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30. O coração partido de Jimin

— Jeon Jeongguk — o delegado Kim Seokjin pronunciou o nome pausadamente, o som das sílabas preenchendo a sua boca enquanto uma caneta rodava entre os seus dedos.

Não sabia se em breve o jovem estaria à sua frente, em uma sala de interrogatório, mas só de pensar na cena em questão, o mesmo filme passava em sua cabeça e ele já estava farto de tudo aquilo. Observaria a tatuagem de beta no pulso, o advogado Sunho apareceria, perguntas não seriam respondidas e o Flamingo ficaria preso por tráfico de drogas, quem sabe com uma pena menor por ser réu primário e logo uma outra pessoa ocuparia o seu lugar como traficante.

Outra cena que se repetia eram as reuniões em sua sala escura. A lâmpada no centro do teto estava sempre apagada, pois as luminárias em formato de bastão, pendendo no canto das paredes, davam um clima mais relaxante ao cômodo, ou, no mínimo, macabro. Mas nenhum dos presentes pareciam se incomodar com aquilo, o que era bom, indicava que possuíam algo a mais em comum além da honestidade.

— Tudo o que sabemos sobre o tal Flamingo é o nome, sobrenome e a filiação — Wheein comentava, passando dois dedos pelo mouse do seu notebook, ao que analisava a tela com as informações. — Verifiquei as listas públicas dos aprovados no vestibular de Artes Visuais da Universidade de Yonsei e, obviamente, o nome de Jeon Jeongguk não está em nenhuma delas.

— Ele não é aluno, só disse isso para tentar acobertar o motivo da sua presença no campus — Yeonjun, sentado de forma relaxada em uma das cadeiras próximas à mesa do delegado, disse sem muita emoção.

Já era tarde da noite e ele estava com sono, havia um copo de café vazio em sua mão e ele planejava sair dali em busca de mais. Não queria parecer preguiçoso em frente ao delegado, mas o seu corpo já não respondia aos lembretes do seu cérebro de sentar-se adequadamente.

— É, ele não é — Byul-yi disse, recostada na porta com os braços cruzados. — Mas por que aquele professor mentiu por ele?

Song Joong-ki, um dos policiais que estavam presentes na última patrulha no campus da Yonsei, também estava ali. Parcialmente sentado em um móvel velho distante dos demais, ouvia tudo atentamente e sem dificuldade, fez que todos escutassem a sua voz grossa.

— Pelo o que me lembro, a conversa com esse professor durou muito pouco e ele não afirmou que Jeongguk é aluno da universidade, mas, sim, dele. A resposta pode ter sido dúbia, mas no calor do momento... Acabei deixando passar. — Deu de ombros, cruzando os braços e fazendo uma nota mental de que deveria melhorar.

— Acontece — Yeonjun disse, não levando aquilo muito a sério porque a relação professor-aluno era óbvia. — Nas gravações que consegui fazer, os dois foram vistos juntos e os três estudantes que conversaram comigo, confirmaram o motivo do possível envolvimento.

— Jeongguk é um traficante interessado em arte — Byul-yi respondeu às dúvidas estampadas nas linhas da testa de Joong-ki, que riu em escárnio com tal informação.

— Só faltava essa agora... — ele comentou, mais para si mesmo do que para os outros.

— Mais alguma informação sobre o comportamento dele? Algo fora dos padrões? — Seokjin perguntou, elevando uma das sobrancelhas e calando o riso do policial.

— Achei o moleque meio chorão, principalmente depois que perguntei o nome da mãe.

— Todo mundo é o amor de alguém, não seria diferente só porque ele trafica por aí... — O delegado deixou que a caneta caísse na mesa, estalando no tampo de madeira bem polido, e imaginou a cena, o que se passava na cabeça do jovem. — Vai saber porque ele faz isso.

Joong-ki ficou em silêncio, as lâmpadas tão perto de si iluminavam a sua silhueta confusa. Mesmo com alguns anos de experiência na força policial, nunca chegou a analisar as situações de uma forma que não fosse superficial. O que era errado, era apenas errado e deveria ser julgado, mas as entrelinhas nunca antes foram lidas. A fala de Seokjin acendeu o lado obscuro da sua cabeça e aquilo o incomodava de um jeito bom.

— Enfim... — Wheein cortou o silêncio, pois de repente todos pareceram estar reflexivos. — Há várias interpretações sobre cada mínimo ato dessa noite em questão, mas não quero focar em algo que, claramente, não nos levará a lugar algum. — Bufou, frustrada, tentando fugir do olhar de águia de Seokjin.

Mas ele sabia que estavam afundados naquela história até a cabeça e não fechar qualquer ciclo que fosse era tão agoniante quanto não conseguir respirar. Seria uma pena se a sensação fosse exatamente essa e se a sua respiração estivesse mais curta a cada minuto que se passava.

— Sim, não vejo qualquer tipo de resultado positivo nessa abordagem. — O delegado afrouxou o nó da gravata e abriu o primeiro botão da camisa azul marinho e Joong-ki engoliu em seco. No fundo, sentia-se culpado de alguma forma, mesmo que não tivesse controle sobre a situação. — Não temos nenhum tipo de prova concreta contra Jeon Jeongguk. Ele não portava entorpecentes, a ficha ainda está limpa. Nada.

— E o perdemos de vista, a abordagem só serviu para espantá-lo do campus. — Byul-yi coçou a nuca, preocupada. — Teremos de ir atrás de outro traficante a fim de encontrar o mandante de tudo, já que todos os outros não nos dizem nada.

— Não. — Seokjin encarava o nada, os pensamentos encontravam-se naquele velho assunto inacabado e não havia mais escapatórias. O seu fim precisava chegar e logo. — Primeiro, temos que concluir os problemas internos da nossa corporação. Por mais que sejamos cuidadosos, parece que nada está sendo o suficiente.

— Alguém o avisou — Yeonjun sussurrou, levantando-se para jogar o copo de café no lixo. Procurou pelo olhar de Byul-yi em busca de aprovação e ela apenas concordou lentamente com a cabeça. — Mas quem? — Até pensou no tal namorado citado em sua primeira conversa com os outros estudantes, mas o que ouviu a seguir fez mais sentido.

— Lee Hyun — Wheein disse, fechando o notebook e revirando os olhos. Só o ato de dizer aquele nome lhe dava ânsia de vômito. — Preciso que vocês me ajudem a descobrir alguma pista que concretize as nossas suspeitas, tudo o que temos ainda é muito vago.

— Podemos ter acesso à rota de patrulha que ele faz? — Yeonjun perguntou, com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans, tentando movimentar o corpo para, quem sabe, a mente acordar também.

— Posso providenciar isso. — Seokjin voltou a pegar a caneta e apertar o botão para aliviar o estresse. Apreciando o sorriso nos olhos de lua de Byul-yi, que brilharam com a fala do parceiro, perguntou. — O que pretendem?

— Checar se ele executa a rota como diz que faz — a morena respondeu, voltando a cruzar os braços e agradecer mentalmente pela iluminação precária da sala, odiava ser o centro das atenções.

Joong-ki concordou com a cabeça, apontando o indicador para Byul-yi: — Eu sei que ele está atuando ativamente em uma das rotas mais movimentadas e não fez qualquer flagrante de tráfico de drogas nos últimos meses.

— O ato explícito de corrupção deve estar entre as patrulhas. — Byul-yi jogou a cabeça para o lado, segurando um sorriso malicioso. Já imaginava o que estava por vir e seria uma pena se as suas expectativas fossem frustradas.

— Adoro uma perseguiçãozinha — Yeonjun completou, de repente animado com os próximos passos.

Joong-ki sorriu com a excitação de Yeonjun e Byul-yi revirou os olhos em vergonha alheia. Ela ainda não estava acostumada em estar frequentemente na mesma sala que o delegado, mas Yeonjun parecia tão à vontade que deixava escapar os traços tão bobos da sua personalidade.

Os três saíram da sala após combinarem os últimos detalhes e se despedirem, prontos para voltarem aos seus postos. Os olhos do pequeno grupo que estavam atentos demais nos colegas de trabalho, deixaram de perceber que Wheein permaneceu na sala. Ou ao menos, fingiram que aquilo não tinha importância

— Ei, escuta — Seokjin a chamou enquanto ela arrumava as suas coisas na bolsa. — Preciso agradecer pelo seu empenho em encontrar pessoas com quem podemos contar. Estava apenas confiando e dividindo tudo com você, e sei que esse é um peso muito pesado de carregar sozinha. E, além do mais, não quero que se sinta sobrecarregada com toda essa história.

— Tudo bem, mas agradeço pelo reconhecimento. — Sorriu docemente. — Não pelo fato de eu ter descoberto pessoas incríveis dentro da nossa corporação, mas por você conseguir ver agora que sozinho ninguém vai muito longe. Precisamos de apoio.

— Sim, eu entendo. — Esticou a mão sobre a mesa para encontrar a de Wheein e conseguiu acariciar o dorso pálido com o seu polegar áspero. — Foi um surto meu achar que poderia fazer o trabalho de todos, enfim... — Riu de si mesmo e apoiou a mão livre no queixo. — Me sinto até mais leve agora, sem peso nas costas... E sabe o que mais?

— Hmm? — murmurou, com os olhos brilhantes, a aura engraçada e cativante de Seokjin voltando a fazer seus encantos.

— Estou até com fome! — confessou, fazendo gargalhadas ecoarem pela sala escura, mas tudo estava mais claro do que nunca.

Uma sensação boa invadiu o seu peito e até parecia um presságio de que coisas boas estavam para acontecer. E tudo aquilo era devido a presença das pessoas que acabaram de sair da sua sala, sentiu neles parte do empenho que havia dentro de si para dar fim aquele esquema de corrupção policial.

Era bom ter esperanças de novo sobre algo que tanto acreditava e fazia parte intrinsecamente da sua vida. Tanto que aliviou a mente e trouxe a fome de volta.

— Tteokbokki da barraquinha do sr. Lee? — Wheein perguntou, e não se espantou quando ouviu a resposta e um sorriso raro pintar o rosto do delegado.

(...)

Jimin ainda se lembrava de acordar com o colchão ao lado vazio, não precisando abrir os olhos para perceber a presença célebre de Jeongguk apenas há alguns passos de distância. Conseguia sentir o cheiro no ambiente, o calor característico do apartamento e o som de quem estava no banheiro escovando os dentes. Lembrava-se de como cada passo dado ao seu encontro foi contado, atentando-se à facilidade de tocá-lo, de mergulhar na fragrância dele e de respirar fundo com o nariz grudado na pele alheia apenas para se fazer lembrar.

Fez questão de gravar cada sensação para reencontrá-lo em suas lembranças, como olhar para o universo que habitava os olhos de Jeongguk no que parecia uma eternidade e enxergar o amor que escapava de si mesmo e que, felizmente, era percebido nos seus pequenos trejeitos.

E foi com o som da torneira ligada, o cheiro de menta preenchendo as suas narinas e o rosto molhado de olhos inchados refletido no espelho, que as ideias sobre o amor que tinha tão fixas na cabeça expandiram-se, ganhando uma profundidade que ele não achou que perceberia com tamanha facilidade.

Que o amor era para ser do jeito que já sentia. Leve, sereno, calmo, intenso e desesperado, tudo em uma harmonia que arrepiava a pele e fechava os olhos. E que, no fim, era o mundo que o deixava pesado, mas não era desse jeito que se lembraria de Jeongguk.

Lembraria-se somente daquele beijo lento que se sucedeu dentro do banheiro, do corpo de Jeongguk apoiado na pia e inclinado para alcançar os seus lábios. O bom dia entalado na garganta, nenhuma palavra era merecedora de estragar aquela manhã frágil, suscetível às terríveis lembranças. A boca, então, ocupava-se em gravar na ponta da língua o gosto da pele macia e os gemidos tímidos que se instalavam no pé do ouvido.

E era quando Jimin o beijava daquele jeito que ele tinha a plena certeza de que o seu coração estava nas mãos certas. Porque Jeongguk era filho de Eros, que com as suas grandes asas brilhantes germinou o Caos, trazendo ele ao mundo, uma mistura de luz e escuridão plantada nos olhos de quem sabia que poderia destruí-lo se quisesse, mas preferia cuidar de si com a mão terna na nuca, puxando-o para mais perto pela raíz do cabelo enquanto o mordia o lábio inferior com força, numa tola tentativa de anuviar a dor de saber que nada daquilo adiantaria. Jimin escaparia entre os seus dedos.

Mas não era assim que Jeongguk queria se lembrar dele. Um alguém que passou por sua vida e deixou alguns rastros em seu apartamento, que o ensinou algumas lições, mudou a forma como enxergava o mundo e se foi. Queria que Jimin ficasse, que olhasse para o seu passado e encarasse o presente com a presença constante daquele que nunca pensou em partir, que Jeongguk não teve coragem de abandonar.

Seus passos firmes em direção ao colchão emanavam o medo de sentir sede daquele beijo, do quão sacanas os caminhos que os levaram a ficarem juntos poderiam ser. Por que se apaixonaram se tudo teria de ser tão breve?

Por que aquela certeza, que pairava em sua mente enquanto assistia a Jeongguk pousar a cabeça no travesseiro, com os olhos tão perdidos no seus, parecia tão lancinante? A certeza de que havia conhecido mais pessoas do que conseguia contar, de que encarou dezenas de olhos vazios que nunca lhe disseram nada, e que nenhum deles pareceu confortável o suficiente para tornar-se casa para o seu coração.

Nenhum deles o fez sentir-se como Jeongguk fazia.

E mesmo que não acreditasse em destino, Jimin faria questão de decorar cada passo dado e montar o mapa que o fez estar ali, tão perdido na boca do outro, preso entre as pernas que apenas o queriam mais perto, que o sentir as unhas curtas arranhando a sua pele como quem implora para que não vá embora.

E por mais que quisessem adiar o terrível momento, esquecendo-se que havia um mundo lá fora e criando utopias instantâneas para que o adeus não fosse dito, nada conseguiu evitar que a porta se abrisse e o corpo de Jimin presente naquele apartamento fosse somente uma lembrança.

O moreno até tentou levar Jeongguk consigo, dizendo que estava com fome só para que fossem em uma lanchonete qualquer e ele pedisse o maior hambúrguer que conseguisse comer, mesmo que cada mordida fosse dada sem que se sentisse o sabor, ou que escutasse qualquer coisa que não fosse a respiração sempre pesada de Jeongguk ao seu lado.

Dentro da caminhonete, em uma rua próxima à sua casa, Jimin não soube dizer quando as suas mãos ficaram vazias e a sua comida se foi. O tempo sempre passou muito rápido enquanto estavam juntos, mas aquele dia parecia um curta-metragem.

— Tá pronto pra ir? — Escutou a voz quebrada de Jeongguk atingir os seus ouvidos, mas não conseguiu olhar para ele.

— Não, eu tenho que terminar de comer — respondeu, apoiando a cabeça no ombro de Jeongguk, respirando fundo enquanto tentava conter as lágrimas, observando as últimas batatas que já estavam frias, pequenas e secas.

Mesmo que o momento já fosse passado, Jimin conseguia se lembrar nitidamente da sensação de impotência que lhe tomou todo o corpo, mente e coração.

O corpo, por mais que fosse forte, não conseguia evitar que o lado sombrio de Jeongguk brilhasse mais do que a sua luz própria. Jimin não era invencível.

A sua mente, por mais inteligente que fosse, não conseguia criar planos para que aquilo não precisasse acontecer. Tudo fazia parte de uma falha incorrigível.

E o seu coração, despreparado para aguentar toda aquela dor, segurou as lágrimas e manteve um "eu te amo" entalado na garganta enquanto a caminhonete se perdia no horizonte de ruas planas.

O peso daquelas palavras não ditas ainda amargavam a sua língua e, mesmo que já tivessem se passado alguns dias, Jimin acordava com o mesmo vazio no peito e as lágrimas ameaçando manchar os seus olhos de olheiras profundas. Olhou para a janela de cortinas intactas e supôs que ainda era madrugada, nem poderia dizer que aquela era a pior hora porque não sentira qualquer tipo de alívio desde que viu Jeongguk pela última vez.

Não achou que fosse assim, pois, enquanto lia, as dores de amor descritas em desespero eram as que mais o tocavam. Era explícito no choro sem trégua, nas cartas de amor escritas sem nunca serem lidas e nas tentativas de recuperar o amor perdido que beiravam a loucura. No entanto, aquela velha descrição de uma mansidão de quem parece estar de cabeça vazia, mas com um único pensamento predominante, nunca pareceu tão assustadora quanto naquele momento, porque essa era a forma como estava reagindo.

Ficou deitado na mesma posição até que os fracos raios solares intrometeram-se no quarto, fazendo brilhar as bordas das cortinas. Mas os olhos vidrados na janela sequer perceberam a mudança das luzes, remoendo o que parecia esmagá-lo, segundo a segundo. Só deixou de pensar em Jeongguk quando o celular soou o alarme, indicando que, independente do que sentia, a vida continuava e aquilo era uma lástima para corações partidos.

Levantou-se e arrastou os pés pelo chão aquecido, retirando a camiseta que cobria o seu torso e observando o reflexo no espelho no banheiro que mostrava uma pele sem as marcas das canetas de Jeongguk. Estava cansado de encontrar o vazio da presença dele em todo canto.

Enfiou-se debaixo do chuveiro para tentar lavar a tristeza do corpo, mas quanto mais se inebriava nas próprias fragrâncias, mais queria que a dele o sufocasse. Por isso, vestiu-se com um dos moletons de Jeongguk que ainda enfeitavam as suas gavetas, pedindo mentalmente para que aquele cheiro nunca se perdesse no ar.

Comer já não era tão prazeroso, assim como nada estava sendo. Alimentava-se para não levantar preocupações em seus pais e para que o seu corpo estivesse saudável quando Jeongguk pudesse voltar para os seus braços.

Suspirou contidamente, uma lágrima ameaçando fazer uma linha em seu rosto impassível. A esperança surgia e logo dava lugar à dúvida, a qual era facilmente plantada quando Jeongguk não estava por perto e era aquele tipo de pensamento que parecia querer rasgar-lhe o peito.

E se ele não voltar?

Engoliu o nó na garganta e deixou o café da manhã inacabado na mesa da cozinha. Não conseguia imaginar uma vida em que aqueles dias se tornassem rotina, não quando seus corações batiam na mesma frequência e precisavam estar tão longe um do outro. Jimin queria amar e isso não lhe era permitido.

Andou até o ponto de ônibus, seguiu caminho até a Yonsei de forma automática e em vez de se lembrar de Jeongguk enquanto andava pela passarela, tudo o que Jimin via eram os sinais da sua ausência. Porque se era inverno e as flores não estavam ali, ele também não estaria. E se estava tão frio era devido a falta que ele fazia, afinal, em sua companhia, apenas viveu o calor do verão e a amenidade do outono.

O pior de tudo era saber que ele não deixou de frequentar o campus da Yonsei por sua causa, mas, sim, devido à frequência da força policial em um lugar que anteriormente era esquecido e Jimin tinha medo disso. Algo maior estava acontecendo e ele só queria saber o que era para conseguir proteger Jeongguk. Mas isso estava fora do seu alcance, suas mãos estavam atadas.

A única coisa que sabia era que deveria esperar e aquilo o fazia perceber a passagem do tempo da maneira mais dolorosa. As palestras do fim de semestre eram ouvidas com cada uma das palavras sendo engolidas, cada sílaba dita parecia uma eternidade dentro de cada frase e Jimin ficou enjoado. No entanto, era melhor assim. Não conseguia ignorar o mundo exterior porque isso significava olhar para dentro de si mesmo e nada seria mais cruel naquele instante.

Depois de algum tempo mergulhado naquela mesmice, sentiu a presença de Taehyung de repente ao seu lado, chegando atrasado pelas portas dos fundos, sentando-se junto a ele nas últimas carteiras do auditório. Quando se jogou de qualquer jeito no estofado, o seu perfume doce, tão característico, foi como uma névoa inebriante transmitindo uma paz atormentadora. Sentia o olhar dele pesado sobre si, mas não conseguiria encará-lo sem desabar.

Porque o dia podia ser vivido sem que Jimin se atentasse aos próprios sentimentos, reprimindo-os na tola esperança de fazer passar, mas não com Taehyung ali. O único entendedor digno do que sentia, o único colo onde poderia chorar.

E, durante aquele breve momento, nada disseram um para o outro. A voz do palestrante ecoava por todo o auditório graças às caixas de som e todos os presentes pareciam estar no clima preguiçoso de inverno. Nem mesmo perguntas foram feitas e Jimin lamentou-se mentalmente, pois assim que o intervalo foi dado, ouviu a voz de Taehyung:

— E aí, você tá bem?

O tom de preocupação era notável e à medida que os longos segundos se passavam, a tensão na garganta tornou-se excruciante. A dor aguda não o deixava engolir a própria saliva e os lábios foram mordidos em busca de alívio. Era o choro que ele segurara durante o dia inteiro, só uma simples pergunta foi capaz de destruir tudo o que ele se esforçara para manter e, assim, respondeu apenas com um aceno negativo de cabeça.

Taehyung tentou acolher o corpo de Jimin, envolvendo-o em um abraço lateral, mas o moreno esquivou-se, incapaz de receber qualquer ato de compaixão sem desmoronar.

— Por favor, não faça isso aqui — conseguiu dizer em um fio de voz, observando os palestrantes cumprimentarem alguns estudantes com um sorriso simpático no rosto. — Eu não vou aguentar.

— Tudo bem, a gente marca uma sessão de abraços na sua casa, pode ser? — Taehyung mantinha os olhos cuidadosos sobre Jimin e a mão estendida no apoio da cadeira, que logo foi preenchida pela palma fria do moreno.

— Como você consegue? — Apertou as pálpebras e o olhou pela primeira vez, a confusão banhando os olhos tão bonitos de Taehyung.

— O quê?

Encarava a preciosidade que era a existência dele e deixou que uma lágrima rolasse pelo seu rosto. Perguntava-se como ele ainda mantinha o coração pronto para amar novamente, mesmo tendo partido-o inúmeras outras vezes. Como ele conseguiu esquecer aquela dor e se aventurar em busca de novos amores?

— Ser invencível.

— Não seja bobo. — Apertou as palmas entrelaçadas e deitou a cabeça no ombro de Jimin. — Não sou invencível. Eu só nunca fugi dos meus sentimentos.

— Mas eu não estou fugindo...

— Você já morreu de chorar? — interrompeu-o, buscando o olhar do moreno, que até franziu as sobrancelhas por um instante, mas logo entendeu sobre o que Taehyung falava e não dava para negar.

Sua tentativa de fingir que nada estava acontecendo era obviamente falha, a falta que Jeongguk fazia era notável na dificuldade em respirar, mas encarar os recentes acontecimentos, com todas as palavras lidas e compreendidas, também não estava dando certo. Jimin se recusava a ler o próprio livro e Taehyung sabia sem que ele precisasse lhe contar.

— Não... — sussurrou o mais baixo que pôde, confessando mais para si mesmo do que para Taehyung. — Eu não sei exatamente o que sentir, estou triste, é óbvio, mas isso não é tudo. Enquanto eu estava lá com ele, no apartamento dele, eu acreditava em um futuro, fiquei repetindo até o momento da despedida que não era o fim e ele até repetiu comigo uma vez, mas eu acho que foi só para tentar acreditar que esse desejo se tornará real.

— E agora? No que você acredita? — Pegou as mãos de Jimin e as encaixou nas suas, tentando esquentar a pele que sentia a falta do calor de uma única pessoa.

— Eu não sei, não consigo ter certeza de nada enquanto ele está longe de mim e é isso que está me matando por dentro.

Ouviu o suspiro pesado de Taehyung, as palavras vagando pela sua cabeça, mas sem conseguir dizê-las. Não sabia o que era se afastar de alguém por necessidade, mesmo o afeto sendo recíproco e talvez aquela fosse a pior forma de sofrer por amor. No fim, nenhuma resposta seria satisfatória, apenas o tempo poderia curar a ferida aberta, trazendo Jeongguk de volta.

— Eu vim com o carro da minha mãe, quer uma carona pra casa? — Taehyung ofereceu, tentando trazer algum conforto ao amigo, pois ele sabia que aquela sensação fazia-no desejar nunca sair da cama. No entanto, Jimin estava ali, encarando os seus dias e o peso das suas responsabilidades logo no seu primeiro coração partido.

Vai ver Jimin era invencível.

— Quero. — Deixou que um sorriso melancólico estampasse o seu rosto e recostou a cabeça no ombro de Taehyung, assistindo de mãos dadas ao restante da palestra que reiniciava.

Após assinarem a lista de presença e esperarem educadamente por alguns minutos, saíram do auditório em silêncio. Pelos corredores, Taehyung enlaçou os ombros de Jimin e fez questão de mantê-lo por perto, em um abraço forte o suficiente para fazer o moreno sentir que os seus caquinhos estavam seguros.

Mas dentro do carro a coisa não foi a mesma. Tudo no momento era diferente, desde o cheiro de baunilha que exalava do pingente pendurado no retrovisor interno, até os bancos de couro e o cinto bem apertado envolvendo o seu corpo. No entanto, Jimin sentia que podia olhar para o lado e enxergar Jeongguk ao passar pelo mesmo caminho que por tantas vezes fizeram juntos.

A decepção que sentiu ao ver apenas Taehyung dirigindo cuidadosamente pelas ruas de Seul foi estranha porque não era racional. Óbvio que Jeongguk não estaria ali, mas as suas memórias eram mais vívidas do que a própria realidade.

Respirou fundo, tentando conter o aperto no peito e fechou os olhos, enrolando os dedos com força na alça de sua bolsa, incapaz de aguentar tudo aquilo por mais tempo, mas sem conseguir descarregar o que realmente sentia. Jimin segurava um vendaval dentro de si e nem sabia.

O carro parou, mas o silêncio da viagem perdurou segundos suficientes até que Jimin abrisse os olhos e visse a sua casa emoldurada pelo vidro fumê. Taehyung não tinha pressa, mas não podia ficar e Jimin nem queria.

Piscou lentamente e olhou para o amigo com a mesma frustração de minutos atrás. Era a mesma visão que sempre tivera da própria casa ao estacionar com a caminhonete, mas os vidros eram escuros, o perfume que conhecia havia desaparecido e os bancos gastos não cediam com o peso do seu corpo. Por que Jeongguk não estava ali?

— Eu preciso levar o carro pra minha mãe, mas eu posso voltar, se você quiser... — ofereceu, mesmo já sabendo da resposta estampada nos olhos em torpor.

— Não preciso de tanto — disse, desafivelando o cinto e virando-se para Taehyung. — Eu vou ficar bem, algum dia... Sei lá.

— Eu sinto muito, Jimin. — Também livre do cinto, Taehyung o abraçou como se pudesse sugar toda a dor que ele sentia, tão forte os seus dedos apertavam as costas alheias.

— Eu também. — Suspirou quebrado, as lágrimas acumulando no canto dos olhos e o nó na garganta já nem era sentido, tamanha a familiaridade com a angústia. — Eu também sinto muito.

Puxou o ar com força para dentro dos pulmões e quando expirou, não conseguiu evitar o choro, a respiração sôfrega entregando a dor de um amor que não podia ser vivido. O peito sacudido pelos soluços era amparado pelo abraço e Jimin não tinha vergonha, sabia que estava descarregando nos braços certos.

— Eu não sei se vou aguentar. — Empurrou Taehyung levemente e passou as mãos pelo rosto, tentando se recompor mesmo sabendo que não era necessário.

— Você vai, sim. Por você e por ele, Jimin-ah.

Taehyung mordeu os lábios trêmulos ao ver o melhor amigo tão frágil, a cabeça recostada no banco e os olhos fechados enquanto deixava que as lágrimas rolassem sem trégua. Acariciou-lhe o rosto antes de colocar uma mecha do cabelo escuro atrás da orelha, secando a pele salgada com os seus dedos longos.

— Essa é a maior prova de amor que você poderia receber, mesmo que seja algo que te deixe tão mal — Taehyung continuou. — Jeongguk poderia ter sido egoísta e mantido você por perto, mas nada disso é apenas sobre ele.

— Eu sei de tudo isso, entendo todos os motivos dele. Não havia como continuar depois de tudo o que eu fiz, de tudo o que aconteceu, mas isso não faz parar de doer.

Colocou a mão sobre o coração por instinto, logo se lembrando da vez que fez o mesmo ao beijar Jeongguk, assustado com a intensidade do que já sentia. E talvez fosse aquilo, o medo sempre presente em suas reações porque a sua intensidade, ainda desconhecida, segurava-o na ponta do precipício sem saber que Jimin já havia mergulhado de corpo inteiro.

As mãos sobre o peito naquela tarde não o ajudaram em nada, Jimin já havia transbordado e não sabia. E agora, a dor física que emanava dali era sentida na ponta dos seus dedos, Jimin sofria por amor e os pensamentos iam longe para encontrar a cura. Planos incapazes de serem colocados em prática. Uma história que poderia ser sua e de Jeongguk, mas dependia de viagens no tempo. Ideias mirabolantes de um universo fictício com todas as explicações que tanto precisava.

Por que tinha que ser desse jeito?

Jogou o cabelo para trás, olhou para o para-brisa e, como se refletisse profundamente sobre tudo, deixou que as palavras escapassem da sua boca sem muito pensar.

— Você acredita em almas gêmeas?

Taehyung foi pego de surpresa com a mudança repentina de assunto e pela demora ao responder, atraiu os olhos de Jimin de volta para si.

— Não... Eu acredito que algumas pessoas marcam mais do que outras. Também não gosto da ideia de não poder escolher com quem eu quero ficar — respondeu, franzindo o cenho antes de perguntar de volta. — Por quê?

— Porque se isso fosse real, seria muita sacanagem a vida insistir em colocar obstáculos como esses... — Cruzou os braços, um pouco inconformado com a possibilidade de aquilo fosse real.

— Deveria ser mais fácil, não é? — Taehyung deu de ombros. — Então acho que fica combinado que almas gêmeas não existem e, por isso, o amor de vocês dois se torna ainda mais bonito, sabe por quê?

— Por quê?

— Não importa o que aconteça, vocês vão escolher um ao outro todos os dias.

— Você tem um jeito estranho de me consolar — Jimin disse, em uma bagunça de sorrisos e lágrimas. — Me fazendo chorar ainda mais.

Taehyung riu e Jimin chorou de novo, mas dessa vez, com um pouco de felicidade invadindo o seu peito. Pois era o som da gargalhada, o sorriso quadrado e uma memória boa de Jeongguk em seus pensamentos. Daquele jeito não parecia tão ruim.

— Acho que ele ia gostar de ver você pensando assim — Taehyung disse depois do riso cessado. — Afinal, não é o fim, certo?

— Não, não é — Jimin respondeu, convicto, com a certeza de que aquela saudade poderia corroê-lo por dentro, mas que no epílogo da sua história, ele estaria ao seu lado. Precisava acreditar em algo. — Enfim... — Enxugou o restante das lágrimas e com mais um abraço demorado, despediu-se do seu melhor amigo.

— Se quiser que eu volte, é só falar — disse, com o motor do carro ligado, olhando-o através do vidro abaixado.

— Eu sei — respondeu, com um sorriso cúmplice nos lábios, as lágrimas insistindo em aparecer novamente, mas não só por Jeongguk.

Jimin realmente sentia muito.

E parado na calçada, assistiu ao automóvel se perder no mesmo caminho que havia levado o tatuado para longe, sabendo que Taehyung voltaria, mas Jeongguk ainda não. E assim, permitiu-se chorar como nunca antes, as pernas ameaçando fraquejar, o coração ficando mais forte, o nó no peito ainda existente, mas um tanto menos apertado.

Pois depois de tanto se esquivar de sentir aquilo que inspirou inúmeros autores ao longo do tempo, Jimin foi um grande sortudo ao saber que derramava cada lágrima por quem as merecia. 

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