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VIVA OS G.L.S.!

— Senhor Rogério? — Cassandra desencostou da parede da clínica de ortodontia e descruzou os braços. Ela já tinha pesquisado e observado os horários dele no dia anterior, para ter uma noção de quando abordá-lo de maneira mais eficaz. Claro que havia um quadro informativo sobre atendimentos, que ficava fixado no lado de fora da parede do estabelecimento, contudo nem sempre eles são seguidos à risca e ela sabia.

— Sim? — A expressão dele era diferente das que ela viu antes, em outros momentos e registros. Era muito amistosa, com uma pequena sombra de dúvida.

— Preciso de um conselho seu. — Ela se aproximou enquanto ele erguia as sobrancelhas, surpreso.

E com razão. Havia pessoas humildes que o procuravam buscando por alguma consultoria grátis, e ele fornecia, se notasse que era urgente, às vezes até fazia o tratamento sem custos. Porém, segundo sua análise rápida, Cassandra não tinha o perfil de uma pessoa necessitada.

— É sobre algum assunto ortodôntico, querida? Você pode marcar uma avaliação comigo, se quiser. Basta entrar em contato ou falar com a minha secretária aqui mesmo. Estamos com custos acessíveis. — Disse em tom simpático. — E se trouxer mais alguém, ainda fazemos um desconto no seu investimento.

Cassandra ficou até tocada pela voz açucarada; a fala gentil.

— Amaria que fosse esse o meu objetivo aqui, para aproveitar essa oportunidade, mas, infelizmente, não é. — Respondeu com pesar antes de direcionar para o que realmente importava. — É algo mais pessoal...

— É mesmo? Não posso conceber. — Ele pendurou a bolsa de grife no ombro e passou os dedos de uma mão pelo topete bem penteado, preso com mousse capilar. Então, cruzou os braços na frente do peito.

Cassandra olhou discretamente para os lados antes de dizer:

— Conhece a clínica de Inezita Barroszo?

Ele se mexeu, trocando o peso do corpo de uma perna para outra, nitidamente desconfortável.

— Sim. O que tem? — Questionou um pouco menos amistoso do que antes, apesar de tentar se manter do mesmo jeito.

— Eu tive um pequeno problema lá, com um furto. Normalmente eu resolveria com a Inezita, mas ela está passando por um luto, e, bem... É constrangedor. — Cassandra suspirou, como se estivesse triste. — Soube que o senhor também passou por uma situação assim.

— Quem contou? — Ele estava desconfiado.

— Uma funcionária. — Ela replicou.

— Eu não entendi a minha ligação com o seu problema. — Toda a simpatia dele já tinha se esvaído.

— Gostaria de saber como o senhor resolveu o seu contratempo. Talvez seja o caminho para mim. — Cassandra fingiu não notar toda aquela postura defensiva que se armava diante de seus olhos.

— Entendo. — Ele se desarmou outra vez, entendendo que problemas como aquele poderiam ser corriqueiros. Ele não era o primeiro e nem o último furtado do mundo. — Quando afanaram o meu celular eu ameacei a Inezita com um processo, então ela me deu um novo. Na verdade eu queria o meu, só que, como você deve saber, não se pode ter tudo.

Ele deu de ombros enquanto desviava o olhar e tensionava a mandíbula.

— O senhor não considerou procurar pela polícia? Fazer um B.O.? — Ela achou estranho desde o princípio.

— Nem me passou pela cabeça. Creio que esses crimes são banais perto de outros que a polícia soluciona. Não faria perderem o tempo deles e acabou que resolvemos tudo entre nós. — Ele respondeu e soltou um suspiro resignado enquanto massageava a testa com as pontas dos dedos, como se amenizasse uma dor de cabeça.

No mesmo instante uma jovem, usando boné fluorescente verde e camiseta larga de cor rosa, passou entregando panfletos. Ambos pegaram, apenas para ajudar, mas leram a informação porque havia uma drag queen chamativa no impresso. O título do evento era "VIVA OS G.L.S.!", uma festa LGBTQIAPN+ que prometia várias atrações dionisíacas.

— G.L.S. Acredita nisso? Vivemos no tempo das cavernas por aqui. — O homem reclamou enquanto sacudia o papel.

Cassandra deu ouvidos, entretanto, fazia uma análise interessada dos patrocínios. Estavam em um agrupamento pequeno de logotipos, no canto inferior direito da página. O supermercado Boa Compra era um dos padrinhos do evento.

— Não seria uma ironia? — Cassandra fez a observação entendendo que era moda naquele momento ironizar a antiga denominação que muitos ainda usavam.

— Que nada! Os promotores de eventos daqui são todos uns broncos. Se procurar bem até acha alguém decente, mas não com a mesma influência dos maiores. — Rogério revirou os olhos.

— Os patrocinadores costumam ir nas festas? Não conheço bem Jataí, pois não sou daqui. — A afirmativa era mais verdade do que mentira.

— Sorte a sua, querida. E não, geralmente eles não vão. Principalmente em uma festa dessas aqui. — Rogério replicou, sacudindo o papel. — Mancha a imagem com a clientela mais conservadora, que não é pouca.

Cassandra ia abrir a boca para falar, mas apareceu um trio elétrico todo ornamentado com a temática da festa. Tocava música muito animada. Pessoas dançavam em cima da carreta e sacudiam pompons, animadas, enquanto o carro anunciava o evento do panfleto.

— Essa festa vai lotar. — Rogério comentou. — O investimento está alto. Já deve ser a quinta vez que recebo esse panfleto, só hoje. E nem foi das mesmas mãos.

— Bem, os "G.L.S." merecem um lugar para se divertir. Obrigada pela conversa. Tudo de bom para você e agradeço pelo esclarecimento. — Cassandra aproveitou a distração para sair de fininho.

— Por nada. — Ele respondeu, olhando novamente para o panfleto enquanto sacava o celular do bolso.

Cassandra andou rápido até virar a esquina. Não conseguiu acreditar que tinha conduzido a conversa sem ele perguntar seu nome. Não precisou mentir. Sua próxima parada seria a loja de açaí Só o Ouro, para comprar um ingresso. Não era de frequentar as festas jataienses, principalmente as maiores, mas tinha chegado a hora.

Ficou remoendo, durante todo o trajeto, a dúvida: por que Rogério não tinha feito um boletim de ocorrência sobre o furto? Como ele abriria um processo sem registrar a ocorrência? Não acreditou na justificativa. Era um sufoco relativamente grande ter um celular furtado, pois geralmente continha muitos dados pessoais. Só que, ele não parecia ter tido problemas maiores, de acordo com a sua própria narrativa. Mas a funcionária da clínica deu a entender o contrário.

Enquanto dirigia pela rua Miranda de Carvalho, rumo ao Lago JK, Cassandra começou a franzir o cenho sem perceber. As pessoas do caso do supermercado Boa Compra estavam de alguma maneira ligadas com o Assassinato no Parque Brito. Jataí era pequena, claro, mas o suficiente para que uma coincidência daquelas ocorresse? Ou era apenas uma agrura relacionada com a pirâmide das classes sociais e os leques de oportunidades.

— O "trem 'tá" feio... — Suspirou.

Só queria resolver tudo logo, de preferência sozinha porque já tinha notado que havia algo errado com o grupo de investigações. Desembocou na frente do lago e virou para a direita, depois para a direita outra vez e seguiu até a loja de açaí. Estacionou o carro, entrou no recinto vazio e ouviu as vozes de Renan e Ray saindo dos alto-falantes. O lugar era pequeno, mas arrumado, e com as principais decorações em verde e roxo. Animou-se em pedir mais do que um ingresso quando viu o freezer convidativo.

A moça que a atendeu não tinha mais do que dezoito anos. Era parda, com cabelos e olhos castanhos. Usava uma touca branca, fina, para os fios de seu cabelo não voarem nos alimentos. Ela tentou ser gentil, apesar do cansaço extremo estampado em seu rosto. Havia um pingo de açaí em sua camiseta de uniforme.

— Bom dia. Posso ajudar? — Ela sorriu.

— Claro. Ainda tem ingresso para a festa "Viva os G.L.S.!"? — Cassandra questionou, sondando os possíveis adicionais de seu pedido.

— Que sorte a sua, temos apenas mais um! Está vendendo muito. — A moça abriu uma gaveta, pegou o ingresso e colocou em cima do balcão.

— Mais alguma coisa? Vamos levar um açaí? O de quinhentos está em promoção e a granola ainda é grátis. — Ela ofereceu enquanto gesticulava para um banner com a foto de uma taça lambrecada de doces até em seu exterior e o preço promocional em números graúdos.

— Vou querer. — Cassandra aceitou.

— Mais algum adicional? — A jovem perguntou enquanto abria o freezer com uma colher de sorvete em uma mão e um copo descartável na outra.

— Sim, quero leite em pó. — A investigadora pensou em colocar alguma fruta, mas desistiu.

A menina arrumou o açaí no copo, com capricho, demonstrando a destreza de quem já tinha feito aquilo centenas de vezes. Depois colocou os adicionais com cuidado. Fincou naquele arranjo uma colher de plástico e anunciou o valor, mesmo a cliente sabendo qual era. Cassandra pagou os dois itens, agradeceu, saiu da loja e sentiu uma lufada de vento quente e úmido.

— Ih! Vem chuva forte. — Comentou para si mesma.

Não tinha ninguém na calçada para ouvir. Apenas os carros na rua, transitando, enquanto ela revirava os olhos de prazer ao comer seu açaí.

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