Depois da chegada da realeza de pico Dourado, os servos e cozinheiras, limpavam tudo sem pausas, isso deixou Aurora incomodada com as exigências de Sara.

Mas ela não podia fazer nada, era somente uma guardiã.

Ethan também não gostava nada daquilo,isso sem contar das vezes que Elisabeth pedia uvas e mais uvas, e Henrique,só sabia beber rum.

Ao anoitecer a mesa do jantar foi enfeitada com taças de cristais,vinhos, alguns pães, havia também velas e alguns festões com flores brancas que fazia parte da decoração ao centro da mesa branca.

O jantar foi servido com peixe assado,alguns vegetais e um pernil com molho avermelhado.

—Diga-me Ethan, meu querido primo, andas atrás de uma futura esposa?—perguntou a princesa.

—Não, por mais que eu seja totalmente diferente do que andam dizendo sobre mim, o que não sou, muitas mulheres somente me vê como alguém que pode dar regalias, e jamais como um homem que pode ser digno de afeto..o que meu falecido pai,diria ser fraqueza, para mim, união vai além de acordos, papeis assinados e ouro.

—O que significa então? Amor ou não, algum momento terá de continuar sua linhagem,deixando seu legado para sua próxima geração.. seria inteligente agora ir atrás de uma dama e lhe dar o "afeto" que tanto diz que é sensato—disse Henrique que cortou um pedaço do pernil.

Aurora somente quieta olhava por cima para todos, o que para ela era esquesito ainda saber sobre os dois primos,quase casados.

—Ainda sim, primo, amor é algo raro, difícil de entender,somente se sente. Se não sente então, a união é por interesse territorial ou, por um trono ou por fortuna.. sociedade quem sabe. Não se vê amor nisso, somente interesses incomuns. É desonesto,mas, essa conversa não chegará a lugar nenhum, visto que temos pensamentos diferentes. Estou feliz assim,isso lhe garanto.

—Bom, se não lhe restar nenhuma outra, quem sabe Aurora seria a candidata perfeita para ocupar o lugar—disse a princesa que piscou para Aurora.

Ela ultrapassou os limites,mas, antes mesmo da assassina falar algo, Ethan deu uma risada  falsa, o que fez chamar atenção de todos.

—Isso não é da preocupação de ambos,mas, exijo respeito pela minha guardiã, ela está protegendo seu futuro rei, e se, caso algum dia,eu escolher alguma mulher, vocês vão saber, são bruxos, sempre sabem. Por hora, apreciem o jantar e não me pertubem mais.

Ele limpou a boca e se retirou da mesa e saiu para fora.
Aurora sabia que podia esperar tudo menos aquilo, as palavras trêmulas que saíram da boca de Ethan, e o fato de ninguém ali, da família, se importar com o fato dele se incomodar e se retirar..todos ficaram comendo,como se fossem manipulados sem sentir nada.

Ela obviamente se retirou sem dizer nada, afinal, não fazia questão e eles também não se importavam.

Perto da entrada do cemitério,lá estava Ethan. A luz da lua alta estava iluminando o rosto dele, algo angelical que ela sabia que qualquer dama poderia se apaixonar por ele em segundos.. se deixasse levar por isso.

Mas ela também viu a alma cansada, abatida pela decepção, por estar sozinho e triste.

—Deveria entrar, ficar em seu quarto, se aquecendo. Não perto disso aqui.

Disse ela ao se aproximar.

—Eu queria entrar,ver o que tinha ali, mas, minha mãe tem as chaves dos portões, e se eu pulasse deixaria pegadas na terra..ela desconfiaria, e sabe lá o que faria. Não entendo mais nada, eles vem até Austrum,fazem o que querem e eu me sinto desconfortável. Cada vez mais decepcionante está família.

—Vamos entrar, eu vou por fogo na lareira e você vai descansar. Amanhã vamos treinar e ler, caminhar pelo vilarejo, ou ir até o mar e ver os pescadores, algo que tire você desta solidão.

—Esta tão visível assim?— ele perguntou com um sorriso tímido de canto e ela sorriu concordando. Era nítido o quão longe era do título que deram a ele. Era conhecido por ser quem não era, por fazer coisas que não fazia.. e ele nem se dava o trabalho de desmentir. E Aurora queria saber o motivo de deixar assim.

—Não és como dizem. Um homem atrás de mulheres..e não desmentiu rumores, agora sei a verdade.

—As pessoas se concentram no que pode ser visível, as vezes o que se diz é aumentado. Mas nem sempre o que se vê,de fato é, nem o que se diz, se mostra ser real. Tenho fama de ser assim, mas, as vezes não vale a pena desfazer isso. Somente me conhecendo melhor, saberá a verdade. A verdade sempre está por trás de uma cortina..nem todos querem descobrir então a mentira continua existindo,estou confortável assim.

—Se acredita que podes viver desta forma, quem sou eu para desfazer essa ideia..mas, agora vendo quem és, sei que tudo não passa de lorotas, diversão para uns, e até mesmo motivo para te odiar.

—Ser assim, ou ser de outro jeito,sempre vão me odiar, sou herdeiro do trono de Austrum. Ser odiado é meu karma.

A realidade de duas versões, ela era odiada por sua elite,era prometida a morte por eles, e ele, odiado por muitos outros motivos.. não eram tão diferentes assim, claro, em níveis distantes porém, causavam o mesmo sentimento nas pessoas.

Depois de uma longa caminhada até o quarto, ambos se permitiram desfrutar a silenciosa companhia para ler. A janela aberta e o vento frio entrando,por mais que pudesse ser um pouco ideal estar assim, numa época fria e de neve, eles sabiam o quão bom era estar ali. Estavam seguros,estavam bem,poderia se dizer quão bem afortunados eram, mas, isso também lhes causavam um pouco de desconforto. Muitos não tinham isso,o que fez ela voltar a pensar no passado,onde ainda criança perambulava por aí atrás de comida até Klaus lhe encontrar.
E mais uma vez ela se questionou, quem era seu assassino?!