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26. Casamento de viúva

Jeongguk estava se sentindo um pedaço de merda.

Deitado em seu colchão velho, encarava o teto mofado de seu apartamento e se sentia dentro de uma catedral gótica. Não pela magnitude das paredes que tentavam alcançar os céus, muito menos pelos vitrais que perturbavam sua mente em todo aquele caleidoscópio de cores e não havia gárgulas na decoração exterior de seu prédio para protegê-lo. Até porque nas catedrais tais monstros eram apenas disfarces para a encanação.

Se sentia em uma dessas construções justamente pela sensação que elas evocavam a quem adentrasse-as, fazendo jus ao motivo de serem feitas dessa forma, tão grandes: Os fiéis precisavam se sentir pequenos perante à magnitude dos feitos de Deus, ao universo criado por Ele.

Mas para Jeongguk, não existia um ser divino que o provocasse tais sentimentos, mas sim um humano. A falta do sobrenatural no corpo de Baekhyun era a pior parte, não dava para fingir que ele não existia.

Talvez fosse melhor cravar os olhos no chão e se esquecer dos vitrais, naves e pilares que sustentavam toda a altura do teto. O inferno parecia mais iminente que o céu.

Ao menos era isso que os últimos dias o fizeram acreditar, apesar de tentar muito olhar para as manchas em sua parede a fim de encontrar uma forma a ser contornada, quem sabe elas se transformassem em algo bonito, tão escondido e imperceptível aos olhos desatentos. Mas sua visão não conseguia ir além, para ele o mofo ainda era e sempre seria feio e disforme.

Acostumado com aquela velha sensação de parecer estar sufocado dentro de si mesmo, Jeongguk tentava se agarrar a algo que o fizesse bem e por isso estava com os olhos fixos em seu caderno, os cotovelos apoiados nos lençóis limpos e as pernas balançando no ar. As canetas estavam bagunçadas na cama e Nanquim tentava pegá-las, mas a falta do polegar opositor em felinos fazia da cena um tanto agradável e distrativa para o artista, que apenas tentava terminar o desenho do seu namorado.

— Eu podia te desenhar. — Iniciou uma conversa com o gato, balançando uma das canetas de ponta pincel, tentando ativar o resto de tinta que ali havia. — Mas minha canetas estão secando e você sabe, preciso finalizar o cabelo do Jimin-hyung, que é preto igual o seu pelo. Você se lembra dele?

Ficou olhando para Nanquim à espera de alguma reação, mas as canetas pareciam realmente divertidas e nem as orelhas foram direcionadas a si. Deu de ombros e voltou a pintar os fios com toda a paciência do mundo para que nada ficasse manchado, mas a frustração crescia à medida que a tinta insistia em ficar mais fraca a cada nova passada no papel e o tom do cabelo se diferenciando do restante que já havia feito semanas atrás.

Olhou do desenho falhado para a caneta praticamente seca e, num ímpeto desesperado, a esfregou com força no papel que mesmo com a gramatura maior se rasgou, machucando a página seguinte. Parou de repente e encarou o que havia feito, a garganta afogada numa frustração repentina. Tão rápido se levantou e a caneta já estava no lixo, o caderno fechado para que não precisasse conviver com mais uma de suas falhas. O fôlego se perdeu, a respiração acelerou.

"Mais uma?", pensou consigo mesmo e fitou a cama bagunçada, seus pés descalços em contato com o piso frio o incomodava, mas não ao ponto de tentar resolver o problema. A lembrança do fim desastroso de uma noite que já estava distante e o rosto dos invasores inoportunos ainda batiam em sua porta. Assim como as mentiras contadas ao criador de sua catedral, avisos dados por ele para que se mantivesse seguro, mas que só lhe provocavam ainda mais medo.

Via o desenho se juntando ao amontoado de falhas que colecionava devido à cor de seu cabelo e não conseguia pensar diferente, afinal, só não comprou outra caneta porque aquilo era um luxo que não estava em condições de se dar. Já era fim de mês e ele ainda não havia mandado dinheiro para a sua mãe, será que ela notou?

E era assim que o ínfimo pedaço que ainda sobrava de si era encharcado com o rosa cereja. No fim, nada ia de acordo com os seus planos.

E só aquilo fora o suficiente para aumentar a sensação de catedral que já o perturbava, não queria mais estar ali. Colocou a blusa de flanela escura sobre a camiseta cinza que já vestia, a barra alcançando os bolsos da calça cáqui, tudo em um número maior do que de fato cabia em si. Já era fim da manhã e o sol que deveria pender sobre a sua cabeça já não era tão forte naquela estação do ano, no entanto, o bucket hat compunha o visual apenas para cobrir os seus fios de cabelo.

Iria se encontrar com Sr. Choi e não levava nada além do celular e da carteira vazia. Se não tinha dinheiro para comprar a porcaria de uma caneta com ponta pincel, quanto mais teria para uma aquarela e seus respectivos pincéis. Afinal, não se come tinta e papel, a culpa e a falta de esperança também começavam a impedi-lo de comprar os materiais que tanto apreciava.

E assim que passou pelo portão de seu prédio, não se surpreendeu ao ver Hyunah do outro lado da rua, mas dessa vez era ela mesmo. Seu cabelo descolorido estava naturalmente liso, escorrido em seus ombros, vestia um conjunto de moletom preto e possuía sacolas de supermercado em mãos. As olheiras estavam expostas, não usava maquiagem e os lábios sumiram sem qualquer contraste com a pele pálida.

— Não aguento mais te ver somente em momentos como esse. — Jeongguk disse assim que seus olhares se cruzaram e marchou rumo à calçada oposta.

Hyunah suspirou pesado e deu de ombros, não era só a postura que parecia cansada, a voz também: — É, eu sei.... Sinto falta de retocar o seu cabelo.

— E eu do frango que você sempre levava. — Riram genuinamente por alguns poucos segundos, os olhos brilhando com a boa lembrança do cheiro de descolorante no ar. Mas logo voltaram o olhar para o chão antes de se encararem novamente. — Tá trabalhando muito?

Trabalhando... — Hyunah voltou a sorrir, mas sem mostrar os dentes e o sorriso nem chegava perto dos olhos. — Quanto mais eu "trabalho", menos digna, realizada e gratificada me sinto.

— Desculpe... Falei besteira. — Coçou a nuca sem jeito e franziu os olhos, fechando-os em pura frustração. Mesmo sabendo de toda a problemática sobre o que Hyunah fazia para sobreviver, "trabalho" parecia ser a melhor palavra para ser usada, apesar de realmente não ser um. — Enfim, você tá bem?

— Tô um lixo e você?

— Um pedaço de merda.

Assentiram um para o outro, sem saberem exatamente o que dizer, mas Jeongguk ainda tinha tempo e Hyunah não tinha nada congelado em suas sacolas. Queriam compartilhar da presença alheia por mais um minuto que fosse.

— E Jimin? — A loira tentou iniciar algum outro assunto, mas tudo sempre insistia em voltar para a situação da qual viviam. O elefante na sala não desaparece tão facilmente. — Me sinto péssima de ainda não ter conhecido o namorado do meu melhor amigo.

— Não liga pra isso, pequena. — Jeongguk disse num tom manso, cruzando os braços e suspirando alto. — Nós estamos bem, mas eu tenho medo.

— Medo de quê? — Decidiu colocar as compras no chão e se apoiou na parede desgastada, colocando as mãos dentro dos bolsos de moletom.

— Sei lá, eu... — Olhou para o chão, tentando reorganizar os pensamentos para só então conseguir verbalizá-los. — Eu sou um traficante e eu sou um dos piores. As merdas acontecem, me sinto péssimo e me tranco dentro de mim mesmo pra tudo não ficar pior, mas nessa acabo vendendo menos.

— E a dívida? — Perguntou porque já fazia bastante tempo que não tocavam naquele assunto. Para ela, a ideia de quitar o valor das drogas furtadas era uma esperança no fim do túnel, mas Jeongguk não via mais assim.

Ele riu soprado e negou com a cabeça, se espreguiçando ao colocar as mãos na nuca: — Eu não consigo me ver livre num cenário em que todos fiquem felizes. O chefe com o dinheiro dele, eu saindo numa paz para ser tatuador e Jimin sempre me tendo por perto.

— Jeongguk... — Hyunah o chamou em forma de aviso. A garganta se amarrou de repente e ela só não queria temer por algo ruim.

— Noona... — Mordeu os lábios e balançou a cabeça para os lados. — Vender hoje ou amanhã não me deixa mais livre, na verdade, a cada vez que entrego o dinheiro nas mãos dele, me sinto cada vez mais preso. Preciso concordar com coisas que não quero, como por exemplo, ver a polícia e me sentir seguro. Não é seguro para os outros que eu esteja resguardado.

— A culpa não é sua e disso você já sabe. Ggukie, você mal oferece, hoje você só vende porque já é conhecido. — Jogou a cabeça para o lado e suspirou antes de continuar. — Nunca se esqueça de que são eles que vão atrás de você querendo entupir as narinas de cocaína e se você não estivesse lá, outra pessoa estaria. O posto do seu chefe sempre terá um substituto, assim como o seu e o meu. Sexo e drogas são insubstituíveis, não quem as oferece.

— É, eu sei. — Jeongguk bufou e passou as mãos pelo rosto, o que ouviu já era conhecido e em muitas vezes serviu de consolo, só não entendia por que não estava mais funcionando agora. Só queria que tudo aquilo acabasse.

— O que vai fazer hoje? — Hyunah tentou mais uma vez mudar de assunto e o tatuado se esforçou muito para responder sem se sentir culpado, mas sem qualquer sucesso.

— Eu deveria passar o dia na Yonsei pra tentar vender algo, mas nem tô levando nada. — Deu de ombros e riu da própria desgraça. — Vou ter uma aula de aquarela com um professor que gostou de mim, acredita?

— Acredito, Ggukie. — Sorriu sincera, pois só a menção sobre a aula já fez o olhos do amigo brilharem diferente. — Sua paixão pela arte fisga qualquer um que fale com você.

— Será esse o meu maior charme? — Olhou para cima com o indicador tocando o seu queixo, em uma pose falsamente pensativa, as sobrancelhas arqueadas repetidamente fizeram Hyunah gargalhar um pouco. Fazia tempo que não ouvia o som da própria risada. — E você? O que vai fazer?

— Dormir, comer e dormir. — Se desencostou do muro e pegou suas sacolas cheias das coisas que mais gostava no mundo: doces e lamen, o frango frito ela pediria pelo aplicativo do celular. — Vai lá pra sua aula, campeão. — Se aproximou e enterrou o rosto na curvatura do pescoço de Jeongguk, seus ombros já quentes foram apertados no aconchego que só aquele abraço possuía. — Seja o melhor que você conseguir e não tenha tanto medo de se perder, você sempre se encontra porque sabe o seu lugar.

Jeongguk fechou os olhos e a apertou ainda mais forte. Hyunah sabia onde ele pertencia, quem ele realmente era e isso era tão forte e genuíno que, de certa forma, o fazia mal.

Jeongguk estava sendo Jeongguk onde não lhe cabia. Seus olhos eram grandes demais, via demais. Sentia demais.

Mas no momento, não se achava digno de sentir. As palavras o afetaram, mas ele não queria demonstrar, no entanto, a felicidade por estar na companhia de sua melhor amiga lhe escapava pelos poros e a risada de felicidade vibrou em seu peito,e acabou por brincar com ela ao que se afastava: — Uau, a noona tá cheia das frases motivacionais.

— É sério. — Ela revirou os olhos e sorriu com o comentário. — Se cuida.

— Você também. — Arqueou uma das sobrancelhas e apontou com o indicador para ela, que concordou e se virou para abrir o portão. Jeongguk ficou ali, assistindo-a subir as escadas, antes que ela pudesse se virar para o lance seguinte, se virou para trás e sussurrou um "te amo" que não precisava ser gritado. Ambos sabiam. O tatuado sussurrou de volta e, só então, seguiu caminho para a sua caminhonete.

(...)

Yeonjun bagunçava seus fios castanhos, se esticando para conseguir olhar o seu reflexo no retrovisor interno do carro. Ao seu lado, Moon Byul-yi bufava impaciente com o perfeccionismo do penteado, pois já havia se passado alguns bons minutos em que o silêncio era preenchido por suspiros de insatisfação de ambos, mas por motivos diferentes.

— Nem ouse tocar aí. — Deu um tapa na mão de Yeonjun, afastando-o do retrovisor que ela passou tempo suficiente regulando para se irritar caso a posição fosse mudada.

— Ai ai! — Puxou a mão junto ao peito e a olhou de cara feia. — Eu preciso deixar o meu cabelo descolado, essa de trabalhar na polícia e usar gel acabou com a minha juventude.

— Francamente, essa blusa dentro da calça não tá te ajudando em nada. — Byul-yi o olhou de cima abaixo e franziu o cenho, mascando seu chiclete. — Tenta ficar mais largadão, parecendo um estudante de direito que acabou de sair do escritório.

Yeonjun ergueu o quadril, concordando com a ideia e retirando a camiseta de botões de dentro de seu jeans, numa intimidade que Byul-yi estava acostumada, mas também não queria dizer que apreciava-a.

— Coloca esse moletom. — Retirou a peça que vestia, alguns bons números maior do que realmente se encaixava em seu corpo, ficando larga o suficiente em Yeonjun. Se aproximou dele e subiu o zíper até o meio do peito, deixando a micro câmera disfarçada em um dos botões livres, bagunçou o cabelo de qualquer jeito, ignorando o som exasperado que ele soltou após perceber que todo o seu trabalho foi em vão. — Agora sim tá com cara de um jovem normal que faz uso de drogas dentro da universidade, só falta sumir da minha frente e se enturmar.

— Tá parecendo a minha mãe falando desse jeito, mas sem a parte do uso de drogas. — Cruzou os braços e ignorou o revirar de olhos de sua parceira. Olhou ao redor, mas só o que conseguia ver do estacionamento eram as árvores já com poucas folhas nos galhos. — Estou nervoso, eu era retraído na faculdade, ok? Por que eu tenho de ir sozinho?

— Olha bem pra minha cara de tira. — Byul-yi disse e Yeonjun a fitou com aquele velho semblante de peixe morto, dando-se conta de que, é, realmente, ela tinha cara de policial com a carranca que não largava a face e o cabelo loiro preso em um rabo de cavalo baixo. — Não tem mais ninguém com cara de pirralho na delegacia. Só entra no personagem, garoto.

— Então tá, você é tipo a minha mãe que tá me deixando na faculdade, com toda a inocência do mundo ao achar que eu só vou estudar. — Disse gesticulando, arquitetando um plano que a envolvesse só para se sentir mais confiante.

— Olha bem pra minha cara de inocente. Acha mesmo que se eu fosse a sua mãe, eu não saberia de tudo o que você faz? — Byul-yi devolveu o olhar de Yeonjun, que apenas bufou, mas sem fazer menção de sair do carro. — Garoto, tá esperando o quê? Estamos perdendo tempo. — Quase o esmagando contra a porta, conseguiu tocar a maçaneta com a ponta dos dedos e a abriu, empurrando o mais novo para fora e jogando a mochila fictícia em suas mãos.

O automóvel logo sumiu de vista e Yeonjun se viu sozinho no estacionamento, ajeitando o moletom preto após seus ombros sentirem o peso da mochila e pressionou a micro câmera para iniciar a gravação. O trabalho de campo para acompanhar a rotina do tráfico dentro da Universidade de Yonsei estava apenas começando.

Deixado o clima leve ao lado de Byul-yi, se concentrou no que deveria fazer e a atmosfera ficou pesada de repente. Passou as instruções em sua cabeça e à medida que andava pela passarela de cimento, começou a ver placas que indicavam os prédios mais próximos.

O nervosismo fez parecer que a sua caminhada havia durado muito mais tempo do que de fato durou quando, finalmente, viu a primeira construção logo ao lado da passarela central. A placa chumbada na parede indicava que aquele era o Centro de Belas Artes e Yeonjun pediu perdão aos céus assim que pensou que estava indo no caminho certo, pois sim, estava julgando os estudantes pelos estereótipos que carregavam e não se espantou quando o cheiro característico da maconha invadiu as suas narinas.

Não eram muitos, mas os quatro prédios que cercavam o centro eram grandes e o jardim era barulhento, seja pelas conversas daqueles que estavam sentados às mesas de cimento queimado, ou pelo som do piano forte que ecoava ao longe, mas ainda perceptível. Yeonjun decidiu seguir em frente e se sentar em um dos bancos ao lado da mesa que acomodava três estudantes que fumavam maconha, andando lentamente até eles para tentar visualizar se algum portava uma quantia suficiente para ser vendida, mas só o que viu foram cigarros escuros que se esvaíam de pouco a pouco dos lábios alheios, passando de mão em mão.

Yeonjun precisava falar com eles, mas não sabia se seriam receptivos. Achou que seria mais fácil, que o traficante em questão estivesse presente e bem visível, já que havia sido comprovado que a patrulha universitária era ineficaz contra o combate de uso de drogas dentro do campus e as provas estavam bem à sua frente.

No fim, acabou encarando demais e atraiu olhares para si. Para não parecer um esquisito, decidiu entrar no personagem de vez e iniciar uma conversa: — E aí.

— E aí, mano. — Somente ouviu as vozes de dois dos três, pois Chanyeol apenas moveu as sobrancelhas de modo preguiçoso em sua direção. — Tá perdido? — Dakho continuou, não era incomum que os estudantes vissem pessoas perambulando sem saber exatamente para onde ir, o campus era grande demais e só decoravam os caminhos no fim do primeiro semestre.

— Não... — Pigarreou nervoso, a voz morrendo aos poucos e o coração acelerando. — Na verdade, eu estava mesmo procurando alguém como vocês. — Seus lábios se ergueram num sorriso estranho e os três franziram o cenho.

— Procurando pela gente? Você é da onde? — Yuta apontou para o estranho com o queixo, esperando respostas.

— Não exatamente por vocês. — Yeonjun riu achando graça do mal entendido, sua frase ganhando outro sentido devido a desconfiança. — Eu sou lá do Direito, daí queria saber se são vocês que estão vendendo o chá, ou se conhecem alguém.

— O chá? — Chanyeol perguntou confuso, mas logo suas sobrancelhas se arquearam, finalmente compreendendo. — Aaah... Não, a gente não vende nada, não. Quem vende por aqui é o Flamingo, mas ele tá meio sumido. — Tragou forte o cigarro amassado que estava entre os seus dedos e logo o passou para Dakho.

— Você ainda tem contato com ele, Chanyeol? — Dakho perguntou enquanto expelia a fumaça para fora de sua boca. — Aquela noite em Hongdae ele nem quis olhar na nossa cara, não entendi o porquê.

— Não entendeu porque você não lembra quando quase bateu no cara. — Yuta respondeu em seu lugar e tragou o próprio cigarro, sem dividir com ninguém. Yeonjun assistia a cena de camarote, seus olhos indo em direção para cada um que se pronunciava e consequentemente, acompanhando o baseado. — Foi muito engraçado o Jimin te tirando de cima dele e... — A gargalhada repentina interrompeu a sua fala e os outros dois sabiam do que se tratava e por isso, Dakho riu junto e Chanyeol revirou os olhos quando Yuta finalmente completou: — Ele te deu um socão na cara!

— Só falei a verdade. — Deu de ombros. — Ainda não acredito que ele tá comendo cu de traficante.

— Cara, eles estão namorando. — Dakho pontuou o óbvio e Chanyeol expressou deboche em sua face, o silêncio irrompendo entre os quatro e Yeonjun pigarreou para começar a falar novamente:

— Esse tal de Jimin também vende? — Se sentou assim que Chanyeol mostrou um pouco de educação e retirou o violão do banco ao seu lado, e então, abraçou a mochila em seu colo.

— Não, Jimin tá quase se formando em Letras, quer ser professor e tudo o mais. — Chanyeol respondeu, talvez até falando demais, mas se lembrava de quando compartilharam suas vontades e expectativas com o curso que, na época, acabavam de começar. — Só não entendo por que ele do nada se aproximou desse cara, será que ele realmente não vende nada? — Voltou seu olhar para os amigos, os olhos semicerrados em desconfiança.

— Vai ver Jimin gosta do perigo, deve ser maneiro estar apaixonado por um criminoso. — Yuta arqueou as sobrancelhas duas vezes seguidas em um tom brincalhão, que Chanyeol acabou levando a sério.

— Apaixonado? Jimin não se apaixona, só deve tá usando o coitado.

— As pessoas mudam, cara. — Dakho reacendeu a ponta com o isqueiro decorado com chamas pintadas a mão, os lábios cerrados enquanto puxava para dentro. — Não é porque ele não se apaixonou por você, que ele não pode se apaixonar por mais ninguém.

Chanyeol o fitou incrédulo, umas das sobrancelhas se arquearam enquanto processava o que havia escutado. Yeonjun percebeu o clima tenso que aquela conversa tomou e não poderia sair dali sem respostas, mas o que acabou recebendo foi o baseado de Yuta, o qual sentiu entre os dedos com uma nostalgia estranha.

Não era a primeira vez que segurou um daquele, também já teve a idade deles e se aventurou em festas. Bêbado demais para assimilar o que lhe ofereciam, acabou fumando e acordando no dia seguinte sem saber como havia parado no colchão de algum colega. O arrependimento sempre fazia morada em sua consciência, mas pelo menos a experiência o fez entrar de vez no personagem e tragar o baseado da forma correta, passando-o de volta para Yuta.

— E como eu consigo o contato desse Flamingo?

— Eu até tinha o número dele, mas apaguei por birra. — Chanyeol respondeu, recusando o cigarro quando Dakho estendeu para si. — Eu sou idiota.

— Birra mesmo, agora eu que tenho que falar com o cara pra comprar suas merdas. — Yuta revirou os olhos e repassou o cilindro amassado para Yeonjun, que não hesitou em aceitar.

— Merdas que você também fuma. — Apoiou o rosto no punho e olhou ao redor, pensativo. — E nem é merda, tudo o que ele vende é de alta qualidade, vou precisar defender meu traficante preferido.

— Cara... — Dakho falou lentamente e começou a rir, assim como os outros dois. Yeonjun tentou sorrir junto a eles, sem parecer muito forçado ao que processava a informação sobre a qualidade dos entorpecentes. O tal do Flamingo parecia ter um fornecedor com uma boa rota, afinal.

Mas seus pensamentos logo aceleraram assim que Yuta lhe ofereceu o baseado novamente e comentou despreocupado: — Por falar nele... — E fixou os olhos do outro lado do jardim, chamando a atenção dos três, que olharam para ele no mesmo instante. Viu apenas um jovem andando cabisbaixo, chapéu na cabeça e roupas largas, sem bolsas, nada.

Se a intenção era disfarçar que estavam falando de Flamingo, bem, não deu certo, pois era visível o desconforto no olhar de quem sabia que estava sendo observado pelo grupo, os olhos grandes escondidos através da aba do bucket hat. O que eles queriam? Comprar alguma coisa consigo? Por que, no fundo, Jeongguk sentia que não era nada disso e se incomodava com o que podia ser?

— Ele tá com o professor Choi? — Yuta perguntou, mesmo sabendo que nenhum dos três seria capaz de responder, pois só ele era aluno de Artes Visuais.

— Não sabia que o professor é chegado nessas coisas. — Dakho comentou, aproveitando do baseado que não precisava mais ser dividido.

— Estranho, justo um professor deixar algo como isso tão exposto assim. — Chanyeol ainda encarava a passarela no outro oposto, mesmo que já estivesse vazia.

— Vai ver ele não sabe. — Yuta assistia o baseado queimar entre os lábios de Yeonjun e respirava profundamente, capturando toda a fumaça e aroma que pudesse. — Eu já vi o Flamingo desenhando, não sei se ele é bom, mas esse daí é o professor de Pintura I, se não me engano. Ele é de boas, deve tá ensinando ele alguma coisa.

— Um traficante que desenha e pinta? — Yeonjun perguntou para si mesmo, sentindo seu corpo mais relaxado e apesar de não gostar da sensação por estar trabalhando, não podia recusar a onda gratuita, já que apareceu por ali querendo comprar a sua própria erva.

— Nossa, pior que ele é mesmo. — Chanyeol apoiou a testa sobre a palma e riu do fato de ter se esquecido daquela informação e também por achar engraçado que Flamingo fosse aquele tipo de traficante, como se pudessem classificá-los em categorias. — Foi ele quem desenhou a rosa que ele tem tatuada no dorso da mão.

— É colorida? — Yeonjun perguntou interessado, dando a entender que gostaria de identificá-lo quando o mesmo estivesse disponível.

— Não, é preta. — Pegou o violão que estava encostado na mesa e se levantou, colocando uma perna em cima do banco para encaixar a curva do instrumento ali. — Se você passar por aqui de novo e vir alguém de cabelo rosa por aí de bobeira, pode chegar junto que esse é o Flamingo.

E logo Yeonjun ouviu os acordes de um violão afinado de quem sabia exatamente como tocá-lo, mas nem conseguiu apreciar a música e as vozes preguiçosas que até cantavam bonito. Sua mente só conseguia focar no ponto em que conseguiu reunir informações suficientes, mesmo que não tenha falado diretamente com quem procurava. Ao menos já sabia que ele existia.

(...)

A sala de aula estava ocupada somente por Jeongguk e Sr. Choi, o vidro das janelas abertas fazia riscos solares no chão que ajudavam a deixar a sala morna, enchendo o ambiente com as cores cálidas de um outono que se arrastava. O professor estava concentrado no próprio trabalho, o jogo de cores em sua paisagem no papel era complexo, mas a forma como ele movia o pincél entre o godê e a pintura soava leve e fácil. O que não era o caso de Jeongguk, que ainda riscava o esboço na folha de aquarela presa a uma tela.

A animação de estar de frente a um cavalete já havia passado, mas o incômodo dos olhares pesados sobre si ainda não. Sabia que aqueles três não pensavam coisas positivas a seu respeito e os olhos do desconhecido fora o que mais o perturbara. Tentava se concentrar na foto da modelo à sua frente, fazer corretamente os traços ocidentais dos olhos bem marcados, as pálpebras e os côncavos profundos, mas inconscientemente, sua mão insistia em traçar o que martelava em sua mente: Os grandes olhos de pálpebras retas de seu observador.

Nunca foi de se importar com o que os estudantes pensavam sobre si, mas aqueles três sempre lhe traziam péssimas memórias. Não gostava deles.

Yeonjun talvez não soubesse da intensidade de seu olhar e, se tivesse conhecimento e controle sobre isso, tentaria ser mais ameno. Sua intenção não era marcar presença, mas ali estava Jeongguk, apagando o lápis da folha texturizada, respirando fundo e bufando frustrado.

— Jeongguk... — Sr. Choi o chamou após ter perdido as contas de quantas vezes aquele ciclo havia se repetido. — Esses olhos estão ótimos, não precisa fazer um retrato exato da modelo, pode fazer na forma oriental que você deve estar mais acostumado. Lembre-se que a intenção de pegar uma referência é tentar reproduzir as luzes e sombras, o resto você pode criar.

Largou o lápis em cima da mesa ao lado e começou a amassar a limpa tipos¹ ainda mais acinzentada pelo acúmulo de grafite, sem responder o professor. A frustração só aumentava porque não queria que aquele dia fosse em vão, pois era como se estivesse perdendo a oportunidade de ter uma aula de verdade sobre algo que estava descobrindo gostar tanto.

— Talvez hoje não seja um bom dia para pintura. — O professor voltou a dizer após observar as ações de seu aluno, que havia se esparramado na cadeira, como se já tivesse desistido.

— Talvez nunca seja. — Murmurou de volta, sem a intenção de ser ouvido, mas foi.

— O dia que você desenhou essa rosa na sua mão foi ruim? — Perguntou deixando o pincel dentro do copo d'água.

— Era diferente. Eu a desenhava de caneta quando ainda era criança. — Guardou a limpa tipos na caixinha e colocou o lápis no estojo. — Mas ultimamente é difícil me concentrar.

— Todos os seus dias estão sendo ruins? — Preocupado, ajeitou os óculos e apoiou o queixo sobre a mão, vendo o jovem retirar a fita crepe que colava a folha à tela.

— O que o senhor faria se fosse você respondendo que sim?

— Eu tentaria encontrar cores mais claras para colocar nessa sua paleta tão escura. — Choi Kang-ho não era idiota. Jeongguk nunca havia confessado o que de fato fazia pelo campus, mas um jovem como ele que não era estudante só poderia estar fazendo uma coisa por ali. Trabalhava na Yonsei há muito tempo e já havia visto todo o tipo de coisa, seus alunos usando todo tipo de droga, mas nunca viu ninguém com olhos tão escuros como os de Jeon naquele exato momento.

— Meio difícil pensar assim quando as cores escuras não deixam as claras se sobreporem. — O tatuado sorriu sem humor. Quando Jimin disse algo parecido com aquilo até tentou colocar em prática, mas agora tudo perdia o sentido.

— Você não consegue ignorar essa tempestade quando o raio de sol surge, não é? — Suspirou quando Jeongguk cruzou os braços sobre a mesa e deitou a cabeça, acenando que não.

— Eu meio que tô num casamento de viúva que nunca acaba, sol e chuva juntos. — Fechou os olhos e havia certo alívio naquela ação, pois a mente exausta não deixava o corpo descansar. E se lembrou da Catedral que o abrigava em dias como aquele, o protegendo da tempestade, mas não o deixando sair se quisesse se molhar.

— Eu sinto muito por isso, Jeon. Espero que seus dias logo se tornem verões.

— Desculpe por te fazer perder tempo. — Pediu se erguendo lentamente, o coração pesado ao ter recebido algum tipo de condolências, não gostava desse tipo de coisa.

— Nunca peça desculpas por sentir, Jeongguk. A arte se afeta com os acontecimentos da época, a temperatura... Não seria diferente com os seus sentimentos. — Esticou o braço e pegou algumas folhas de aquarela em branco, pincéis e bisnagas de diferentes cores. — Aqui. — Esticou-os para seu aluno, que ficou olhando para suas mãos com aqueles olhos tão grandes. — Lembre-se: vermelho, amarelo e azul para a cor da pele. Não tenha medo de misturar.

— Por que está fazendo isso? — Piscou apressadamente, não entendia por que seus olhos formigaram de repente. Suas mãos ainda não haviam se movido e precisou fitar outra coisa que não fosse os materiais à sua frente.

— Porque eu acredito em você e não quero que desista. — Abaixou as mãos e colocou os objetos em cima da mesa, esvaziando uma bolsa de pano de algum congresso que havia participado, enfiando-os ali dentro com todo o cuidado, as cerdas dos pincéis não podiam se dobrar. — E também porque talvez eu fique um pouco ocupado e não possa te encontrar, sei que não se sente à vontade em ser ouvinte das minhas aulas. — Empurrou a sacola em direção a ele e esperou que pegasse.

Jeongguk puxou o ar para dentro e lentamente arrastou os dedos para as alças, puxando-a para o seu colo à medida que expelia o ar de seu pulmões: — Obrigado. — Não só pelos materiais, mas por acreditar em mim, por não ter me chutado da sua porta àquele dia, por não julgar as minhas tatuagens e não questionar o que eu tanto faço pelo campus mesmo que eu não seja aluno. Acho que não conseguiria te dizer. E sua boca não disse nada, mas seus olhos sim. — Prometo voltar e te mostrar as pinturas mais bonitas que já viu na vida.

Kang-ho soltou uma risada grave tão característica de gente velha e o som conseguiu aquecer o peito de Jeongguk, que sorriu também: — Só pinte, garoto. E volte.

— Eu voltarei. — Se levantou com um sorriso pequeno nos lábios e saiu pela porta, se despedindo.

O som alto do seu suspiro era acompanhado com o dos seus pés que se arrastavam pelo corredor, a bolsa pendurada em seu ombro. Pela porta de entrada, conseguia ver que o sol ainda era quente e irradiava em tons alaranjados, mas a cobertura da passarela protegia os fios negros de Jimin dos raios solares.

Andava lentamente para melhor apreciar a visão de quem lhe esperava. Vestido de preto dos pés à cabeça, uma perna estava em cima do banco, o cotovelo apoiado nela e as costas na pilastra atrás dele; na outra mão um livro velho etiquetado. Apesar dos seus colegas terem enviado o arquivo para o seu e-mail, ele preferia visitar a biblioteca e abrir o conteúdo sem se importar com a bateria baixa de seu celular. A mão que pendia no joelho era usada para passar as páginas e coçar a testa enrugada de tanto pensar.

Sorrindo, Jeongguk chegou perto o suficiente para observar sem ser notado, mas o nariz de Jimin já estava treinado para capturar qualquer resquício de sua fragrância que a brisa sempre insistia em embriagá-lo. Olhou para o lado e não conseguiu controlar o sorriso que, inconscientemente, apertaram as suas pálpebras.

— Olha quem chegou. — Disse em tom manso e guardou o livro na bolsa e logo se levantou, entrelaçando seus dedos nos dele, sendo puxado para mais perto e tendo um beijo depositado em seus lábios. Assim que começaram a andar em silêncio, Jeongguk afastou as mãos, mas Jimin passou a palma pelas costas dele e pressionou o corpo ao seu pela cintura, não deixando que se afastasse de si enquanto seguiam para a caminhonete estacionada não tão longe dali. — Eu sei que hoje tá mais quente, mas ainda quero ficar agarrado.

Jeongguk sorriu aberto e abraçou os ombros alheios, beijando-lhe a têmpora. Mas não conseguiu deixar de olhar para o lado e ver que o grupo de quatro ainda estavam no jardim, fumando e completamente inertes ao mundo. Mudou a direção para onde olhava e se concentrou no caminho, não queria pensar naquilo agora, tudo o que importava era que Jimin estava ali, o abraçando e andando consigo pelas passarelas da universidade, sem se importar com olhares atravessados que tentavam identificar o rosto escondido debaixo do chapéu. Aquele lugar às vezes se parecia com uma cidade pequena.

Era estranha aquela sensação de estar tão leve e de repente, olhares estranhos não mais o incomodavam e até se sentia inspirado a desenhar qualquer coisa. Era como se Jimin tivesse destruído a sua Catedral e seu corpo começasse a se encaixar no mundo.

A tempestade ainda estava ali, não havia como negar, pois ao mesmo tempo que os raios solares incindiam forte sobre si, quentes e amenos, a chuva era tão fraca que nem sentiram necessidade de fechar as janelas da caminhonete. Talvez Jimin fosse como o sol, os toques cálidos em seu rosto, a ponta dos dedos que empurravam o chapéu para fora cabeça porque queria o ver por inteiro.

— Você tá bem? — Jimin perguntou, penteando os fios rosados e um tanto mais pálidos para o lado.

— Agora eu tô bem, neném. — Pegou a mão pequena e levou o dorso para os lábios, beijando-o e repousando as palmas em seu colo, não o soltando. — Mas não consegui pintar nada na aula, nem terminei o esboço do que queria fazer. — Explicou cansado, o dia estava quase terminando e ele não havia concluído coisa alguma. — Daí ele me deu uns materiais pra tentar quando eu estivesse mais disposto. Ele é muito legal comigo, não consigo entender. — Puxou a bolsa para mostrá-lo.

— Ah, meu bem, mas isso é normal. Não é todo dia que eu tô disposto a ler, escrever e essas coisas. E você tem motivos suficientes pra não querer fazer nada de vez em quando. — Abriu a bolsa e pegou as bisnagas pequenas, checando as cores e pegando um dos pincéis maiores, passando as cerdas macias na própria bochecha, sorrindo com as cócegas provocadas por si mesmo.

— É, eu tenho que parar de me sentir mal quando me sinto mal. Mas não quero mais falar sobre isso. — Riu quando Jimin passou o pincel em seu nariz e o assistiu guardá-lo com o mesmo cuidado do professor.

— É? E você quer falar sobre o quê? — Perguntou se aproximando, os lábios já colados e olhos fechados.

— Sobre eu e você. — E suspirando respondeu, fisgando os lábios carnudos de Jimin entre os seus dentes e passando a língua sobre eles antes de pedir passagem.

E era em momentos como aquele que os pulmões se esqueciam de como executar o seu trabalho. A cabeça para o lado ajudava a aprofundar o beijo, mas também para que o ar preso fosse solto lentamente, de forma tão audível que se confundia com um gemido e talvez fosse. As mãos tatuadas apertavam a cintura e os fios rosados eram puxados com o fervor que não pertencia àquela tarde ensolarada e chuvosa.

Nunca percebiam quando os beijos se tornavam tão intensos porque todos foram assim, desde o primeiro. Não sabiam fazer de outra forma, se esqueciam do mundo lá fora com tamanha facilidade e nunca deixava de ser gostoso. As mãos fortes desciam da cintura de modo firme e pesado em direção à bunda de Jimin, apertando-a e o puxando para se sentar em seu colo.

— Jeong- — Engasgou com o nome, surpreso pela movimentação brusca e a forma que tão de repente estava ali, o olhando de cima.

— O que foi? Não tem ninguém por aqui. — O abraçou, puxando-o para ficar ainda mais perto e afundando o nariz no pescoço, cheirando-o antes de molhar a pele com os seus lábios.

— Daqui a pouco o Taehyung aparece por aqui, não quero que ele nos veja de pau duro. — Era difícil falar com o seu quadril sendo puxado para baixo e os olhos que queriam se revirar pelo prazer de ter o pescoço chupado. Queria rebolar no pau do seu namorado. O puxou pelos cabelos, o fazendo olhar em seus olhos preguiçosos e sorridentes. — Por que a gente é assim? — O pescoço esticado de Jeongguk facilitava seu acesso à boca, no entanto, os troncos se descolaram para que Jimin se abaixasse minimamente para beijá-lo mais uma vez.

— Porque você é o meu sol em meio a toda essa tempestade, o maior de todos que tenho. — Disse de garganta apertada, apesar das palavras soltas sussurradas contra os lábios carnudos e avermelhados. Um suspiro quente atingiu a sua boca entreaberta e Jeongguk já não conseguia controlar o que dizia. — Eu quero pintar você, eu preciso te gravar em algum lugar que não seja só na minha memória, quero te fazer eterno.

— Então faça um esboço do que eu sou, me pinte com as suas cores favoritas. — Sentou sobre as coxas, sentindo os dedos calejados puxarem sua camisa para cima, revelando o abdômen em dobras finas. Os mesmos dedos derrapavam nas curvas, pressionando a pele sob o tecido, espalmando as costas e o puxando para um abraço. — Aproveita a luz antes que o tempo se feche de uma vez.

Jeongguk tirou o celular do seu bolso apertado e abriu a câmera para registrar a sua maior referência. Se fosse voltar para mostrar ao Sr. Choi a sua pintura mais bonita, aprenderia toda e qualquer técnica para fazer jus ao retrato do rosto bonito de Park Jimin.

Ele se sentou no assento para que o sol deixasse de tocar somente as suas costas e iluminasse uma parte de sua face. Os fios negros teimavam em tocar a sua testa e antes que pudesse jogá-los para trás, Jeongguk o interrompeu.

— Não. — Segurou-lhe a mão e acariciou todo o braço até que chegasse à boca, capturando com a câmera os olhos de ressaca e os lábios pressionados contra o seu polegar. — Fica exatamente assim. — E a palma abraçou o maxilar de Jimin, que deitou a cabeça ali e fechou os olhos, com a rosa tatuada fazendo parte do cenário que não fora criado. Aquilo fazia parte de quem os dois eram, juntos.

E juntos sempre havia sol, mesmo que não parasse de chover.

— Abra os olhos, meu neném. — E Jimin os abriu, prendendo a respiração ao perceber a forma como Jeongguk o encarava. Via tanto sentimento sendo direcionado a si que ele nem precisou dizer coisa alguma. — Eu amo tanto os seus olhos e eles estão tão bonitos nessa luz.

E Jimin sorriu com os dentes bonitos expostos, as pálpebras voltando a se apertarem: — Não sabia que você amava tanto assim os meus olhos, sou eu que sempre falo sobre os seus. — E ergueu a própria mão, tocando o rosto de Jeongguk, que abaixou o celular, já havia registrado o suficiente. Os polegares pequenos tocaram os olhos dele, os obrigando a se fecharem. — Eles são o meu universo favorito.

— Não diga essas coisas. — Jeongguk disse ao sentir as palmas em suas bochechas, escorregando para a sua nuca e o chamando para ficar mais perto. — A não ser que queira que eu me apaixone cada vez mais por você.

— Então acho melhor eu não calar a boca. — Sorriu com os lábios colados nos dele, ameaçando beijá-lo de modo travesso, mas nunca aprofundando o beijo. — Eu quero que você se apaixone cada vez mais por mim, só assim poderei me apaixonar ainda mais por você. — A voz se quebrava a cada palavra dita, pois confessava que estava gostando muito de estar daquele jeito, tão...

— Ah neném, eu não poderia estar mais apaixonado. — Jeongguk quebrou a sua linha de raciocínio, completando-a e empurrando a língua para dentro de sua boca, gemendo junto a si ao sentir o aperto gostoso em suas coxas e quase voltando a se sentar no colo alheio, se não fosse o pigarro da voz rouca já tão conhecida.

— Alô, gostaria de falar com um boiola. — Taehyung bateu na lataria da porta e só se posicionou em frente à mesma quando viu a cabeça de Jimin apontar para fora, as bochechas vermelhas, se perguntando há quanto tempo o amigo estava ali. Não deveria ser muito, afinal, ainda estava chovendo. — Ah não, pode deixar, acabei de encontrar com dois. — Colocou os dedos em formato de telefone dentro do bolso, encerrando a ligação e entrando com pressa na caminhonte. — E aí.

— E aí, grandão. — Jeongguk sorriu sem graça e Jimin pigarreou sem saber exatamente o que dizer.

— Acho que a gente já pode ir, né? — Taehyung perguntou e os outros dois acenaram que sim, logo engatando em algum assunto aleatório para não dar margem a qualquer constrangimento. Ouviu o gemido e preferiu ignorar o ocorrido.

Taehyung deixou a janela aberta, mesmo que os pingos fracos, de vez em quando, atingissem os seus olhos. Acabou por se lembrar do seu último banho de chuva de verão e da pintura que havia feito, parecia ter sido há tanto tempo. Às vezes via Yukhei pelo campus, mas a sua imagem já não o afetava, apenas se lembrava das bandas que lhe foram apresentadas e escutava as músicas sem qualquer remorso.

Acho que superei, pensou enquanto sua mão brincava com o vento, fazendo ondas com a palma ao que a cidade passava por si, o sol finalmente indo embora e a ansiedade no peito crescendo à medida que a distância até o Something era encurtada. Gostava de chuva, mas a chuva apagava o cigarro de Hoseok.

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