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32. Taehyung e seus amores

"Segundo consta no Inquérito Policial nº 2704/2019, que serve de base à seguinte investigação iniciada no dia 24 de Junho de 2019 e por conseguinte suspeitas apresentadas, investigadores da Polícia Civil foram habilitados a executar uma vigilância discreta para conhecimento dos movimentos do investigado, Lee Hyun, policial civil atuante no combate ao tráfico de drogas pela 22ª Estação Policial de Seul.

A campana foi estabelecida no dia 05 de Dezembro de 2019 e somente apresentou resultados significativos a partir do dia 12 do mesmo mês e ano. Nessa data, o investigado trabalhava, juntamente de toda a equipe pré-definida, em uma blitz na Rota Nacional 6, que liga a cidade de Incheon à província de Gangneung, mais precisamente no raio do distrito de Yangcheon, Seul.

Após ser dispensado de seus serviços, Lee Hyun retirou-se do local munido da viatura policial e com ela encaminhou-se para o distrito de Gangnam, adentrando o bairro Guryong Village, onde os investigadores puderam fotografá-lo recebendo um pacote de um homem identificado posteriormente como "Sangria", traficante de drogas atuante no bairro. Destacando-se, assim, a suspeita de participação do investigado no tráfico de drogas, a autoridade policial dessa investigação criminal, o delegado Kim Seokjin concedeu o uso da interceptação telefônica para melhor averiguação.

As transcrições obtidas por meio da interceptação telefônica às fls. 254, 287 e 302 demonstram o envolvimento do policial civil no tráfico de drogas, capitaneado por Jung Sunho, o qual tinha a função de negociar as propinas com os policiais corruptos e advogar em defesa dos traficantes eventualmente em cárcere.

Telefone (82 2) 456-3952. Data inicial: 14/12/2019 02:45:23. Data final: 14/12/2019 02:47:49 - fls. 254 - Lee Hyun X Jung Sunho

Lee Hyun: Por que caralhos não atende as minhas ligações?

Jung Sunho: Por acaso o policialzinho está carente?

Lee Hyun: Não, só quero receber a minha grana direito. Sangria só me deu uma miséria.

Jung Sunho: Como se você estivesse fazendo o seu trabalho como combinamos. Mais um dos nossos foi preso e o que você fez? Nada!

Lee Hyun: Eu não tive como ajudar o menino das cargas, tinha um dos limpos bem do meu lado. Você queria que eu me entregasse tentando aliciar o cara? Além do mais, eles, com toda certeza, já estão desconfiando de alguma coisa, então eu acho muito melhor você tentar me manter do seu lado, Jung.

Jung Sunho: Você é um idiota. Eu estou do lado mais forte, não tá vendo?

Lee Hyun: Eu estou exatamente do lado da justiça.

Jung Sunho: (risadas) Agora você quer defender a justiça? Não precisei jurar lutar contra a criminalidade e fazer justamente o contrário, que nem você. Acho que não percebeu, mas você é mais criminoso do que eu.

Lee Hyun: Se eu cair, todo mundo cai. Eu vou entregar tudo.

Jung Sunho: Entrega e vamos ver o que acontece com você, ou com a sua família. Você não sabe nada sobre a pessoa que comanda toda essa merda.

Lee Hyun: Então avisa pra ele que é melhor se esconder, da próxima vez que eu pegar ele em alguma blitz, vou fazer questão de expor o rostinho por trás do chapéu e da máscara.

Jung Sunho: Apenas tenta.

Convém esclarecer que, na análise do acervo fático produzido e exposto, restou provado nos autos que realmente o investigado, Lee Hyun, estava associado ao tráfico de drogas, recebendo dinheiro para acobertar o comércio ilícito de entorpecentes.

E que, não obstante, o investigado era o responsável por avisar a Jung Sunho onde e quando as patrulhas e operações policiais aconteceriam, de modo a evitar a prisão em flagrante de traficantes atuantes, principalmente em casas noturnas.

Telefone (82 2) 456-3952. Data inicial: 14/12/2019 22:12:30. Data final: 14/12/2019 22:12:39 - fls. 287 - Lee Hyun X Jung Sunho

Lee Hyun: Aê, mandaram uns caras limpos pra Hongdae, fiquei sabendo agora. Manda todo mundo sair de lá.

Jung Sunho: Ok."

— Nem Hyun sabe quem é o comandante de tudo — disse Seokjin, após analisar o documento de transcrição pela quinquagésima nona vez só naquela tarde. — Essa pessoa confia muito em Sunho.

— Será que os traficantes sabem quem ele é? — Wheein perguntou, antes de sugar o lámen instantâneo, observando as cortinas abertas da sala do delegado, o sol morno acariciando os fios platinados do seu cabelo. — Agora não dá pra saber se eles não disseram nada por medo, ou por não saberem de quem se trata.

— Acho que sabem, do mesmo jeito que Sunho sabe. — Jogou a pasta na mesa e recostou-se na cadeira, fechando os olhos para descansar um pouco a visão. — Se ele consegue comandar todo esse esquema de tráfico de longe, eu gostaria muito de saber como ele faz.

— Aliás, como anda o processo de prisão preventiva? — Remexeu o caldo do lámen, mal sentindo o ardor na boca.

— Está em andamento. — Seokjin jogou o cabelo para trás, abrindo os olhos para reclamar, enraivecido. — Ah, Deus, como eu queria ter tempo para saber mais! Não possuímos tantos registros da interceptação telefônica, mas receio que ele tenha acesso ao Banco Nacional de Mandados de Prisão e acabe fugindo. Infelizmente, estamos lidando com um criminoso dentro da nossa força policial, se cometermos qualquer deslize, ele pode escapar das nossas mãos e eu quero sugar toda a informação que ele tiver.

— Bom, como Hyun mesmo disse... — Wheein deu de ombros. — Se ele cair, todo mundo cai e eu já consigo sentir os ossinhos dele esmagando-se contra os meus coturnos.

— Você não gosta mesmo dele, né? — Seokjin sorriu com o modo que ela destilava ódio contra Hyun tão naturalmente.

— E você sente alguma mísera simpatia por ele?

— Não, e é por isso que nos damos tão bem

— Ah, por favor, não quero que ele leve o crédito por qualquer coisa boa da minha vida — disse, franzindo o cenho e não romantizando o que dizia. No ponto onde estavam, faziam declarações repentinas com atos simples da vida e sequer percebiam, a não ser, é claro, quem as ouvia.

Seokjin deixou que um sorriso silencioso pintasse os seus lábios, quase como se não quisesse estragar o momento, pois, olhando dali, tudo parecia perfeito. Provas concretas sobre Hyun na sua mesa; possuía investigadores e oficiais com quem podia contar; uma mulher incrível que o amava e entendia tanto o seu trabalho quanto entendia ele mesmo.

A tranquilidade não era bem-vinda em sua rotina profissional, não viviam em um mundo cor-de-rosa, os noticiários ainda estavam repletos de notícias criminais e se a Estação Policial estava tranquila era devido ao trabalho sujo feito por debaixo dos panos, como Hyun fazia. Mas entre toda aquela papelada burocrática e o mal da humanidade visto tão de perto cotidianamente, Seokjin sabia que conversas como aquelas eram necessárias para encontrar um ponto de respiro, mesmo que fosse durante um almoço improvisado em sua sala sempre escura, apesar do sol de inverno alto no céu.

— E Jin, uma pergunta — Wheein o chamou pelo apelido e ele sabia que a conversa não voltaria ao ponto anterior. — Você já comeu hoje? Por que só eu estou almoçando?

— Não, estou sem fome. — Sorriu sem mostrar os dentes, tentando disfarçar o desgosto que era deixá-la preocupada com o seu bem-estar.

— Achei que a futura prisão de Hyun abriria o seu apetite, o que mais anda te deixando ansioso?

— Eu não consigo esconder mais nada de você, que saco! — Seokjin suspirou, meneando a cabeça em uma falsa irritação, mas acabou sorrindo e confessando. — Eu tenho medo do que o Ministério Público vai pensar de mim. Iniciamos o Inquérito há pouco mais de seis meses e vai lá saber há quanto tempo Hyun está sendo corrupto bem debaixo do meu nariz.

— E lá vem você se culpando pelo que não pode controlar. — Wheein colocou o pote do lámen sobre a mesa e cruzou os braços. — Não faça isso com você mesmo, pelo menos já achamos os culpados. Você foi muito perspicaz em notar que havia algo de errado com a nossa corporação. — Mirou os olhos escuros do delegado e ainda via culpa ali, mas não sabia o que poderia dizer para dissipá-la. — Estamos desvendando algo grande, você sabe como ninguém dos efeitos do narcotráfico na vida das pessoas. Sinta-se orgulhoso disso.

Sorriu melancólico e olhou para baixo, lembrando-se do último grande feito da 22ª Estação Policial de Seul, alguns anos depois de ter passado no concurso para oficial, antes mesmo de pensar em se tornar delegado: a morte de um dos maiores chefes do tráfico de drogas da capital, Byun Sungjae.

Nunca se esqueceu das gargalhadas de sua mãe enquanto assistia ao noticiário com a morte do traficante sendo anunciada. Não podia julgá-la, pois, naquela época, a partida de seu pai doía muito mais por ainda ser recente e, por isso, compartilhava do mesmo ódio dela, apesar de, no fundo, o seu filtro ético indicar o quão errado era pensar daquela forma. Hoje em dia, as lembranças martelavam junto do arrependimento, mas como culpar um homem que perdeu o pai pelo o que tenta combater todos os dias?

Seokjin sabia quem havia disparado a arma acidentalmente, mas o oficial nunca pareceu se arrepender de ter tirado a vida de seu pai. Comentários que vangloriavam o colega foram muito escutados entre os corredores e quando o atual delegado era inserido na conversa, apenas saía de perto depois de dar uma resposta vaga. Não sabia o que sentir, muito menos disfarçar a confusão dos seus pensamentos.

— Eu vou lá embaixo buscar algo para você comer. Não quero ver ninguém desmaiando durante a coletiva de imprensa.

Wheein saiu da sala e deixou o seu lámen ainda pela metade, tão sem apetite quanto o próprio delegado, que observava o céu emoldurado pela janela. Era estranho finalmente obter respostas, pois o ato de suspeitar e investigar sem chegar a lugar algum pareciam tão rotineiros que ele havia se acostumado com a tensão de não saber onde poderia se apoiar.

Mas lá estava, a sala vazia e escura como sempre, o zunido do computador em tela de descanso dando lugar ao telefone tocando, a notícia de que Hyun estava preso chiando em seus ouvidos e o coração acelerado ameaçava pular para fora da caixa torácica. Quando Wheein voltasse para a sala, talvez com um lámen instantâneo aquecido em mãos, Seokjin não estaria mais ali, havia um interrogatório para fazer.

(...)

Taehyung nunca soube medir a intensidade de como sentia.

Quando era uma criança bem pequena, chorava descontroladamente com cada cena triste que via nos filmes infantis – nem precisava ser algo tão dramático quanto a morte da mãe de Bambi. Esperneava ao ver que um brinquedo fora tirado de suas mãos, não sabendo lidar com a frustração. Mais tarde, ao perder uma partida de xadrez na escola, enfiava-se em um canto entre as prateleiras de livros da sala de aula e descontava toda a vermelhidão do seu rosto em lágrimas.

Sempre tivera poucos amigos, pois eram raros aqueles que aceitavam de bom grado as suas inúmeras cartinhas com simples dizeres, como "eu gosto muito de você" ou "vamos jogar bolinha de gude depois da escola?". As professoras deleitavam-se com tantas declarações e intervinham quando alguém o achava meio esquisitão, pois, para elas, ele era apenas uma criança sensível. Nunca fora de esconder o que sentia, seu amor pelos outros escapava de si involuntariamente, abraçava e dizia "eu te amo" de forma tão fácil quanto o ato de respirar.

Na adolescência, ainda não sabia gostar pouco. Fazia promessas de tatuagens às suas bandas favoritas e sua mãe só faltava ficar louca. O quarto repleto de pôsteres eram menos assustadores por não serem permanentes, logo a tinta retirada pela cola da fita era coberta por uma nova imagem e tudo não passava de uma fase. Assim como as suas primeiras paixonites.

Essas foram as mais marcantes, ainda se lembra do nome de cada um dos meninos por quem se apaixonou, mesmo que brevemente. Afinal, escrevera os nomes deles tantas vezes em seus cadernos secretos que era mais fácil esquecer quem era o seu autor favorito da vez.

Ainda não sabia diferenciar amor de paixão e mágoa de insegurança, então, o primeiro nome escrito em seu caderno foi o mais confuso. Imitou as cenas que via nos filmes e chorou enquanto caía lentamente no chão, arrastando as costas na parede, apenas porque havia visto o menino de que gostava olhando para uma outra garota.

Alguns anos depois, soube que aquilo era só a angústia de gostar em silêncio, de estar preso dentro de si mesmo e não caber ali. Taehyung sempre foi de transbordar.

Por isso, nunca conseguiu esconder de seus pais a forma como amava. Ou melhor, não conseguiu esconder justamente por causa deles, que sempre abrigaram a sua sensibilidade bem na concha das mãos, viajavam junto dele em seus mundos imaginários, mostrando-o o caminho da tão sonhada inteligência emocional.

Se não fosse por eles, a raiva ainda deixaria o seu rosto vermelho e veias saltariam de seu pescoço. Assim, Taehyung aprendeu a perder não somente partidas de jogos de tabuleiro.

As cenas tristes de filmes ainda embargavam seus olhos e as lágrimas nunca foram escondidas. Para eles, Taehyung sempre podia chorar, mesmo sendo um menino.

Ensinaram o que era eterno e que as tatuagens podiam esperar, mas as suas bandas preferidas sempre estariam presentes em suas paredes e fones de ouvidos. E que o amor era efêmero como a própria vida; o que restava eram apenas as marcas de uma ausência que deixava de doer com o tempo e que, no fim, só as boas lembranças deveriam prevalecer.

Taehyung tinha a teoria e os bons exemplos, mas aprendeu de verdade na prática. E como praticou... Seu primeiro beijo foi no primeiro ano do ensino médio com um garoto que conhecia desde o 7º ano do fundamental, mas os joelhos em contato enquanto faziam uma atividade em dupla só o afetou no final do oitavo. Passou muito tempo remoendo aquele sentimento, tentando descobrir se as mãos suadas ao que dividiam o fone de ouvido no ônibus escolar era invenção da sua mente que lia romance adolescente demais, ou não.

Até que em uma noite de verão, combinaram de dormir na sua casa para que, na manhã seguinte, acordassem bem cedinho para irem juntos ao campeonato de beisebol da escola. Mas o calor fez com que usassem menos roupas, o vento artificial do ventilador fazia ondas bonitas nos lençóis sobre os abdomens expostos e uma gota de suor que escorria pelas têmporas de Taehyung foi impedida de seguir o fluxo natural da pele pelo indicador de Hiroki.

O game boy que jogava foi deixado de lado. Ambos estavam deitados em colchões no chão, os olhares no mesmo nível, assim como suas bocas. Os lábios trêmulos e secos de Taehyung foram acariciados pelo polegar macio antes do beijo acontecer e ele se tornou um dos poucos seres humanos que tiveram uma boa experiência logo no primeiro beijo de língua.

Hiroki sabia como fazer, só não se sabe se era por ter beijado outras bocas, ou se havia decorado cada linha dos lábios de Taehyung e se imaginado beijando cada uma delas. Hiroki estava apaixonado e fez com que Taehyung também achasse que estava, mas ele só gostava de beijá-lo, nada mais.

Assim, quando Hiroki, depois de alguns poucos meses, deu a notícia de que voltaria para a sua cidade natal, Taehyung chorou sem saber o porquê. Despediram-se olhando para as estrelas, deitados na grama de seu quintal, prometendo que se amariam para sempre sem nem ao menos saberem o que era o amor.

Depois que a saudade de Hiroki amenizou, Taehyung se viu em busca de viver aquela velha história novamente, como se as pupilas dilatadas indicassem o seu vício em estar apaixonado, ou, pelo menos, de achar que estava. Naquele breve início da sua jornada, essa era a coisa mais emocionante que poderia acontecer consigo e, por um tempo, nada passou de simples olhares que ele esperava que fossem correspondidos.

Até que o segundo ano do ensino médio começou e um carinha de cabeça raspada e olhos afiados apareceu na sua turma de inglês. Taehyung não conhecia ninguém dali, era um curso fora da escola e Shinzo era dois anos mais velho. Assim que entrou na sala de aula, sentiu olhos pesados sobre si e acabou esquecendo-se de como mover os pés ao perceber que era encarado descaradamente.

Taehyung sempre teve uma aparência de tirar o fôlego, as bochechas fartas de quem ainda não havia amadurecido não mudava tal fato. Mas aquela foi a primeira vez em que se sentiu desejado, o estômago gelado queimava mais embaixo.

Não demorou até que beijos fossem trocados atrás do prédio da instituição. Shinzo era atrevido e Taehyung não conseguia negar os impulsos dos seus hormônios, levando-o ao momento em que estava deitado na cama de Shinzo, o coração batendo em seus ouvidos, as mãos dele acariciando as suas coxas para abrir as suas pernas.

Se pedissem um relato sobre a primeira vez de Taehyung, ele diria que a única coisa que ele se lembrava era da voz aveludada ao pé do ouvido, pedindo "relaxa", tão suavemente quanto os lábios molhados na pele de seu pescoço, que se arrepiava com a aspereza da barba que nunca crescia.

Shinzo tinha algo que emanava um sinal vermelho. Talvez fosse a caneta constantemente girada entre os dedos, como se fossem baquetas de um baterista, e logo colocadas atrás da orelha, como o último cigarro de um maço. Quem sabe a diferença de idade que fazia Shinzo procurar por garotos que ainda não tinham saído do ensino médio e ele nem havia chegado perto da universidade.

Shinzo queria ser inesquecível para todos com quem já se deitou e não exatamente por ser bom de cama. Ele parecia um parasita que adentrava a corrente sanguínea e começava a controlar todas as batidas do coração, infiltrava-se em seu cérebro e não havia qualquer outro pensamento que não fosse os olhos semicerrados e a risadinha sacana que ele dava com qualquer coisa que Taehyung dizia com seu sotaque em inglês.

Ele só queria se sentir superior, mas Taehyung estava deslumbrado, dependente de qualquer sinal de afeto, mas tudo o que ganhava era mensagens em sextas-feiras frias, puxões de cabelo ordenando que chupasse mais forte e críticas ácidas sobre os seus comentários de menino de 17 anos.

Demorou, mas percebeu que não eram uma boa dupla no inglês, muito menos quando transavam. Tudo o que fazia parecia errado, nunca agradava por mais que tentasse e aquela sensação tornou-se repugnante. Olhar e falar com Shinzo começou a lhe remeter péssimas memórias e aquilo não se parecia em nada com o que os seus pais disseram sobre se apaixonar.

Não respondeu mais às suas mensagens, evitava falar com ele durante as aulas e o afastamento aconteceu mais rápido do que esperava. E foi isso que mais doeu em Taehyung: ser substituível, esquecido em um estalar de dedos. Ele queria ser procurado, desejado novamente.

E foi aí que cometeu um dos seus primeiros erros. Tentou agradá-lo, mesmo que não estivessem mais juntos, chamar a atenção de Shinzo tentando ficar ainda mais bonito, mas nada disso deu certo e, no fim, percebeu que não queria se apaixonar daquele jeito por mais ninguém.

Nada do que viveu se igualava ao que lia nos livros e via nos filmes. Hiroki o deixava nervoso por não saber se podia sentir tudo aquilo por outro garoto e logo foi embora. Shinzo mexeu com todas as suas inseguranças e massacrou com o que restava da sua espontaneidade.

Shinzo não era dono do seu primeiro beijo, mas era o da sua primeira necessidade de esquecer alguém, da paixão doentia que mais se parecia com uma doença. A cura para tal o fez travar uma batalha contra si mesmo e, sem querer, durante o percurso da redenção, encontrou pequenas partes de si perdidas por aí.

Substituiu a paixão por Shinzo por outras. Sua obsessão esvaiu-se como a aquarela em contato com a água, começando a pintar os olhos afiados daquele que se recusava a sair da sua cabeça. Ainda bem que no começo nem tudo fica perfeito, seria uma lástima achar as suas primeiras pinturas e lembrar-se de tudo o que viveu com Shinzo, que, aliás, não foi inesquecível para Taehyung.

Depois que toda a mágoa passou e a vida seguiu, já no último ano do ensino médio, ouvia as conversas dos colegas na sala de aula sobre a tal da perda da virgindade. Sentado ao fundo, observava os pequenos grupos gargalharem com as suas experiências e acabava demorando alguns bons segundos para se lembrar do nome do dono dos seus primeiros delírios. Aquela pintura de seus olhos era irreconhecível, poderia ser qualquer um.

O que habitava agora as suas folhas de aquarela eram as cenas que lia em seus livros favoritos. Era melhor deixar-se perder nas histórias dos outros do que viver a sua própria narrativa, doía menos e nada era pior do que esperar aquela dor passar.

Foi assim que, pela primeira vez, segurou-se na borda do precipício e pensou duas vezes antes de pular em uma nova relação. Yutaro era de outra sala e apareceu de repente atrás de si, na arquibancada, espiando o que tanto desenhava durante aquela aula livre. Taehyung se lembrava nitidamente dele com os cotovelos apoiados nos joelhos, o olhar direcionado à quadra, a calça jeans rasgada que substituía a habitual do uniforme e um papo aleatório sobre arte.

Taehyung não era especialista naquilo, apenas pintava e desenhava por diversão, para se distrair. Mas ver Yutaro fingir que sabia sobre o assunto colocou-o para baixo, as marcas de Shinzo ainda estavam ali e ele se sentiu inseguro. Não se achava tão interessante, não parecia ser tão legal e, por isso, deixou de pintar por algumas semanas, achando-se uma farsa completa, mesmo que não tivesse qualquer pretensão de se levar a sério naquilo.

No entanto, as conversas com Yutaro não pararam e Taehyung não conseguia afastá-lo de tão pegajoso que ele era. E então, foi ali na arquibancada que recebeu a sua primeira declaração, escutou com todas as palavras a frase que por tanto tempo desejou ouvir de alguém: — Eu estou apaixonado por você.

Na linha tênue entre estar completamente obcecado ou desinteressado, Taehyung estava em uma corda bamba, tentando corresponder sentimentos que não existiam em si. Mas, com o convívio, o apego e o costume apareceram, era bom ter alguém com quem dividir a arquibancada fria e vazia, os monólogos de Yutaro eram bons de se escutar, ainda mais quando grande parte das frases eram abafadas pelos sons agudos que os jogadores de basquete faziam com os seus tênis na quadra.

Mas havia uma única coisa que Taehyung não conseguia deixar de ouvir: quando era comparado com os outros de Yutaro, naquele jeito manso de falar, às vezes passivo-agressivo, em outras vezes, descarado, parecendo estar revoltado. E Taehyung nunca dizia nada, escutava como se realmente fosse melhor ser outra pessoa, convencendo-se, dia após dia, que Yutaro estava certo.

E assim ficaram por algumas semanas, porque era melhor ter ele do que não ter ninguém, mesmo que se sentisse sufocado, com todas as suas palavras esmagadas e voltadas para as experiências de Yutaro. "Você acha essa cor legal? Eu não compraria essa calça porque não fica bem em mim. Você quer fazer tatuagem? Nossa, eu jamais faria. Sua banda preferida é Burnout Syndromes? Eu prefiro The Killers, você sabe, tudo o que vem do ocidente é melhor. Você acha matemática difícil? Eu tenho muita dificuldade em química, é muito mais complicado."

Até que em uma certa manhã, Taehyung acordou sem receber uma mensagem de bom dia. Ficou sozinho na quadra, esperando que ele aparecesse, mas três dias se passaram e Taehyung, agonizando em ansiedade de saber o que havia feito de errado, perguntou o que havia acontecido. Assim, ouviu a seguinte revelação:

— Acho que não estou mais apaixonado.

Naquela noite, Taehyung chorou a noite inteira e não foi para a escola na manhã seguinte. Seu coração não estava partido por Yutaro, mas por ter se deixado levar por algo que nem habitava o seu coração, nítido que não daria certo.

Taehyung, até então, fora vítima de si mesmo, sempre esperando ser amado por outras pessoas, sem saber que o único que deveria amá-lo de volta era ele mesmo. Mas ele não poderia se culpar por tudo, Shinzo e Yutaro também não foram sinceros com os seus sentimentos.

E o fim do ensino médio não poderia ter passado mais sozinho. Taehyung encarava os seus últimos dias naquela escola na quadra vazia, no fundo da sala, escutando conversas alheias enquanto fingia ouvir músicas nos fones de ouvido. E Yutaro passeava com a sua ex-namorada, agora atual, pelos corredores. Ninguém queria estar sozinho e, infelizmente, não foi a primeira vez que Taehyung foi a segunda opção de alguém, mas foi a primeira que tal ato bateu tão forte, exposto para quem estivesse atento ao que se passava nas arquibancadas.

E assim, Taehyung escolheu ficar do lado da temível solidão, ficou tão perto dela que acabou descobrindo que ela não era tão ruim assim. Voltou ao seu antigo hábito de interromper a leitura para pintar as imagens bonitas que as palavras plantaram em sua mente, as bordas de seus livros acabavam por ganhar algumas cores extras, manchas que contavam a história de toda uma trilha que parecia inalcançável.

Mas, aos poucos, ele achava que estava chegando a algum lugar. E naquela de escolher somente as coisas que o faziam bem, decidiu ir para a Universidade de Yonsei estudar Letras. Não sabia muito bem o que esperar do curso e das pessoas, gostava de gramática e de ler livros e, por enquanto, aquilo bastava.

Uma das primeiras coisas que notou quando entrou na sala de aula da universidade foram as paredes brancas e vazias. Todos os alunos pareciam pensar o mesmo que si, o medo do desconhecido estampado nos olhos, apesar da animação de começarem algo novo.

E tinha aquele cara bonito ao seu lado, com cara de tédio e anéis demais nos dedos. Quando conheceu Jimin, logo soube que ele era o seu extremo oposto. Pelo menos foi essa a ideia superficial que teve ao observá-lo tão desprendido de qualquer companhia, confortável demais em meio a uma situação completamente nova. Desejou ser como ele.

Perdeu-se tanto na imagem de quem queria ser que acabou atraindo a atenção dos olhos bonitos de Jimin para si. Encarou de volta sem saber o que fazer e recebeu um olhar divertido de sobrancelhas erguidas e lábios franzidos, como se dissesse "você acredita no que esse professor está falando?", e só então Taehyung percebeu que não estava prestando atenção em coisa alguma.

Deu de ombros em resposta e os suspiros que Jimin dava ficaram cada vez mais audíveis, seus ouvidos atentos a qualquer frase que poderia sair da boca dele. Superficialmente, Jimin parecia inalcançável, a forma como ele jogava o cabelo para trás e deixava a testa exposta pareciam legais demais.

No entanto, quando o professor liberou a turma daquela apresentação chata e necessária sobre a disciplina, Jimin virou as pernas para o corredor de cadeiras do lado de Taehyung e levantou-se, colocando a alça da bolsa sobre o ombro direito.

— Odeio roda de conversa, por que ele não organiza um seminário de uma vez? — Jimin cochichou, acompanhando Taehyung até a porta, passando pelo professor sentado à mesa com vários alunos ao redor tirando dúvidas nada pertinentes.

— É só falar uma frase genérica no meio da aula pra garantir os pontos de participação — Taehyung disse mais alto, já no corredor.

— Será que isso dá certo na faculdade também? — Riu, jogando o cabelo para trás e andando para fora do prédio com Taehyung em seu encalço, seguindo o seu fluxo. — E aí, você vai na festa de recepção mais tarde?

— Eu nem estava sabendo de festa. — Franziu o cenho, nunca havia tomado um porre porque não tinha amigos para isso, mas ficou tentado a ir porque Jimin iria.

— Vamos, deve ser legal conhecer o resto do pessoal. Nunca se sabe quando iremos precisar deles. — Sorriu travesso, a língua entre os dentes enquanto puxava Taehyung pelo pulso para comerem alguma coisa antes de encherem a cara.

O contato repentino e tão natural fez o seu coração bater mais rápido, eufórico com a sensação de estar criando um laço de amizade com alguém. E Jimin era tão legal, perguntava sobre a sua vida e não falava apenas de si mesmo. Notou a camiseta com estampa de banda por debaixo da jaqueta jeans e comentou que não conhecia muito Burnout Syndromes, mas checaria mais tarde e diria o que achou.

Andavam pelo campus lado a lado, como se fossem amigos de fato. Taehyung apenas esperava o momento em que Jimin se distrairia com outra pessoa, mas ficou parado no corredor de um prédio aleatório segurando a bolsa dele enquanto o esperava ir ao banheiro.

Quando a festa começou, sentiram-se deslocados quase que de imediato, mas estavam juntos, então a companhia amenizava um pouco as coisas. Tentaram conversar com o resto das pessoas do curso, que chegavam até os dois atraídas por suas aparências, mas elas só sabiam falar sobre autores desconhecidos ou quantos livros leram durante o semestre, naquela velha tentativa de assustar os calouros que acabaram de chegar, ou de vangloriar-se sobre o quão inteligentes eram.

O que estava dando certo com Taehyung, que arregalou os olhos e curvou a coluna, encolhendo-se instintivamente. Começou a duvidar da sua capacidade de acompanhar o ritmo, sabia que não conseguia absorver tantas informações ao mesmo tempo. Jimin apenas moveu a cabeça negativamente, segurando-se para não revirar os olhos na frente dos demais, mal havia chegado e já achava que algumas coisas deveriam mudar.

E sem que mais ninguém o ouvisse, cochichou no ouvido de Taehyung: — Quer beber longe daqui?

Os olhos de Taehyung expressaram o quão boa era aquela ideia e Jimin sorriu, feliz, percebendo que não era o único a odiar tudo aquilo. Afastaram-se com a desculpa de que dançariam na pista de dança vazia e logo receberam olhares julgadores, como se os dois estivessem no lugar errado. E até de fato parecia.

Sem tentar esconder suas ações, Jimin pegou uma das garrafas de vinho doce do freezer que estava no meio do jardim e andaram em direção ao prédio de música, passando pelo jardim do Centro de Belas Artes e preferindo ignorar toda aquela multidão de gente, mesmo que todos parecessem mais animados por ali.

Ao adentrarem o local, nem sabiam que se tratava exclusivamente do curso de música, mas foram capazes de prever ao ouvirem o som de um violão acústico e a música que tocava lá fora, misturando-se em um eco longínquo e cordas abafadas por paredes. Jimin ia na frente e depois de subirem dois lances de escadas, decidiu que beber vinho barato sentados em um patamar de cimento maciço era uma boa escolha, pelo menos dali o violão bem afinado, que começava a misturar-se com outros instrumentos, era mais audível e ele gostou disso.

Sentaram-se um do lado do outro e olharam para cima, observando o quão alto e vivo era aquele prédio, apesar de aparentar estar vazio, escutavam música evaporar por todas as direções. O brilho das lâmpadas de cada andar encontrava-se nos olhos de Jimin e, de repente, o encantamento com tudo aquilo ficava cada vez maior. Ele parecia sentir o mesmo que si e nunca havia experienciado o compartilhar de um momento daquela forma.

O som de violinos agudos foi sobreposto pelo som do lacre que Jimin retirava da garrafa. Ele deu o primeiro gole, esperando que ficasse mais bêbado do que com aquela cerveja indigesta que tomou lá fora. Ao menos, o sabor gelado era mais agradável e ofereceu a bebida para Taehyung, que olhou para o bico da garrafa, pensando duas vezes antes de beber de onde os lábios de Jimin tocaram primeiro.

Olhou para o moreno, que escondia um sorriso travesso e, finalmente, perguntou o que não saía da sua cabeça: — Jimin, por que você está andando comigo até agora?

Ele soltou uma risada infantil e escandalosa e, para a sua surpresa, disse: — Eu estava mesmo esperando que você perguntasse isso.

— Como é que é? — Taehyung franziu o cenho e a sua cara não ficou nada bonita. Para ele, aquela frase emitiu vários sinais negativos, vai ver era uma pegadinha, ou uma aposta qualquer. Mas a verdade era que Jimin também sabia que toda aquela situação era estranha e, então, decidiu se explicar.

— Bom, tudo começou quando eu estava conversando com o meu pai sobre algumas mentiras que eu mantinha ao meu respeito, como o fato de que ele achava que eu tinha vários amigos, mas eu só conversava com várias pessoas na escola e não me sentia próxima de nenhuma delas. Então, eu confessei que não queria sentir o mesmo durante a faculdade. — Pegou a garrafa das mãos de Taehyung e deu mais um gole, dando de ombros. — Daí ele me deu o seguinte conselho: — Lambeu os lábios, olhou para a paisagem acinzentada acima de seus olhos e disse sorrindo. — Escolha alguma pessoa da sua turma e a trate como se já a conhecesse há anos pra ver no que dá. E bem, eu escolhi você.

— Seu pai tem ideias bem malucas. — Taehyung foi desarmado e acabou rindo com aquilo, a sua risada grave contrastando-se com a de Jimin. — E você acha que tá dando certo?

— Eu acho que sim, você parece odiar as mesmas coisas que eu.

— E o que você mais odeia? — Pegou a garrafa de volta e tomou do vinho, encostando os lábios onde Jimin havia tocado duas outras vezes. Achou engraçado o fato de que Jimin parecia fazer muita questão sobre aquele ato de intimidade, ou talvez ele só achasse graça do beijo indireto que acontecia devido ao esquecimento dos copos.

— Pessoas que querem que eu siga a métrica delas, como se eu não fosse alguém que tem o próprio tempo... Por exemplo, eu só comecei a ler perfeitamente aos 9 anos de idade e hoje estou estudando Letras. Não tinha nada de errado comigo, eu só não segui a cartilha médica.

— A temida caixinha... — Taehyung suspirou e deu mais um gole antes de passar a garrafa para Jimin. — Isso aconteceu quando você era criança, então imagino que não sabia muito bem o que estava rolando, mas já aconteceu algo assim com você tendo a plena consciência dos fatos?

— Não. Na adolescência eu fui forçado a beijar uma menina porque era um crime ser BV aos 14 anos na minha antiga escola, mas na época eu achei que aquilo era um favor, mesmo não tendo vontade nenhuma de beijar qualquer pessoa que fosse. — Franziu os lábios, lamentando-se sobre as experiências adiantadas pelo relógio dos outros. — Se o meu primeiro beijo tivesse sido o segundo, eu teria uma lembrança muito bonita para contar.

— Mas a grande maioria das pessoas não tiveram um bom primeiro beijo. — Taehyung soltou o bico da garrafa e o som os lembraram de um selinho molhado daqueles bem estalados. Riram à toa, a cerveja de outrora misturando-se com o vinho e os dois não poderiam estar mais bobos. — Desculpa. — E limpou a baba na barra da camiseta antes de entregá-la a Jimin.

— Tudo bem... Mas você está falando isso porque o seu primeiro beijo foi ruim?

— Não, o meu foi ótimo. — Gargalhou ao ver os olhos de Jimin revirarem, em um falso desagrado.

— Tá, e o que você mais odeia?

— Acho que se aproxima muito do seu ódio. Depois do meu último relacionamento, descobri que eu odeio fingir emoções, tentar ser uma versão de mim mesmo que não se encaixa aqui dentro. — Acariciou o peito, engolindo a saliva e sentindo o gosto doce do vinho tornar-se amargo com as lembranças.

— E como foi esse namoro? — Jimin perguntou, nutrindo um pouco daquela velha necessidade de conhecer o amor a partir dos outros.

E Taehyung falou. Falou de Hiroki, de Shinzo e de Yutaro, descarregou em palavras tudo que havia apenas pintado e escrito em poucas frases em seus cadernos. Mas, agora, os relatos carregavam as suas percepções mais maduras, ganhadas ao longo do tempo. Hiroki nunca foi paixão, Shinzo era um relacionamento tóxico e Yutaro só teve lugar em sua vida porque não queria estar sozinho.

Em uma única noite, Jimin soube mais de Taehyung do que qualquer um dos três, porque, enquanto falava dos outros, deixava que Jimin enxergasse como via a si mesmo e o mundo. Segurou a mão dele em um ato de afeto impulsivo, um gole de vinho descendo pela garganta e uma tentativa de ver o lado bom daquilo tudo.

— Pelo menos você já transou, e eu que sou virgem?

— Até parece! — Taehyung gargalhou alto com a tentativa de Jimin fazê-lo se sentir melhor.

— É sério! — Jimin foi contagiado pela gargalhada alheia e as vozes afetadas ecoavam escada a cima. — Não estou procurando a pessoa certa nem nada, é só que...

— Você não quer que ninguém se apaixone por você. — Taehyung ergueu uma das sobrancelhas e o fitou com um olhar presunçoso, dizendo qualquer coisa que surgiu na cabeça, mal sabendo que havia decifrado Jimin por inteiro.

— Eu sou tão irresistível assim? — perguntou, com um sorriso amarelo nos lábios e o coração acelerado sem muita explicação.

— É, você sabe que é. — Revirou os olhos em brincadeira e, então, perceberam o absoluto silêncio do prédio, sem violões acústicos, violinos agudos ou alguma peça teatral tocada no piano. — Será que o prédio vai fechar?

Jimin ouviu a pergunta, mas nada conseguia responder. Sua visão embaçada tentava identificar quem os observava com os cotovelos apoiados no parapeito do andar de cima.

— Oi, quem é você? — perguntou, e Taehyung olhou para cima, a distância camuflava o rosto do desconhecido, mas o cabelo curto em ondas perfeitas era inconfundível, assim como a silhueta do braço do violão em suas costas. — Há quanto tempo está ouvindo a nossa conversa?

— Só ouvi a parte em que o seu amigo diz que você é irresistível e, olhando daqui, não consigo dizer o mesmo — a voz grossa disse de modo preguiçoso, aguçando a curiosidade de Jimin.

— Você é miope ou só está bêbado também?

— Acho que eu só tô chapado, vou ter que chegar mais perto.

Jimin tentava ignorar o coração acelerado à medida que ouvia passos na escada e arregalou os olhos em direção a Taehyung, que escondia um sorriso travesso nos lábios:

— E aí, o seu relógio tá marcando que horas?

Jimin gargalhou daquele jeito bobo e alto com Taehyung, os olhos de ambos se fecharam e a falta de ar fez a barriga doer. Até se esqueceram de que havia alguém indo ao seu encontro e quando Jimin abriu os olhos teve a sua primeira visão nítida de Chanyeol, apoiado no corrimão, a calça preta modelando as pernas longas, a camiseta branca folgada no torso e os olhos grandes de quem o observava com carinho e interesse.

— É, acho que você é irresistível mesmo.

— Só acha? Fala sério. — Jimin jogou os fios negros para trás e negou com a cabeça, revirando os olhos.

— E ele sabe mesmo, né? — Chanyeol ergueu as sobrancelhas para Taehyung, introduzindo-o na conversa.

— Eu espero que ele só esteja bêbado, porque se ele for assim sóbrio, não sei o que vou fazer. — Suspirou, afetado, para Jimin, que o levava a sério e o olhava com os olhos semicerrados.

— Você já vai me abandonar? Nem 24 horas de amizade, cara!

Taehyung riu porque viu que era fácil falar coisas de brincadeira em um tom sério e enganá-lo, mas só enquanto estava bêbado. Sóbrio, Jimin apertava as pálpebras e esperava por qualquer sinal de que Taehyung estava brincando com a sua cara, mas isso ele só foi aprender depois de alguns meses, porque naquela noite Chanyeol sentou-se no chão junto a eles e os ajudou a terminar aquela garrafa de vinho já quente.

Conversaram a madrugada inteira e arriscaram pegar mais bebida de graça por aí. Deitaram-se na grama e assistiram às estrelas darem lugar às nuvens frágeis, só levantaram-se quando os ônibus voltaram a rodar na cidade e foi olhando pela janela que Taehyung viu Jimin e Chanyeol se beijarem pela primeira vez.

Sorriu com a cena um pouco atrapalhada porque Chanyeol queria usar as duas mãos para tocar a nuca de Jimin, mas ainda havia o violão entre as suas pernas. Sentiu uma coisa boa encher o peito e só depois de algum tempo percebeu que, naquela noite, conheceu o seu primeiro amor correspondido. Amor mesmo. Daquele puro, que não se esvai com tão pouco, que transborda e engrandece, que enche o peito de ar ao invés de sufocar.

Depois de passar a maior parte da sua vida apenas sendo um conhecido de algum grupo de amigos, Taehyung finalmente tinha alguém. Apoiou a cabeça na janela e sentiu o vento da manhã bagunçar o seu cabelo, lágrimas umedecendo os seus olhos e um sorriso bobo nos lábios. Queria colocar a culpa da emoção no vinho, mas não demorou para que o seu estômago se revirasse e ele vomitasse na calçada de casa.

Enquanto vivia aqueles dias leves, Taehyung tinha a impressão de que o tempo passava devagar, mas ao lembrar-se dos primeiros períodos na faculdade, percebeu que o tempo havia escapado do seu controle e anos se passaram como se fossem poeira estelar. Jimin e Chanyeol não estavam mais juntos no segundo semestre, pouco via o estudante de música, apesar de gostar muito de conversar com ele. Esforçava-se para decorar os atalhos que o levava do restaurante universitário até a sua sala de aula e observava as árvores fazendo sombras nas mesas empoeiradas da biblioteca, distraindo-se com qualquer coisa que não fosse os olhos sempre fixos de Jimin nos textos que precisavam ler todos os dias.

Em uma das muitas tardes que passavam por ali, ocupando sempre o mesmo lugar, Taehyung levantou-se e deixou Jimin sozinho, que mal percebeu a sua ausência. Andou entre as prateleiras em busca de um exemplar para as aulas de Literatura Clássica, entrou em um dos corredores e seus olhos não saíram das etiquetas coladas às lombadas dos livros, até encontrar a numeração desejada e erguer os longos dedos para pegá-lo em mãos.

Antes que sentisse o toque áspero da capa do livro velho, Taehyung sentiu uma presença ao seu lado e deu um pulo para trás. O susto sem querer arrancou risadas do, até então, desconhecido e quem dera Taehyung tivesse fechado os olhos, porque aquele sorriso tornou-se a sua maior perturbação.

— Murasaki Shikibu? — Ouviu o nome da autora do livro que estava agora debaixo do seu braço, vendo-o pegar outro exemplar para ele. — Aula de Literatura Clássica? Você é o Kim Taehyung, certo?

— Sou... — respondeu, lentamente, olhando para os lados, desconfiado.

— Eu sou o Yukhei, sou seu veterano, mas acabei reprovando nessa matéria, daí tô tendo que fazer com a sua turma — explicou-se, coçando a nuca, envergonhado por ter deixado explícito que o observou por tempo demais até saber seu nome.

— Ah, tá... — Olhou para os lados e, sem saber o que dizer, despediu-se antes de girar os calcanhares e sumir dali. — A gente se vê na aula, então.

E lá se viram, religiosamente, duas vezes por semanas. Taehyung sempre com a sensação de que estava sendo observado de longe, suas falas durante a aula sendo música para os ouvidos de um certo alguém. Mas o semestre já estava na metade e Yukhei não havia direcionado qualquer palavra em sua direção, o que apenas serviu para que os seus olhos ficassem mais atentos a ele e o seu coração quase entrasse em pane quando em, um certo dia, Yukhei sentou-se na fileira ao seu lado, aproveitando-se de qualquer oportunidade de lhe enviar um arquivo em PDF por e-mail.

[email protected]: qui., 11 de ago. de 2016 18:24

Não precisa agradecer, estou sendo apenas um veterano atencioso.

Aliás, para mostrar toda a minha preocupação para com aqueles que acabaram de chegar em nossa digníssima universidade, gostaria de saber se Vossa Majestade tomaria um café comigo qualquer dia desses.

Atenciosamente,

Yukhei.

Taehyung teve uma crise de riso com cada palavra lida, as borboletas voltando a aparecer em seu estômago traziam uma sensação boa. Havia se esquecido daquele fogo no peito, de como era bom conhecer alguém e deixar que os sentimentos fossem livres para onde quisessem ir.

[email protected]: qui., 11 de ago. de 2016 18:30

Não sei se sou tão calouro assim, já que esse é o meu segundo semestre, mas agradeço toda a sua dedicação, apesar de não saber o que fiz para receber tanta atenção.

Sobre o café, aceito, com a condição de que pare de me tratar como um membro da realeza. Não sei se saberei lidar pessoalmente com os pronomes de tratamento que não me cabem.

Abraços,

Taehyung.

[email protected]: qui., 11 de ago. de 2016 18:35

Percebo que não sabe de muitas coisas, querido Taehyung, mas quero lhe esclarecer algumas delas, por mais que eu pareça um pouco brega (mas olha só, cá estamos nós, trocando e-mails): Vossa Majestade merece todos os pronomes de tratamento que incubem à realeza porque você parece um príncipe e acho que tal fato também sana a dúvida do motivo de merecer tanto a minha atenção. Nunca vi alguém tão bonito quanto você.

Agora, será que podemos deixar de graça e conversamos como dois jovens normais do século XXI? O meu número é: 985-6787

Beijos,

Yukhei.

Daquele café, Taehyung guardou a nota fiscal, o calor do sol quentinho que batia em sua pele e refletia na mesa, e o gosto do chá de yakult de chá verde que refrescara o beijo. Yukhei não escondeu que estavam juntos desde o primeiro encontro, cumprimentando-o com selinhos no corredor, antes de entrarem para a aula.

Aquele foi o seu primeiro relacionamento duradouro e feliz. Foi com ele que teve a plena certeza de que estava apaixonado e, enfim, amou, sem qualquer dúvida se fora amado de volta. Era visível no olhar de Yukhei, em todas as coisas que fizera por Taehyung, em todos os presentes repentinos, nas mãos que nunca desgrudavam em uma caminhada ou nos beijos ardentes que o tiravam o fôlego. Não importava qual era a linguagem do amor de Yukhei, ele expressava-o em todas elas.

E por isso doeu tanto quando Taehyung percebeu que o brilho nos olhos alheios desaparecera, porque o seu ainda estava ali, refletindo para quem quisesse ver. Do fim, só se lembrava das brigas constantes, da insistência de Yukhei de permanecer onde não queria mais estar para não magoar Taehyung, mal sabendo que era aquilo que mais fazia doer, de vê-lo fazer tudo o que podia para o amor voltar, mas nada surtia efeito. O encanto se perdeu e não era culpa de Taehyung, apesar de ter analisado cada mínima ação sua e de se contorcer em raiva de si mesmo por querer voltar no tempo e fazer diferente.

Não havia nada de errado, mas demorou até que percebesse. Demorou, até deletar os e-mails e não salvar o número de Yukhei, mais uma vez, para mandar um boa sorte na prova, só porque havia se lembrado de repente de uma boa desculpa para falar com ele. Demorou até que parasse de chorar toda noite antes de dormir, ou de que bebesse drinks de misturas duvidosas pelo campus e não surtasse pela falta que ele fazia.

E com o passar dos meses, o seu quarto não tinha mais as marcas de Yukhei, a biblioteca deixara de significar alguma coisa e chás gelados de yakult recomeçaram a ter o mesmo sabor de sempre. Agora, só o que habitava em seu peito era a certeza de que fora amado – não importando por quanto tempo –, as lembranças boas que fizeram juntos e tudo o que aprendera sobre o amor e sobre si mesmo. E aquilo era mais importante do que qualquer coisa.

Se Taehyung tivesse feito algo de diferente, ele seria menos Taehyung e talvez, as coisas não seriam as mesmas agora.

De vez em quando, ele se pegava pensando em como tudo poderia ter sido diferente, desde a escolha de Jimin no primeiro dia de aula em tê-lo como amigo; se Yukhei tivesse passado em Literatura Clássica de primeira; se Jimin encarasse o amor de uma forma diferente; se não tivesse dado ideia para Chanyeol e se ele não fumasse maconha. Enfim, nesses caminhos tortos que a vida não planeja, em como pessoas estranhas poderiam ter se mantido quase que desconhecidas.

Deitado em sua cama, pensava em uma das conversas que tivera com Jimin recentemente e naquela ânsia dele de tentar explicar o inexplicável: por que Jeongguk tinha que estar tão longe agora?

Traçava, só de brincadeira, essas voltas que o destino – se existisse – poderia percorrer e assim, chegava a algumas conclusões: não teria a experiência que tem hoje, não saberia qual é o seu jeito de amar e o que espera de um futuro relacionamento. Jimin não teria conhecido Jeongguk e não teria todo aquele enrolo com ele no começo e, então, o passo seguinte seria anular aquela noite no bar com nome do código de área da cidade e não seriam atraídos por uma banda com nome de planeta imaginário e, daí, não teria conhecido Hoseok.

Ou talvez teria, pois o body piercer parecia uma página rasgada de um livro, mas em vez de esquecida, era reescrita com todos os começos que poderiam ter juntos.

O primeiro beijo poderia ter acontecido assim que se conheceram, mas o contato fácil não seria misterioso. A falta de um nome e a conversa interrompida foi o que fez o cara com olhos de lua minguante não sair da sua cabeça.

O que teria acontecido se tivessem a noite toda? Quando ainda não sabia que ele era um dos melhores amigos de Jeongguk e ainda não havia surgido o medo bobo de ser quebrado novamente por alguém que estaria perto demais para ser facilmente esquecido depois.

Talvez, o maior medo de Taehyung não fosse o de amar, mas o de não conseguir esquecer. Pena que os olhos de Hoseok já estavam impregnados em sua memória e a sensação de cada pequeno toque que trocaram, cravada nas digitais de seus dedos.

O acordo de que deveriam ir devagar ainda estava de pé. Saiu do estúdio na tarde em que fizeram o combinado, completamente anestesiado, os pés pareciam não tocar o chão. Reconheceu a paixão criando vincos em seu peito e em casa caminhava sem rumo pelos cômodos, com a boca guardando a sensação do selinho que passou longe de se aprofundar. Uma lástima.

Os sorrisos que trocaram quando se reencontraram no evento de flash tattoo irradiavam calor, suas mãos entrelaçaram-se cuidadosamente. Hoseok colocou o cabelo de Taehyung atrás da orelha com os dedos leves, os olhos atentos às reações alheias, morrendo de medo de afastá-lo com a sua pressa. E então, quando o abraço foi encaixado e o seu cheiro já havia grudado na camiseta dele, perceberam que a única coisa desconfortável que poderia acontecer era ficarem longe um do outro.

A música que o estranho do violão tocava no meio da rua ficou grudada na cabeça de Taehyung, a melodia era cantada sem pensar e, com ela, a pele se arrepiava com a memória da ponta do nariz de Hoseok em seu pescoço, gravando cada nota de ameixa e flor de cerejeira que dali emanava.

Mas aquela noite não foi feita somente de boas memórias. O sumiço de Jeongguk e Jimin paralisou a todos e saber o que havia acontecido foi ainda pior. Uma das últimas imagens que tivera de Hoseok fora dos olhos aflitos e dos lábios tensos pressionando o cilindro do cigarro, uma tragada profunda levando a nicotina para dentro dos seus pulmões, impedindo as lágrimas de fazerem as íris brilharem.

O quase estava sempre ali, entalado na garganta. Quase atrás das grades, quase em apuros, quase pego em flagrante.

Aquele foi o primeiro quase de Taehyung, mas para os outros esse parecia ter sido o mais doloroso. Viu Hyejin chorar silenciosamente olhando para a janela de seu apartamento que não refletia luz alguma, o olhar vago mostrava toda a enxurrada de pensamentos indo de encontro com tudo o que podia estar se passando na cabeça de Jeongguk. O que ele estava sentindo? Por que não atendia as ligações de Namjoon?

— Ele some de vez em quando, você sabe — dizia ela, ainda olhando para a janela. — E agora não vai ser diferente, quem sabe até pior.

— Ele não vai perder só uma noite de sono dessa vez — Hoseok assoprou a fumaça de sua boca e enterrou a ponta acesa do cigarro no fundo da pia da cozinha. — Vai abrir mão de Jimin também.

— Você acha? — Taehyung perguntou, aproximando-se.

— Isso não é o certo a se fazer? Não é o que você faria?

Taehyung não conseguiu responder, Hoseok parecia irritado com tudo ao redor, mas era só revolta. A mesma revolta que Taehyung sentiu ao saber que não era Jeongguk que tatuaria as próprias ilustrações, de saber que ele queria fazer um mundo de coisas diferentes, mas não podia. Mas essas ideias Hoseok já havia digerido, era o que dava para fazer no momento e Jeongguk não havia demonstrado que, ultimamente, ver a sua arte escapar de suas mãos deixou de ser aceitável.

No entanto, ver Jeongguk perder Jimin trouxe de volta a velha revolta adormecida, pois todos sabiam que o moreno era um sopro de lucidez em meio a loucura de sua mente e nem aquilo o tatuado podia ter.

Taehyung foi embora sem se despedir de Hoseok. Não fez questão de procurá-lo, saber onde tinha se enfiado para fumar mais um cigarro. Acabou se irritando com as perguntas que foram direcionadas a si porque elas não faziam o menor sentido.

Por que aquilo o interessava? Por que Taehyung tinha que dar opinião sobre o que Jeongguk faria? Só ele podia dizer o que era estar em sua própria pele, suas decisões diziam respeito somente a ele e a mais ninguém.

Dias se passaram sem que trocassem mensagens e por mais que tivesse achado Hoseok grosseiro, Taehyung queria entender o motivo de tudo aquilo e gastou noites e mais noites remoendo o que podia ser facilmente solucionado com um telefonema. Porque era isso que Hoseok faria, bastava um "oi" modesto em forma de texto, para a tela do celular acender indicando uma nova ligação. Às vezes, se perguntava se o body piercer sabia digitar.

Evitou o momento até que não fosse mais outono. As tardes começaram a esfriar gradualmente até que Taehyung se visse perambulando pelo campus da universidade vestido com um casaco grosso e um cachecol em volta do pescoço. As folhas das árvores secas costumavam acompanhá-lo em direção ao prédio que frequentava, mas, ao andar pela passarela, já não ouvia o típico farfalhar, pois todas foram varridas.

E a medida que a paisagem da janela da sala de aula mudava, ganhando o tom branco da neve, escutava as lamentações de Jimin sobre a demora da chegada das férias de inverno, sabendo que ele só não queria estar mais ali, naquele lugar, mergulhado em tantas memórias que era até difícil contar. A mugunghwa seca no chão já havia sido recolhida por algum rastelo, não restando qualquer sinal da paixão que surgiu entre os corredores de prédios, mas Taehyung fingia acreditar que era somente pelo cansaço. Jimin merecia descansar o seu pobre coração quebrado.

Por isso, não tinha coragem de desabafar com ele sobre Hoseok. A conversa poderia desencadear pensamentos que estavam longe do seu controle e a situação já estava ruim por si só, não queria piorar as coisas.

Sozinho em seu quarto escuro, iluminado somente pelo abajur sobre a escrivaninha, folheava as anotações das aulas em seu caderno e era como se tivesse voltado ao ensino médio: sem ninguém para pedir um conselho, era só ele e um cenário mal resolvido, o coração quase explodindo em agonia por não conseguir ficar longe de Hoseok.

Observou o desenho do guarda-chuva feito por Jeongguk pregado em sua parede e resmungou alto, afundando-se na cadeira ao perceber que o seu velho costume de guardar qualquer objeto que o fazia lembrar-se do outro nunca o abandonara. Mandou um "oi" por mensagem e sentiu o coração bater forte sob os seus braços cruzados, olhando fixamente para o celular que acendeu poucos minutos depois. Não conseguiu atender a ligação.

Hoseok 🌂:

não quer ouvir a minha voz?

Taehyung bufou ao ver a mensagem, irritado com a forma com que o seu corpo reagia a uma simples pergunta. Era como se ele estivesse ao seu lado, sussurrando em seu ouvido, com as mãos firmes em sua nuca.

Tae:

você me deixa nervoso

Hoseok 🌂:

mesmo de longe?

Tae:

mesmo de longe

Hoseok 🌂:

a gente deveria se ver

Tae:

achei que estivesse zangado comigo

Hoseok 🌂:

na verdade, estou um pouco mesmo

Tae:

por quê?

Hoseok 🌂:

porque eu quero você

Fechou os olhos com força, deitando a cabeça sobre a escrivaninha, afetado demais com o que Hoseok dizia. Mas achava que aquilo não era tudo, o motivo não correspondia com os dias que passaram sem se falar.

Tae:

só isso?

Hoseok 🌂:

não, tem mais, mas eu não sei se foi legal eu pensar esse tipo de coisa

Tae:

fala logo

Hoseok 🌂:

tá...

eu fiquei chateado depois de saber o que aconteceu com o Jeongguk

é um amor impossível enfrentando obstáculos bem debaixo do meu nariz

é muito bonito quando se escuta uma história assim, mas vivenciar isso de tão perto machuca

naquela noite eu achei que eu e você só estávamos perdendo tempo, porque não há nada que nos impeça de ficarmos juntos, mas daí eu percebi que é besteira

você tem os seus motivos e eu tenho os meus, não dá pra comparar uma coisa com a outra

me senti um idiota por pensar assim no calor do momento e não consegui vir falar com você, achei que também estivesse chateado

Tae:

eu fiquei um pouco mesmo

e também curioso pra saber o motivo de toda aquela irritação direcionada a mim

mas agora eu entendi, acho que tá todo mundo mal com a situação

Assim que a mensagem foi visualizada, uma nova chamada de Hoseok fez o celular vibrar em suas mãos. Taehyung sorriu, achando que estava até demorando para aquilo acontecer.

A gente deveria se ver. — A voz de Hoseok soou suave no silêncio do seu quarto e ele só queria escutar mais. Fechou os olhos e suspirou baixinho, suspeitando de que ele tivesse escutado do outro lado da linha. — Lembra da noite de filmes que a gente comentou?

— Lembro.

Então, vai acontecer, o inverno já chegou. — O seu sorriso de canto foi ouvido e, com isso, Taehyung conseguia prever a fala dele. — Você deveria vir, acho que já expressei o suficiente o meu desejo de passar o inverno inteiro com você.

— Eu não sei...

Sorriu de volta enquanto brincava com as folhas do seu caderno, folheando depressa sem se atentar a nada, quando, de repente, uma página marcada se abriu e Taehyung foi transportado para uma das primeiras aulas do semestre. Era como se conseguisse ouvir a voz de Jimin no telefone perguntando o que era o amor, se as suas comparações com as estrelas, universo e queda livre queriam dizer que amar é estar sempre perdido.

Imediatamente, pensou em contar para ele, perguntar se agora sabia responder à pergunta e quais metáforas usaria para tal. Lembrar da conversa logo trazia Jeongguk à sua mente, o momento em que soube o seu nome foi a mesma noite em que conheceu Hoseok. Tudo entre eles estava interligado e não sabia se era certo permanecer em um lugar com pessoas que só foram conhecidas a partir de Jimin e ele não estar presente.

— Não sei se é justo com o Jimin, eu só tinha ele e ele só tinha a mim até pouco tempo. — Virou a folha e começou a rabiscar qualquer coisa, deixando que as luas se transformassem em olhos e uma cruz entre elas desse início ao esboço de um rosto. — Do mesmo jeito que eu não quero me afastar caso... você sabe, eu não quero que ele se sinta excluído de alguma forma.

Conversa com ele, vê se tá tudo bem você vir, porque estamos tentando convencer Jeongguk a ir também. Bom... se ele pelo menos atendesse as nossas ligações já seria uma vitória.

— Eu vou falar com o Jimin, então. Acho que é quase como pedir permissão. — Riu, traçando os lábios entreabertos e o arco do cupido tão bem marcado. Até parecia um certo alguém.

Espero que esse seja um passo em direção a um encontro só nosso. Já reparou que nunca ficamos sozinhos?

Taehyung odiava ligações telefônicas, mas com Hoseok passou a apreciar a aleatoriedade de sua mente, mudando de assunto só para não ficarem em silêncio. Gostava do tom da voz, de como ela ía do grave ao suave em uma pergunta e do sopro que a risada fazia em ouvidos. Queria que aquele fosse um ponto de que não gostasse em Hoseok, mas não dava para negar que aquelas ligações repentinas entraram para a sua lista de coisas preferidas no mundo.

— Agora que você disse... — Mordeu os lábios em repreensão ao sorriso que queria transbordar dali, tudo o que Hoseok dizia levava aquela reação e ele se perguntava se parecia tão bobo assim. — E para onde você me levaria em um primeiro encontro?

— Em uma cafeteria? Você gosta de café, certo? Mas café me dá vontade de fumar e você não gosta quando eu fumo.

— Ah, claro, você e os seus cigarros... desdenhou, de brincadeira. Mas eu não me importo, ok? Eu só-

— Você não é um deles, sabia? — Hoseok o interrompeu.

— O quê?

Você não é um dos meus cigarros, não quero que a sua presença desapareça com tão pouco. Sei que falei que não sou tão 8 ou 80 como você, mas depois daquele dia, acho que talvez eu seja.

Suas conclusões baseavam-se unicamente na forma como encarava a vida. Achava que o cigarro era um ponto de conforto durante o colégio militar, mas as suas crises de pânico indicavam o quanto odiava aquele lugar. Nunca se conformou em estar ali, assim como não gostava da forma como o seu pai o tratava, afastou-se a ponto de ele não saber o que o filho fazia para pagar as contas.

Hoseok sempre foi de extremos e todo o contato com Taehyung o fez perceber que a sua insistência só podia significar uma coisa: a sua total redenção àquele que pedia por calma porque sabia das tempestades que podia causar, que cuidava dos outros antes de atender às próprias vontades.

Eu já entendi que não dá pra ter você sendo raso, só demorei a entender que eu também sou tempestade e que você já me tomou por inteiro. — Hoseok pareceu terminar e Taehyung encarava o vazio que o abajur não conseguia iluminar, o silêncio que nunca predominava durante as suas ligações, finalmente apareceu. — Enfim, só queria que você soubesse disso.

— Hoseok — Taehyung chamou, lentamente. — Você já tinha a pretensão de se declarar pelo telefone?

Nossa, eu acabei de me declarar? É, acho que sim. — Gargalhou, nervoso. — Mas eu não tinha nada planejado, só disse o que entalou na garganta durante esses últimos dias. Acho que a gente tem que fazer dar certo antes que dê errado, deu pra entender?

— Acho que sim. — Sorriu, carinhoso. O rosto de Hoseok ganhando forma em seu caderno, quase como se desejasse que ele estivesse ali; a frase "você não é um dos meus cigarros" escrita no canto inferior, com cada letra desenhada cuidadosamente. — E concordo com você, acho que a partir de agora, estamos mesmo perdendo tempo.

Porque se só as ligações cotidianas deixavam-no com o estômago congelado e o desenho de um maldito guarda-chuva com uma tempestade dentro de si evocavam memórias que ele não queria esquecer, mal podia esperar para descobrir as outras partes apaixonantes de Hoseok. Parou de pensar nos inúmeros começos que poderia ter tido, pois o prólogo já estava escrito, ele só não queria ler. 

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