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24 - Encontro Marcado

São Paulo, 11 de janeiro de 2016, 13h30 (5 anos e 15 horas depois)...

... Passados cinco anos do assassinato na Antártida, Patrícia Rocha foi solta, embora em liberdade condicional: bom comportamento e 1/3 da pena cumprida. Considerada culpada por júri popular, com seis votos contra um, mesmo assim a sentença de 30 anos de reclusão fora reduzida a 15. O juiz levara em conta, além da colaboração com a justiça, as ações da vítima contra ela, consideradas como atenuantes para a redução da pena. Muito embora não houvesse provas da agressão sexual sofrida, o fato viria a ter peso e credibilidade mediante a confissão geral dos crimes cometidos contra Ema, quais sejam: omissão de socorro, tentativa de homicídio e ocultação e vilipêndio a possível cadáver — além dos crimes de falsidade ideológica e obstrução à justiça. A cooperação com a polícia, seguida da análise do comportamento da vítima (pelos princípios da Vitimologia), haviam reduzido sua pena em 15 anos.

Na visão do delegado Basílio, entretanto, o verdadeiro culpado da morte de Carlos Eduardo, o falso H. Nunes, talvez ainda pudesse ser pego. Haveria muito tempo até a prescrição do crime: quinze anos! Por enquanto, após ter dado um nó no delegado, o safado ainda continuava ileso, com um detalhe: tinham sumido as fichas datiloscópicas de alguns militares, entre elas as do meliante. Ele devia tê-las roubado antes da fuga.

Փ

Quando Patrícia saiu da Penitenciária Feminina do Carandiru, estava só e com pouco dinheiro. Passados alguns dias, marcou um almoço no restaurante Restauradores, centro de São Paulo, no qual cinco anos antes estivera com Carlos Eduardo. Dessa vez, contudo, sua companhia seria outra. Ema Arantes Salgado Ribeiro!

A bióloga sentou-se desajeitadamente, lançando um olhar de inveja para as lindas madeixas negras da escritora, presas acima da nuca em coque, deixando à mostra seu fino pescoço.

— Olá, Ema. Finalmente frente a frente. Te vi duas vezes na vida, uma no dia em que te julguei morta; e depois no tribunal. Nunca pudemos conversar tête-à-tête. Ah, parabéns pelo novo casamento.

Ema também tinha lindos cabelos encaracolados, mas loiros. Regulavam na aparência, mas Patrícia era mais jovem cinco anos. Olharam-se profundamente, de forma fulminante. Ema comentou:

— Soube que saiu da prisão...

— Sim, se estou aqui... Regime semiaberto, tenho que voltar todos os dias.

— Sinto muito, mas você fez por merecer. Ainda tenho as cicatrizes dos cortes que sofri naquele barranco.

— Sinto por isso também, mas o que está feito, está feito.

Ema fez um inesperado agradecimento:

— Obrigado por ter confirmado que Carlos me violentou. Eu nunca consegui me lembrar de nada, apagou-se por completo da minha memória, deve ter sido a pancada na cabeça... Os exames comprovaram a violência, aliados a seu depoimento... Tenho de agradecer por isso.

Logo, porém, a bióloga mostrou-se impaciente:

— Não somos amigas, na verdade somos rivais e até inimigas, mas eu atendi o seu chamado porque morreria de curiosidade se não viesse. Seja o que for, diga logo. Quer selar um ato de paz? Uma espécie de armistício? Uma trégua?

Patrícia estava tão linda quanto no dia em que ali mesmo deixara Carlos Eduardo de quatro. Tomou fôlego:

Eu sei que foi você!

— Eu, o quê?

— Que matou Carlos Eduardo!

Ema deu uma alta gargalhada, chamando a atenção dos demais clientes:

— Que é isso agora? De onde você tirou isso? Era melhor ser surda a ouvir essa baboseira. Como você é ridícula, meu Deus!

— Ria, pois quem ri por último, ri melhor.

— Tá, querida! Vamos lá! Como é que eu matei o vagabundo do meu ex-marido, estando convalescente na casa do meu tio em Punta Arenas, a 1000 quilômetros de distância da EACF, separando-nos o estreito de Drake, o mais tempestuoso dos mares do planeta?

Sei como fez!

Ema ainda gargalhava:

— Ridículo! Por acaso atravessei o Drake a nado? E depois ainda encarei a forte tempestade que castigava Rei George? Sou agora a Mulher-Maravilha? Poupe-me!

Dessa vez foi Patrícia quem riu:

— Pois eu levei três horas e meia para vencer essa distância.

Ema franziu o cenho:

— Do que está falando?

— Do Hércules! Três horas de avião até Presidente Frei e mais trinta minutos de helicóptero, até a EACF.

Mais uma gargalhada de Ema, dessa feita já menos intensa:

— O Hércules e o helicóptero? Absurdo, como foi que me vali dessas aeronaves? Por acaso agora são de carreira? Comprei passagem no voo seguinte?

Patrícia bateu a mão na mesa, assustando Ema:

— Exato! O voo seguinte! Eu estou dizendo... Quem ri por último, ri melhor.

— Do que você está falando?

— Do voo seguinte, minha linda... Você!, sobrinha do verdadeiro almirante H. Nunes, na época o secretário da Secirm (que comanda a EACF): foi fácil embarcar no Hércules com uma ajudinha dele. No "voo seguinte"...

Ema riu, não mais com tanta convicção:

— Ah, além de eu ser uma assassina, agora está dizendo que meu tio é cúmplice? É de rir mesmo.

— Não só seu tio... Seu atual marido também!

— O Ribeiro? Deixa de ser ridícula. Quanta asneira! Perdi meu tempo vindo aqui. — E saiu da linha: — Você é mesmo uma meretriz, medíocre e mequetrefe... Garota de programa. Metida a escrever livros noir, histórias chinfrins, que ninguém lê.

Patrícia, ignorando-a, chamou um garçom e pediu uma bebida:

— Uma cerveja bem gelada, por favor. Aceita, minha querida?

— Sua querida uma ova! Vamos acabar logo com essa conversa!

Patrícia já começava a notar em Ema um grande ar de preocupação. Tomou um gole e prosseguiu:

— Calma, antes de surtar primeiro escute... Vamos começar te colocando na EACF... Veja isso aqui...

Tirou de uma pasta azul, que até então repousara tranquila sobre a mesa, uma ficha datiloscópica:

— Essa é uma cópia da sua ficha datiloscópica, feita pelo delegado Basílio lá na EACF... E essa é uma cópia da sua carteira de identidade, que eu fiz em Punta Arenas. Bastou comparar a digital do polegar e verificar que são da mesma pessoa.

Ema ironizou:

— E você acha que vou cair nessa? Deixe-me ver isso aqui...

Pegou a ficha das mãos da rival e olhou o nome, no cabeçalho:

— Capitã Azevedo? Quem é essa?

— Ora, você! Você o tempo todo! Muito inusitado. Eu disfarçada de Ema e a própria Ema disfarçada de capitã Azevedo.

A bióloga estava visivelmente nervosa, mas buscava se controlar. Patrícia continuou:

— O segundo voo... Temos que lembrar que houve dois aviões para a Antártida. Um saiu às 8h30, no qual eu embarquei com Carlos, Basílio e o capitão Ribeiro (teu atual cônjuge, já disfarçado de H. Nunes). Chegamos em Presidente Frei às 11h30...

"Já o segundo avião saiu de Punta Arenas às 13h00. Você foi nele, pousando em Presidente Frei às 16h00, já na pele da capitã Azevedo.

— Você está louca!

— Estou? Aposto como está gelada por dentro... Gelada como a Antártida... E como essa 'breja' em cima da mesa...

"Quanto ao helicóptero, eu cheguei na EACF às 12h00, no primeiro voo. Já você chegou às 16h30, no segundo voo — segundo e último, porque a tempestade se aproximava rápido e todos os voos foram suspensos. Sua viagem no Hércules já tinha enfrentado grandes dificuldades...

Reconstituição...

"Ribeiro, essa tempestade... Vai nos manter presos aqui, não vai?"

"Com toda certeza!"

"E o rádio aqui da estação... É igual ao do Besnard?"

"O mesmo modelo... Mas por que a pergunta?"

"Tu conhece bem esse tipo de rádio?"

"Claro! Sou especialista em comunicações, esqueceu? Acompanhei a reforma do Besnard. Ema, pelo amor de Deus, o que tu pretende?"

"Se tu der um jeito no rádio, vamos ficar incomunicáveis?"

"Sem dúvida. Se eu danificar a placa de rádio ninguém aqui vai conseguir saber, só com perícia técnica em laboratório... Mas sempre há uma placa sobressalente..."

"Placa que tu pode dar um sumiço..."

"Ema! Até agora não entendi. Viemos aqui para desmascarar Carlos e Patrícia e usar o Basílio para dar voz de prisão a eles. Isso foi o combinado com o almirante Nunes. O que pretende?"

"Mudei de ideia. Desmascará-los será pouco".

"Mas se mudarmos os planos o almirante Nunes vai nos matar. A única forma de justificar meu disfarce (e o teu também), é contar pra todo mundo quem é ela e o que fizeram contigo. A EACF é território brasileiro, a lei permite dar voz de prisão a eles, em flagrante!"

"Danem-se a voz de prisão e o tio Nunes... Quero matar o infeliz e botar a culpa na desclassificada."

"Quê? Está louca? Pirou?"

"Pirei! Pirei e fiquei louca, sim! E isso desde que acordei naquele hospital..."

"É loucura! Se houver um crime, o delegado, de nosso aliado, passará a ser empecilho."

"Capaz! O delegado está a passeio e amedrontado, além de aposentado. Podemos conduzi-lo a nosso favor, isso sim."

"Como tu pode ter tanta certeza disso?"

"Intuição."

"Bah, intuição! Bem capaz!"

"Tu pode escutar ao menos o meu plano? A tua ideia de vigiar os dois... Vi uma cena na praia... E ouvi uma discussão deles no alojamento..."

"Esquece!"

"Bem, se tu não me ajudar faço sozinha!"

"Bah! Jamais vou te deixar sozinha. Está bem, diga o que tem em mente!"

O nervosismo de Ema era cada vez mais evidente. Patrícia a golpeava como a Alemanha fizera com o Brasil na copa de 2014, sem dó nem piedade: 7 a 1!

— A falsa capitã Azevedo chegou na estação para substituir o chefe Jonas, que estava temporariamente em São Paulo, resolvendo questões particulares. Foi muita sorte essa função estar vaga e foi aí que seu tio Nunes conseguiu te encaixar...

Ema tremia. Patrícia prosseguiu, impiedosa:

— Eu li teu livro na cadeia, onde você descreve suas aventuras no Drake... Você também conta suas desventuras com Carlos até o dia do estupro, que diz não se lembrar, mas duvido, você não teve amnésia coisa nenhuma. E eu lamento profundamente o acontecido, sinto muito mesmo! Já sofri esse horror quando menina... Sei o que é isso... Mas você nunca admitiu se lembrar somente para desviar as suspeitas de si...

"Vamos desde o início... Você desembarcou com o Ribeiro em Punta Arenas. Ele te disse que ia fazer um cruzeiro marítimo, descer na Antártida, acampar e depois pegar uma carona de volta no Besnard, quando o navio da USP passasse por lá. Essa é a história que teu livro conta. E narra mais: quando ele volta da Antártida e sabe o que te aconteceu, vocês passam a namorar e se casam.

"Mas a verdade não foi essa: no dia do desembarque, à noite, vocês se encontram na cidade e engatam um romance, passam a noite juntos e curtem o Reveilon no navio. Ele desiste da viagem e a lua de mel é ardente, até a chegada de Carlos Eduardo... No fim você também traiu Carlos, mas ele mereceu, ah se mereceu... Eu teria feito o mesmo!

"Teu livro omite toda a parte ocorrida na Antártica, pois ali você não estava como Ema, mas como capitã Azevedo... E você diz ter ficado quietinha na casa do tio, a 1000 quilômetros de distância. Lembrando: na tua história acabo como assassina, a versão oficial dos fatos! Mas agora todos irão saber a verdade!

— Verdade? Que verdade? E o que o meu livro tem a ver com toda essa sandice? Até agora não entendi.

— Tudo! Primeiro que ali é contado como você conheceu seu cúmplice. Segundo, um detalhe bobo, mas que me chamou a atenção: o binóculo!

— Binóculo?

— Sim! No Drake você usa um binóculo para ver as "almas de mestre", recorda? Isso logo me sugeriu: e se ela desembarcou com esse binóculo na EACF?

"Uma hora e meia depois de você pousar na estação, eu saí com Carlos e Ernani e fomos até a enseada... Você usou o binóculo, não foi? Para nos observar na praia e viu quando eu simulei apunhalar Carlos. Depois também viu quando eu coloquei o osso no bolso... Isso já lhe deu uma ideia... Eu estava sem luvas... As digitais... Ernani como testemunha...

"Tendo acompanhado nossos passos de longe, nos seguiu até a estação inglesa. Aposto como foi você a nos espionar e a fazer barulho no assoalho... E deve ter visto Carlos pegar a tira de Peary, mas fugiu a tempo, escondendo-se no lado oposto do galpão, enquanto nós voltávamos para a EACF...

— Quanta imaginação! Engraçado que seus livros são horrorosos e iguais a você, de baixo nível.

Percebendo a oponente nas cordas, Patrícia buscava ignorar os ataques verbais, mantendo-se firme:

— Você e seu marido, o capitão Ribeiro, um na pele da capitã Azevedo e o outro na do contra-almirante H. Nunes, as duas patentes mais altas ali, com poder para mandar e desmandar. Todos tinham que baixar a cabeça e obedecer. Será fácil provar com a cópia das fichas datiloscópicas que vocês estavam lá...

"Já o verdadeiro H. Nunes Salgado, seu tio, se esteve na EACF uma vez na vida foi muito. Ninguém sabia direito quem ele era ou como era. Um ilustre desconhecido. Comandava a Secirm há apenas um ano e, além disso, os assuntos antárticos no Brasil não frequentam a mídia, sem contar que a maioria dos militares na estação era do Exército, não estavam diretamente subordinados ao velho...

— Lava a sua boca para falar do meu tio, sua vadia! Ele já morreu!

— Ah é? Sinto muito por ele, mas é da vida, todo mundo morre... Mas resumo da história: ninguém ali conhecia o almirante H. Nunes, tudo facilitando o disfarce do Ribeiro. A capitã Azevedo, por sua vez, é alguém indicada pelo próprio H. Nunes, quem vai duvidar dela?

— Você pensa que sou idiota? Como eu podia estar lá, sem ser reconhecida pelo Carlos? E até você me viu no chalé em Punta Arenas. E não me reconheceu?

Patrícia riu, com soberba:

— Toda pergunta merece uma resposta...

"Você nem precisou se mostrar muito: com as atividades suspensas, cada um ficou no seu canto. Discreta e bem disfarçada, escondida na ala dos militares, cabelo cortado bem curto, raspado sobre as orelhas e tingido de preto, quepe, óculos de grau e lentes grossas, sobrancelhas modificadas e pouca maquiagem, lentes de contato que mudaram seus olhos azuis para a cor castanho-esverdeado... Gorro, cachecol, muitas roupas de frio ajudando a esconder o corpo. E os únicos que a conhecem intimamente são Carlos e o falso Nunes.

"Já eu te vi apenas uma vez, mais morta do que viva e em condições de grande estresse e alcoolizada. Inês por sua vez apenas trocou e-mails contigo, nunca viu fotos tuas. Em 2011 as redes sociais ainda engatinhavam e algumas pessoas são avessas a elas (verifiquei que você nem Facebook tem, até hoje)...

"Bem disfarçada e muito diferente, na EACF ninguém conhece a verdadeira Ema e jamais alguém a imaginou na figura da capitã, pois estão todos presos à imagem que eu própria criei de você."

— Você é louca!

— Louca? Eu fui um fiasco como bióloga, mas você fingiu com maestria ser uma capitã, afinal é filha e sobrinha de oficiais e já esteve em navios. É do meio, sabe como se portar, como bater continência e agir sem levantar suspeitas.

"Quanto a Carlos, o maior perigo ali para você... Você chegou na EACF às 16h30 e ele morreu seis horas depois. Nesse tempo todo nós não te vimos uma vez sequer e isso era algo primordial. A primeira vez que te vi, brevemente, foi lá no corredor, logo após a descoberta do crime, quando todo mundo estava atordoado e quando a única pessoa que podia te reconhecer já estava morta.

"Eu e Carlos sequer imaginávamos que você estivesse viva e pior, bem debaixo do nosso nariz. Deixamos seu corpo no meio do mato numa estradinha de terra a 1000 quilômetros dali...

"Batom mais forte para esconder a persistente mancha roxa nos lábios. E um provável resquício do tapa no rosto escondido com base, recoberta com blush. Mas quando você fala com Carlos, ele se assusta...

Reconstituição...

"Vai morrer miserável."

"Ema?"

"Pensou que eu tivesse morrido? Chegou a tua hora, desgraçado! Eu te falei uma vez, tu não sabe do que sou capaz! Além das traições, além dessa vagabunda no meu lugar, além de ter me estuprado e me jogado numa ribanceira, tu pensa que vai ficar rico? Pois tu vai ver meu dinheiro lá no inferno... Ah, está tonto? Foi o calmante que o almirante colocou no teu vinho. Vem bebendo muito, né, seu alcóolatra nojento! Bem feito!"

"Capitã, vamos acabar logo com isso!"

"Então pega o osso, almirante. E tampa a boca dele!"

"Deixa comigo... Foi assim que tu fez com Ema, seu filho da puta, quando a estuprou?"

— Enquanto o capitão Ribeiro o segura frente a frente, usando o braço esquerdo para puxá-lo contra o próprio corpo, tampando sua boca com a mão direita, você o apunhala pelas costas... Na sequência do crime, um toque de mestre: a ideia do jaquetão azul! Ribeiro estava presente na sala de estar quando o delegado fala para Inês que de costas ele se parece muito com Carlos. Vocês devem ter pensado: "Vão pensar que Patrícia quis imputar o crime ao Humberto".

"Após a confirmação do óbito, o falso Nunes volta para a sala de vídeo para nos vigiar e nos segurar lá, embora ainda faltem dez minutos para o filme acabar. Isso deu a você um pouco mais de segurança e tempo para terminar a troca da camisa pelo jaquetão, reenfiar o osso no corpo e colocar o sonífero no cantil. Esse último detalhe foi de fundamental importância, porque uma amostra de sangue foi retirada. Uma vez confirmado o sonífero no corpo, sua origem tinha de ser o cantil (para me incriminar) e não a taça de vinho que Carlos usou na sala de vídeo, inocentemente levada para a cozinha e lavada. Como última providência você abriu a tranca da porta do final do corredor e arremessou o cantil fora.

Ema emudecera. Acabou por servir a si mesma um copo de cerveja, que sorveu quase de uma só vez, ficando depois a apertar o copo, numa total demonstração de nervosismo, quase sem controle. Patrícia partiu para o golpe final:

— Fiquei cinco anos na cadeia, matutando... Tive muito tempo... Culpa do delegado, aquele velho caduco, que não conseguiu pegar os verdadeiros assassinos... E eu ainda dei um nó nele: surrupiei a tira do Peary e a vendi para o colecionador chileno, faturando os cinquenta mil. No fim acabei até dando um motivo para o falso H. Nunes estar na estação e ter fugido: ele teria roubado a tira e dado no pé!

"Com o dinheiro eu consegui pagar detetives para investigarem tudo... Em Punta Arenas, Rio Grande do Sul e São Paulo... Você e o Ribeiro estão ferrados, já existe um dossiê bem guardado em um cofre num banco. Se algo me acontecer meus advogados vão despejar tudo na imprensa. Por que acha que fiz questão de vir conversar num lugar público? Acabou pra você, Ema!

A rival percebeu que Patrícia realmente sabia de tudo. Em franco desespero, já nocauteada, disse:

— Quanto você quer para fechar essa sua boca suja e nojenta... Diga... É isso que você quer, né? Dinheiro? Quanto?

— Ah, chegou onde eu queria... Nada menos que 1 milhão!

— Quê!?

— É pegar ou largar!

— Não tenho como te dar 1 milhão.

— Claro que tem! E quero uma transferência para um paraíso fiscal. Por enquanto faz aí um cheque de dez mil... E nem pense em sustá-lo!

Ema abriu a carteira tremendo e pegou o talão. Patrícia jogou-lhe a caneta:

— Nominal! — exigiu.

A bióloga escreveu o nome "Patrícia Rocha" na linha correspondente, entregando-lhe a folha, quando então uma voz forte e grossa ressoou no ambiente:

— Alto lá!

Uma voz conhecida! Quando olhou para trás deu de cara com o delegado Basílio, acompanhado de dois policiais:

— Ema Arantes Salgado Ribeiro, você está presa pelo assassinato de Carlos Eduardo Aranha. Fique ciente de que já foi expedida ordem de prisão contra seu marido. Eu perdi a batalha, mas vou vencer a guerra.

Só então Ema compreendeu tudo: tratava-se de uma armação entre a escritora e o delegado. Esbravejou:

— Sua maldita!

Patrícia riu:

— E você achou mesmo que eu seria capaz de toda essa investigação? E que teria mesmo conseguido vender a tira para o colecionador? Santa inocência! — ironizou, voltando-se para Basílio: — Fiz tudo direitinho?

O delegado parabenizou-a:

— Grande atuação! Digna de um Óscar!

E complementou:

— Patrícia Rocha, considere-se livre e com liberdade para processar o Estado pelas condenações eventualmente injustas. Atua história recomeça aqui!

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