48. O caos inicial
#CodinomeFlamingo
Na sala pequena da casa de Jimin, ele dividia o sofá com os pais. Nas poltronas à sua frente estavam Yoongi e Seokjin, xícaras de chá intocadas na mesa de centro e uma frota de carros à paisana espalhada pelo quarteirão. Um fio de suor escorria pela têmpora do mais novo, sentia os corpos quentes dos seus pais em cada extremidade, o jeans estava colado na dobra dos seus joelhos e ainda fazia muito frio lá fora.
— Park Jimin faleceu em um acidente de carro — disse Seokjin, usando o verbo no passado para fazê-los acostumarem-se com a ideia. — Seus pais, inconsoláveis, venderam a casa na qual o jovem foi criado e se mudaram para um condomínio fechado. — Olhou para eles, erguendo uma das sobrancelhas e completou com uma informação que era importante somente para eles. — Altamente seguro.
Jimin ficou estático, encarando o vazio, ouvindo o seu nome e uma narrativa sobre a sua vida inventada. As frases repetiam-se dentro da sua cabeça em um eco. Sua mãe repousava a mão em punho fechado sobre a coxa dele, tentando digerir o que ouvia e ter a certeza de que o filho estava ali, presente. Kwan, por outro lado, não levava nada daquilo a sério, ou a sua incredulidade era a sua melhor forma de lidar.
— Seu novo nome será Natsu Inoue — Seokjin continuou. — Estudante de Letras da Universidade da Coreia que conseguiu um intercâmbio para a Universidade de Leiden, na cidade de Leiden, Holanda. Emigrou e nunca mais voltou para o seu país de origem. — Olhou para eles e esperou por alguma resposta, mas os três apenas mostravam reações diferentes, ainda que silenciosas.
— Entendo que isso seja difícil de digerir, ainda mais para os pais que terão que conviver com um luto que de fato não existe. — Yoongi limpou a garganta, tentando amenizar o impacto das informações dadas pelo delegado.
— Como é um luto que não existe? Eu vou perder o meu filho de verdade! Eu nunca mais irei vê-lo?! — Jiyoon se exasperou, deixando as mãos trêmulas aparentes.
— Com muita discrição, a senhora pode ir ao encontro dele depois de um período de segurança, mas dificilmente ele conseguirá voltar para a Coreia. — Seokjin tentou tranquilizá-la, mas tudo o que Jimin conseguia escutar era um zunido em seus ouvidos.
— Eu aceito — disse ele, rompendo com a conversa que se desenrolava sem a sua participação.
— O quê?! — Seu pai finalmente reagiu, a realidade caindo em seus ombros. — Esse tal de Jeongguk vai realmente reger e mudar todo o curso da sua vida?
— A minha escolha não está sendo feita agora. Eu desenhei esse destino quando, mesmo depois de todos os avisos e de tudo o que de fato aconteceu, eu ainda decidi ficar. E eu continuo mantendo a minha escolha.
Jimin não pensava no perigo que correria se dissesse não e continuasse a morar em um lugar já conhecido por Baekhyun. Não pensava no medo constante que sentia a todo momento e no seu eventual alívio quando saísse dali. Jimin só conseguia pensar em Jeongguk, na resposta da sua última carta que nunca chegou porque era assim que o tatuado se fazia acreditar: a resposta viria pessoalmente, sussurrada em seu ouvido.
Seu nome, sua história, sua família e amigos continuariam vivos dentro de si, ainda poderia ser Natsu com um Jimin guardado dentro do peito, mas não continuaria a ser Jimin sem Jeongguk por perto.
Havia fogo ao seu redor, mas ele continuaria queimando longe de Jeongguk.
— Você tem certeza? — Jiyoon perguntou, com os olhos cheios de lágrimas. — Absoluta? Você acha que é para sempre? Que tudo isso vale a pena?
— Omma, como eu poderia voltar atrás agora?
— Não pense no que viveu até então como se precisasse continuar só para não perder o tempo que investiu nele. — Jiyoon segurou a mão de Jimin, como se tentasse puxá-lo para a realidade. — É hora de pensar no futuro. Você consegue se ver com ele em outro país? Será só vocês dois por muito tempo. Só me diga, você tem absoluta certeza?
— Tenho — Jimin respondeu, com um nó se desmanchando na garganta. — Tenho tanta certeza que até dói, omma.
Seu choro foi acolhido no abraço de Jiyoon, que tentava se conter para continuar sentindo o cheiro do filho, as mãos enroscadas nos fios escuros do cabelo dele.
O corpo que um dia foi menor que o seu, que já coubera em apenas um dos seus braços, que sempre andava com a cabeça encaixada em seu ombro quando o pegava no colo, a deixaria. O mesmo que passava a noite fora e voltava para casa de manhã com os olhos ainda menores, encostava-se no batente da cozinha e olhava para a mãe com um sorriso sacana nos lábios, a deixaria. Aquele que andava por aí com uma pilha de livros debaixo do braço, que usava as meias para escorregar pelo chão e se enfiava nas danças dos pais, a deixaria, e ainda seria o seu Jimin, mesmo que com outro nome.
— Então eu te apoio.
— Obrigado. — Apertou ainda mais o abraço. — Isso é muito importante para mim.
Ouviu o suspiro pesado do pai e olhou para ele, que negava com a cabeça, dando de ombros.
— O que mais eu posso fazer? — perguntou, segurando o rosto de Jimin em uma das mãos. — Se eu tentar impedir, você não será feliz.
Jimin sentiu o abraço do pai atingir algo no fundo do seu peito e doía tanto que o fez soluçar, como a criança que corria para os braços dele quando chorava ainda sem saber explicar as próprias emoções. Em todos os seus momentos difíceis, Kwan estava lá, exercendo o seu papel, fazendo o que se esperava de um pai, como o chão firme que tocava os seus pés. Estranhamente, Jimin sentia que perdia um pouco da sua sustentação, mesmo ainda agarrando as dobras da camisa do pai.
— Esse é o preço de sempre ter te encorajado a ser passarinho. Agora você vai voar para longe.
Jimin sorriu, ainda em meio às lágrimas, ciente de que o futuro ainda era cheio de incertezas e dificuldades, mas com o apoio dos pais ele sentia que estava fazendo a coisa certa.
Yoongi colocou uma pasta sobre a mesa e a empurrou em direção a Jimin. Calmamente, ele a abriu e olhou cada um dos documentos ali contidos: sua nova identidade, seu passaporte, passagens aéreas e o endereço do alojamento estudantil. Sua foto era dos arquivos de matrícula da Universidade de Yonsei, um jovem Jimin que não fazia ideia de como descobriria o amor e o que ele provocaria.
— Natsu — Jimin disse o seu novo nome em voz alta. — Por que a Holanda?
— Foi ideia do advogado do Jeongguk. — Seokjin apontou para ele, que deu de ombros, quase revirando os olhos, mas algo na forma como as suas feições mudaram diziam que ele pensou nisso com muito carinho.
— Para combinar com o que ele tem tatuado nas mãos.
Jimin fechou os olhos e concordou. Porque seria em meios às flores que Jeongguk renasceria, o seu amor encontraria tranquilidade para crescer e ser como nos livros que retratavam um amor sereno e cheio de certezas.
— A passagem — Jiyoon disse, de repente. — É para amanhã de manhã. Essa é a sua última noite aqui.
Jimin olhou para Yoongi com o olhar perdido, procurando por uma confirmação e o advogado apenas assentiu. Em algum lugar da sua cabeça, a ideia de que aquilo fosse acontecer somente em algum momento ainda não mencionado tornava a situação apenas uma possibilidade, no entanto, colocar uma data e um horário, tornava tudo real. Jimin não seria mais Jimin, pelo menos não em Seul, mas não mais longe de Jeongguk.
— Você vai agora e o encontra lá.
— Ele já sabe disso?
— Logo, logo ele vai saber — Seokjin respondeu, levantando-se. Yoongi seguiu os seus passos, lançando um olhar encorajador para Jimin.
— Eu não posso falar com ele antes? Pelo telefone mesmo — pediu, engolindo em seco.
— Jimin, você morreu — Yoongi relembrou. — Os telefonemas na penitenciária são registrados e qualquer contato entre vocês dois provaria que isso é uma mentira. E além do mais, você não pode se despedir de mais ninguém que não sejam os seus pais, e isso porque eles já estão aqui.
— Taehyung... — sussurrou em vão, pois Yoongi negou com a cabeça.
— Quem poderá entrar em contato com ele é Natsu, na Holanda, a partir de um e-mail seguro, altamente criptografado que a polícia te fornecerá. — Yoongi o encarava e Seokjin respirava fundo ao seu lado, receoso de que Jimin voltasse atrás em sua decisão. — Entendido? — perguntou, depois de alguns longos segundos em que ele ficou sentado olhando para o nada.
— Essa vai ser a sua realidade a partir de agora. — Seokjin trocou o peso do corpo entre as pernas, pensando se deveria voltar a se sentar. — Eu sei que vai ser difícil de se acostumar, mas um dia essa agonia vai passar, seus pais e amigos mais próximos poderão te visitar. É só você esperar, assim como esperou para estar junto de Jeongguk novamente.
— Parece que eu não posso ter o melhor dos dois mundos. — Sorriu irônico e olhou para os pais. — Mas eu entendi. Jeongguk está fazendo a parte dele e eu preciso fazer a minha também.
— Certo. — Seokjin suspirou aliviado. — Amanhã bem cedo uma equipe estará à sua espera.
E então, os dois partiram, seus pais voltaram a se sentar e a casa pareceu ficar do tamanho das memórias que os três carregavam e só foram lembradas naquele momento de despedida. Pois enquanto Jimin comia com os pés sobre o sofá assistindo a algum programa idiota com Kwan e Jiyoon, ele não sabia que aquilo se tornaria uma memória que os assombrava naquele exato momento. A televisão desligada parecia errada, assim como os pés no chão e o chá frio nas xícaras.
A constante aparição da mãe que saía da cozinha para se inteirar de alguma notícia do telejornal, o pai que se levantava para ajudá-la e Jimin que ia ao encontro deles porque não queria ficar sozinho. Porque estar com eles era bom, fazia parte do que sabia ser a sua casa.
— Eu não consigo ficar olhando para vocês. — Jimin fungou, deixando o choro sacudir o seu peito. — Isso me faz querer não ir, por mais que eu queira.
— Isso significa que fizemos a coisa certa — Jiyoon disse, em um fio de voz devido à garganta apertada. — Eu nunca me perdoaria se um filho meu saísse de casa e se sentisse aliviado. Eu quero que você se sinta desconfortável longe de nós, mas que procure o seu próprio conforto e nos encontre nas suas melhores memórias.
— E nos e-mails que vamos trocar — Kwan completou. — Eu nem sei digitar, mas eu vou arranjar um jeito de aprender.
— Eu acho que você nem tem um e-mail, querido. — Jiyoon riu, em meio às lágrimas. — Pelo menos não um que você saiba a senha.
— Isso eu resolvo mais tarde. — Gesticulou, dizendo para ela deixar para lá. — E depois de um tempo, vamos viajar de avião pela primeira vez para te encontrar. Vai ser uma aventura.
Jimin riu com a fala do pai, secando as lágrimas que não paravam de manchar o seu rosto.
— E me desculpa. Desculpa mesmo — ele pediu, e os pais franziram os cenhos, confusos. — Desculpa por fazer vocês passarem por isso, por terem que mudar de casa por minha causa.
— Filho, isso é o mínimo que podemos fazer e eu gostaria de fazer muito mais por você. — Jiyoon passou a mão em seu cabelo, revelando a testa já cicatrizada e a marca ainda avermelhada enviava sinais de perigo para o seu coração. — Você vivo e feliz é o que importa. Entendeu?
Jimin assentiu e no abraço da mãe, deixou que as suas emoções se acalmassem até que precisasse se levantar para fazer aquilo acontecer.
Suas malas foram feitas com os seus pais perambulando ao seu redor. Sua mãe deitou-se na sua cama abraçando o seu travesseiro e o seu pai estava sentado, olhando Jimin dobrar as roupas, escolher alguns sapatos e observar os livros que seriam deixados para trás.
Kwan levantou-se de repente e reapareceu no quarto depois de alguns minutos, segurando a daruma que pintaram no ano novo.
— Para você pintar o segundo olho quando o seu desejo se realizar. — Estendeu-a para Jimin, que a segurou como se acolhesse o mundo na palma das mãos.
— Bem lembrado, appa — disse, enrolando-a em algumas camisas antes de colocar na mala, sabendo muito bem o que seria capaz de trazer o brilho dos olhos de Jeongguk de volta. Juntou todas as pinturas que recolheu no antigo apartamento dele, os pincéis e tintas que ganhou do Sr Choi e o seu caderno de desenhos.
— O quê é isso? — Jiyoon perguntou, curiosa, sentando-se ao lado de Kwan.
— São as coisas do Jeongguk. — Jimin acariciou a capa do caderno e olhou para a mãe, que mantinha os olhos espreitos em direção aos objetos na mesa, como se tivesse curiosidade sobre quem era aquele homem que o filho estava mudando toda a vida apenas para viver ao seu lado.
Jimin sentia que precisava apresentá-los de alguma forma e ergueu uma das folhas soltas com o seu rosto pintado em aquarela. Jiyoon, imediatamente, colocou a mão na boca, estupefata com a intensidade que os olhos do filho conseguiam encará-la em uma pintura. Jimin deu alguns passos na direção dela, aproximando o desenho, e seu pai, com os olhos lacrimejados, perguntou:
— Foi ele quem fez?
— Sim. — Jimin percebia a sua respiração ficar pesada quando sentia a saudade lhe inundar em momentos inesperados e era aquela sensação que lhe dizia que estava fazendo a coisa certa.
— Ele é um artista.
— Eu posso ficar com ela? — Jiyoon perguntou, tomando o papel em mãos lentamente, como se aquilo fosse dela porque Jimin também era seu.
— Bom, eu não tenho como perguntar ao Jeongguk agora, mas vou tentar prever a resposta dele. — Jimin sorriu e soltou o papel, sem saber que também entregava um pedaço do amor que Jeongguk sentia por si, sem saber do seu desespero ao pintar a imagem que não saía da sua cabeça e nem de como nada daquilo lhe trouxera qualquer alívio.
Juntos na cama, em um sanduíche de Jimin, olhavam para o teto e conversavam sobre o passado e o futuro, um querendo escutar a voz do outro, dos planos que davam a certeza de que se veriam de novo. Viram fotos de Leiden, navegaram pelos mapas e arriscaram falar algumas palavras em holandês como se aquela viagem fosse algo planejado e não um evento inesperado.
Nanquim decidiu aparecer no meio da madrugada, pulando na cama para fazer parte daquele momento. Sua mãe acariciou o pelo macio e sorriu com o ronronar.
— Diz pro Jeongguk que vamos cuidar do que ele deixou para trás também. — Suspirou e olhou para Jimin, que a olhava de volta com uma gratidão imensa nos olhos. — Ele vai cuidar bem de você, não vai?
— Ele já está cuidando.
Naquela noite, ninguém conseguiu dormir. Preferiram apreciar a presença daquele que iria partir, deixando um lugar vazio naquela casa, mas nunca em seus corações.
(...)
Onde não havia nada, o Caos tomou consciência de si e vibrou no vazio. Do Caos se criou tudo.
Jeongguk estava afogado em seu próprio nada, vibrando no vazio ao encarar as suas antigas roupas dobradas em cima da mesa. O único anel que costumava decorar a sua mão. O celular com a antiga tela quebrada. A calça jeans rasgada e a camisa de flanela desbotada. O par de Chuck Taylor preto com cano alto. Do seu eu antigo iniciara-se o nada e terminaria em caos, criando assim, o tudo. O futuro.
Viu o seu reflexo no espelho quando se vestiu e era como se voltasse a estar dentro de uma casca que não lhe pertencia mais. Nunca pertenceu. A falta do cabelo rosa talvez significasse alguma coisa.
— Acho que vai precisar de um casaco — Seokjin disse, oferecendo-lhe uma jaqueta jeans forrada por dentro.
— Obrigado. — Jeongguk a vestiu, sentindo o abraço de calor do tecido.
— No botão perto da gola existe um microfone, mantenha uma distância segura de qualquer um que encontrar. — Estendeu a mão para Jeongguk com um comunicador disfarçado de airpod na palma. — Isso vai ser a nossa comunicação durante toda a operação, pode colocar uma touca para escondê-lo.
Jeongguk assentiu e o colocou em seu ouvido, vestindo o gorro preto que também lhe foi estendido.
— Sei que já conversamos bastante sobre isso, mas preciso relembrar uma coisa muito importante: mantenha a calma. Se achar que vai perder o controle da situação, mantenha-se em silêncio e retire-se do local da maneira que puder. Lembre-se das justificativas que criamos sobre Jimin estar sob medida protetiva, da recusa do advogado, de tudo.
— Eu vou tentar esquecer que tem uma equipe policial me seguindo e me ouvindo. — Jeongguk respirou fundo, ainda tentando assimilar o que faria.
— Pode ser uma boa estratégia — Seokjin disse e se virou para trás, ouvindo a porta se abrir.
— Era assim que você andava na rua? — Yoongi entrou e apontou para Jeongguk, franzindo o cenho.
— Era assim que eu vendia droga.
— Agora entendi porque seus amigos escolheram a dedo as roupas quando estavam fazendo as suas malas — comentou, lembrando da forma como Hyejin dobrava as camisas brancas e pretas, apertando os moletons contra o corpo antes de colocar na mala, como se colocasse um pouco do seu amor e aliviasse a saudade.
— Como reagiram? O que vai acontecer com eles? — Jeongguk sentou-se na cadeira, sentindo as pernas trêmulas e o coração parecia nem bater direito devido ao aperto esmagador que sentia. Já nem sabia se seria melhor assim, ou se ter a chance de um último abraço faria doer ainda mais.
— Ficaram surpresos, mas eu os acalmei. Entenderam que é melhor você sumir por um tempo do que morrer. — Yoongi sentou-se na outra cadeira, observando os itens sobre a mesa. — Eles vão se mudar para outra cidade, tem uma equipe da polícia à paisana na região até o momento da mudança.
— E Jimin?
— A essa hora? — Olhou para o relógio em seu pulso. — Deve estar sobrevoando algum lugar do Pacífico.
— Indo para onde?
— Logo, logo você vai saber — Seokjin se intrometeu, aproximando-se.
— Então, isso quer dizer que não tem mais volta? — Jeongguk perguntou e o delegado pareceu surtar por alguns segundos, mas logo se recompôs. — A vida do Jimin já mudou completamente.
— Park Jimin não existe mais. Ele vai estar em outro país com outro nome e passado, esperando por você.
Jeongguk olhou para o seu celular e pressionou a tecla central, vendo-o se acender. Digitou a senha e abriu o aplicativo de mensagens, as conversas com Jimin ainda estavam ali, mas a conta dele não existia mais porque precisou trocar de número por sua causa. As fotos dos dois ainda estavam na galeria e parecia que anos se passaram desde que não via aquele sorriso e o olhar cheio do que agora sabia que era amor. Jeongguk sentiu a garganta começar a fechar e bufou porque não queria chorar. Precisava fazer aquilo dar certo. O que mais desejava no momento era parar de complicar a vida de Jimin e amá-lo com tudo o que merecia, entregar a ele mais do que lia nos livros.
— Seu celular já está sendo interceptado — Seokjin avisou. — O conteúdo de qualquer ligação e mensagens será de nosso conhecimento.
Jeongguk piscou os olhos lentamente e se levantou, não querendo pensar demais. Precisava agir antes que fosse tarde. Baekhyun precisava estar na cidade, em contato com os traficantes da Persona, caso contrário, não saberia por onde começar.
Quando se viu do lado de fora da penitenciária, pisando no chão com o conhecido conforto dos tênis e viu a caminhonete estacionada à sua espera, quis recuar e voltar para a cela. Sabia que não estava indo de encontro à sua antiga vida, mas era isso que sentia. A liberdade que sonhou não tinha aquele cheiro já sentido, nem a ausência manifestada de Jimin em todo canto. Estava fora dos muros, mas não se sentia livre, pelo menos não ainda.
— Estaremos na retaguarda. — Seokjin abriu a porta da caminhonete e ele entrou, lembrando-se de colocar o cinto dessa vez. Deu a partida, vislumbrando os seus olhos no retrovisor e percebendo um brilho que sempre foi seu.
Flamingo não havia voltado, era Jeongguk que estava ali, colocando um ponto final naquele trágico capítulo da sua vida.
Ainda fazia frio, mas ele manteve a janela aberta, sentindo o vento cortar a pele e as mãos estavam firmes no volante. A estrada foi deixando de ser solitária e quando os primeiros prédios apareceram no horizonte, seu coração voltou a bater acelerado. A fonte dos seus maiores medos estava mais perto do que nunca e a única coisa que poderia fazer era enfrentá-lo.
Parou no sinal em frente à entrada da rua conhecida pelas lojas de cosméticos. Turistas e locais andavam de um lado para o outro em busca dos melhores ingredientes e etiquetas de mais vendidos e Jeongguk andava pela calçada fitando a fachada cor-de-rosa e puxando o gorro para baixo ao sussurrar.
— Estou entrando.
O cheiro daquele lugar não se parecia com nada do que ele de fato era. Seus passos eram automáticos entre os corredores, como se nunca tivesse deixado de estar ali semana após semana, acumulando tintura rosa para o cabelo no armário do seu antigo banheiro.
Seguiu para o caixa com o frasco em mãos e olhou para o homem que o seguia com o olhar. Foi em sua direção, quebrando as expectativas alheias.
— E aí, cara. — Jeongguk levantou o punho fechado, mostrando o beta no pulso, mudando completamente a expressão desconfiada do atendente, que o cumprimentou com o mesmo gesto, os betas encontrando-se.
— E aí — respondeu, com um sorriso comedido nos lábios. — Não tô lembrado de quem você é.
— Flamingo. — Jeongguk arriscou e os olhos do homem se arregalaram, indicando que já ouvira falar de si. — Fiquei fora por um tempo, mas agora estou de volta.
— Porra, fiquei sabendo — disse em um tom mais baixo e Jeongguk se perguntou se os policiais conseguiam ouvi-lo. — A polícia está muito em cima desde aquela época, as coisas não mudaram muito de lá para cá.
— Sério? — Jeongguk fingiu se lamentar, repuxando os lábios. — Poxa, eu precisava de uma grana.
— Bom, eu não tenho nada aqui, mas você pode ir atrás do homem tentar a sorte. — Deu de ombros, relaxado.
— É, acho que esse é o único jeito... — Jeongguk respirou fundo e percebeu que de todos os funcionários da loja ele era o único que não usava crachá. Nunca saberia o seu nome. — Vou lá antes que o trânsito até Gangnam piore. — Ameaçou se afastar do balcão, mas logo voltou a sua atenção para o homem, escondendo um sorriso irônico nos lábios ao ouvir:
— Ele não está mais em Gangnam.
— Ah, não? — Franziu a testa, demonstrando surpresa.
— Ele tentou controlar a rota de um chefe do tráfico que apareceu e acabou dando errado, só sei que o cara colocou ele pra correr. — O suposto traficante escondeu a boca com a palma da mão, mas logo se recompôs e apontou com o indicador para Jeongguk. — Não diga a ele que eu ri disso.
— Até parece. — Jeongguk negou com a cabeça e apoiou os cotovelos no balcão, chegando mais perto do desconhecido. — Mas onde ele está agora?
— Em Hongdae — disse, como se não fosse nada demais, como se todos soubessem o paradeiro de Baekhyun, exceto a polícia. Como se aquele endereço devesse ser do conhecimento de Jeongguk. Assim, ele elevou o queixo, apropriando-se daquela informação, deixando-se fazer parte daquele grupo por mais alguns minutos.
— Ah sei... — Jeongguk disse, lentamente, os sons das sílabas escorregando pela língua, esperando secretamente que alguém sussurrasse em seu ouvido algum jeito de ter mais informações, mas nada aconteceu. Precisava se virar. — É naquele prédio de três andares?
— É, esse mesmo. Número 142, eu acho.
Jeongguk não sabia se o seu sorriso demonstrava qualquer tipo de agradecimento devido aos tremores fortes sentidos por todo o corpo, ou se escondia a sua excitação com as informações descobertas. Deixou o frasco de tinta sobre o balcão e deu as costas, saindo da loja sem quase conseguir respirar. Andou depressa até a caminhonete e assim que a alcançou, deixou que o ar saísse dos pulmões em lufadas curtas.
— E agora?! — perguntou, pausadamente e um tanto desesperado.
— Estamos tentando rastrear o endereço fornecido. — Ouviu a voz de Seokjin em seu ouvido. — E, por favor, respira. Você está fazendo um ótimo trabalho.
Durante a espera, Jeongguk voltou os olhos para a rua e abriu a janela para escutar o movimento. Pessoas passavam ao redor falando o seu idioma materno e ele pensou que aquilo era algo importante para se apegar. Estudantes voltavam da escola de bicicleta e o som dos pneus rasgando o asfalto junto às risadas conseguiram acalmar as batidas do seu coração. Queria ter boas memórias daquela época, queria contar ao Jeongguk mais novo que tudo deu certo e que ele não sofreria, mas seria uma grande mentira.
Espalmou o volante e aos poucos, ele tomava consciência de quem realmente era. Da sua infância difícil na escola, da adolescência em que nada melhorou e ele descobriu que não se encaixava no mundo, as suas arestas que não foram acolhidas por quem mais amava no mundo e em como tudo se desenrolou para estar ali, tentando se diferenciar do seu estado de traficante e prisioneiro, porque ser e estar são verbos diferentes.
Suas tatuagens eram mais do que desenhos, ou símbolos de rebeldia, exibiam os seus desejos, crenças, vazios e dores. A rosa no dorso da mão estava exposta, junto ao anel que Jimin colocou em seu dedo quando o pediu em namoro e parecia nunca ter saído dali, como se sentisse o peso do metal, a presença dele disfarçada, por todo esse tempo. Aquilo o mostrava que era amado, que existia alguém em algum lugar do mundo esperando por ele agora. Ele precisava fazer a dor da espera passar e o futuro valer a pena.
Fechou os olhos e o fone em seu ouvido voltou a chiar. Era Seokjin enviando-lhe as coordenadas que o dariam a chance de fazer as suas ideias se concretizarem e dirigir até Baekhyun, pela primeira vez na vida, sem a sensação de impotência dominando os seus músculos, provava que poderia fazer algo maior por si mesmo e era no mínimo, libertador.
Hongdae tinha ruas movimentadas pelos comércios, mas se seguisse pelas ruelas mais estreitas, a densidade de pessoas começava a ser menor e os prédios diminuíam de tamanho. Não podia negar que sentia medo ao ver tudo se acalmando ao redor e o seu coração seguindo os passos contrários. Pelo retrovisor, conseguia ver alguns carros da polícia à paisana o seguindo, indo por ruas diferentes para não levantarem suspeitas, mas nem isso conseguiria acalmá-lo. Sabia que quando estivesse de frente com Baekhyun, estaria sozinho e se algo fugisse dos seus planos não teria ninguém para socorrê-lo.
Jeongguk se viu de repente em uma rua mais larga e em frente ao número 142, um prédio de aparência despretensiosa, o qual não combinava em nada com os homens que tomavam café em frente a ele. Sua presença foi notada assim que estacionou a caminhonete e os homens que o observavam de longe mantinham o olhar fixo sobre si. Jeongguk engoliu em seco e abriu a porta, sentindo a tensão gelar a ponta dos seus dedos. Ali fora, os homens na porta começaram a dar alguns passos na sua direção, mas algo os impediu de continuar.
— O quê você está fazendo aqui? — Uma voz conhecida surgiu de algum lugar que Jeongguk não soube identificar de imediato. A voz carregava uma surpresa e um misto de felicidade ao vê-lo. — Flamingo está de volta?
Jay mostrava um sorriso enigmático, Jeongguk não sabia se eram os olhos ou os lábios que se moviam de um jeito que não demonstrava confiança. No entanto, a sua presença lhe mostrava que estava no lugar certo.
— É, eu voltei — disse, andando na direção dele.
— Não sei como tem coragem. — O olhar de Jay mudou de humor, as pálpebras apertadas vigiavam as expressões de Jeongguk, tentando captar algum sinal do que o trazia ali.
— E por que eu não teria? — Assim que terminou a frase, arrependeu-se amargamente. Seu corpo foi prensado junto à parede e a mão pesada de Jay foi em direção ao seu pescoço, mas Jeongguk tentava empurrá-lo para continuar respirando e proteger o microfone no botão da jaqueta.
— Seu namoradinho pediu proteção da polícia. Que merda foi aquela?! — Jay cuspia as palavras iradas em sua face e Jeongguk tentava pensar em algo que o fizesse se afastar. Por sorte, os outros traficantes não mostravam muito interesse na cena que acontecia diante dos seus olhos.
— Pediu? Eu não sei, não nos falamos mais desde muito antes de eu ser pego.
— Ah não? E ele te visitou várias vezes para quê? — Jay aliviou o aperto, fazendo Jeongguk respirar pesadamente sobre a palma da sua mão. Esconder as batidas aceleradas do seu coração não era uma opção.
— Na primeira eu terminei com ele, na segunda ele foi para insistir e nunca mais voltou — disse, tentando soar o mais convincente possível e ao que parecia, estava funcionando, pois Jay foi se afastando lentamente do seu corpo. Jeongguk aproveitou para enfiar a mão no bolso traseiro e forçar o anel que enfeitava o seu anelar a sair, escondendo qualquer vestígio de Jimin. — Mas vocês continuaram a persegui-lo por minha causa? Perderam tempo e ainda correram risco.
— Ah, a putinha ficou correndo atrás de você? — Jay achou graça, dando volta pela calçada como quem não teria o matado se quisesse. Deixaria aquilo passar porque sabia que era verdade, viu no celular de Jimin. — Pena que ele sabe se defender, porque quando eu o persegui na rua, achei ele bem gostoso.
A mandíbula de Jeongguk travou e ele mordeu o interior da bochecha para descontar a raiva que sentiu. Nunca se perdoaria por aquilo ter acontecido com Jimin e ver a razão dos pesadelos do namorado bem na sua frente, confessando-se, o fez querer quebrar cada um dos seus ossos.
— Respira, Jeongguk — Seokjin chiou em seu ouvido mais uma vez, parecendo-se com a voz invisível da sua consciência.
— Acredite se quiser, não vale a pena a dor de cabeça. — Jeongguk sorriu sem jeito e olhou ao redor, tentando não levar a sério o que dizia sobre Jimin e percebeu que havia câmeras na entrada. — Ele já sabe que eu estou aqui, não é?
— Sabe. — Jay assentiu e sorriu, com uma certa diversão pulsando em seus olhos. — Vai lá, vou ficar aqui esperando pra saber se eu te mato ou te dou um abraço de boas-vindas.
Jeongguk respirou fundo e entrou dentro do prédio, deparando-se com um saguão vazio. Nada o separava das escadas e as suas pernas pareciam pesar uma tonelada a cada degrau vencido. No primeiro lance, um corredor vazio. No segundo, a lâmpada piscava criando um zunido irritante. No terceiro, as vozes dos traficantes lá embaixo ainda eram ouvidas e uma porta estava aberta no fim do corredor. Sabia que ele estava lá, sabia que ele gostava de ser o mandachuva no topo da pirâmide, controlando e vendo tudo.
Andou até ela com determinação, nada podia pará-lo agora. Relembrava tudo o que Seokjin havia falado, das tentativas de prever as perguntas de Baekhyun e das suas possíveis respostas. A quantidade de aliados que estavam naquele prédio era uma preocupação, mas seus passos decididos em direção a ele mostravam a confiança que tinha em Seokjin. Ele saberia o que fazer.
— Primeira pergunta. — A voz de Baekhyun soou clara o suficiente para fazer a linha da sua coluna se arrepiar. — Como você conseguiu sair da cadeia?
— Esqueceu que eu recusei o seu advogado? — Jeongguk apoiou o peso do corpo no batente da porta, olhando-o de longe, de pé perto da janela.
Uma infinidade de acontecimentos fez tudo ao seu redor mudar drasticamente, mas Baekhyun continuava ali, impassível, intocável, quase incapaz de sentir qualquer coisa. Jeongguk sentiu raiva ao vê-lo. Sua testa mantinha-se brilhante, sem qualquer ruga de preocupação. Uma mecha fina do cabelo castanho desprendeu-se do restante e ele a jogou para trás com elegância antes de virar-se completamente para si. Um copo de whisky dançava em seus dedos, sem gelo, afinal estava frio lá fora e ele procurava se esquentar.
— Eu sabia que se fosse depender de você, mofaria lá dentro. — Baekhyun elevou uma das sobrancelhas com a sua fala atrás do copo antes de dar um gole no whisky, não precisando se esforçar para tentar negar tamanha verdade. — Não queria ter o mesmo destino dos outros.
— Você sempre se forçou a ser diferente de todo mundo, não é? — Seu tom insinuava uma implicância, Baekhyun parecia irritado com a sua aparição. — O artista, o altruísta, sempre preocupado com todo mundo, controlando dose de viciado porque não quer ver ninguém morrendo por overdose... — Grunhiu
— Está reclamando agora? — Jeongguk cruzou os braços, dando alguns passos em sua direção. — Achei que você gostasse desse meu jeitinho. Da última vez você me disse que quem não morre, compra mais no dia seguinte.
— E onde é que tá a droga agora? — Baekhyun gesticulou com os braços, quase derramando a bebida. Bufou e sentou-se à mesa do escritório improvisado, deixando o copo sobre o descanso. — Se você está aqui, deve saber o que aconteceu.
— Sei de uma versão. Quero saber a sua. — Deu fim à distância entre os dois e sentou-se na cadeira de frente para ele.
— Lembra do Niida? O cara que eu pedi para você encontrar e matar em troca do perdão da sua dívida? — Jeongguk acenou que sim e Baekhyun continuou. — Ele me achou primeiro e eu dei um jeito de fugir. — Sua voz se transformou em um fio e ele pigarreou. — Parece que eu estou me escondendo aqui, não é? Mas ele foi preso e eu não. — Ergueu o olhar, tentando mostrar uma confiança que era digna de pena.
— E como você está? — Jeongguk perguntou e Baekhyun franziu a testa, estranhando a preocupação repentina.
— Por que sempre tão sensível? — Bufou e relaxou o corpo, deixando-se ser abraçado pela cadeira. — Eu penso no meu pai, no que ele faria em uma situação como essa.
— E o que ele faria?
— Sei lá, matar esse tal de delegado Kim e a sua tropa honesta demais para essa maldita cidade cheia de drogados. — Um silêncio perturbador instalou-se na sala espaçosa e Baekhyun jogou a cabeça para o lado, pegando o seu whisky e sentindo-o rasgar a garganta. — Você o mataria?
— Você já me fez essa proposta antes. — Jeongguk negou com a cabeça. — Você já sabe a minha resposta.
— E como pensa que vai pagar a dívida que tem comigo? Eu não sou de perdoar esse tipo de coisa, não é porque você foi preso que a sua vida aqui fora foi zerada. — Ergueu a sobrancelha, trocando seus olhares entre Jeongguk e o monitor sobre a mesa exibindo as câmeras de monitoramento do prédio.
— Eu sei disso, não pense que eu me esqueci. — Os seus olhos de Jeongguk pareciam encarar o vazio, mas ele conseguia ver o seu futuro se caso tivesse aceitado ser defendido pelo advogado de Baekhyun: pagaria a sua pena e estaria exatamente naquele mesmo lugar, com a diferença da localização geográfica, idade e que aquela conversa teria intenções reais de pagar a maldita dívida. — Você não tem nenhuma outra rota em mente? Eu preciso de dinheiro também.
— Estou tentando entrar em contato com funcionários do aeroporto, mas é mais difícil. A fiscalização é intensa por lá, tem cães farejadores por todo canto, eles estão com medo de entrarem nessa, apesar da grana ser boa. — Baekhyun abriu uma gaveta e pegou um charuto, sem nem fazer questão de oferecer. Já havia oferecido coisas demais a Jeongguk e ele insistia em recusar todas elas. — O quê você vai fazer? Porque eu não tenho nada a oferecer no momento.
— Não sei, não é como se eu soubesse fazer outra coisa. — Suspirou, cansado daquela conversa, de tudo o que estava fingindo ser porque, um dia, no passado, acreditou que aquilo fosse real.
— Te ensinei bem, não é? — Sorriu, tragando o charuto. — Acho que eu sou um dos seus únicos amigos.
— Por que você acha que é meu amigo? — Jeongguk franziu o cenho e sorriu, cruzando os braços, divertindo-se.
— Por que você voltou? — Baekhyun aproximou-se da mesa, apoiando os cotovelos sobre o tampo enquanto o tabaco queimava entre os seus dedos. — Por que de todos os seus outros amigos, você me procurou para ajudá-lo? Você podia sair da prisão e fugir, viver uma outra vida longe dos meus olhos e eu nem me lembraria da sua existência.
— Você sabe muito bem que isso não é verdade. — Jeongguk semicerrou os olhos e negou com a cabeça.
— Você voltou por medo? — Baekhyun franziu o cenho, desconfiado. — Não acredito que seja tão leal aos seus princípios ao ponto de voltar só para pagar a dívida.
Jeongguk permaneceu em silêncio, não pelo incômodo de estar mentindo, mas pela tensão e os tremores que voltaram a paralisar o seu corpo quando percebeu que os sons no térreo começaram a ficar altos demais, subindo até o terceiro andar. Baekhyun não entendeu a sua falta de respostas e olhou para o monitor mais uma vez, assistindo nada mais do que chapiscos na tela, mostrando que as câmeras foram danificadas. Passos apressados ecoavam lá fora e o desespero tomou conta de ambos, no entanto, Baekhyun sabia agir melhor sob pressão do que Jeongguk e sacou uma arma que estava debaixo da mesa.
Em um ímpeto desesperado ao ver a pistola, Jeongguk levantou-se e tentou ir de encontro a saída, mas sua ação acendeu uma ideia na cabeça de Baekhyun, respondendo a sua pergunta sobre o motivo de ele ter voltado. Sem pensar duas vezes, apontou a arma para ele e disparou.
Jeongguk apenas ouviu um zunido prolongado e mais disparos que não o atingiram, mas não sabia porque não conseguia fazer os seus pulmões funcionarem. Sua pele queimava e a escuridão era convidativa. Deixou-se levar por ela e ele sabia que nada seria o mesmo depois de fechar os olhos.
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