho e colocou no rádio do carro, possibilitando que todos ouvissem a conversa.
Após terem terminado de ouvir, o som foi desligado.
— Que convincente você, hein! Quase que caí nesse teu papo furado — O tenente brincou, rindo logo em seguida, mas os jovens do banco de trás permaneceram em silêncio.
— Não sou mentirosa, senhor — Ela falou, com um olhar repreensivo — tudo que eu falei foi com muita sinceridade.
— Ah, vá! Acredito! — Ele falou, com um sorriso amarelo. Sua brincadeira parecia não ter graça para a moça — E eu não entendi algumas coisas... Pareceu falar umas coisas bem aleatórias. Netflix, número de celular...
Astrid não conseguiu conter o riso, que dessa vez, fez Jean levantar uma das sobrancelhas.
Vinícius suspirou. Ele havia compreendido as verdadeiras intenções da empregada. Surpreendeu-se com isso.
— Eu não menti, senhor Jean. Reafirmo isso. Mas uso, sim, minhas estratégias para conseguir informações. Por exemplo, sei que ele blefou quando disse que ficou em casa assistindo Netflix. Foi só fazer uma pergunta simples que ele gaguejou. Se mentiu, é porque tinha o que esconder.
— E só por isso você afirma que ele saiu pra fazer algum crime?
— Não foi só isso! — Ela disse, empolgada com cada descobrimento — O tênis que encontrei estava úmido e sujo. Bem, hoje não choveu aqui em Bangu. E estava sujo. Uma poeira leve. Sinal de que ele saiu de casa no dia anterior.
— E ele afirmou duas vezes que ficou em casa — Vinícius falou, coçando o queixo enquanto escutava atentamente as reflexões da loira.
— Exato! Se não fez nada demais, por que mentir? — Fez uma pergunta retórica, fitou os olhos negros de Vinícius e abriu os lábios rosados em um sorriso simpático.
Os dois, então, perceberam que seus pensamentos estavam andando no mesmo caminho. O que, para o militar, era impressionante. Perguntava para si mesmo como ela havia chegado naquele entendimento do crime. Afinal, ele estava muito mais por dentro do caso que a loira.
Foram apenas alguns poucos minutos que falaram, mas foram suficientes para ele perceber o quanto aquela jovem era inteligente.
— Que tipo de empregada é você? — Ele falou, sorrindo admirado.
— A que precisa de dinheiro — Ela de uma gargalhada e, em seguida, os três acharam graça da situação — Mas o que quero mesmo é ajudar a solucionar crimes como esse.
— Sei, mas falta muito ainda pra isso. Por enquanto, você é suspeita — Jean logo se manifestou, sério.
— Tanto faz. Eu vou descobrir quem fez isso com o Leandro.
— E suspeita de algo?
— Olha... Eu suspeito que tem coisa errada no Diego. O quintal dele era todo gramado. Mas havia um pedaço, no canto, sem mato nenhum. Tinha, também, um resto de cinzas que indicam que teve uma queimada lá. Ele estava se livrando de alguma coisa! Lembra quando eu liguei pra ele? — Os dois assentiram — O celular tocou no quarto. Logo depois, eu perguntei as horas e ele apanhou outro aparelho. Ou seja, ele tinha dois!
— E qual o problema? — O oficial questionou, levantando uma das sobrancelhas.
— Nunca vi um celular como aquele. Certamente, usava para fazer algo ilícito. Fica difícil afirmar, mas tenho mais que a convicção para deduzir que ele não melhorou na cadeia.
— Isso eu já esperava — comentou Smith, estalando os lábios — Um marginal daqueles...
— Pois é! — Ela se virou, procurando em sua mente os melhores argumentos para manifestar sua opinião sobre o assunto — E vocês não acham isso errado? A grande maioria das pessoas que são presas voltam a cometer crimes. É um ambiente que praticamente te torna alguém pior do que já era. E isso só piora quando, aqui fora, a sociedade não oferece oportunidades para os ex-presidiários reconstruírem suas vidas.
— Ah, errado ou não, ele cometeu um crime. Tem que ser punido!
— Não discordo disso nem por um segundo! Por isso, eu suspeito quando um estuprador, traficante e ladrão diz que mudou. Isso é bem possível de acontecer, mas é raro! E não acho que seja o nosso caso.
— Tem razão — Vinícius falou, com os olhos estreitos — O sistema carcerário torna as pessoas mais violentas e mais suscetíveis ao crime.
— Exato! E então, eu me pergunto... Isso prejudica a quem? Ao criminoso, somente? Ou a sociedade inteira?
A pergunta não foi respondida. Não precisava. Os militares estavam bastante preocupados em colocar seus pensamentos em ordem para afirmar algo que já lhes convencera.
Foi quando Vinícius se deu conta de que devia continuar a fazer perguntas à loira.
— Quais foram seus passos de ontem, Astrid? — Ele a fitou da cabeça aos pés, tentando estudá-la com os olhos.
Ela engoliu a seco e selecionou as palavras corretas para responder.
— Ontem eu fui trabalhar na casa dos Magno às uma da tarde. Varri, passei um pano na casa, limpei os móveis, lavei a louça e ainda tentei consertar o ar-condicionado que, segundo o Senhor Leandro, estava quebrado. Mas quando fui fazer isso, ele disse que levaria pra consertar. Dona Carmen chegou dizendo que iria restaurar o casamento dela. Comprou uns presentinhos, escolheu um filme e pediu para eu fazer uma pipoca. Mas quando Leandro chegou, veio com o Natan. Nem sinal do ar-condicionado. Ele tava muito animado com o filho. Eles comeram a janta que eu fiz e o garoto foi embora. Foi então que começou a discussão. Leandro tinha apresentado a Carmen como ex-esposa dele! Já estava quase no meu horário de ir embora, quando ela veio até a mim pedir ajuda. Eu a consolei, falei um pouco com ela, e ela foi embora. Eu fiz o mesmo, então. Deixei Leandro sozinho. Chegando na minha casa, só dormi.
— Você lembra que horas, mais ou menos, seu patrão ia dormir? — Vinícius questionou.
— Cedo. Geralmente, às dez, dez e meia da noite...
— Tenente — O jovem se virou para o oficial — O senhor lembra se as janelas dos quartos superiores estavam abertas?
— Não — ele respondeu, rispidamente — Estavam fechadas. Do piso inferior também.
— Certo... — Ele suspirou, pensativo.
— Eles sempre mantêm as janelas abertas quando não tem ninguém. Ou até saírem da casa — A loira falou, interrompendo o pensamento do jovem.
— Alguém poderia ter invadido pela janela e fechado, logo em seguida — Jean Smith falou.
— Negativo. As janelas só se fecham por dentro! A menos que tenham invadido, matado Leandro, fechado as janelas e, por fim, fugido pela porta da frente.
— O soldado de serviço, provavelmente, veria se isso acontecesse... — O jovem falou, em um suspiro.
— Aquele que estava no celular? — O tenente disse, rindo da situação que só se complicava.
— Espera! — como se uma lâmpada iluminasse suas ideias, Vinícius pensou em algo e logo chamou por Smith — O tenente Alan Nunes não falou com o senhor pela janela do quarto?
— Sim.
— E se a janela não estivesse aberta? E o tenente fechou depois?
— A janela do segundo andar? Como assim? — A loira questionou, arqueando as sobrancelhas — Usaria uma escada? Não, gente. Isso é impossível. Qualquer um notaria alguém usando uma escada para entrar no quarto. Não, não!
— Ela tem razão — O militar mais moderno admitiu, coçando o queixo novamente. Logo, lançou um olhar questionador para Astrid — Você tem a chave da casa, né?
— Tenho. Ando com ela.
— E não há a possibilidade de alguém ter pegado ela de você? — Perguntou, com os olhos estreitos.
— Negativo — ela respondeu prontamente — Ela só anda comigo.
— A chave da casa de Leandro estava no criado-mudo dele... — Smith acrescentou a informação.
— As outras ficam com você — Vinícius disse, apontando para a garota, que engoliu em seco — Carmen e Joyce.
— Será que o Steinberg... — O tenente ponderou, em sua mente, mas ninguém respondeu.
— Não faço ideia. Temos que voltar e perguntar para eles.
— Eu vou com vocês! — A jovem anunciou, levantando o queixo.
— Como é?
— Isso. Se não posso acompanhar vocês na investigação, eu mesma farei minhas pesquisas! — Ela disse, confiante.
O Aluno ia reagir. Dizer que ela não poderia, simplesmente, bancar a detetive. Era ainda uma suspeita. E mesmo que não fosse, Jean seria irresponsável em deixar uma garota civil, que acabara de conhecer, envolver-se na investigação. Poderia ser perigoso, até.
No entanto, nada foi falado. O celular de Vinícius tocou.
Os três se entreolharam. O jovem retirou o aparelho do bolso e logo foi checar sobre quem se tratava. Era Joyce Freitas que ligava.
Ergueu uma das sobrancelhas. "Aconteceu alguma coisa? Será?"
Não esperou muito tempo. Atendeu e colocou no modo viva-voz.
— Alô? — Ele disse.
— Oi, é a Joyce... É o Dantas?
— Oi, Joyce! Sou eu mesmo. Tá tudo bem?
— Você tem alguma notícia do Zack aí? Faz uma hora que ele veio aqui, trocou de roupa, e foi embora.
— Quê? Mas... Já ligaram pra ele?
— Sim! Ele não levou o telefone! Não disse nada! A gente está desesperado aqui! O Alan tá desesperado ligando para um monte de gente, ver se sabem de alguma coisa... E até agora, nada!
— Joyce, você sabe o que ele foi fazer no Batalhão?
— Se eu não me engano, foi ver alguma coisa na Enfermaria... Não sei.
— Vou fazer o possível, Joyce. Qualquer coisa, eu te ligo!
— Muito obrigada! Até.
A ligação chegou ao fim.
— Essa, não! — Astrid logo levou a mão a boca. Seus lábios tremiam. Seus olhos azuis estavam marejados. Em sua mente, passava-se um monte de coisas.
— Vou ligar para a Sargento Jéssica. Espera aí... — Jean falou, com o celular em sua mão e discando o número.
— Alô? — A mulher disse, do outro lado da linha.
— Jéssica, sou eu, tenente Smith. Você sabe se alguém da Seção de Saúde falou alguma coisa pra chamar o Isaque?
— O Isaque? Sim, senhor! Claro! Chegou do Hospital o resultado do exame de sangue que foi feito nele.
— Um exame? Você sabe o quê, exatamente?
— Olha, é uma coisa delicada... — ela parecia incomodada com a situação, suspirou.
— Diga, Jéssica! Precisamos saber!
— Oh, está bem! Eu falo. Isaque foi diagnosticado como soropositivo. Ele possui o vírus da HIV.
— Ele... Quê?
— Eu irei conversar com ele sobre isso ainda. Vou explicar tudo sobre como ele pode se proteger e manter uma vida saudável e normal. Sem risco de sofrer os sintomas. Afinal, ter o vírus não significa ter a doença. E também...
— Jéssica, está bem! Vou desligar agora.
O celular desligou sem que a mulher possa concluir seus pensamentos.
O coração de Jean apertou por um momento. Astrid, com os olhos arregalados, pousou a mão no peito. Trincava os dentes e contraía o músculo do mento. Vinícius também estava assim.
Os três demonstravam um grande sentimento de desconforto em relação a notícia.
— Isaque é soropositivo... — Vinícius disse, paralisado — E ele saiu sem falar nada... Eu... Aquela seringa na mão dele!
— Não é possível! Não! — A moça deixou escapar uma lágrima cair de seu olho esquerdo. Balançava a cabeça para a horizontal, em negativa. Não queria aceitar aquilo que, agora, sua mente começava a imaginar — Anda! Precisamos sair logo daqui! Jean, você sabe onde fica a Rua 20?
— Posso colocar no GPS aqui — Ele falou, prontamente pegando seu celular e calculando o caminho.
— Rua 20? É a rua do... — Vinícius tinha dificuldades em processar aquelas informações em sua cabeça.
— De um prédio alto. Ele me disse que pensava em se jogar de lá. E foi pra lá. Tenho certeza! — Ela disse, utilizando palavras carregadas de desespero. Fixou seus olhos na estrada.
O carro se moveu, finalmente.
Demoraram cerca de dez minutos até chegar na tal rua. O prédio branco, abandonado, repleto de pichações, ficava em uma esquina, onde se reunia um grupo de pessoas. Cerca de quarenta pessoas em volta de algo no meio da rua. Curiosos que não perdiam a oportunidade de fotografar e divulgar uma notícia trágica. Nem que esta seja uma tragédia.
Podia-se ver a multidão com um olhar de terror, tristeza e espanto. Algumas estavam com o celular, provavelmente falando do ocorrido.
A Polícia Civil parecia ter chegado fazia pouco tempo. Uma viatura estava por perto e alguns funcionários ocupavam-se colocando faixas amarelas para delimitar o local.
Vinícius e Astrid foram os primeiros a sair do veículo. Correndo logo em seguida até o centro das atenções. Mas o rapaz não conseguiu conter a curiosidade até chegar lá. Aproximou-se de uma mulher de meia idade que se afastava da cena com aparência abatida, provavelmente com enjoo.
— Moça, a senhora sabe dizer o que aconteceu ali?
— Você não sabe? — Ela falou, contraindo os lábios. O coração de Vinícius quase saiu pela boca. Não queria ter que enfrentar a realidade — Um rapaz acabou de se jogar do décimo andar!
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