6 - Sede Saciada
Punta Arenas, 09 de janeiro de 2011, 10h30 (36 horas antes)...
... Dez dias depois da chegada de Ema a Punta Arenas, Carlos aterrissou na cidade chilena. Sua viagem tivera a duração de doze dias e vinte e uma horas. No desembarque, no Aeroporto Internacional Presidente Carlos Ibañez del Campo, foi surpreendido por alguém que ansiosamente o esperava. E não era Ema!
— Patrícia! O que faz aqui?
— Em férias, meu amor!
Ele olhou apreensivo à sua volta:
— Meu Deus, você é louca? Acabei de falar no celular com Ema. Ela está numa cafeteria aqui no aeroporto. Vai nos ver juntos.
Ele pegou no braço dela:
— Vamos a outro lugar.
— Não, não! Tome aqui o endereço em que estou. Aparece lá.
Patrícia entregou-lhe um pequeno pedaço de papel e saiu rapidamente. No trajeto, passou ao lado de Ema, mas, até onde Carlos sabia, elas não se conheciam. E havia muita roupa de frio, óculos escuros, chapéus e gorros, tudo ajudando a esconder os rostos. Carlos quase teve um infarto ao ver as duas quase se trombando. Gelou, se é que era possível sentir-se mais gelado ainda, na cidade mais austral do planeta. Ema o abraçou:
— Oi... Tudo bem?
Carlos beijou-a levemente, num encontro de lábios bem frios:
— Sim. Mas que frio!
— Nem me fale! Vamos logo para a pousada?
— Não precisa dizer duas vezes.
Փ
Carlos estava em maus lençóis, mas o risco entre "dois lençóis" excitava-lhe. A mulher há pouco mais de um mês sem vê-lo, ansiosa pelo reencontro e aquele outro "transatlântico", esperando-o em outro "porto" da cidade.
Surpreendeu-se, porém, consigo próprio. Ficar aquele tempo todo sem ver a bióloga, reacendera momentaneamente o seu desejo por ela. Era viciado em sexo! Vangloriou-se interiormente por isso. Mal tendo adentrado o quarto, transou com Ema de maneira voraz. Mais tarde, no entanto, deu um jeito de escapar e ir ao encontro de Patrícia. Informara-se. A cidade não era tão grande e a pousada em que a esposa os hospedara, embora num lugar ermo e de mata, não era tão distante do hotel em que a escritora estava alojada.
Assim como fizera com Ema, sem pensar duas vezes, agarrou Patrícia e deu-lhe um demorado beijo. O reencontro sexual entre os dois também foi de arrebatar. Carlos estivera ávido por aquele corpo maduro e harmonioso. Não sabia o porquê, mas sempre tivera atração por mulheres um pouco mais velhas. Ema não fora a primeira. Patrícia não seria a última. De qualquer forma, embora maduras, Ema e Patrícia de velhas nada tinham. Muito pelo contrário. Pareciam duas jovens na flor da idade.
— Você é miserável, Patrícia. Não deixou que eu saciasse a minha sede em São Paulo. Agora quero beber tudo o que tiver direito.
Patrícia, deitada ao seu lado, levantou-se num pulo e foi até a janela, olhando pela vidraça, fazendo-se difícil. Nua, corpo escultural, Carlos observou-a, os cabelos pretos sobre o dorso nu. Em seu íntimo sentiu-se um verdadeiro garanhão, pois Ema não ficava nada a dever a Patrícia, possuindo até um corpo parecido, porém loira e um pouco mais rechonchuda, mas somente um pouquinho. Em seus devaneios imaginou-se com as duas ali, numa verdadeira orgia e promiscuidade.
Entre um gole e outro de uísque, um comentário picante:
— Patrícia, seus glúteos são lindos, proeminentes e arredondados. Perfeitamente lisos.
— A minha bunda, você quer dizer.
— Falei de uma forma poética, uma bundinha linda assim merece, não acha?
Patrícia diminuiu um pouco o aquecimento do quarto, por razões óbvias:
— Sei... Poesia... Era só o que me faltava.
Atirou-se em cima dele:
— Fiz bem de vir pra cá, não fiz? Já estou aqui faz cinco dias.
— E onde você esteve escondida, lá em São Paulo?
— Fazendo meus 'corres'. Ou você acha que sou igual a você, um bon vivant? Depois vim pra cá.
— Te procurei que nem doido. E onde arrumou dinheiro?
— Se eu te disser que fiz uns "programinhas", você acredita?
Ele esticou o pescoço para relaxar o incômodo de uma tensão:
— Ah, claro! Claro que acredito! Você é garota de programa, não é? Esse negócio de projetista de interiores é tudo papo furado. Se bem que você já tá mais pra "coroa de programa" do que garota.
Ela o xingou:
— Filho da puta, coroa, é? Mas bem que você gosta! Agora, se sou garota ou se sou coroa, seja como for que arrumei grana, faz alguma diferença?
— Não, não faz e quero que se dane! Garota de programa tenho até mais tesão, se quer saber. Mas você é mesmo imprevisível. Lá em São Paulo disse que não queria mais saber de mim, agora aparece aqui. Maluca de pedra!
— Mas quem disse que eu desisti de você? Apenas tirei meu time de campo, por uns tempos. Porém, não sou de ferro. Já que tirei férias, por que não unir o útil ao agradável?
— Quem é o agradável nessa história? As férias ou eu?
— As férias, claro! Você é apenas útil para satisfazer meus desejos. Por enquanto.
Ela riu das próprias palavras. Continuou, porém, pesarosa:
— Mas agora até estou me sentindo mal, sabe? Por Ema! A coitada esperava por você, depois de vários dias em alto-mar; depois aguardou mais dez dias nesse lugar frio e você, onde está? Aqui, comigo. Ainda que ela não saiba onde você foi, deve estar mortificada por terríveis suspeitas, desconfiada da própria sombra, sentindo-se traída e mal amada. Imagino o que tem passado na mente dela, um desejo de pôr um fim a tudo. Talvez até de dar cabo de nossas pobres vidas!
Levantou-se novamente e mais uma vez, diante da janela, admirou a frondosa árvore lá fora. Logo sentiu a virilidade do amante, que a abraçou por trás. Ele sussurrou no ouvido dela:
— Você é incrível! Você não fala, você narra, como se estivesse escrevendo um livro. Venha para a cama, vai? Esqueça Ema. Vamos escrever um livro, mas outro tipo de livro, um livro erótico, onde eu vou fazer você delirar de tanto prazer. Vou te ensinar essa outra arte.
Patrícia jogou a cabeça para trás, recostando-a no peito de Carlos, que era mais alto que ela, admirada com as palavras bonitas. Ele teria ensaiado? O toque em seus seios a fez entregar-se completamente e Carlos levou-a para a cama, onde a amou novamente, de forma lasciva e profunda. Mais tarde, quando exaustos e deitados um ao lado do outro, ela disse:
— Que loucura! Você realmente é demais! E é tão canalha e bandido, que eu sei, você transou com Ema não faz mais de uma hora. Agora está aqui e depois é capaz de voltar lá e transar com ela de novo.
— Não duvide disso!
— Pensa que não senti o cheiro dela no teu corpo? Você não presta... Mas não pense que por causa do que aconteceu aqui, vou facilitar as coisas. Abri uma exceção na agenda, mas não mudei de ideia. Já lhe disse que não quero ser a outra... Mas agora... É melhor você voltar pra sua mulher. Ela já deve estar agoniada. E é bom você se lavar muito bem. Seque os cabelos! Não dê bandeira.
Patrícia estivera louca de desejo, mas após saciá-lo, a razão voltara. Carlos disse:
— Eu vou! Mas volto! Até a viagem para a Antártida, amanhã cedo, terei ainda algum tempo.
Patrícia duvidava que ele tivesse tempo de voltar, afinal a viagem com Ema estava marcada para as 8h30 do dia seguinte. E ela própria tinha, dentro de sua programação, tinha coisas a fazer, portanto livrou-se logo dele, quase o enxotando dali, pois ele não queria ir embora.
— Sede saciada! —declarou ela a si mesma, assim que ele saiu.
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Carlos Eduardo, arriscando-se entre dois lençóis. A quais perigos estará se expondo? Problemas à vista! E, sempre aquele pedido: vote e comente. Grato.
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