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24. Doses homeopáticas

Jimin nunca achou que o amor fosse fácil e mesmo que Jeongguk fizesse parecer que sim, era, ainda não conseguia concordar. Afinal, como um amante das letras, conhecedor da poesia e do poder que as palavras emanam, não conseguia descrever tal sentimento? Só sabia que aquilo não cessava, era uma onda crescente que ele não queria que se tornasse maremoto destrutivo. Que cresça até os céus e, se for para desabar, que seja bem devagarinho e que o inunde até não caber mais em si.

A parte mais difícil era compreender que o amor poderia ser cuidado, mas que ele não conseguia cuidar de Jeongguk. Eram raras as noites em que passavam juntos e em diversas vezes, Jimin o assistia se levantar da cama improvisada no chão e dar passos sem rumo pelo apartamento de luzes apagadas, parando no mesmo lugar de sempre: As janelas de vidro cobertas por papel pardo.

Abria-a minimamente e a presença de seu corpo era como um escudo impedindo a brisa da madrugada de atingir Jimin. E ali Jeongguk permanecia, ora pressionando a língua contra a bochecha, ora suspirando devagar, tentando fazer com que cada som de seu corpo fosse tão silencioso quanto a noite, apenas para não ser escutado.

Mas Jimin escutava cada lufada de ar que saía da boca de Jeongguk, plantando uma angústia no peito que não era só dele, mas agora, sua também. Os fantasmas alheios refletindo suas sombras em si. No entanto, ele não sabia o que fazer, o que realmente se passava na cabeça do tatuado quando sacudia os fios rosados — será que estava tentando espantar algum pensamento ruim?

Mas não era algo que Jimin podia simplesmente perguntar, até porque em muitas dessas ocasiões fingia estar dormindo. Também começou a entender que havia partes de Jeongguk que ele não hesitava em compartilhar, mas quando se tratava de Flamingo, a boca se calava e o olhar vagava para longe, num horizonte distante que deveria ser o lugar daquele tão infame personagem.

E só de sentar-se, observar e esperar, Jimin já estava cuidando de Jeongguk. Cuidado este que escapulia de seus olhos.

Jimin olhava para Jeongguk de um jeito único. Gostava de passar o dia todo com ele para apreciar as sombras que o sol fazia na face ainda bronzeada, enquanto as horas se passavam. A luz acinzentada da manhã que atravessava o amarelado do papel pardo ajudava a compor aquele cenário, entrando com calma, como se não quisesse incomodar os olhos lentos ao se abrirem; o bico manhoso nos lábios quando se apoiava no cotovelo sobre o colchão, acusando Jimin de o observar enquanto dormia. Os ossos da costela em alto relevo quando se espreguiçava com vontade, a linha da Máscara de Hannya que lhe tomava as costas em contraste com o abdômen liso, sem marcas. E a voz... A voz mais grossa antes do café era a coisa preferida de Jimin, ainda mais quando reclamando ele dizia:

— Queria acordar antes só pra te observar também. — Mas isso nunca acontecia e Jimin gostava muito do seu pequeno ritual matinal.

Sentia falta do verão e de todas aquelas cores que o sol podia trazer para a pele de Jeongguk, pena que quando tudo era tão quente, Jimin ainda estava em negação e perdeu alguns desses detalhes. Só esperava que o próximo verão chegasse logo para melhor aproveitar os olhos de pálpebras cerradas tentando se esconder da estrela maior. Mas, por enquanto, se contentava com aquele típico nublado e brisa serena que chacoalhava os fios cor de cereja de forma amena; das tardes que se arrastavam em conversas sem fim e de noites que chegavam com jantares improvisados. Jeongguk insistia em não ter muita coisa na geladeira.

E era justamente quando a lua os fazia companhia que tudo ficava tão mais bonito. Ela lá de cima, mesmo entre nuvens, conseguia ser refletida sobre os olhos de universo, iluminando tudo o que Jimin pudesse tocar. Ainda bem que ele só queria tocar em Jeongguk. E era assim que se recusava a fechar os olhos para observar cada pêlo do corpo se arrepiar quando suas unhas se arrastavam por algum ponto fraco já tão conhecido; a boca que se abria, mas não dizia nada e a coluna se contorcendo em rendição, as mãos puxando os fios negros em pura súplica.

E por mais que apreciasse cada pequeno detalhe de olhos bem abertos, nada se igualava ao momento em que as pálpebras se fechavam e ele sentia tudo bem ali, em sua derme e dentro do peito. As mãos fortes que o apalpavam mostrando que pertencia somente a ele, os gemidos que escapavam de sua garganta expressando que, sim, era.

E todas as manhãs pareciam ser exatamente iguais, o céu claro dizia olá naquele tão típico nublado, revelando em Jimin uma ânsia estranha para saber se choveria logo de uma vez, ou se faria sol forte digno de um sorvete. Mas era só a mente despertar o suficiente, sentir a presença de Jeongguk ainda dormindo sobre o seu peito para ele saber que sempre seria verão.

E se as noites costumavam ter doses homeopáticas de Jeongguk, Jimin se permitia exagerar quando ele estava presente. Admirava cada detalhe daquelas luzes do bar incidindo sobre a pele tatuada, exposta porque se sentia à vontade. O reflexo criava uma aura ao redor do corpo, desenhando a silhueta e os fios de seu cabelo ganhando novas cores.

Gostava de observar a forma como Jeongguk olhava tudo ao redor, querendo gravar cada mínimo canto do local, cada pôster de uma banda conhecida. Mas gostava muito mais de ter aqueles olhos voltados para si, vendo tão de perto o cuidado que Jimin tanto temia não ter, mas que Jeongguk sabia existir.

— Eu gostei muito desse bar. — O tatuado confessou e logo recebeu um sorriso carregado de alívio. — Você parece saber muito bem do que eu gosto.

— Não foi à toa que desejei que você estivesse aqui comigo.

— Acho que não foi por isso. — Respondeu em um tom convencido e um sorriso travesso nos lábios. Brincando com a entonação das palavras, beijou o nariz pequeno do moreno e voltou a sorrir com aquele jeito tão típico de não mover os lábios, mas dos olhos transbordar algo tão bonito que o fazia rir também.

Jimin gostava de vê-lo daquele jeito, tão leve como no dia do show do Bring me the Horizon; como quando estava cercado dos seus amigos. Como naquele exato momento em que a música tocada se misturava às risadas de Taehyung que se aproximava acompanhado de Namjoon, Hyejin e Hoseok, todos com as mãos cheias de copos de cerveja.

— Essa foi a minha reação quando eu descobri o ano em que a banda se desfez. — Namjoon falava mais alto para que todos pudessem ouvi-lo, se referindo a forma como Taehyung ria tão genuinamente. Após entregar as bebidas de Jimin e Jeonguk, completou: — 2012, cara.

Jeongguk apoiou os cotovelos no balcão e observava a cena com o velho brilho nos olhos que surgia em momentos como aquele. Ele também sabia quando tudo estava leve ao redor e as suas tão recorrentes preocupações desapareciam de sua mente. Taehyung poderia não estar ali e por mais que estivesse por Jimin, sentia que, de pouco a pouco, ele entendia as sombras e as partes que brilhavam em si. E nada mais podia ser tão bonito quanto os sorrisos radiantes em cada face. Podia ser coisa da cerveja, mas algo lhe dizia que existia uma certa alegria em estarem juntos.

— Mas eu não tenho culpa se os meus ouvidos só se atraem por música antiga. — Hyejin pegou o copo de Namjoon e deu um gole generoso, ignorando a feição desgostosa de quem lhe encarava após ter negado quando ele a perguntou inúmeras vezes se iria querer cerveja ou não.

— Eu que estava animado por vê-la escutando uma banda nova, uma que eu nunca tinha ouvido falar e quando pesquiso só pra confirmar... — Ele balançou a cabeça para os lados em uma falsa indignação. No fundo ele adorava aquela mania de Hyejin viver no passado e de não saber apontar quem seria Camila Cabello, mas pagando o mico de gritar aos quatro ventos que amava a banda Jet como se eles ainda estivessem na ativa.

E se Hyejin cogitou se defender de toda aquela conversa que, no fundo, a atacava, tudo foi por água abaixo quando os primeiros acordes da próxima música a entregaram e ela foi correndo em direção a frente do palco, tão rápida que já estava lá para cantar a plenos pulmões o primeiro verso. Hoseok não deixou de sorrir afetado junto dos outros e acabou comentando:

— Tadinha, essa é a única forma dela ir a um show da banda preferida.

Ainda sorrindo com a fala e com a forma que Hyejin se divertia, Jimin completou: — Uma pena, porque é uma experiência única. — E logo trocou um olhar cúmplice com Jeongguk. Os dois sabiam muito bem o que era aquela sensação.

— Só queria aquela noite de novo. — O mais novo confessou mais para si mesmo do que para os outros, mas Jimin já estava acostumado a interpretar seus murmúrios.

Como quem estava ali apenas para admirar a amiga fazendo o que tanto gostava além de tatuar, os quatro a olhavam ainda do bar e por uma fresta aberta na multidão, Hyejin trocou olhares com eles enquanto interpretava a música. Sorrindo e apontando para o palco como se os integrantes originais estivessem ali de verdade, como se estivesse cercada de pessoas em uma arena, apreciando o som da banda favorita.

— Eu tenho certeza de que já ouvi essa música em algum comercial de carro. — Sem que pudesse esperar pela resposta dos demais, Hoseok precisou equilibrar o copo em sua mão para que o líquido não se derramasse devido ao puxão que recebeu de Taehyung. Trombando com algumas pessoas, chegou à pista de dança e Hyejin deixou de focar na banda, começando a dançar olhando para os dois e Namjoon que se aproximava calmamente. Todos eles seguiam seus passos inspirados nos anos 1970, como se estivessem executando uma coreografia há muito ensaiada. Até a forma como ela dançava imitava o passado.

— Essa é a B612? — Jeongguk perguntou no ouvido de Jimin a fim da sua voz ser mais alta que o som dos altos falantes.

— Não, eles são um pouco mais calmos. — Respondeu sorrindo após o vocalista soltar um drive potente encerrando a tão conhecida canção. — Eles vão ser os últimos a se apresentar. — Voltou seu olhar para os quatro que estavam dançando loucamente logo a frente, sorrindo ainda mais ao ver Taehyung tão solto no meio de todos. Pegou na mão de Jeongguk e mesmo que não pudesse ser ouvido, disse do mesmo jeito: — Vem, bebê.

E se era costume dizer que o mundo ao redor deixaria de existir quando se estava com quem se ama, não poderia ser diferente com os amigos. Não havia noite mal dormida que fizesse o mais novo não dançar junto dos outros, a festa era deles e eles estavam fazendo a festa, não havia como negar. Outra coisa que não dava para negar eram os sorrisos escancarados de todos ao assistirem a performance de Taehyung ao tocar uma guitarra imaginária, muito menos o olhar encantado de Hoseok ao vê-lo daquele mesmo jeito que tanto o hipnotizou da primeira vez. A cerveja esquentou porque ele se esqueceu do que estava fazendo e de onde estava.

Eram raras as noites em que Jeongguk não se questionava que horas eram, se ainda era cedo, ou se era madrugada. Pouco importava. A diversão mal havia começado e ele não queria que acabasse. A sensação já seria boa o suficiente só com os seus três antigos amigos ali, mas, com Jimin presente, tudo parecia se intensificar. Era para ele estar ali assim como a linha negra ao redor do anel prateado deveria estar em seu dedo anelar, tudo estava certo naquele mundo tão errado.

E no fim, nenhum deles era estranho um para o outro, mesmo com tão pouco tempo conhecendo-se pessoalmente. Jimin sabia da existência dos três, assim como eles sabiam da sua. Mas, para Jeongguk, tudo isso tinha um peso especial ao perceber que Jimin olhava para os integrantes do Something da mesma forma que olhava para Taehyung, como um planeta agregando novos satélites em sua órbita.

Ignoravam os olhares feios que Hyejin recebia das pessoas atingidas por seus fios compridos demais, esvoaçantes demais. O suor já escorria das têmporas, o cabelo grudava na testa e o tecido das camisas nas costas, mas só paravam de dançar quando a música pedia. As gargantas arranhadas por cantarem tão alto eram amaciadas pela cerveja e após um gole generoso do líquido maltado, Jeongguk se sentiu contemplado em gritar a plenos pulmões:

Let's dance to Joy Division and celebrate the irony. Everything is going wrong, but we're so happy.

Às vezes, tudo o que um jovem fodido precisava era cantar músicas com letras tristes camufladas em melodias alegres.

A cerveja de Hoseok já estava quente e o copo dos outros vazio, mas isso só foi motivo para Taehyung abandonar a pista de dança. As bebidas daquele bar sempre estavam na temperatura correta e ele se perguntava como isso era possível.

Ao mesmo tempo que o líquido amargo e gelado escorregou garganta abaixo, se contrastando com o seu corpo quente, Taehyung foi atraído pela presença de Hoseok ao seu lado. Mas ao invés do sorriso convidativo que tanto lhe chamou a atenção à primeira vista, nos lábios existia um cigarro que só se ausentou para dar lugar a fumaça soprada em sua direção. Até parecia que ele sabia dos efeitos daquele cheiro sobre si, e, se sabia, que filho da mãe ele era.

Dejavu? — Consertou os óculos que nunca abandonava o seu rosto, o indicador pressionando o meio da armação.

— Não muito. Naquela noite você não estava fumando. — Taehyung acabou pressionando o copo de plástico, em um ato que demonstrava o seu nervosismo por ter entregado que havia reparado tanto nele.

— Chateado por saber que eu fumo? — Ergueu uma das sobrancelhas em questionamento.

— Não, eu sempre soube pelo cheiro. — Hoseok ouviu a resposta e acenou que sim com a cabeça, tão lentamente quanto a nova tragada. Não soube identificar se Taehyung gostava daquela fragrância de nicotina tão presente em suas vestes, mas ele era a porra de um fumante que já havia se convencido que aquela condição não tinha mais volta. Depois de todo o curto silêncio preenchido pela música mais baixa, Taehyung decidiu confessar: — Eu gosto desse cheiro.

Do seu cheiro, complementou mentalmente. Porque não era só o cheiro da droga, mas sim o resultado da mistura com a fragrância natural da pele de Jung, do perfume que ele usava.

— E do gosto? — Estendeu o cigarro entre os seus dedos para Taehyung e se surpreendeu ao ver o rosto alheio se aproximando, tomando o filtro amarelado entre os lábios e tragando do tabaco que ainda segurava. Se a visão de seus dedos tão próximos da boca dele já era alucinante, ver as pálpebras de olhos grandes se moverem em direção ao seu olhar foi de perder os sentidos.

— Achei que fosse melhor. — Respondeu se afastando de vez, incapaz de controlar aquela vontade de saber qual era o gosto da boca dele. Com toda a certeza deveria ter algo a mais do que aquele sabor amargo de tabaco.

Hoseok colocou a mão no peito, ofendido em tom de brincadeira. Deu de ombros e tragou forte, quase semicerrando os olhos, deixando Taehyung naquele silêncio incompreensível, admirando a tensão que pairava no ar e que era somente sua.

Algo dentro de si lhe dizia que deveria ter pegado o cigarro, quem sabe houvesse algum resquício do cheiro em seus dedos. Mas o outro lado afirmava que deveria se contentar com aquela dose tão pequena do outro.

A euforia daquele segundo encontro no Something se esvaiu assim que parou para pensar em todas as possibilidades. Sua mente insistia em criar diversas maneiras de dar errado e em somente uma dando certo. E era nessas mil outras possibilidades que ele havia se apegado.

Ainda perdido em pensamentos, não reparou quando os outros apareceram para reabastecer seus copos e foi só então que experimentou da cerveja já morna, descendo desgostosa e a força pela garganta. Conversas paralelas surgiram enquanto esperavam a próxima banda se apresentar, mas Taehyung não conseguia prestar atenção em nada, o que obviamente foi notado por Jimin.

— Vem ao banheiro comigo. — O chamou e saíram sem dizer para onde estavam indo, não queria que mais ninguém os acompanhassem. Quando chegaram em um canto mais afastado, o moreno já foi logo perguntando: — Por que vocês ainda não se beijaram?

— O que?

— Não se faça de bobo, Kim Taehyung. Você vem falando dele desde que se viram pela primeira vez e agora que sabe quem ele é, o que faz da vida... O interesse morreu? — Cruzou os braços e tentou peitar o amigo com uma expressão séria, mas acabou rindo sem querer. E pelo desconcerto dele, puxando os fios da nuca sem parar e fugindo do seu olhar, Jimin acabou concluindo: — Você tá com medo?

O mais alto suspirou forte e olhou ao redor, logo encontrando Jeongguk com aqueles olhos adoráveis a procura de Jimin, sorrindo e dando meia volta quando percebeu que os dois amigos estavam tendo uma conversa séria. Voltou a olhar para o menor, que ainda esperava por respostas e disse: — Não é medo, só receio.

— Você sabe muito bem que essas duas palavras são sinônimas. Bebeu demais? — Jimin quase gargalhava, mas ainda estava confuso porque só ele estava rindo. Desde quando Taehyung era tão sério em relação a um simples beijo?

Se encostou na parede de cimento queimado e com os polegares nos bolsos da frente de sua calça jeans, bufou e confessou o que se passava em sua mente quando ficava sozinho com o body piercer: — Só acho que nada disso é sobre mim. Eu realmente gostei dele, mas do Jeongguk, da Hyejin e do Namjoon também. Não quero estragar as coisas.

— Como assim não é sobre você? Você não está se privando de algo por minha causa, né? — Taehyung estava odiando ver as sobrancelhas de Jimin comprimidas daquela forma, odiava quando aquela carinha de cachorro sem dono vinha à tona.

— Jiminie, é um grupo novo de amigos, estamos nos conhecendo agora... — Notando a impaciência no tom de voz, o mais baixo preferiu não insistir, pelo menos não ali. Vendo que ele havia cedido, Kim perguntou de forma divertida, o puxando pelo pulso, finalmente saindo daquele canto mal iluminado. — Você vai ao banheiro ou não?

E não era sobre ele. Taehyung se conhecia muito bem e era experiente o suficiente para prever os próximos passos daquela relação. Ele ia gostar muito de Hoseok, ele se entregaria e se tudo desse errado, teria que manter uma distância segura para se recuperar, encontrar a cura que somente o tempo lhe traria. E ele não queria ficar longe de todos eles, queria ficar por perto e ver o quão apaixonado Jimin estava. Queria vê-lo encontrar o amor daquele jeito tão manso que já havia conhecido tão de perto. Não era sobre ele e só a vontade beijar alguém não mudaria isso.

Ter experiência em relações amorosas pode te deixar mais forte, mas também pode causar inseguranças incontroláveis. Era muito para lidar.

Tão de repente quanto aquela conversa se iniciou e terminou, eles já estavam de volta a pista de dança. As luzes do local começaram a assumir tons arroxeados, um universo infinito refletido no palco e a sombra dos três integrantes assumindo seus postos, aquecendo os instrumentos com um som beirando ao psicodélico no teclado. O interlúdio encontrou seu fim da mesma forma que as músicas de Hyejin tanto adorava, naquela constante repetição que abaixava o tom até encontrar o silêncio, este que foi preenchido pela voz do vocalista logo em seguida:

— Olá, nós somos a B612.

E a batida anterior se entrelaçou com outra melodia de forma crescente. Quanto maior o seu volume dentro daquela mistura que se unificava, maior era a boca de Jeongguk ao se escancarar e procurar por Jimin de olhos arregalados, dizendo: — "Oh No" — O nome de uma das músicas do Bring me the Horizon.

— Cuidado com o que você deseja. — Jimin citou o refrão da música apenas porque não poderia deixar passar que, sim, ouviu o que o outro desejou logo que chegaram ao bar, que já abrigava tantas memórias suas, dos dois.

Jeongguk sorriu tão grande que seu nariz se enrugou e seu olhos se fecharam quando seus lábios se encontraram com os de Jimin, suas palmas nas bochechas alheias ao que selava os lábios de maneira divertida. Suas mãos percorreram os braços e logo estavam entrelaçadas com as dele, dançando com as palmas unidas e ignorando todos ao redor, – só se importava com a música alta em seus ouvidos e com os sorrisos decorados pelas luzes coloridas que serpenteavam sem rumo.

E enquanto todos se movimentavam com o ritmo animado, Namjoon permanecia imóvel, vidrado no que acontecia no palco. Em quem estava lá. O vocalista parecia tímido, tocando sua guitarra e cantando com os lábios presos ao microfone de maneira tão intimista. Os fios ondulados e escuros caíam sobre os olhos, não o impedindo de perceber os traços orientais bem marcados.

Um sul-coreano com a pele inteiramente desenhada, com todos os planetas do Sistema Solar em seus braços – exceto pelo Saturno solitário em seu pescoço –, em cima de um palco, sendo o centro das atenções, à mercê de julgamentos. Namjoon entendia o motivo dele estar cantando para os outros e simultaneamente, tão dentro de si mesmo.

— O que foi? — Hyejin o cutucou, notando a inércia isolada na pista de dança.

— Queria ter tatuado esse cara. — Respondeu sem tirar os olhos da figura que fitava a multidão lá de cima.

E como se fosse o certo se atrair pelos olhos que o encaravam, o vocalista passava a palheta sobre as cordas da guitarra enquanto admirava o pescoço de Namjoon fechado em tatuagens. Este que sorriu pequeno ao ver que foi reparado e apontou para o próprio pescoço, onde o Saturno alheio estava tatuado. Moveu os lábios, esperando que o outro entendesse a sua mensagem: I-ra-do.

O cabeludo sorriu ao que a bateria crescia e voltou a cantar com o mesmo sorriso estampado em seus olhos. Algo que não conseguia cessar ao ver que ao lado daquele desconhecido, estavam outros dois tatuados de dermes completamente expostas, curtindo a música que tocava. Era a sua voz reverberando pelas paredes.

Sempre gostou de se apresentar naquele bar e ao que parecia, o lugar estava se tornando o lar de pessoas como ele. Talvez não fosse tão renegado assim.

— Você ainda pode. — Hyejin disse em meio ao curto silêncio do fim da música e a salva de palmas e assobios. — Tenho muita coisa pra te ensinar sobre o preto e cinza.

Namjoon sorriu carinhoso para a namorada, vendo-a esticar o pescoço em sua direção, pronta para receber um selinho. Ela sempre o apoiava em toda loucura que ele quisesse fazer. Se ele permitisse, Hyejin já estaria de frente para o palco com um bilhete garranchado de guardanapo, com os dizeres: "deixa eu tatuar você" e um cartão de visitas do estúdio.

Gostou da escolha do lugar. Hoseok já estivera ali e acabariam indo de qualquer forma, mas saber que Jimin e Taehyung apreciaram o ambiente muito antes de se conhecerem, fazia tudo soar mais íntimo entre os novos amigos. Estes que se comportavam como se estivessem dançando, pulando e gritando as letras das músicas, na sala de suas casas, derramando cerveja no tapete.

E olha que Jeongguk nem conhecia todas as músicas, se tivesse alguma autoral ele jamais saberia. Mas nem isso foi capaz de esvair aquela gostosa sensação de que o tempo se arrastava, mas que na realidade, o ponteiro do relógio seguia o seu curso natural e a madrugada adentrava a noite sem pedir licença.

No entanto, o clima de despedida era denso no ar. Seus corpos já pediam pelo fim e por um banho morno, talvez uma saideira antes de partirem. Lá do palco a coisa não era diferente, os outros integrantes bebiam água de garrafas suadas, o líquido transparente brilhando contra a luz. O vocalista puxava seus fios compridos e molhados para trás – sinal de sua entrega ao momento por se sentir acolhido pelos tatuados –, finalmente expondo a testa e os olhos tão familiares.

Ele parecia nervoso, remoendo as palavras dentro da própria cabeça. Talvez doesse um pouco em si, mas era aquilo que a letra da música seguinte o fazia pensar. E com o nó engolido a força, um suspiro que passou longe do microfone, ele se aproximou do pedestal e disse:

— Essa é para aqueles que se permitiram cativar.

E sem qualquer brecha para que Jimin pensasse sobre a escolha de palavras do vocalista, a voz começou a ecoar dentro de seus ouvidos sem um novo aviso prévio. A letra sendo entendida não só por saber inglês, mas porque se permitiu cativar.

Em cada estrofe ele via Jeongguk e todas as pequenas coisas que ele fazia como um motivo para estar tão apaixonado. Procurar por seus olhos se tornou inevitável, assim como gravar na parede de sua memória a forma como as novas luzes refletiam sobre a pele, enquanto ele devolvia, em pura reciprocidade, o mesmo olhar cuidadoso. Com aqueles olhos.

Quem os olhasse no meio da pista de dança, abraçados, envoltos em seu próprio mundo, logo diria que os dois estavam apaixonados. Não dava para negar que eram almas gêmeas.

Jimin não conseguia parar de pensar enquanto o mundo ao redor virava um mero borrão que, os outros, aqueles com quem compartilhou a cama por algumas horas e trocou fluidos corporais, eram todos errados em comparação ao acerto que era estar com Jeon Jeongguk.

Eles não estavam juntos. Eram juntos, assim como tudo que era para ser e isso era palpável, visível até mesmo para quem estava em cima do palco, sabendo que sua música estava chegando a corações predestinados.

— Jeongguk... — Jimin sussurrou em seu ouvido, o nariz resvalando em sua bochecha e só um murmúrio conseguiu ser emitido, esperando que ele dissesse mais alguma coisa, mas só o que fez foi repetir o seu nome mais uma vez. — Jeongguk. — E várias outras. — Jeongguk... Jeongguk... — E as mãos do tatuado eram fortes naquele abraço, pois já ficou sem Jimin e não queria por nada nesse mundo que ele corresse para longe, de novo. Os olhos marejados foram fechados e contra a sua boca foi sussurrado uma última vez. — Jeon Jeongguk. — Até que a língua se desocupou em falar e preferiu beijar o dono daquele nome tão bonito.

E não havia cerveja amarga que deixasse aquele beijo menos doce, multidão que os impedisse de demonstrar o que crescia no peito. A mão de Jimin ia sorrateira pelos fios curtos da nuca e os braços de Jeongguk na cintura alheia, movia os corpos em rodopios que cessavam o beijo e davam lugar para sorrisos tão abertos que ambas os olhos se fechavam. Mas tudo bem, não era necessário ver nada, se preocupar com possíveis tropeções. O mundo ao redor dava lugar para que eles pudessem passar, o fio vermelho não podia enroscar.

E aquele que se permitiu cativar tantas outras vezes, agora tinha – como ele mesmo havia dito –, receio de se deixar levar por alguém que não sairia da sua rotina tão cedo. Era mais fácil se apaixonar desse jeito, mas também de esquecer.

Taehyung estava de braços cruzados enquanto a música lenta parecia nunca acabar, olhando para os pares que se formaram tão de repente, seus amigos se incluindo no grupo de casais apaixonados que sorriam entre beijos. Era até bonito de se ver. Mas ainda havia Hoseok o olhando com um semblante entediado.

— Você vai querer dançar com uma estranha, ou comigo?

— E se eu não quiser dançar? — Perguntou fitando o palco, que lhe pareceu ainda mais atraente que o perfume de Jung invadindo as suas narinas, o copo alheio se aproximando.

— Tá com tanto medo de mim assim? — O body piercer pegou em seus antebraços, descruzando-os e depositando suas mãos na própria cintura. E assim que os troncos se aproximaram e Hoseok o olhou com aquele ar sapeca, Taehyung, pela primeira vez, agradeceu a presença dos óculos que decorava a face e das lentes que refletiam esverdeadas, incapaz de enxergar os olhos de lua minguante. Mas a boca ainda estava descoberta e obviamente, tagarela. — Eu não mordo, sabia?

E pela diferença de altura, o nariz de Hoseok se encaixava perfeitamente na linha do pescoço de Taehyung, seus braços envoltos dos ombros largos tentavam, tolamente, mover o corpo travado do maior. As mãos grandes na cintura pequena eram tão leves que nem pareciam estar ali, como se Taehyung também não quisesse. Mas ele queria. Queria tanto que ouvir a palavra "medo" sendo pronunciada por quem lhe provocava tal sentimento o deixou completamente exposto.

Queria parar de pensar no fim daquilo que nem havia começado. Queria não surtar internamente quando sentiu a ponta do nariz percorrer a sua pele, chegando ao queixo e a sua cabeça se abaixando automaticamente. Os rostos a ínfimos centímetros de distância e os lábios se encontrando em um selar que durou o tempo de um último acorde.

— Viu? Não foi tão ruim assim. — E as mãos que estavam em seus ombros evaporaram, assim como o novo cigarro que ele fumaria. Colocou um cilindro atrás da orelha e deu as costas, deixando Taehyung para ouvir a última música da noite.

Hoseok sabia que ele não viria atrás de si, sabia que ele era do tipo que pensava demais.

E antes que qualquer iniciativa fosse tomada, a banda guardava seus instrumentos e a frente do bar se enchia de pessoas prontas para uma segunda rodada, em outro lugar e, de outros que só queriam ir para casa.

A brisa daquela madrugada era mais fria do que Jimin conseguia se lembrar. De relance, viu a calçada que foi palco da pequena cena dramática protagonizada por si e pelo melhor amigo, com direito a lágrimas e ligações interrompidas. Olhar para a própria mão; ver o dorso tatuado de Jeongguk; os dedos entrelaçados e carinhos feitos com polegares, fazia-o apreciar as voltas que o mundo deu desde que se permitiu dar o pontapé inicial daquela história.

Jeongguk olhava ao redor apreciando tudo o que seus orbes pudessem alcançar. Hoseok dava fim ao seu cigarro, encostado na parede do bar, ao lado de um dos grandes cartazes que anunciavam a banda B612; Taehyung estava calado, mas para ele o silêncio era confortável porque estava ao lado de Jimin; Namjoon e Hyejin mexiam em seus celulares, cada um deles pedindo um carro pelo aplicativo.

Pelo horário, já era sábado e todos os outros que passavam por si eram meros pedestres, vagando pelas ruas com suas garrafas de soju em mãos. Não eram clientes em potencial, ele não estava ali para isso. Jeongguk, naquela noite, estava do outro lado da história, se esquecendo do motivo de ter o cabelo daquela cor e não se preocupando com as luzes azuis e vermelhas de uma viatura estacionada na esquina.

Mas todo aquele peso, os motivos e suas dores, não eram inexistentes. Flutuavam sobre a sua cabeça como uma nuvem carregada, acinzentada e barulhenta em trovões, apenas esperando o momento para desabar e tornar a realidade cada vez mais amarga.

E desabou quando um suspiro cansado pela espera do carro que nunca chegava, foi cortado ao ouvir uma voz conhecida lhe chamar pelo codinome que lhe causou repulsa naquele momento: — Flamingo?

A língua se tornou fel dentro da boca, estática sem conseguir pronunciar qualquer murmúrio. Não gostava daquela sensação de achar outro ser tão repugnante, mas a presença de Dakho nunca lhe trazia boas memórias, ainda mais com o combo de Chanyeol bem ao seu lado, jogando os fios encaracolados de seu cabelo para trás.

— Poxa, viemos escutar a B612 porque nos indicaram, mas não sabia que dava 'pra dar um tapa enquanto curtíamos o som. — A voz de Dakho era relaxada, não notando a sua total inconveniência, muito diferente do tom rasgado e lábios secos por quase ter tido uma overdose no jardim do Centro de Belas Artes. — Você tem alguma coisa aí, Flamingo?

Taehyung percebeu o olhar apreensivo de Jeongguk, que vagava desde a viatura distante, até os pares de olhos ansiosos. Mas quem os respondeu foi Jimin, num tom ríspido que se sobrepôs ao farfalhar do pequeno contingente de pessoas que por ali passava: — Não tem ninguém aqui com esse nome. — E puxou Jeongguk com as mãos ainda entrelaçadas.

Antes de entrar no carro indicado por Namjoon, o moreno olhou uma última vez para Chanyeol, pois Dakho não lhe devia nada. Ele e Jimin se conheciam bem o suficiente para desejar tudo o de melhor um para o outro, não entendia porque o estudante de música estava agindo daquela forma se era claro que aquilo o magoava, tanto quanto incomodava Jeongguk.

Era o que Chanyeol fazia de melhor: se mostrar passivo diante de uma situação como aquela. Sabia que incomodava, mas se pudesse arranjar o seu e se dar por satisfeito, não fazia a mínima diferença para si a forma como o outro se sentia. Um parasita, Jimin pensou, furioso.

E furioso ele fechou a porta do automóvel, deixando a cortesia para com o motorista para Taehyung, que estava sentado no banco do passageiro.

— Fala sério! Eles te pediram desculpas pelo incidente daquela maldita festa? — A voz afetada de Jimin parecia mais alta dentro do pequeno espaço que dividiam. Jeongguk estava no outro oposto, olhando diretamente para a janela que começava a receber os primeiros pingos finos da chuva de outono. — O cara foi pra cima de você, completamente fora de si, e ainda chega do nada achando que pode pedir alguma coisa.

— Eu não quero falar sobre isso. — E aquela foi a última vez que Jeongguk olhou para Jimin dentro daquele carro, preferindo observar a forma como os pingos tão fracos sequer formavam poças no asfalto. Até mesmo como o limpador de parabrisa trabalhava de forma preguiçosa por não ter exatamente o que limpar.

Era uma chuva estranha e, no entanto, existia. Deixou de ser nublado e respostas foram dadas: No fim, sempre choveria.

(...)

Não havia papel pardo nos vidros do pequeno apartamento de Hyejin e Namjoon, apenas cortinas claras que pararam de se movimentar assim que chegaram e as janelas foram fechadas. Estava nublado, mas ninguém esperava pela chuva.

O lugar não era alto o suficiente para que Jeongguk conseguisse ver a luz dos postes sendo atravessada pela água, se contentou em assistir os fracos pingos atingirem a entrada do prédio. Seus amigos moravam no primeiro andar porque o dono não queria que aquele bando de gente de pele manchada, perambulasse pelos corredores e elevadores, assustando os outros moradores.

Mas a varanda era a mesma em todos os andares, a porta de vidro sendo coberta pela mesma cortina, longa e clichê. Enquanto os outros se arrumavam para dormir, Jimin permanecia ali, observando Jeongguk agir como se estivesse em seu próprio apartamento, levantando no meio da noite e se postando na janela. Mas a culpa que sentia não o deixou apenas olhar, divagar sobre o que ele estava pensando.

— Sinto muito por ter insistido no assunto. Eu estava com raiva, não pensei direito.

Jeongguk o olhou sobre o ombro e piscou lentamente, acenando que sim com a cabeça. — Tudo bem, eu também estava com raiva. Deles, do mundo... — Suspirou forte e logo Jimin abandonou o batente da porta e o abraçou por trás, afundando o rosto em suas costas. — Essa não foi a primeira vez que isso aconteceu, eu só não queria que tivesse acontecido hoje. 'Tô cansado dessas doses homeopáticas de felicidade. — Puxou os braços de Jimin na altura de seu peito e enroscou seus dedos nos dele.

— Mas hoje a sua dose de felicidade foi bem exagerada. — Resvalou o nariz sobre a nuca nua e a beijou. — Passou o dia todo comigo, se divertiu com os seus amigos, ouviu uma boa banda ao vivo. — Jeongguk sentia a movimentação dos lábios alheios a cada nova palavra dita, tão perto de sua pele. Jimin puxou seus braços, desengatando do abraço e logo o outro já estava de frente para si, suas mãos foram em direção aos ombros dele e a sua cintura foi apertada, o chamando para mais perto. — Se você quiser, a gente pode fazer alguma coisa que ultrapasse esses momentos. Eu só não quero que o seu dia termine assim, com uma memória ruim.

Jimin não o deixava menos triste. Seus olhos ainda eram marejados e as pálpebras levemente caídas, no entanto, não queria chorar. Beijou a bochecha e seguiu rumo ao pescoço do moreno, afundando o rosto ali em um abraço apertado e sua respiração saindo em suspiros.

Porque, no fim, a sua realidade era aquela. Os momentos bons, seus sonhos de fazer o que de fato queria, moravam em um outro plano terrestre. Ele se perguntava quando iriam se encontrar e se fundir um no outro, sem escapes para outras dimensões. E se ali nos braços de Jimin toda a dor se tornava amena, pensou que talvez ele fosse o seu vício, aquilo que o fazia fugir daquela realidade tão amarga.

Mas ele sabia que vício era uma palavra muito forte, quiçá destrutiva. Afinal, ele não se sentia menos inteiro quando estavam longe um do outro. Muito pelo contrário. Jeongguk se sentia mais vivo, era amor genuíno invadindo as cicatrizes de seu pobre coração partido.

Talvez Jimin fosse cura. E como cura, ele podia ir embora quando quisesse, se quisesse. Não deixava dependente.

— Acho que não precisamos fazer mais nada. — Jeongguk conseguiu dizer, depois de longos minutos apenas abraçados. — A noite de hoje foi ótima. Terminou como deveria terminar.

Voltaram para a sala de mãos dadas e lábios inchados, logo assistindo a uma cena adorável: O sofá-cama armado, Hoseok vestido com um kigurumi de coala e Taehyung enrolado até a cabeça em um cobertor felpudo, as ondas de seu cabelo escapando pelo tecido.

— O que foi? Não tem cobertor pra todo mundo. — Jung respondeu os questionamentos presentes nas rugas da testa de Jimin enquanto calçava uma meia.

— Só não fuma com esse pijama porque a cena seria traumática. — Jeongguk disse e logo se espreguiçou, pegando uma das toalhas brancas e bem dobradas que estavam em cima da mesa de centro, pronto para tomar um banho.

Antes que Jimin também sumisse banheiro adentro, Taehyung procurou fazer contato visual e perguntou naquele seu típico tom grave e sussurrado: — Tá tudo bem? — O outro respondeu que sim com a cabeça, sorrindo pequeno e lhe beijando a testa, sentindo o cheirinho gostoso de sabonete que dali emanava.

Quando Hyejin parou de checar se Hoseok estava com frio, portas de quartos foram fechadas e tudo se aquietou, Taehyung ainda estava de olhos abertos. Jung o olhou de soslaio através do capuz sobre sua cabeça e não hesitou em perguntar:

— No que você 'tá pensando?

Taehyung virou-se de lado e tamborilou os dedos sobre o estofado, no fundo sabia que Hoseok seria um bom ouvinte, ao menos naquela situação: — Você quer mesmo saber? — E assim que abriu brecha para que seus pensamentos fossem expostos, logo as orelhas do coala foram direcionadas para si, esticadas entre os dedos finos e sem qualquer cheiro de cigarro.

— Manda bala. — Se acomodou de lado, enxergando o rosto de Taehyung um pouco embaçado devido a ausência dos óculos, mas ainda conseguia ler as expressões. — Foi por conta do que aconteceu com o Jeongguk, certo?

— Sabe, foi por minha causa que eles se conheceram. Eu que dei a ideia de comprar maconha pra usar numa festa no campus. Eu fiz piada com o fato de Jimin estar interessado em um traficante e quando vi que eles estavam muito envolvidos, alertei sobre a possibilidade de vê-lo no noticiário... Sendo preso... E agora que estou do outro lado, eu não quero que isso aconteça. Jeongguk não merece.

As frases de Taehyung foram completamente disparadas, ainda bem que a sua dicção era boa, não sabia se seria capaz de repetir palavra por palavra. Hoseok entendeu que ele andou pensando sobre aquilo por todo o percurso até ali, quem sabe até antes mesmo de se conhecerem, e nunca foi tão bom se sentir merecedor de ser seu confidente.

— Cara... — Suspirou e olhou para o teto antes de também confessar. — Eu nem sou religioso, acho que nem acredito em divindades e essas coisas, mas de vez em quando, eu olho pro céu e peço com todas as forças pra ele voltar pra casa. Ele é o único motivo das minhas pseudo-orações.

Taehyung suspirou audivelmente, podendo-se notar as falhas na voz embargada, mesmo que não tivesse dito nada.

— Ele não merece, mas tá na linha de frente. — Hoseok continuou, mordendo os lábios de maneira nervosa. — É mais complicado olhando de cá, do que você olhando através dos muros da Yonsei.

— Por que ele simplesmente não sai disso? — Taehyung se apoiou nos cotovelos, se aproximando ainda mais de Hoseok. Sua voz era baixa e no entanto, não deixava de expressar desespero.

— Ele diz que tem uma dívida, mas na verdade tem um chefe louco. — Revirou os olhos e estalou a língua no céu da boca. — Eu não sei absolutamente nada sobre esse cara, mas já são anos vendendo esse monte de merda e vivendo somente com o necessário. E há quem diga que todos os traficantes vivem no luxo... Besteira. — Voltou a olhar para o teto e jogou o ar para fora da boca. — Ele tá preso a um homem que sente prazer em ter pessoas como posse. É isso o que eu penso, mas eu nunca falei em voz alta com ninguém.

Se entreolharam em silêncio e se enxergaram de maneira diferente. Barreiras foram quebradas ao que expeliram seus pensamentos para fora de suas bocas, um tipo de intimidade que sequer foi cogitada anteriormente e não era pela falta dos óculos de grau.

— Acredite, se Jeongguk pudesse parar, ele pararia.

E ali, deitados no sofá-cama, as mãos sobre os abdomens, encaravam o teto e o peso de suas (novas) realidades, sabendo que o amante das flores não tinha a vida cor de rosa que tanto merecia. Seus fios de cabelo eram uma bela ironia. 

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