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38. Três da tarde

Jeon Eunbi conhecia uma mulher que perdera o filho para a mãe mais cruel de todas: a morte. Ele tinha dezesseis e já andava com alguns outros meninos maiores de idade e sem juízo. Dirigiam pelas ruas de Busan com a cabeça longe da pista, nem a viam direito de tão embriagados que estavam e, por não verem, nem sentiram quando um caminhão os acertou em cheio. A morte até parecera acolhedora daquela vez, em um minuto estavam vivos, no próximo segundo, não.

No entanto, a morte não lida com os vivos, leva quem ela quer e não deixa nenhum consolo para trás. Naquela noite, ela não levou apenas o filho, mas também a vida dos olhos daquela mãe.

E Eunbi sabia da amargura direcionada a si quando atrevia-se a olhá-la do outro lado das fileiras de bancos da igreja. O filho de Eunbi não estava mais ali porque ela não queria, porque não conseguiu aceitar uma parte tão fundamental que regia a existência alheia. Tão alheia que ela não entendia. Quando ele foi embora e nunca mais obteve notícias, preferiu encarar que ele tivesse morrido. Jeongguk estava longe dos seus olhos e do seu coração.

E era isso que afetava tanto a outra mãe, porque Eunbi tinha o luxo de fingir que o filho havia morrido, enquanto ela imaginava o filho vivo e era tida como louca.

Eunbi nunca havia chorado pela morte do seu filho, pois o bem-estar dele era provado quando tirava o extrato da sua conta bancária. "Ele está saudável, consegue até trabalhar e ganhar dinheiro suficiente para me mandar um pouco", era o que pensava. E ainda havia as ligações que ela não conseguia atender, pois aquilo era uma prova do seu erro e ela não conseguia encará-lo antes de desejar morrer um pouco. Já não bastava passar em frente ao quarto dele e ver a cama vazia, a pele até se arrepiava ao sentir na palma da mão a textura do cabelo castanho dele. Fechava o punho e andava para longe, em direção ao sino de vento da varanda, como se o assovio abafasse o arrependimento que pairava os seus pensamentos.

Hoje, a sombra da morte caminha ao lado da sua. Não há mais extratos com sinais de vida. Agora, são as suas ligações que não são mais atendidas. "O que aconteceu com o meu menino?", é o que se pergunta enquanto enxerga a mesma escuridão dos olhos da outra mãe espelhado nos seus.

(...)

Sentiam como se ele ainda estivesse ali, a alguns poucos quilômetros do apartamento onde sempre se reuniam. A uma mensagem, que demoraria a ser respondida. A uma ligação, que precisava ser feita na hora certa, caso contrário, não seria atendida.

Havia um vazio pairando no ar. Uma ação interrompida por saberem da ausência da resposta. Sabiam onde Jeongguk estava, só não sabiam lidar com tudo o que mais temiam finalmente acontecendo. Era como se estivessem debaixo d'água e não conseguissem ouvir nada com clareza.

Estavam juntos no apartamento de Hyejin e Namjoon, mas cada um em seu próprio mundo. Hoseok insistia em deixar uma fresta da janela aberta e arrastava uma cadeira para perto do batente só para fumar em paz. Batia o indicador no cilindro e observava as cinzas sumirem de sua vista e a fumaça fundindo-se com a brisa de inverno, como quem observa qualquer coisa para, quem sabe, esquecer a dor que sentia. Seu nariz começava a ficar gelado, mas ele não demonstrava que sairia dali.

Hyejin estava sentada no chão, com o notebook apoiado na mesa de centro. Seus olhos espelhavam os anúncios de advogados, mas nenhum tinha o preço em evidência e o fato de ter que entrar em contato a aterrorizava. Tudo o que deveria explicar para um completo desconhecido, era impronunciável. Se não falasse, talvez não se tornasse real, mesmo depois de ter tentado ligar para Jeongguk incontáveis vezes e sempre ouvir o som da caixa postal. Acabou se enfiando em artigos penais, lendo tudo o que conseguia entender para não ser tão leiga no assunto. Hyejin tinha medo de que algo ruim acontecesse com Jeongguk por não saber como agir e de quais seriam as outras alternativas. Não queria ser enganada.

Namjoon, usava o trabalho para tentar esquecer. Criava desenhos em sua mesa digitalizadora, um atrás do outro, sem parar, mesmo que não tivesse coragem de chegar perto das agulhas e tintas. O medo de cometer um erro o apavorava e usava das pequenas férias de fim de ano para tentar voltar ao normal.

Porque é assim que é a vida, não é? Seu coração pode estar dilacerado, mas as contas ainda chegam, o corpo pede por comida apesar da ausência da fome e o tempo passa, ainda que o sol raiando em mais uma manhã passe despercebido.

E quem contava cada dia que se passava era Taehyung. Não era como se guardasse um segredo de Jimin, acabaria dizendo se caso se encontrasse com ele, mas evitara o contato desde então, aproveitando-se da reclusão alheia.

Taehyung aparecia no apartamento de Hoseok, mas ele nunca estava lá. Hyejin era quem sempre abria a porta para si, mas era como se entrasse em uma casa vazia. Não conseguiu iniciar uma conversa sobre o acontecido com nenhum deles, mal conseguia fazê-los comer, muito menos fazer com que Hoseok fumasse menos cigarros.

Era como se eles esperassem para agir. Todos deveriam saber antes que a ficha caísse. Fingiam tão bem para Jimin que nada acontecera que eles começaram a acreditar e não havia nada que Taehyung pudesse fazer.

— Você vai acabar virando uma advogada desse jeito — disse, com os cotovelos apoiados na bancada da cozinha ao que mordia uma maçã. Hyejin o olhou por um segundo e logo voltou a ler. — E você vai pegar um resfriado se não sair dessa janela. — Olhou para Hoseok que, silenciosamente, puxou a alça para fechá-la e agora, nem mesmo o som da rua lá fora era ouvido. — Vocês não podem continuar assim.

— A gente vai conversar com o advogado dele depois do réveillon — Namjoon respondeu, aéreo, como se aquele fosse um bom plano. Ao menos havia algo a ser feito dentro de alguns dias. — Jeongguk ainda não assinou a procuração.

— E depois disso?

— Ele vai esperar o julgamento e bem... Acho que todos nós sabemos o que vai acontecer. — Hyejin suspirou, engolindo o nó na garganta já tão recorrente. Ela se recusava a chorar.

— Temos que nos organizar para visitá-lo. — Namjoon largou a caneta e coçou os olhos secos, bufando ao se jogar no sofá e só então percebeu que as costas doíam.

— Só isso?! — Taehyung perguntou, inconformado, enfiando os dedos com raiva entre os fios de cabelo. — Tem que ter um jeito de tirá-lo de lá

— O que você quer que a gente faça? — Hoseok perguntou, ainda sentado na cadeira, com a expressão mais vazia do que o maço de cigarros que comprou aquela manhã. — Você mesmo já fumou da maconha que ele traficava. Ele foi pego em flagrante. É isso. Acabou. — E levantou-se, andando em passos duros em direção ao banheiro.

— Ele podia entregar o que sabe para se safar mais cedo, mas não vai. Esse é o destino dos amigos de um traficante: uma grande espera — Namjoon disse, de olhos fechados e braços que repousavam na testa. — O tempo vai passar e eu só espero que doa menos.

Hyejin fechou a tampa do notebook e olhou para a cadeira vazia perto da janela, cogitando fumar um cigarro. Taehyung debruçou-se sobre a bancada, derrotado.

A campainha tocou e Taehyung bufou exasperado, indo abri-la. Quando deu de cara com o rosto pálido de Jimin, congelou somente pelos segundos em que ele ficou parado no corredor. Logo, foi tomado em um abraço e não conseguiu fazer nada além de apertá-lo o máximo que conseguisse.

Os três foram puxados do tanque de água e o choro de Jimin surgiu com a clareza de quem deixara de tapar os ouvidos. Jimin era a personificação do real, até porque, nada daquilo poderia ser mais vivo para ele: ele já havia visitado Jeongguk, visto-o de cabeça raspada, com o uniforme de presidiário e de algemas nos pulsos através de um vidro que os separavam. E não havia nada de abstrato naquilo.

— Como ele está? — Hyejin perguntou. Os braços dela estavam tão inertes ao lado do corpo que até ela se perguntava se realmente estava ali, ou se só a parte mais forte da sua mente era quem ousava encarar aquele fato de uma vez.

— Eu realmente fui o último a saber? — Jimin enxugou as lágrimas e se sentou no sofá, pousando as mãos trêmulas nos joelhos.

— Ninguém queria te contar isso. Nem ele... — Namjoon aproximou-se, segurando as pontas geladas dos dedos de Jimin.

— Tudo bem, eu não vou criar caso com algo que eu nem sei se faria diferente. — Bufou e aconchegou-se nas almofadas, aliviado de finalmente encontrá-los. Foi na casa de Taehyung e ele não estava lá, foi até o estúdio, mas não havia ninguém para atendê-lo.

Hoseok andava lentamente ao encontro dos demais, assimilando a presença repentina de Jimin. Pensou em pegar mais um cigarro, mas o maço havia acabado. A ausência de Jeongguk tinha gosto de tabaco.

— Você foi até lá? — Hyejin tentou mais uma vez, ainda sem conseguir se aproximar de Jimin, que agora, nada mais era do que a realidade estapeando a sua cara.

Ele assentiu, comprimindo os lábios e apertando a mão de Namjoon, deixou que mais uma lágrima densa rastejasse pelo seu rosto.

— Ele me mandou uma carta. Rasparam o cabelo dele. As visitas são com ele algemado e eu mal pude ouvir a voz dele porque tem um vidro na frente com uns furos no meio. Ele parecia tão distante... No sentido físico da coisa mesmo. — Parou para engolir a saliva que se acumulava na boca. — Foi estranho vê-lo e não poder tocá-lo. Ainda que sinto que isso parece um pesadelo.

— Ele parece mais magro, ou doente? — Namjoon quis saber.

— Não tem nem uma semana que ele está lá — Hoseok disse, amargurado, estalando os dedos por pura ansiedade.

— Fisicamente não vi nada de errado. Fiquem tranquilos.

Os três assentiram e Jimin ficou observando os semblantes perdidos, fugindo do seu contato visual.

— O que podemos fazer agora? — Assim que Jimin perguntou, Hyejin moveu os pés em direção à cadeira de Hoseok.

— O advogado entrou em contato e pediu alguns documentos pessoais. — Namjoon explicou, esforçando-se para mostrar que aquilo era o suficiente, mas sua fala trazia um vazio de ações que ele se envergonhava.

— E vocês já foram no apartamento pegar? — Encarou, parecendo uma professora cobrando por uma tarefa não feita. Namjoon coçou a nuca e acenou que não, engolindo em seco. — Temos que dar baixa no aluguel e esvaziar o espaço. Ele não vai voltar pra lá depois que for solto.

As palavras ecoaram infinitamente pela sala, dando vida ao elefante no canto. Tão grande que eles se sentiam sufocados, quase claustrofóbicos. Jeongguk estava preso, não havia nada que pudessem fazer e era justamente a impotência que os faziam querer espernear no chão e perguntar aos quatro ventos o motivo de tudo aquilo. O que eles não faziam porque não eram mais crianças e sabiam a resposta: Jeongguk era um traficante e precisava pagar pelos seus crimes. Algo em seu caminho o fez pegar outra rota e agora estavam todos ali, sofrendo por escolhas que não eram suas.

Jimin mordeu o lábio inferior quando viu as primeiras lágrimas de Hyejin tomarem o rosto que ainda tinha os últimos sinais do verão.

— Eu sei que é difícil... Céus, como foi difícil vê-lo naquele lugar, mas negar o que aconteceu não vai tirá-lo de lá, nem tornar as coisas mais confortáveis pra ele enquanto estiver detido.

— O que você sugere? — Namjoon suspirou, olhando para Jimin como quem pede socorro. — Porque eu realmente não sei o que fazer.

— Eu não sei... Tomar conta das coisinhas dele, aos poucos. Conversar com o advogado pra entender tudo o que pode acontecer. Visitá-lo e manter contato para que ele não se sinta tão sozinho...

Jimin brincava com os dedos, tentando distrair a dor que tentava pousar em seu peito e percebeu que havia alguns aneis faltando. E sabia exatamente onde eles estavam.

— Eu estava pensando em ir lá no apartamento dele agora. Alguém quer ir comigo? — Jimin procurou pelo olhar de todos e eles só conseguiram assentir silenciosamente.

A ferida seria aberta de uma só vez, pois parte do que Jeongguk era e representava, estaria amontoado em algum canto à sua espera.

Reuniram as poucas caixas que tinham na garagem do condomínio, fitas adesivas escondidas em gavetas e canetas permanentes para etiquetar tudo. Sabiam que não seria muita coisa, mas o mês já estava virando e o aluguel deveria ser pago.

Taehyung dirigia e Jimin estava sentado no banco da frente, encarando as ruas com uma sensação estranha. As promessas de Jeongguk lhe diziam que nunca voltaria ali para resgatar a sua antiga rotina, mas voltar sem ele ao seu lado parecia imensamente errado.

— Onde está a caminhonete? — perguntou, assim que estacionaram.

— Está detida também, mas depois que os papeis forem assinados, o advogado disse que vai tentar liberar — Namjoon respondeu, aéreo, olhando ao redor. Foram raras as vezes que pisou naquele bairro e as mudanças não iam muito longe da neve que se acumulava nas calçadas. — Eu vou tentar achar o proprietário do prédio. Pelo o que eu me lembro, ele não costumava sair muito.

Jimin assentiu e saiu do carro, subindo as tão conhecidas escadas que o levavam até o apartamento. Nem precisava olhar para o chão, pois se lembrava da altura dos degraus e da distância entre eles.

Olhou para a porta de entrada e o primeiro engasgo quase o fez recuar, mas respirou fundo e tateou a parte de cima do grosso marco de madeira, pegando a chave reserva. Quando a porta se abriu e o cheiro do ambiente invadiu as suas narinas, Jimin já não conseguiu segurar as lágrimas e chorou silenciosamente ao dar os primeiros passos lá dentro, logo ouvindo um miado surpreso e apressado de quem esperava por alguém.

— Não é ele... — sussurrou, para Nanquim e para si mesmo. O gato rodeou as suas pernas e se esfregou nos seus jeans. — Eu também queria que fosse ele.

Jimin o pegou no colo e acariciou-lhe a cabeça, andando em direção ao interruptor para ligar as luzes. A respiração ficou presa na garganta ao finalmente ver que tudo estava do mesmo jeito desde a última vez que estivera ali. O colchão estava no chão e as canetas que Jeongguk usou para desenhar o seu peito continuavam jogadas nos lençóis.

Parou em frente ao espelho e a ausência dele naquele lugar gerava uma dor física. Era um silêncio sem fim, um vazio, seu coração acelerava e se angustiava a medida que os olhos reconheciam todos os cantos daquele lugar. Seu corpo sentia à flor da pele a própria história de amor, reconhecendo as emoções da primeira até a última vez que estivera ali.

Apertou Nanquim em seus braços antes de colocá-lo no chão e servi-lo com alguma comida.

Procurou pela janela aberta do qual o gato entrava e saía e a fechou, dando fim à brisa gelada que insistia em circular pelo cômodo. Com o som de Nanquim mastigando a ração ainda crocante, Jimin andou lentamente em direção à bancada e viu o seu rosto estampado em diversas pinturas, como Jeongguk havia relatado na carta.

Olhos inundados, cabeça vazia e coração cheio de certezas: vivia um romance de livros. Nada do que sentira foi em vão, tudo o que ouvia era verdade, era amado tão verdadeiramente que mesmo longe, Jeongguk deixava rastros do seu amor por onde passava..

Pincéis ainda estavam mergulhados em copos d'água e tintas secavam por serem esquecidas abertas. A pele fina das digitais de Jimin tocavam o que um dia foi tocado por Jeongguk, sentindo a textura dos papeis e da bolsa de tecido dada pelo Sr Choi. Jimin sorriu com a lembrança do dia em que ele a ganhou, mostrando com tanto cuidado os pinceis e as tintas. Queria que mais dias como esses se repetissem e saber que isso seria adiado por alguns anos, causava um aperto tão grande no coração que ele precisava apertar algo. Era raiva. Raiva de um passado conturbado, um futuro roubado e um presente não vivido.

— Ele te ama muito. — A voz repentina de Taehyung o assustou e então, percebeu que pressionava as unhas curtas contra a palma da mão.

— Eu vou levar isso comigo. — Começou a juntar os desenhos e pinturas de repente, como se aquele fosse o único traço restante de uma intimidade, de algo que só ele e Jeongguk sabiam. — E o Nanquim também.

— O que você vai dizer aos seus pais?

— Meia verdade. — Deu de ombros, fechando as tintas e jogando a água colorida na pia. — Vou cuidar do gato enquanto o dono estiver longe.

— E se o dono demorar a voltar?

— Daí eu invento outra coisa. Sou muito bom em narrativas, já li várias.

Jimin não mudaria de ideia, só restava a Taehyung observar as formas que ele inventava de estar presente, de apoiar da única forma que podia: cuidando de tudo o que Jeongguk havia deixado para trás. Taehyung só esperava que Jimin se incluísse nisso, porque ele era uma dessas coisas também.

Empilhou todos os papéis, cadernos, pinceis e tintas. Andou até o colchão no chão e recolheu as canetas que ainda restavam ali, quase sem conseguir respirar. Não queria soluçar em um choro incompreendido, precisava se recompor e fazer o que se propôs, mesmo que o cheiro dele invadindo as suas narinas o causasse náuseas.

Dobrou os lençóis e voltou o colchão para o estrado da cama. Namjoon e Hyejin chegaram com as caixas restantes, empacotando as roupas limpas que estavam nas gavetas da cômoda. Taehyung esvaziava a geladeira, salvando o que ainda dava para consumir e enfiando em um saco de lixo o que já estava estragado. Não era muita coisa, havia mais embalagens de comida pronta na pia do que comida feita em casa de fato.

Jimin se encaminhou ao banheiro e pegou as roupas sujas para lavar. Até teria deixado o shampoo e o condicionador por ali se a pouca luz do fim de tarde que entrava pelo basculante não tivesse iluminado os seus anéis na saboneteira.

Para Jeongguk, era como se tentasse reviver aquela última noite, dia após dia. Para Jimin, era como se nunca tivesse saído dali.

Entrou no box e flashes da última vez que estivera ali não só apareceram em sua mente, mas também no seu sistema nervoso, era como se sentisse a esponja ensaboada em contato com a pele. Pegou os anéis e os colocou nos dedos depois de tanto tempo e sentiu um grande vazio no peito. Não era aquilo que fazia falta.

Ouviu os outros puxando a fita adesiva, abrindo sacos e conversando entre si sobre o que deveria ser feito com o colchão e aquele era um sinal de que a vida continuava apesar da sua dor e da ausência alheia.

Quando os outros queriam paralisar, Jimin chegou e os puxou para a realidade e agora, faziam o mesmo com ele sem nem ao menos perceber. Um fazia o outro continuar.

— Deixa o colchão aí, talvez seja útil para o próximo morador — Jimin disse, enxugando as lágrimas e voltando para o quarto, encostado no batente da porta. — Acho que Jeongguk merece um novo quando sair de lá.

— Tudo novo, não é? — Taehyung concordou. — Será uma nova vida, um recomeço.

— É assim que vamos encarar isso tudo? — Hoseok perguntou, dando um nó em um saco de lixo.

— É um bom jeito de enxergar as coisas. Não consigo encontrar outro melhor. — Namjoon deu de ombros, respirando fundo.

Hyejin estava em pé olhando para o chão. Ouvir os outros conversando sobre o que aconteceu e as consequências que aquilo trazia às suas vidas era desesperador e reconfortante ao mesmo tempo. Não sentia nada sozinha.

Aos poucos, as coisas de Jeongguk foram retiradas do lugar até que o apartamento inteiro ficasse vazio. Uma sensação forte de que ele deveria estar ali corroeu cada um dos cinco, pois queriam fazer aquilo com ele, não por ele.

Em seus braços, Jimin levava os materiais e as pinturas que estavam em cima do balcão, todos os cadernos que achou escondidos pelo cômodo e Nanquim, pendurado em seu ombro, ronronando confortavelmente ao sentir o cheiro de Jeongguk no moletom que vestia. Não quis olhar para trás antes de fecharem a porta, queria se proteger e além do mais, o apartamento vazio não lhe dizia nada, a não ser que Jeongguk já não estava mais ali.

Desceu as escadas com a mente vazia, nem pensava no que falaria para os pais quando chegasse com o gato em casa. O porta-malas foi aberto e os outros acomodavam os sacos e as caixas ali, Taehyung andava em direção ao container de lixo rente a calçada para despejar o que julgaram estar estragado. E uma loira de cabelos encaracolados e batom vermelho observava tudo, com lágrimas enchendo os olhos tão lentamente quanto a percepção do que poderia ter acontecido.

— EI! — Hyunah gritou, tão alto que sentiu a garganta arranhar. — O que estão fazendo com as coisas do Jeongguk? Por quê?!

— Ele foi preso — disse Jimin, de uma só vez. Ela sabia quem eles eram, sanar as suas dúvidas era a primeira coisa que gostaria que fizessem consigo se caso estivesse no lugar dela.

Um alívio percorreu as feições de Hyunah. Fechou os olhos e deixou que as lágrimas caíssem em um fio preto pelo rosto, a máscara de cílios não era a prova d'água. De todas as coisas que poderiam acontecer com ele, aquela era uma das menos piores, ao menos estava vivo, existindo em algum lugar longe dali.

Jimin queria abraçá-la, dizer algo reconfortante, mas não conseguiu. Ficou parado com um gato nos braços, seu casaco preto se enchia de pelos pretos e ele não notava, só percebia o que a ausência de Jeongguk provocava nos outros e que a dor que sentiam não era a mesma, mas era bem parecida.

— Onde?

— Dongbu. Ele já tem um advogado nomeado pelo Estado, isso é o mínimo que podemos fazer. — Apontou para o carro e para as coisas de Jeongguk que cabiam em um porta-malas.

Encaravam-se como se tentassem reconhecer alguma parte de Jeongguk na feição alheia, resgatar qualquer história que o colocasse presente naquele exato momento. Não sentiam que eram estranhos um para o outro, mas eram, e era ali que morava o desconforto.

— Você quer manter contato comigo? — Jimin pigarreou, dando um passo a frente. — Nunca fomos devidamente apresentados, mas sei quem você é.

— Eu também sei quem você é. — E sorriu com os olhos brilhantes de lágrimas.

— Você é a melhor amiga dele. — Jimin sorriu junto, mostrando os dentes e olhando para baixo.

— E você é a coisa mais linda que já aconteceu com ele — disse, encantada. Conseguia enxergar tudo o que Jeongguk havia falado sobre Jimin ao olhar para ele.

A saudade dele represava. Jimin se sentia tão cheio que lágrimas transbordavam dos olhos sem perceber. Não queria conhecê-la daquela forma, queria que ele estivesse ali, segurando a sua mão, sentindo os olhos dele sobre si enquanto se cumprimentavam educadamente e sem jeito.

E era quando as palavras faltavam que ações eram pedidas. Hyunah pegou o celular e o entregou para que Jimin anotasse o seu número.

— Te ligo assim que der, tá bom? — Engoliu em seco, pegando um espelho minúsculo dentro da bolsa, percebendo que deveria voltar para casa e ajeitar a maquiagem. — E que bom que ele tem alguém para cuidar das coisas dele, eu não sei se seria muito útil nessa parte.

— Se eu não tentasse fazer algo por ele, acho que ficaria louco — confessou, dando de ombros. Os outros observavam a cena encostados no carro e assim que Hyunah os percebeu, sorriu sem graça e deu meia-volta, atravessando a rua para retocar a maquiagem.

— Será que tem mais alguém que precisamos avisar? — A pergunta de Taehyung despertou na mente de todos a figura de uma única pessoa: o tal chefe que ninguém sabia o nome.

— Espero que não. — Jimin coçou a garganta e andou em direção ao carro. — Acho que ele tem os próprios meios de descobrir isso sozinho.

Quando estacionaram em frente a sua casa, o cansaço do dia pesou sobre o seu corpo e ele desejou que a viagem durasse algumas horas só para não ter de lidar com os próprios pensamentos sozinho. Observar as pessoa andando nas calçadas, atendentes sorrindo dentro de cafeterias e luzes sendo acesas no alto dos apartamentos, o fazia esquecer.

Se tivesse pedido para que Taehyung ficasse consigo, ele ficaria, mas preferiu deixar para lá. Por sorte, não havia ninguém em casa quando chegou e assim, poderia adiar a explicação de ter voltado com um gato de rua.

Colocou as vasilhas de água e comida em um canto e foi até o banheiro para enche-la. Deixou que Nanquim vagasse pelo quarto, cheirando todos os seus livros e sapatos que esqueceu de guardar. Deitou na cama e checou o celular, havia uma mensagem da mãe avisando que estava na casa da sua tia e perguntou se ele queria alguma coisa.

Jimin:

Pode trazer uma pizza de lombo canadense, por favor?

Park Jiyoon:

Onde eu encontro isso?

Jimin:

No supermercado.

A mãe não respondeu mais, provavelmente não entendendo o motivo do filho querer uma pizza congelada de supermercado, mas Jimin precisava de alguma parte boa de Jeongguk que fora deixada para trás, pois tudo o que sentia gerava saudade e tudo o que fizera hoje foi doloroso. O que restava de tudo aquilo se não uma longa espera?

Jogou o celular de lado, encarou o teto e lembrou-se da carta que recebeu e das cartas de Clarice Lispector e Fernando Sabino que andava lendo para se distrair. Pensou que Jeongguk merecia uma resposta e se ele respondesse de volta, teria mais um pedaço dele consigo.

Queria poder contar coisas corriqueiras da sua estadia na Suiça, como Clarice, ou da mudança para Nova Iorque, como Fernando. Mas o que poderia contar se Hoseok só sabia fumar para lidar com a ausência dele? Se Hyejin havia perdido o brilho que a tornava tão única e parecia que os acontecimentos não passavam de um filme que ela poderia desligar a qualquer momento? Poderia falar dos desenhos de Namjoon, mas como explicar tamanha produtividade?

Sentou-se na escrivaninha e rodou a caneta entre os dedos,só começando a escrever depois de muito pensar.

"Seul, 30 de Dezembro de 2019

Caro Jeongguk,

pensei muito em como começar essa carta, por sorte não comecei a escrever nada de fato antes de ter certeza do que deveria ser escrito. E agora parece que eu só estou enrolando, emendando cinco linhas de um parágrafo e não contando nada que faça sentido, mas é assim que as coisas andam sem você por aqui, meio sem sentido, sem cor, sem corações acelerados e risadas bobas. Sinto falta das nossas conversas.

Então, acho que preciso começar assim, sendo sincero com você, com as coisas que ando sentindo:

Hoje fui ao seu encontro das mais diversas maneiras. Pois é, não consegui sossegar depois de te ver, parecia que eu precisava resolver algumas coisas para você, ou enlouqueceria de vez.

Fui ao encontro de Hyejin, Namjoon e Hoseok. Eles estão bem, na medida do possível. Acho que quando essa carta chegar até você, eles já terão te visitado. Dá pra sentir a saudade que eles sentem só na forma como eles olham ao redor e não te acham.

Foi essa a sensação que tive quando fui ao seu apartamento. Eu não te achava lá. Suas coisas estavam no mesmo lugar, mas parecia que você havia fugido para longe há mais tempo do que eu pude perceber. Estou errado? Isso é só coisa da minha cabeça? Espero que sim, pois seria horrível saber que você não morava mais ali, só existia.

Também percebi que tudo estava do mesmo jeito de como deixamos na nossa última noite juntos. Não que eu tivesse captado o exato local de cada caneta não guardada, ou que a fronha do travesseiro ainda fosse a mesma, mas quando eu chegava, sempre tínhamos que dar um jeito de nos aconchegarmos no chão, colocando o colchão e vários cobertores grossos para dar conta de abrigar dois adultos que não dormem grudados um no outro a noite toda. E tudo ficava extremamente confortável, achávamos que nunca conseguiríamos repetir o mesmo esquema, mas sempre dava certo.

E bem, quando cheguei lá, senti que você havia feito todo o trabalho sozinho. O que doeu foi me lembrar que você nem estava mais morando lá e nem voltará para pegar as suas coisas. Eu fiz isso por você, não sozinho, seus amigos me ajudaram, e acho que posso chamá-los de amigos também.

Não sei muito bem como uma amizade se constitui, como do nada olhamos para alguém e nos sentimos próximos de alguém, ou quando perguntam quem é aquela pessoa e a gente responde: "Ah, é minha amiga". Não "colega". Amiga. Entende? Enfim... Acho que o que nos aproxima no momento é o que mais nos machuca: a sua ausência, e nenhuma outra pessoa no mundo vai entender o que é isso, só nos cinco.

Ou seis. Conheci Hyunah hoje e já esclareci tudo o que aconteceu. Muitos estão assustados com a sua ausência, dá um medo danado de saber que você não está por perto. Ela pegou o meu número e disse que me ligaria. Será que vai mesmo? Ela é do tipo que liga, ou manda mensagem? Me conta depois. Me conta alguma coisa sobre ela.

Esperarei a sua resposta, pois me apego a parte estranha disso tudo. Apesar de não estar aqui o tempo todo, eu ainda consigo falar com você, posso receber respostas e te ver de vez em quando. Ainda estou tentando lidar com a ideia de te ver e não te tocar, nem sentir o seu cheiro, ou sentir os seus fios de cabelo, agora tão curtos, espetando as palmas das minhas mãos. Com o tempo a gente vai se ajeitando, eu só não posso ficar sem notícias suas.

Aliás, estou lendo um livro que reúne as cartas de Fernando Sabino e Clarice Lispector, são escritores brasileiros. Eles eram muito amigos e trocavam correspondências enquanto estavam longe um do outro. E em uma delas, ele perguntou o que ela faz às 3 da tarde, o que respondeu:

"Às três da tarde sou a mulher mais exigente do mundo. Fico às vezes reduzida ao essencial, quer dizer, só o meu coração bate".

Tem dias que eu basicamente faço a mesma coisa, a diferença mora nas incontáveis vezes que os meus pensamentos vão em direção à você. Pergunto-me o que você faz às três da tarde, no que pensa quando acorda, se saboreia as refeições e se lembra do gosto do meu beijo.

E como Fernando, fico chateado de saber que você não lerá essa carta nesse exato momento. Que alguns dias se passarão até você saber o que eu sinto. Que não importa o meu esforço de descrever toda a saudade que habita em mim agora, pois no exato momento em que você a ler, eu estarei sentindo muito mais.

Me escreva uma carta de sete páginas, Jeongguk, e eu te escreverei o dobro.

Com um imenso amor guardado esperando por você,

Jimin

P.S.: me responda com o endereço do Namjoon. Sua primeira carta chegou aqui em casa e gerou um pequeno caos. Vamos tentar evitar mais confusão para o nosso lado. Enfim. Esse final não ficou tão bom quanto o primeiro, desculpe por isso."

Quando a mãe de Jimin chegou com a pizza, ele já havia adormecido.

(...)

Se não tivesse escutado as vibrações das unhas de Jimin batendo no vidro, Jeongguk teria acordado no dia seguinte pensando que tudo não se passou de um sonho.

O decorrer do dia foi vivido com menos peso sobre as suas costas. Menos um dia o separava de estar com quem amava, as coisas pareciam mais positivas por alguns instantes. O que era melhor do que achar que estava na completa desgraça o tempo todo.

Não ter somente as memórias antigas do rosto de Jimin era um presente. Algo sobre viver apenas do passado mexia com a sua cabeça, apesar do rosto dele de agora estar mais pálido desde a última vez que o viu e o cabelo escuro passar das orelhas. No fundo, queria saber se era porque queria, se era o relaxo do inverno, ou da tristeza que vivia desde que se afastaram, mas preferiu deixar para lá. Havia coisas boas demais para se pensar em meio a toda aquela demanda carcerária.

Apegava-se ao "eu te amo" sussurrado, ao carinho através da vidraça e na forma como o coração sorriu ao ser acalentado por aquele que ama, tudo para não enlouquecer e passar os dias, semanas e anos chorando por um amor interrompido. Até porque, nunca houve uma pausa, continuaram se amando apesar da distância forçada e nada parecia mudar. Havia um motivo para continuar, até pintou com mais afinco os vasos que era obrigado, imaginando que a cerâmica fosse um papel e o pincel uma caneta de nanquim.

Lembrou do gato, do apartamento e do saco de pancada arranhado. Queria ver Sung-min tentar dar uns socos, mas temia que aquilo pudesse ser um treino para golpear a sua cara logo em seguida. Melhor deixar para lá.

O ano estava acabando e Dong-wook esperava ansiosamente a resposta da carta que mandou para a filha. A sua veio. Todos brincaram com a presença de Jimin, com o sorriso que não saía dos lábios de Jeongguk e quando ele pensava em se preocupar, Kouyou dizia: "Tudo está bem até deixar de estar. Aproveite o momento." E Jeongguk fechava os olhos, ouvindo as batidas no vidro: "eu te amo, eu te amo, eu te amo..."

Podia viver assim, apenas esperando que Jimin voltasse, mas o ano novo estava próximo e os festejos não deixariam de passar por ali. O recomeço também era sentido até por quem viveria da mesma forma no ano seguinte, contar as 108 badaladas era um sinal menos violento de que o tempo havia passado. Receber fotos das crianças da família era o que fazia doer mais.

Praticavam o Oosouji dentro das suas celas. Retiraram os lençóis, espirraram uma solução desinfetante nos futons, esfregavam cada centímetro do chão e as janelas quase viravam espelhos de tão limpas. Reviraram os seus cadernos em busca de anotações perdidas e inúteis, livros relidos que não tinham mais serventia e canetas sem tinta esquecidas no fundo das gavetas. Tudo para que o ano começasse sem cargas e energias negativas.

Kouyou ria dessa ironia, estava tão incomodado que acabou se virando para os companheiros, falando sem parar.

— Eu traficava armas. — Colocou a mão na cintura, a flanela na outra. — Nenhum sangue passou diretamente pelas minhas mãos, mas eu dava o objeto, eu entregava a causa da morte: perfuração por arma de fogo. E agora eu estou aqui, faxinando a desgraça dessa cela para ter um ano mais limpo, deixando todas as negatividades para trás. Fala sério!

—Tá falando isso só pra não precisar limpar — Sung-min insinuou. — Mas esse discursinho não cola aqui.

Kouyou suspirou pesado e revirou os olhos, dando voltas ao redor do próprio corpo com a flanela jogada nos ombros.

— Não fica se martirizando com esses pensamentos — Jeongguk disse, ao que esfregava o rodapé da parede, o chão sem tatame.

— Prossiga — Kouyou pediu, quase como se pedisse por uma palavra que o aliviasse.

— Pensa no cara que comprava as suas armas. Se não fosse você, seria outro a vender. A mesma coisa no caso das drogas, nós somos só a ponta desse esquema, somos completamente substituíveis.

— Já vi muitos desaparecem — Dong-wook completou. — Não sabíamos se o cara foi preso, se morreu, ou se estava em cativeiro. Do nada aparecia um moleque novo e daí a gente esquecia do que sumiu. — Parou de repente, observando a água que escorria da torneira. — Eu fui esquecido, não é?

— Muito provavelmente. — Jeongguk deu de ombros, afastando-se um pouco para observar o trabalho que executava.

— Você já viu alguém entrando no vício? Digo, você já viu o exato momento em que a pessoa caiu na perdição? — Kouyou perguntou, olhando diretamente para Jeongguk. Sabia onde ele costumava traficar. Diferente dos outros que eram procurados em becos e postos de gasolina, Jeongguk ficava perto demais da fuga alheia.

— Já... — Suspirou, a pergunta trazendo o vislumbre das pupilas dilatadas, da boca seca e dos punhos cerrados de muitos desconhecidos. Não se lembrava do rosto e do nome de ninguém, só dos olhos no mais perfeito breu com auréolas coloridas ao redor, como se fosse um sinal de que ainda existia alguém ali. — E pior do que isso, já vi várias pessoas em busca daquela primeira sensação.

Sung-min assentiu, caindo em recordações ruins. Dong-wook engoliu em seco e Kouyou desviou o olhar. O que fez estava longe de se equiparar aquilo, até porque, nem precisava ter feito o que fez, seus motivos não eram nobres como os dos parceiros. E era por isso que não conseguia falar com a sua mãe e nem sobre como era a sua vida lá fora para os demais.

Kouyou era um jovem de classe média, apaixonado por armas. Sua coleção o fez ter contatos e começar a vendê-las fazia parte apenas da sua ambição. Cada arsenal que chegava em suas mãos era comemorado em puro êxtase. Adrenalina corria em sua corrente sanguínea, nada parecia o deter até chegar ali. Ele podia ter seguido outro caminho, mas não seguiu. Ele tinha escolhas, mas escolheu errado.

— Você já negou droga a alguém? — Dong-wook perguntou. Seus dedos estavam enrugados de tanto mexer com água.

— Sim. — Jeongguk riu, negando com a cabeça. — Por isso eu era um péssimo traficante.

Eu era. O riso se desfez e a realidade caiu em seus ombros novamente. O verbo no pretérito imperfeito indicava que o passado trouxe consequências e ao mesmo tempo, um alívio de que aquela não era mais a sua realidade, apesar de, ali dentro, sempre ser lembrado de quem foi, do que fez para estar ali.

— Que insuportável — Sung-min se pronunciou, esfregando a porta de metal. — Se eu fosse um viciado e encontrasse um traficante preocupado com o meu bem-estar desse jeito, eu te mataria com toda a certeza.

— Ameaças não me faltaram... — Acompanhou a risada dos demais e completou. — Meu chefe até começou a gostar disso. Ele dizia que quem não morre por overdose, sempre compra mais no dia seguinte.

Kouyou arrepiou-se dos pés a cabeça e se sentiu mal por reclamar. Jeongguk e os outros tinham a vida de desconhecidos na palma da mão, mesmo que a escolha de ingerir ou não, passasse longe do seu controle. Se Jeongguk não tivesse negado algumas vezes, teria dado o combustível para a queima de alguém. E naquela conversa, descobriram que para uma pessoa evaporar, não era lá tão difícil.

— Número 3.418 — um guarda chamou, de repente. A conversa os distraiu ao ponto de não ouvirem os passos no corredor.

Todos olharam para Jeongguk, que se levantou e calçou os sapatos, saindo da cela assim que a porta de metal foi destrancada. De certa forma, era novato ali e as saídas para conferências de documentos eram recorrentes, achou que se tratava de apenas mais uma quando foi levado a sala de visitas e deparou-se com um homem que nunca viu na vida.

Seu cabelo era castanho e bem penteado. O terno acinzentado contrastava-se com o colarinho branco bem ajustado, a gravata parecia que o sufocava, mas ele respirava suavemente. As mangas foram levantadas ao que ele apertava uma caneta. Assim que a ponta saiu, pronta para ser usada, o beta cravado em seu pulso foi revelado. O encontro da marca com os olhos de Jeongguk levaram apenas alguns segundos, mas ele jurava ter se passado uma eternidade.

Um papel foi empurrado pelo tampo de madeira e a medida que ele se aproximava das suas mãos, uma corrente elétrica percorria o seu corpo ritmada ao som do papel. Choi Si-won entregava uma procuração que o daria a concessão de representá-lo no tribunal, se assinada por Jeongguk.

Baekhyun já sabia e queria cuidar de si da mesma forma que cuidou dos outros: deixando-os apodrecer na cadeia sob ameaças que, muitas vezes, nem faziam sentido. Ele gostava de fazê-los esquecer de qualquer vislumbre de uma possível liberdade.

Mas Jeongguk não queria ter o mesmo destino. Queria fazer as próprias escolhas.

— Eu já tenho um advogado — disse. E se levantou, dando as costas para quem apontava uma arma invisível para a sua cabeça.

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