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21- O momento da raiva

CAPÍTULO VINTE E UM

"O momento da raiva"

♦ ♦ ♦

— Tenente, eu... — O Aluno dizia, antes de focar seus olhos pretos nos azuis de Smith — Eu quero dizer que sinto muito por tudo o que houve! Eu me arrependo tanto de... — parecia que as palavras falhariam enquanto o jovem falava. Sua respiração pesada e os olhos marejados denunciavam o pesar em tocar no assunto — de ter sido tão injusto com ele!

— É mesmo? — Jean cruzou os braços. Seu objetivo era começar as perguntas logo, mas preferiu ver aonde o jovem iria chegar.

— Sim! — Ele falou, respirando fundo logo em seguida — Não sei se o senhor sabe, mas ele se revelou o meu pai no campo, quando eu fui à enfermaria. Lembra? — O oficial fez que sim com a cabeça — Eu disse tanta coisa! Eu nutria muito ódio por ele. Pelo que ele fez com minha mãe...

— E o que ele fez?

— Ele cedeu à pressão da família, que não aceitava uma nora negra e favelada. E então, ele a deixou quando estava grávida de mim. Na época, ele não sabia disso. Minha mãe escondeu o fato durante todo esse tempo. Por ocasião do destino, nós nos encontramos. Eu tinha tanta raiva do pai que criei em minha mente que, nossa... — fez uma pausa para enxugar as primeiras lágrimas que caíam em seu rosto — Quando ele se revelou pra mim, eu não aceitei! Mas ele insistiu. Provou, de diversas maneiras, querer se reconciliar comigo. Não sei o porquê, mas ele lutou por mim. E então, depois de um bom tempo, eu reconheci que ele merece uma segunda chance. Todos merecemos. E, mesmo contra a vontade de minha mãe, fui aceitando me encontrar com ele.

— Quantas vezes vocês se encontravam?

— Quase todos os dias ele me chamava no seu escritório após o expediente. Ele me perguntava sobre tudo. Ele me contava certas coisas sobre ele também. Comecei a gostar da ideia de pertencer a família Magno. E minha mãe precisava entender que ele não era esse monstro todo que ela pintava!

— Você contou pra ela que vocês conversavam?

— Só ontem.

— E o que ela achou?

— Ela enlouqueceu. Foi totalmente contra. Mas ela entende que, com dezenove anos, eu já tenho idade suficiente para tomar minhas próprias decisões e, por conta disso, não iria interferir.

— E como foi que vocês descobriram a morte de Leandro? — Ele questionou, de olhos estreitos.

— Carmen ligou para mim. Eu avisei a minha mãe e lembrei da situação do testamento.

— Como ela reagiu à notícia?

— Ficou muito abalada! Não fez escândalo. Apenas ficou alguns minutos em transe.

— E William?

— Ele não demonstrou muita importância, pra falar a verdade. Mas ele jamais desejaria a morte de alguém. Sei que também lamenta isso.

— Está certo — Ele disse, fitando minuciosamente as expressões do garoto. Não parecia mentir — Bem, em todos que eu interroguei, perguntei sobre o que fizeram na noite do crime. Mas quero saber, de você, todos os seus passos de ontem. Durante o dia todo.

O jovem respirou fundo e engoliu em seco. Procurou com os olhos alguma saída para aquele momento delicado, mas por fim, encarou o tenente novamente. Pronto para dar sua resposta.

— Não fiz muita coisa durante a manhã. Acordei tarde e fiquei em casa mesmo. Minha mãe se preparava para uma sessão no teatro. William a acompanhava em todos os lugares. Fiquei sozinho, então. Assisti TV, almocei e, bem... Às duas da tarde, o Comandante me ligou. Perguntou se eu não queria ir com ele assistir a um jogo de vôlei. Em uma das conversas, a gente percebeu o quanto amávamos o esporte. Eu topei na hora. Me arrumei e fui. Ele estava todo bobo. Feliz. Eu também estava. Eu finalmente tinha um pai! Um pai que parecia me amar! E eu me arrependo tanto do tempo em que o negava — As lágrimas vinham gradativamente, mas ele não fazia esforço para contê-las. Agora, aquelas cenas não se repetiriam e ficariam apenas em sua lembrança — Quando o jogo acabou, fomos pra casa dele. Chegamos lá era umas cinco da tarde. Carmen estava lá com a empregada. A gente jantou e eu vim embora. Ele pagou um táxi pra mim. Quando cheguei em casa, eram sete e quarenta. Falei com a minha mãe o que tinha ocorrido. Confessei tudo. Ela deu o chilique dela, mas depois se recompôs. William também me deu uma bronca, mas chegamos à conclusão de que eu era dono de minhas próprias ações. E deu tudo certo. Às nove horas, eles precisaram voltar para o teatro. Dessa vez, minha mãe não se apresentaria, mas era o primeiro show daquela peça. Os dois, como diretores, precisavam assistir até o final.

— E que horas terminou essa peça?

— Se não me engano, à meia noite. Chegaram aqui era uma e meia da manhã. Queriam falar com o elenco e todo o pessoal. Por isso a demora.

— E nesse meio tempo, o que você fez?

— Eu fiquei em casa batendo papo na internet e dormindo. Não saí de lá, eu juro. Minha casa fica há quilômetros da casa do meu pai!

— É. Realmente... — Ele disse, em um suspiro— Você tem alguma ideia de quem é o assassino?

O jovem arregalou os olhos. Visivelmente desconfortável com a pergunta.

— Não faço ideia, tenente. Não acho que ele tinha muitos inimigos além dos bandidos que prendeu. Existia um pessoal que não gostava dele como Comandante também, mas nada tão grave a ponto de querer matá-lo.

— É. Mas nessa semana, ele comandaria uma grande operação na favela... Ele chegou a comentar algo sobre?

— Ele disse que um general que delegou a missão. Não lembro... Não tocávamos muito nesse assunto.

— Ele comentou algo sobre o Subcomandante?

O garoto franziu o cenho e coçou a cabeça, em uma tentativa de lembrar de suas conversas com o pai.

— Acho que o Subcomandante não gostava muito da ideia de ele falar comigo. Não sei. Eles são da mesma turma, o senhor sabe. Mas o meu pai foi melhor classificado. Só que eles não são muito competitivos. Acho improvável que tenha sido ele...

— Ele falava algo sobre os sobrinhos?

— Ele dizia que sentia muito carinho por todos os três. Não acho que isso era falso. Ele sempre tratou o Zack e o tenente Alan como trata qualquer outro militar aqui. Sem privilégios. Mas parecia existir um amor fraternal ali sim.

— E ele dizia algo sobre suicídio?

— Suicídio? — Ele devolveu a pergunta. Suas pupilas contraíram imediatamente e seus olhos já paravam de expelir lágrimas — Na verdade, ele já comentou sim que, uma vez, pensou em tirar sua própria vida. Quando eu o neguei naquele dia de campo. Mas depois, ele abandonou a ideia e nunca mais teve — Virou-se para o oficial e o encarou nos olhos — Tenente, meu pai sofria depressão. Era óbvio aquilo. Mas ninguém fazia nada para ajudá-lo. Talvez por ele ser o Comandante. O fato é que ele não andava nada bem. Mas, à medida que ficamos mais próximos, ele melhorava. Ele não parecia estar mal quando morreu.

— Entendi — ele disse, em um suspiro — E qual sua relação com o Soldado Vitor?

— Vitor? — Ele inclinou a cabeça e ergueu a sobrancelha esquerda — Nunca nem vi.

— Sendo assim, está dispensado, Steinberg.

— Obrigado, tenente! — Ele falou, respirando fundo, aliviado. Levantou-se e caminhou em direção a porta.

— Chame sua mãe para mim. Quero ver o que a Senhora Estela tem a dizer... — Ele falou, cruzando as pernas.

O Aluno engoliu em seco e assentiu. Partindo, por fim.

Não demorou muito para Estela aparecer. A mulher se sentou no local indicado assim que adentrou no recinto. Arrumou seus cabelos e acomodou-se no assento até encontrar uma posição confortável. Quando o fez, encarou o Tenente Smith no fundo de seus olhos, esperando que ele começasse as perguntas.

— Senhora Estela — ele falou, em um tom suave — soube que a senhora nutre um sentimento muito ruim em relação à vítima, certo?

Ela deu um suspiro e desviou o olhar por um instante.

— Pra falar a verdade, sim. O senhor não entenderia. De qualquer forma, eu não poderia matar meu ex-namorado.

— É mesmo? — Ele falou em um tom sarcástico que não passou despercebido pela mulher — Por que não?

— Porque eu estive no teatro durante a hora do crime. Fazendo o meu trabalho — respondeu-lhe, calmamente.

— E como a senhora sabe a hora do crime? — Jean estreitou os olhos e jogou seu tronco para mais perto da atriz.

— Carmen contou ao meu filho e ele me contou — ela respondeu imediatamente, com os olhos fixos no militar — Sei que o senhor pode achar que tenho motivos para matar Leandro, mas eu jamais faria algo assim!

— A senhora tem certeza? — Ele dizia, virando a cabeça alguns graus para a esquerda — Pois eu também soube que já o ameaçou.

— Eu? — Ela perguntou, apontando para si mesma, arqueando uma das sobrancelhas. Mas logo voltou a expressão normal — Oh, acho que já sei do que está falando. Há algum tempo, Leandro apareceu lá no meu trabalho pra me ver. Eu não sei o que passou pela cabeça dele que o fez pensar que eu ousaria voltar a ter algum tipo de relacionamento com ele! Muito menos deixar que ele se aproximasse de Natan. O filho que ele abandonou junto comigo! — Ela disse, com amargura — Eu fiquei tão furiosa que, sim, eu o ameacei. Porém, foi tudo da boca pra fora! No momento da raiva. Mas eu nunca tiraria a vida de ninguém!

— E você proibiu o Natan de conversar com ele?

— Sim, proibi — falou, bufando — Mas ele já tem dezenove anos. Não posso controlá-lo para sempre. No começo, ele rejeitou o Leandro, sim. Depois, aceitou a companhia dele e seu papel de... — engoliu em seco quando pronunciava tais palavras, sua voz falhava, começando a ficar mais esmorecida — de pai! Ele só foi dizer isso ontem. Quando foram naquele maldito jogo de vôlei!

— E por que a senhora reprovou tanto isso?

— Ora, tenente... — Ela perguntou, fitando-o com os lábios comprimidos e os olhos marejados — O que ele fez comigo foi imperdoável! Eu me envolvi tanto naquele relacionamento... Tive um filho com ele... Para ele me abandonar daquele jeito! Por puro preconceito! — Sua voz saía mais exaltada. Engolia a própria saliva vez ou outra e gesticulava com as mãos — Passei tanto tempo sofrendo por aquilo. Tive que assumir o papel de mãe e pai ao mesmo tempo. E você não sabe o quanto isso é difícil. A sociedade te julga, te aponta, te chama de promíscua, de irresponsável... E o que você faz? Você coloca seu filho embaixo de suas asas e enfrenta tudo isso. Pensei tanto em jogar a toalha, desistir... Mas eu tinha o Natan. E foi o meu amor por ele que me deu forças para suportar. E graças a ele que, hoje, eu estou aqui.

Sua maquiagem manchava todo o seu rosto naquele momento graças às lágrimas que rolavam sem parar. Deu uma pausa para respirar.

— Eu imagino o quanto é difícil... — Ele falava.

— O senhor não é pai solteiro, é? — ela perguntou, tentando se recompor. Ele negou com a cabeça — Pois se fosse, certamente a situação seria diferente. Te exaltariam, chamariam de "homão de verdade". Mas enfim... A minha realidade foi diferente...

— Pelo que eu soube, senhora Estela, o Tenente-Coronel não sabia, sequer, da existência de Natan.

— Óbvio que não. Após ele me magoar daquela forma, eu não daria chance para ele me fazer sofrer de novo. Muito menos o meu filho. Então, eu me isolei. Troquei todos os meus contatos, juntei o pouco que eu tinha e agarrei a oportunidade de trabalhar em uma Companhia de Teatro em Goiânia. Lá, fui galgando posições até chegar aonde estou. Mas quando vim para o Rio, Leandro me encontrou. E descobriu o Natan. Depois disso, foi fácil para ele fazer meu filho entrar pro NPOR do Batalhão dele.

— E o sentimento que tinha por ele...

— Morreu — ela disse, sem deixar o militar concluir sua pergunta — E deu lugar ao ódio. Por isso não aprovei a reaproximação dos dois!

— Ok, eu entendi. Mas, senhora Estela, não passou pela cabeça da senhora que o Leandro podia estar, realmente, arrependido e bem-intencionado ao querer ter laços com o filho?

Suas pálpebras inferiores contraíram, enquanto as superiores se levantavam. Os lábios se esticaram ligeiramente. Seu coração começou a bater mais forte e as lágrimas voltaram com mais intensidade.

— Eu... Não sei. — Disse, por fim, desviando o olhar e fitando o chão pela primeira vez, enquanto se recordava dos momentos em que eram jovens — O maior sonho da vida dele era ser pai, casar-se com uma mulher simples que amava e publicar seu projeto de quadrinhos.

— Pelo visto, ele não conseguiu concluir nenhum. — Jean falou com pesar.

A mulher não conseguiu mais controlar o choro. Levou as mãos no rosto e se permitiu ter aquele momento melancólico.

— Talvez eu tenha sido injusta com ele — admitiu, por fim, enquanto tentava enxugar seu rosto sujo de maquiagem e lágrimas — Ele não merecia esse fim. Não merecia a vida que tinha. Ele tinha dinheiro, sim, mas era infeliz! E eu contribuí para a decadência daquele homem. Talvez mais do que ele fez comigo.

— Ei, calma! — Ele falou, pousando sua mão no joelho da moça, em uma tentativa de acalmá-la — Você não precisa se martirizar por isso. Teve seus motivos.

— Meu filho nunca vai me perdoar — Ela disse, engolindo em seco.

— Fale com ele. Duvido que não a perdoe — O homem falou com doçura, mas por dentro, queria continuar com seu interrogatório que estava sendo interrompido pela crise daquela mulher — Agora, continuando...

A mulher ergueu seu corpo novamente, permanecendo com a coluna ereta. Voltou seu olhar para Jean. De vez em quando, uma lágrima ainda caía.

— Oh, desculpe. Pode prosseguir.

— Sim, é... Preciso que diga todos os seus passos de ontem.

— Ok, é... Ontem eu fiz uma apresentação à tarde. Das três às cinco. Cheguei em casa às seis. Estava morrendo de cansaço e precisava descansar antes de voltar para o teatro. Quando deu sete horas, o Natan chegou e ele me contou tudo. Falei tudo o que achava dessa reaproximação dele com o Leandro. Quando deu nove horas, voltei. O espetáculo começaria às onze e terminaria meia noite e meia, mas eu sempre chego com antecedência. Após o show, eu fui falar com os atores e todo o pessoal responsável. Acabei chegando em casa uma e meia, mais ou menos...

— E Natan ficou aonde? — Ele questionou, mesmo sabendo a resposta.

— Oh, ele ficou em casa o tempo todo.

— Que horas a senhora foi informada da morte de Leandro? — Ele perguntou, confiante que tiraria informações valiosas daqueles questionamentos.

— Às sete da manhã, se não me engano. Natan me acordou, falando. Em primeiro momento, me senti mal com aquilo. Eu e Leandro vivemos coisas impossíveis de se esquecer e saber que ele foi morto era algo inimaginável. Mas depois, senti-me aliviada por ele sumir de nossas vidas.

— E como Natan se sentiu?

— Ele, bem... — contraiu os lábios novamente, lembrando com pesar daquela cena — Ele ficou muito triste. Chorou bastante também e então... Ele se lembrou do testamento.

— E por isso vieram?

— Sim, mas a gente queria depor o quanto antes. E aproveitar para resolver essa questão logo. Afinal, nós não queremos o dinheiro de Leandro.

— Como? — Jean ergueu as sobrancelhas e ficou boquiaberto — Não querem?

— Negativo. Ele só foi ver o filho dele agora. Não precisamos de nada. Melhor deixar com seus sobrinhos mesmo e evitar problemas com a família dele.

— Confesso que fiquei surpreso agora — Ele admitiu, observando-a com seriedade.

— Pois é, Natan deve ter esquecido desse pequeno detalhe.

— E vocês sabem o quanto Leandro dedicou ao Steinberg?

— Para falar a verdade, não faço a menor ideia. Mas imagino que é algo bem simbólico. Ele tem um bom salário, mas não acho que conseguiu acumular tanto capital assim para dividir com toda a família. Vamos ver, né...

Os dois ficaram em um silêncio perturbador a partir de então. Jean ainda a estudava com cautela. Suspirou e sentiu que toda aquela conversa foi suficiente.

— Está bem. Pode ir, Estela. Chame William para mim, por favor.

Assentindo com a cabeça, a mulher se levantou e se dirigiu até a porta, fazendo como foi solicitado.

Em seguida, o homem de pele negra escura entrou, apressado. O tenente logo apontou o local no sofá para que ele se sentasse e assim foi feito.

— Senhor William Cardoso — ele começou, fitando o homem da mesma forma que fez com todos os suspeitos — Onde esteve na noite passada?

— Tenente, eu passei o dia todo com Estela. Na hora do espetáculo, à tarde, fiquei nos bastidores e assistindo à peça. Fora esse momento, ficamos juntos. Voltamos pra casa após o show, Natan não estava. Quando voltou, contou o que o senhor já deve saber. Retornamos para o teatro e não saímos de lá. Às uma e meia, estávamos aqui para dormir.

— Como o senhor reagiu com a notícia?

— Para falar a verdade, tenente, eu não senti nada. Ele era alguém asqueroso para mim. Só por ter deixado Estela sofrer do jeito que sofreu, eu não o perdoo. E quando ele começou a se aproximar do Natan, o garoto que considero como meu filho, eu fiquei muito furioso. Torcia para que algo acontecesse com ele mesmo. Mas é óbvio que eu não faria isso. Não seria capaz de maltratar um animal, quanto mais assassinar um ser humano.

— Sei bem... — Ele disse, ignorando a última parte — Como era a sua relação com Steinberg?

— Era boa. Agradável... Eu estou há três anos com a Estela e, até hoje, nós sempre nos demos bem.

— E você suspeita que alguém poderia ter feito algo com Magno?

Ele ficou um tempo em silêncio, parecendo refletir no assunto.

— Para falar a verdade, não. Eu não conheço o homem. Mas se fosse apostar, eu diria que foi algum bandido que ele prendeu. Hoje em dia, ser policial ou militar está cada vez mais difícil...

— Pois é — Jean falou, coçando o queixo — Onde o senhor serviu?

— Ah, servi no 21º Regimento de Cavalaria de Guarda, em Osasco, onde morava. Fiz o NPOR também, mas não fui promovido. Cagava pro papiro — ele disse, terminando com uma gargalhada, ao se lembrar daquela época — Mas sinto saudade.

— E você era um bom atirador?

— Eu? — Ele dizia, inclinando-se para frente e apontando para si, com um sorriso no rosto — Eu só tirava excelente!

— Entendi — Smith falou, em um suspiro — Sendo assim, terminamos por aqui. Pode chamar o pessoal para cá.

Após se levantar, foi exatamente o que o homem fez. Não demorou até os cinco se reunirem novamente no mesmo lugar.

— E então? — A mulher disse, cruzando os braços — Estamos mesmo liberados?

— Tenente Smith! — Uma voz conhecida pelos militares se fez presente no local. Mas o seu dono estava fora da sala. Ao se revelar, o Sargento Alvim, um homem de estatura baixa, prestou-lhe a devida continência e apresentou, em seguida, o papel que tinha em mãos — O testamento do Comandante. Como o senhor pediu.

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