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20. Abstinência

#CodinomeFlamingo

Sábado

Nunca se sentiu tão incomodado por compartilhar o mesmo espaço que os seus colegas de trabalho.

Seokjin estava no estacionamento do clube, o boné preto em sua cabeça o protegia do sol forte da manhã e havia uma mochila em suas costas, guardando sua toalha, roupa seca e protetor solar. Não sabia há quanto tempo estava ali perdido em pensamentos, mas aquela SUV prateada parecia estar meio perdida entre tantos outros modelos de automóveis comuns.

Ele sabia quanto todos aqueles agentes ganhavam e ele era o único de cargo mais alto naquele local, logo, ganhava mais que todos eles e não tinha condições de ter a porra de uma SUV na garagem.

Talvez estar desconfiado de tudo e todos estivesse o deixando louco, vendo coisa onde não tinha. Mas a suspeita não cessaria até saber a quem aquele carro pertencia.

Adentrou a área onde a confraternização já acontecia e logo percebeu olhares oblíquos em sua direção, fazendo-o se sentir acuado no mesmo instante. Seus colegas mais próximos não estavam ali devido ao trabalho que nunca podia parar, uma operação iria acontecer na noite daquele mesmo dia e como as folgas de todos não se coincidiram, Seokjin tentou se prender ao motivo de estar ali: Se aproximar dos agentes e principalmente de Hyun, pois já sabia da conversa que Wheein havia escutado às escondidas.

— Senhor Kim! — Yeonjun, um dos agentes mais novos, o chamou. — Que bom que veio.

— Não precisa me chamar dessa forma, eu não sou tão velho assim. — Respondeu sorridente, retirando o boné e jogando os fios negros para trás. — Acho que por aqui você pode me chamar de hyung. — O mais novo lhe mostrou o seu melhor sorriso e Seokjin logo achou que aquele garoto era inocente demais para estar naquele ninho de cobras, mas por enquanto, ele também era um dos suspeitos.

— Delegado! — Mal conseguiu colocar a mochila em um canto e logo mais um dos agentes viera falar consigo, mas dessa vez, não era um dos mais jovens. — Que surpresa. — O quase aposentado, Jae-in, disse com as sobrancelhas arqueadas, demonstrando sua total infelicidade disfarçada. Era um dos que menos gostava de si, mesmo que não entendesse exatamente o porquê. Talvez fosse jovem demais para assumir um cargo de extrema importância como aquele, mas o que ele poderia fazer se os mais velhos eram tão acomodados?

— Espero que seja uma surpresa boa. — Respondeu irônico e o que recebeu como resposta foi apenas um sorriso amarelo, completamente sem graça.

— Seokjin! Vai beber? — Se virou para encontrar o dono daquela tão inconfundível voz e deu de cara com Hyun, segurando uma garrafa de cerveja e um copo de vidro em mãos.

— Ah, não... Estou dirigindo. — O seguiu em direção ao balcão próximo a piscina, onde os demais agentes estavam sentados. Existiam alguns outros grupos espalhados pelo local, sentados ao redor de mesas de plástico enquanto a comida começava a ser servida, mas o jovem delegado precisava ficar por perto daquele que mais lhe trazia dúvidas. — Aliás, de quem é aquela SUV? — Perguntou como quem não queria nada ao finalmente se sentar entre os demais.

— É minha. — Foi Hyun quem respondeu, dando mais um gole na cerveja e percebendo o olhar incisivo de Seokjin em sua direção. — Eu só vou beber essa, logo, logo o efeito passa.

— Entendi. — Respondeu como quem disfarçava o caminho para onde seus pensamentos o levaram, ele não estava nem aí se Hyun estava bebendo para pegar no volante logo em seguida, mas que bom que o olhar serviu para alertá-lo. — E o custo benefício? É o modelo mais novo, certo?

— Ah... — O agente parecia precisar se recordar que o assunto em questão era o seu carro, mas em nada conseguia pensar para responder, afinal, só o viu, gostou e comprou. O dinheiro que recebia por ajudar Sunho e Baekhyun era o suficiente para que luxos como aquele pudessem ser feitos. — Foi bom.

Seokjin semicerrou os olhos e jogou a cabeça para o lado, estava esperando por uma bela história de muito trabalho e corte de gastos, mas a conversa foi facilmente distraída pelo mergulho de Yeonjun na piscina, o primeiro a enfrentar a água gelada e clorificada.

Lee Hyun já havia parado de beber depois que o churrasco começou a ser servido, o que não era o caso do restante da parte da corporação presente. Alguns outros se arriscaram a entrar na piscina e voltavam completamente encharcados para o balcão cercado de bancos altos. Muitos assuntos surgiam dentre aquele pequeno grupo, mas nenhum deles pareceu ser do interesse de Seokjin, que não conseguia se animar com resultados de partidas do campeonato europeu de futebol, muito menos com a infelicidade de Yeonjun em não conseguir colocar os episódios de seu dorama favorito em dia. Tudo aquilo só contribuía para que o clima ficasse mais abafado e ele começasse a cogitar a possibilidade de também se jogar na piscina.

— Vocês repararam que aquele garçom tem uma tatuagem no ombro? O desenho escapou da gola do uniforme. — Seokjin não fazia a menor ideia de como se chamava aquele agente em específico, mas não conseguiu deixar de prestar atenção no tópico da recente conversa.

— Deve ser um ex-detento. — Hyun disse de boca cheia, mastigando um pedaço generoso de carne.

— E só ex-detentos possuem tatuagens? — Seokjin questionou enquanto bebia o seu refrigerante. As sobrancelhas arqueadas eram completamente involuntárias.

— Bem, isso quer dizer que algum dia foram criminosos, então sim. — O mesmo respondeu, agora de boca vazia. O olhar era sério e incisivo, como se não acreditasse que um delegado não soubesse daquilo.

— Eu acho tatuagens bem legais. — Yeonjun se manifestou timidamente, penteando o cabelo molhado com os dedos, jogando-os para trás. — Será que pegaria muito mal um agente como eu ter uma?

— Ah, mas com certeza. Pele manchada não é coisa de gente honesta. — O tom de voz que Hyun usava era tão ríspido que quase parecia estar cuspindo as palavras, tamanho o nojo que sentia.

— Entendi. — Seokjin balançou a cabeça positivamente e se levantou, espreguiçando-se e sentindo alguns ossos estalarem.

A conversa prosseguiu, mas ele não estava interessado em continuar ouvindo. Se encaminhou em direção a sua mochila e de lá retirou o protetor solar que guardava. Puxou a camiseta branca pela barra e logo a mesma passava por sua cabeça, pegou um pouco do produto e se dirigiu em direção à beirada da piscina, passando-o com a pontas dos dedos, pacientemente, sobre o dragão ancião estampado em seu abdômen, até que a cauda do mesmo se perdesse dentre o tecido escuro da bermuda tactel.

Antes que pudesse mergulhar na água gelada e sentir um leve choque térmico atingir-lhe o corpo, olhou diretamente para o balcão que dantes estava e admirou os diversos significados que cada olhar direcionado a si possuía, mas preferiu focar no sorriso incontrolável do jovem Yeonjun que era de pura admiração.

Aquilo valia a pena, não os outros.

(...)

Jimin voltava para casa e olhava pela janela do ônibus, mas as ruas passavam despercebidas por seus olhos. Ele não estava atento ao mundo lá fora, sua mente não conseguia levá-lo para muito longe daquela mugunghwa nas mãos de Jeongguk enquanto Pablo Neruda era recitado, como se o professor Martin soubesse o que se passava em seu coração.

Mas não poderia ser uma indireta, era só a vida seguindo o seu curso natural e ele enxergava o que queria com o que lhe era mostrado.

Lágrimas pediam passagem, mas Jimin pensou ser demais para uma sexta-feira. Aquilo não poderia estar acontecendo. Nem mesmo escutava música em seus fones de ouvido, pois acreditava que poderia cair em uma armadilha. Se foi afetado daquela forma com um poema, não poderia arriscar a se sabotar daquele jeito com alguma canção que o fizesse se lembrar dele, mesmo que não tivesse o esquecido um segundo sequer desde que se despediram naquela última manhã de domingo.

E mais um domingo se aproximava e aquele nó no peito não cessava. Que rotina amarga e monótona era ter o coração pesando uma tonelada e saber que a culpa era inteiramente sua.

Naquela manhã de sábado, demorou um pouco para se levantar da cama. As memórias ali presentes pareciam querer lhe sufocar. Mesmo que soubesse que era impossível, pensava estar sentindo uma nuance da fragrância do perfume de Jeongguk em seus lençóis, talvez seja por isso que ele o visita constantemente em seus sonhos. A estante de livros ainda era a mesma, abarrotada de exemplares mais velhos que seus pais, fazendo parte de todos os seus medos e manias acumulados ao longo do tempo, os quais ele sabia muito bem que precisava se livrar, e logo.

Puxou a colcha para mais perto de seu rosto e se acomodou do jeito que podia, mesmo que tivesse acabado de acordar, o corpo parecia cansado e não tinha pressa em se levantar. E ao fechar os olhos mais uma vez e respirar fundo, sussurros de frases aleatórias e desconexas surgiram em seus ouvidos, pensou estar se lembrando de algo que leu, mas Jimin não poderia estar mais enganado: Aquilo se chamava inspiração, algo que só poderia ser assustador se estivesse pensando em escrever algo para Jeon Jeongguk. Era aquela mesma sensação que o fez deixar a biblioteca aos tropeços, seja dos pés, seja dos batimentos cardíacos.

Quem não o conhecia e somente o olhava perambulando por aí em festas do campus e chegando de madrugada em casa, poderia pensar que Park Jimin vivia se arriscando em relações amorosas, mas na verdade, ele era apenas um romântico medroso. Bastava olhá-lo com mais atenção para identificar que todas as suas ações representavam uma constante fuga e que correr o risco nunca fez parte do seu cotidiano.

Mas Jeon Jeongguk conseguiu bagunçar tudo dentro de si.

O talvez começou a ser cogitado e de repente, a vontade de querer dar a cara a tapa para saber o que aconteceria o afogava ao ponto de deixá-lo sem ar. A ideia de querer fazer tão bem para o tatuado quanto ele fazia para si o maltratava, porque não sabia se seria capaz de tal ato e se afastar nunca pareceu tão certo.

E por isso, quando a noite começou a dar os primeiros sinais de sua chegada, Jimin convenceu Taehyung a sair consigo, este que apenas topou por saber que o amigo iria sozinho de qualquer forma e por suspeitar que alguma merda maior fosse acontecer, sentia que deveria estar por perto para acudi-lo da maneira que lhe era permitida.

E o local escolhido foram as ruas de Hongdae. Tentava andar de forma natural entre as pessoas, ambos com uma garrafa de soju em mãos já pela metade, mas o exagero de luzes do bairro refletia a sua real intenção de estar ali: pois ao mesmo tempo que podia ignorar que já era noite se caso não erguesse o olhar para fitar o céu noturno, também podia fingir que as certezas que fizeram morada em seu peito não existiam. Ir a um lugar no qual não possuía lembranças com Jeongguk era uma forma de não assistir às suas imaginações ganhando vida enquanto se perdia em pensamentos involuntários.

Quando pararam de repente em uma calçada, Taehyung percebeu que eram os últimos de uma extensa fila, cheia de pessoas que pareciam não ter nada em comum consigo, além dos refletores na porta de entrada que machucavam os seus olhos. Bufou entediado e cruzou os braços, olhando para Jimin sem conseguir deixar de torcer os lábios:

— Por que aqui?

— Porque quanto maior a fila, melhor deve ser o lugar. — Tentou responder como se fosse óbvio, como se Taehyung não soubesse exatamente o que ele queria fazer.

— Quanto mais cheio, mais pessoas para conhecer, certo? — Jimin não queria se sentir tão acuado com aquela frase de Taehyung, que deu de ombros e tomou mais um longo gole da bebida destilada. Se ele já estava cansado de toda aquela história, imagina os outros.

— Não é nada disso... — Se desvencilhou do olhar que parecia o perfurar e mordeu os lábios. Só aquilo fora o suficiente para se sentir atacado, afinal, Taehyung não era do tipo que usava aquele tom de voz provocativo para lhe dizer verdades. Talvez o álcool não fosse bem-vindo àquela noite.

— Acha mesmo que eu não sei o que você está fazendo? — Cruzou os braços enquanto fitava somente o perfil do amigo, que ainda se recusava a olhar para si. — Jimin-ah, nós estamos em Hongdae, numa fila para entrar em uma boate que só toca música eletrônica e você não gosta de nada disso. Acho que você deveria se voltar para coisas que realmente gosta, ou pessoas, sei lá.

Pessoas. Jimin sabia sobre o que Taehyung estava falando e nada conseguiu responder, apenas deu três goles grandes no soju, sem afastar os lábios do bico da garrafa, não conseguindo ver o outro balançar a cabeça em negação.

Enquanto sentia a garganta queimar pela ingestão exagerada e repentina do destilado, Jimin focou os olhos no outro lado da rua. Havia um bar feito de tijolos claros assimétricos, quase como pedras cortadas da Grande Muralha, a porta de entrada ficava exatamente no centro e de cada lado havia dois grandes cartazes, que se estivesse muito bêbado, poderia passar despercebido por eles ao achar que fossem janelas de vidro cobertas por cortinas coloridas. Ao ler o que o primeiro da esquerda dizia, seus lábios se mantiveram entreabertos após dizer em voz alta, inconscientemente:

— B612?

— Existe uma banda chamada B612? — Taehyung semicerrou os olhos para tentar ler melhor, claramente interessado na referência que aquele nome carregava. — Nós precisamos ir até lá.

O pulso de Jimin fora agarrado e ao ser puxado para dentro daquele bar, se perguntou ao universo, de forma quase inocente, o que queria consigo. Ingênuo que só, ainda achava que era o mundo ao redor que conspirava para que os poemas fossem recitados por causa dele, ou que as músicas que tocavam em alto falantes aleatórios fossem uma indireta para o rascunho de sua história, ou até mesmo que, bandas de outro espaço-tempo surgissem apenas para lembrá-lo daquele momento íntimo em que finalmente soube o nome do dono daquele par de olhos que abrigavam toda uma galáxia.

Era tarde da noite, então a banda já estava no palco tocando o que ele logo reconheceu ser Starlight da banda Muse. Taehyung o soltou e se aproximou do centro da pista dançando, dando goles pequenos em sua bebida e não demorou para que se virasse de volta e cantasse com uma entonação e expressão facial exagerada e lábios molhados de soju: — Hold you in my arms, I just wanted to hold you in my arms.

Ao menos alguém estava se divertindo.

A casa estava cheia e a frente do palco completamente ocupada. Taehyung ainda dançava ao lado de Jimin, às vezes parava para admirar a banda tocando e olhar para o amigo de soslaio. Aquele com certeza era o seu tipo de lugar e o agradeceu mentalmente por tê-lo tirado de casa naquele sábado à noite, mesmo que ele ainda estivesse de cara emburrada enquanto dava fim ao conteúdo de sua garrafa.

Na parte em que a guitarra se fazia mais presente e animada, Taehyung pulou e cantou junto aos demais, aproveitando o ritmo da música e se esquecendo completamente do clima ruim que parecia ter ficado do outro lado da rua. Pena que o mesmo não havia acontecido com Jimin, que apenas ficou ao seu lado de braços cruzados enquanto olhava para o vocalista com o cabelo por cortar na frente dos olhos.

Our hopes and expectations... — O mais alto se moveu na direção de Jimin enquanto seus quadris se remexiam de um jeito engraçado, fazendo-o rir ao ponto das pálpebras se apertarem e os olhos se fecharem, não percebendo quando Taehyung colou a testa na sua e continuou cantando. — Black holes and revelations.

O assistiu dar alguns passos para trás enquanto tocava uma guitarra imaginária, derrubando um pouco da bebida que ainda havia na garrafa esverdeada. E assim, percebeu que enquanto tentava se afastar de Jeongguk, também acabou afastando o seu melhor amigo. Quanto tempo fazia que não saíam para se divertir daquele jeito? Há quanto tempo não confidenciavam segredos?

Para continuar sendo a versão antiga de Park Jimin, climas estranhos em calçadas iriam acontecer frequentemente? Então era aquilo que os seus sentimentos reprimidos estavam provocando?

Como se a banda também soubesse do que os dois precisavam, uma melodia que conheciam muito bem reverberou pelo bar que já não era lá muito espaçoso. Muitas daquelas pessoas poderiam reconhecê-la por serem fãs da banda, mas Taehyung e Jimin a conheciam por terem sido grandes amantes da saga Crepúsculo durante a adolescência, o que era motivo de piadas internas e crises de riso durante as aulas. "Isso que é literatura!", eles cochichavam.

Assim, Taehyung não conseguiu esconder o seu típico sorriso quadrado, olhando para Jimin com as mãos na cintura, como se a música realmente pudesse curar todo o mal-entendido e falta de explicações que ocorreram durante toda aquela semana. Quando deu por si, aquele que antes estava emburrado se juntou ao coro de vozes agudas e desafinadas que cantavam emboladas o idioma estrangeiro, dançando de um jeito que era só deles, como se ninguém estivesse os olhando.

Por mais que Taehyung estivesse assistindo de forma quase passiva seu melhor amigo se distanciar e deixar de lhe contar os motivos de suas aflições, ele estava disposto a resgatá-lo e trazê-lo para mais perto. Ele entendia que tudo era muito novo para o moreno e queria ajudar com as suas confusões mentais, mas para isso, precisava de permissão. E se pudessem esquecer de todas aquelas angústias enquanto dançavam a música preferida dos dois, tudo bem. O importante era garantir que Jimin teria alguém para correr quando tudo não pudesse mais ficar entalado no fundo da garganta.

Quando Supermassive Black Hole chegou ao seu fim, foi como se toda a redoma de felicidade houvesse estourado ao redor de Jimin, pois Taehyung se encaminhou ao bar para curar a sede com uma cerveja gelada e Jimin voltou a sua realidade confusa e carregada de malquerer direcionada a si mesmo, porque enquanto aquela mesma banda continuava a tocar incansavelmente, olhava para as pessoas ao redor encantadas com a música, se perdendo na pouca iluminação do local e no fundo, se perguntava se Jeongguk gostaria de estar ali.

As têmporas de Taehyung escorriam suor e o cabelo ondulado e maior que o normal, estava grudado na testa, sendo jogado para trás, exibindo suas mãos grandes decoradas com anéis finos e dourados. A bebida amarga foi depositada no balcão do bar e ele se virou para a pista de dança, sentindo o gosto maltado umedecer-lhe a boca e o pomo de adão ondular na garganta. Logo ao seu lado, um cara de cabelos escuros e olhos em formato de meia lua emoldurados por um óculos de armação redonda, juntava coragem para puxar algum assunto consigo, pois o observava dançar desde que chegara naquele bar.

— Você estava animado com Supermassive Black Hole pelos mesmos motivos que eu? — A julgar pelo sorriso tão cativante, não parecia em nada que uma manada de elefantes fizera morada na boca de seu estômago. E quando Taehyung olhou para si com o olhar confuso e sério, seu coração errou uma batida, mas logo se encontrou quando o dono do sorriso quadrado lhe respondeu:

— Prazer, team Edward Cullen. — E estendeu a mão, apreciando o toque firme das palmas macias enquanto olhares intensos eram trocados, fazendo tudo ao redor parar e nada escutarem além do silêncio do espaço entre os corpos, o qual não parecia fazer o menor sentido.

E enquanto isso no palco, os três integrantes da banda bebiam água e aqueciam os instrumentos para as próximas músicas. Jimin estava parado, esperando pacientemente enquanto tratava de dar um fim a todo soju de sua mais nova garrafa.

E nas primeiras notas emitidas pelo teclado, Jimin logo soube qual música era aquela, como se fosse um exímio conhecedor do repertório da banda. O vocalista que também era o guitarrista, posicionou o instrumento ao lado do corpo e balançou os fios ondulados que caíam sobre os olhos, jogando-os para o lado antes de entonar a voz suave no microfone: — So I heard you found somebody else...

E antes que pudesse perceber que os orbes daquele vocalista queriam lhe dizer alguma coisa, se jogou na música como se o seu corpo dependesse daquelas melodias para sobreviver. Apreciava a oportunidade de estar em um lugar como aquele escutando o que gostava, com quem amava e se divertindo de um jeito tão livre, como sempre fora e como gostaria de continuar sendo.

As curvas de seu corpo acentuadas pelos jeans sempre justos, acompanhados da camiseta branca que se erguia involuntariamente – efeito de seus braços que serpenteavam pelo ar –, mostrando as linhas bem marcadas das laterais de sua pelve, não passaram despercebidos por quem o assistia de longe e não hesitou em se aproximar, se apossando de sua cintura sem nem ao menos pedir permissão.

Ao sentir as palmas frias e ásperas em sua pele, a primeira reação de Jimin foi paralisar completamente e arregalar os olhos, pois sabia muito bem que aquelas mãos não pertenciam a quem ele queria que estivesse ali. Só ele poderia tocá-lo daquela maneira, pois só ele tinha todas as permissões que queria devido a conexão que possuíam. Virou-se para trás após alguns segundos e conseguiu falar um "não" em um tom audível o suficiente para que o cara de cabeça raspada, erguesse os braços em sinal de rendição e se afastasse sem pedir desculpas.

E só aquele toque alheio foi o suficiente para se sentir tonto, pois enquanto Somebody Else era tocada, Jimin percebeu que não queria estar com qualquer outra pessoa que não fosse Jeongguk.

A música reverberava alta em seus ouvidos e muitas pessoas dançavam ao redor. De repente, tudo aquilo se tornou um incômodo devido ao grande vazio que se apossou de seu peito, pois aquela imensa vontade de tê-lo por perto, ali, naquele exato bar, se tornou impossível de digerir, assim como o nó na garganta não poderia continuar atado.

Saiu aos tropeços, esbarrando e empurrando os outros com os ombros e deixando a garrafa, ainda pela metade, cair e se quebrar no chão. Jimin queria se sentir seguro, queria que o seu coração se mantivesse intacto e sem cicatrizes, mas de que adiantava toda aquela segurança, se sentia-se esmagado por todos aqueles sentimentos escondidos e que imploravam para serem depositados nas mãos corretas?

A brisa leve da recente madrugada era fria e se contrastava com as lágrimas que finalmente foram libertadas. Se sentou na calçada com aquele gosto de morango mofado proeminente na boca e logo estava a procura do contato dele em seu celular, mesmo que fosse apenas para ouvir a voz confusa de quem não estava entendendo nada do que aconteceu durante toda aquela semana. Jimin daria toda as respostas que ele quisesse ter, mas primeiro, precisava matar um pouco da saudade alucinante que estava sentindo, pois era quase como se estivesse em abstinência.

E assim que o primeiro toque soou do aparelho esmagado contra o seu ouvido, em apenas um puxão suas mãos ficaram vazias e Taehyung – que se despediu às pressas do desconhecido, se esquecendo de perguntar-lhe o nome – se agachou para ficar na mesma altura de seus olhos, desligando a ligação antes que esta pudesse ser atendida.

— Devolve! — Jimin choramingou, passando o dorso da mão abaixo das narinas, se limpando. — Eu preciso falar com o Jeongguk. — E Taehyung nunca havia sentido tanta dor na voz de seu amigo, tanta necessidade.

— Quem é Jeongguk? — Perguntou com os olhos atentos a cada expressão que a face de Jimin poderia ter, mas só a pergunta foi o suficiente para que o mesmo escondesse o rosto entre as palmas e se debulhasse em lágrimas mais uma vez, pois realmente havia pensado na resposta e nunca havia se sentido tão estúpido em toda a sua vida. E assim, Taehyung não precisou de qualquer explicação para concluir: — É o nome dele, não é?

Concordou com a cabeça, sentindo seus fios de cabelo úmidos serem jogados para trás, ganhando um acalento que julgava não merecer. Mais calmo, limpou as próprias lágrimas e olhou para o amigo que ainda permanecia agachado, sem se importarem com a cena protagonizada no meio da rua, onde várias pessoas passavam curiosas com toda a situação.

— Jeon Jeongguk é o nome dele. — E não conseguiu manter o olhar incisivo que recebia, pois sua visão fora completamente nublada pelas novas lágrimas que insistiam em pedir passagem, mas dessa vez pela culpa que não aguentava mais carregar nas costas. — Me desculpa, Tae...

— Tá tudo bem... — Se levantou e puxou Jimin pelos pulsos, fazendo-o se erguer e começarem a caminhar dentro de um abraço desajeitado. — Vem, vamos sair daqui. Vou te levar 'pra casa.

E debaixo do chuveiro de água fria, as lágrimas quentes de Jimin faziam um bonito e confuso contraste. Apoiava a bochecha avermelhada no gélido azulejo enquanto suas costas eram massageadas pela água forte, percebendo enfim, que não adiantaria de nada fugir, pois mesmo que ele não tivesse mandando mais mensagens, mesmo que tivesse respeitado seu espaço e se mantido longe, ele ainda parecia estar ali, em toda parte.

— Jimin? Tá tudo bem? — Seus olhos piscaram, finalmente desperto pelo efeito da voz de Taehyung e logo, o registro do chuveiro foi girado lentamente, desligando-o e abrindo o box para encontrar o conforto da toalha limpa e cheirosa estendida para si. Seu cabelo completamente encharcado, molhava o peito de seu amigo em meio ao abraço reconfortante.

— Eu tô apaixonado, Tae. Isso nunca me aconteceu antes. — Afundou o rosto ainda mais no tecido macio da camiseta alheia, apenas recebendo um sibilado como resposta e um afago nas costas protegidas pela toalha.

— Eu sei, Jiminie. — Ergueu o tecido grosso e o passou nos fios negros, espetando-o para todos os lados e assim, deixando um sorriso pequeno e terno lhe escapar dos lábios. — Mas amanhã a gente conversa melhor sobre isso, tá bom?

— É sério, Tae. Você precisa ver aquele sorriso fofo dele. — Confessava enquanto se secava, um pouco atrapalhado ao andar pelo quarto de luzes acesas. — E os olhos dele são tão grandes que nossa... — Suspirou apaixonado após passar a gola do pijama sobre a cabeça, enquanto Taehyung o assistia de longe, deitado na cama de lado, com o cotovelo dando apoio ao corpo e um sorriso genuinamente feliz nos lábios.

Ao se deitar, continuava a falar sobre um Jeongguk ainda desconhecido por Taehyung, mas este estava adorando conhecê-lo pelos olhos de seu melhor amigo, que só sabia falar coisas boas sobre ele. Estava realmente interessado nos tais desenhos de flores mencionados, se esquecendo por completo que, anteriormente, só o via como o traficante da universidade.

E com um gostoso cafuné, Jimin adormeceu sob o olhar atento daquele que parecia tranquilo por fora, mas que não conseguia parar de pensar no dia seguinte, pois tinha medo da versão sóbria de seu amigo voltar a se esconder dentro de si mesmo e assim, pensava muito bem nas palavras que poderia usar para que aquilo não voltasse a acontecer.

Domingo

Os olhos pesados começavam a se abrir com certa dificuldade, a preguiça era sua companheira e a ressaca também. Antes que a consciência desse os primeiros sinais de sua presença, todos os acontecimentos da noite anterior inundaram-lhe a mente em apenas um flash, assim, suas pálpebras se arregalaram e no mesmo instante, sentiu a boca seca e a língua amarga.

Taehyung estava logo ao lado, sentado em uma cadeira com uma caneca de café na mão e os dedos melecados de geleia, o recheio dos pãezinhos dispostos em seu colo em uma pequena cesta.

— O café da sua mãe é bem bom. — Disse assim que percebeu que o amigo o olhava, quieto em seu canto. — Se lembra de tudo o que aconteceu na noite passada? — Perguntou sem mais delongas.

— Uhum. — Se espreguiçou sentindo o corpo tenso relaxar e logo depois estendeu a mão para pegar um dos pães, que era uma das suas coisas favoritas no mundo. Ainda bem sua mãe sempre os fazia. — Eu não estava tão bêbado assim, só... Emocionalmente desequilibrado.

— Quer conversar sobre isso? — Taehyung perguntou receoso, ansioso pela resposta que só foi emitida após Jimin se sentar apropriadamente na cama.

— Quero. — Disse de boca cheia, finalmente dando fim aquele amargor na boca que se parecia muito com o sabor de esconder seus sentimentos de seu melhor amigo. Ele não queria mais sentir nada daquilo, muito menos causar algo parecido a Taehyung. — Eu disse muitas coisas sobre ele ontem. Todas são verdadeiras e fazem parte do motivo de eu ter me apaixonado. — Sorriu com a palavra saindo tão suavemente, nem parecia tão difícil assim. — Mas é muito mais que tudo isso.

— E o que é? — Taehyung jogou as pernas para cima do colchão e se acomodou na cadeira de rodinhas, apreciando o gosto doce do café preto. Seu coração batia ligeiramente acelerado, pois há muito tempo esperava por aquele momento e finalmente estava ali, escutando Jimin falar sobre a sua paixão. Nunca pareceu tão certo ser tão paciente.

— Eu não sei... — Sussurrou de volta e encontrou um sorriso cúmplice à sua frente e assim, continuou. — Você sabe que não meço muito as palavras que digo, quando estou interessando em alguém eu apenas digo e tá tudo certo e até foi desse jeito com ele, mas só por um tempo. Porque depois tudo mudou, esse sentimento que trava a minha garganta nunca passou por mim antes, então eu não sei como lidar. E o mais incrível é que eu sei muito bem que é recíproco e Tae... Ele só fala, sabe? A forma como ele expele seus sentimentos, sem medo de ser julgado, tão despreocupado, sem esperar por qualquer resposta que faça o ego inflar é tão...

Parou de repente por ter se dado conta de que estava falando tanto e tão animado sobre quem se tornou o motivo de tanta coisa boa que fez morada em seu peito em tão pouco tempo. Só desejava que aquela longa semana que tirou para aceitar tal fato não tenha estragado todo o restante da história que os dois ainda precisavam escrever juntos.

— Mas eu ainda não consigo parar de sentir medo. — Concluiu depois de alguns segundos de silêncio e pedaços de pão mastigados. Olhou para Taehyung como quem precisava de um conselho para fazer tudo aquilo passar.

— Jimin-ah, não dá pra ficar pensando no medo o tempo todo. O amor, a paixão, apavoram mesmo, assim como tudo aquilo que nunca experienciamos antes. — Deu de ombros, dando mais um gole no café. — Eu sei que assusta pensar nele o tempo todo, as borboletas no estômago são um saco e o coração acelerado nos atrapalha a andar! — Elevou o tom de voz como quem estava realmente inconformado com todas aquelas situações e olhou para o teto em busca de respostas celestes, fazendo Jimin rir tímido, pois nunca se sentiu tão compreendido. — Mas ao mesmo tempo é tão bom, te faz sentir vivo por estar sentindo algo tão forte por uma outra pessoa, entende?

Jimin assentiu, suspirando cansado de todos aqueles receios que andava carregando, rasgando mais um pedaço de pão com os dedos e colocando-o na boca, pensando em tudo o que havia escutado e em tudo o que havia feito. Ter escolhido ficar em segurança quando o mais apropriado era ter corrido o risco, nunca o machucou tanto. E como se Taehyung pudesse ler seus pensamentos, acabou concluindo:

— Você nutriu esse medo por tanto tempo que olha só, quem partiu o seu coração foi você mesmo.

— E o que eu faço agora?

— Se você já sabe o que sente, não precisa mais medir as palavras. Corra atrás do seu homem! — Se levantou em apenas um impulso e jogou um pão na direção de Jimin, agarrando-o imediatamente mesmo que um pouco atrapalhado, afinal, ainda era muito cedo. — Vou indo pra casa, preciso estudar pra prova de terça, não esquece, hein?

— Certo, certo... — Jimin assentiu e antes que Taehyung pudesse sair de seu quarto, chamou-o apenas para dizer: — Obrigado. Por tudo. — O que apenas foi respondido com um dar de ombros, como se não fosse nada demais, mas ficou feliz em ver que as suas ações tão pacientes foram reconhecidas, mesmo que soubesse que Jimin jamais deixaria algo do tipo passar despercebido.

O Kim decidiu voltar para casa caminhando para assim, melhor pensar em todos os acontecimentos da última noite e de toda a semana. Sabia quem era o Flamingo, mesmo que a sua existência fosse indiferente para si. O que não era o caso, do agora conhecido, Jeon Jeongguk, que conseguiu afetar seu amigo como ninguém antes havia feito. Entendia os dois lados da moeda, mas não conseguia deixar de se preocupar com a fatalidade dos dois ainda serem um só.

Sozinho em seu quarto, Jimin parecia estar acompanhado de toda aquela inspiração que sempre insistia em aparecer, mas dessa vez, ele não sentia que precisava dispersá-la porque ela não mais o assustava. E mordendo a unha do dedo mindinho, reuniu a coragem que por tanto tempo lhe faltou, caminhou até o seu guarda-roupa e retirou de um canto muito bem escondido o moletom de Jeongguk, vestindo-o e se sentindo abraçado por todo aquele cheiro que tanto lhe fazia falta. Aquele era só um pequeno fragmento do que o tatuado conseguia fazer consigo e céus, só aquilo fora o suficiente para que um impulso o levasse a arrastar a cadeira de volta à escrivaninha e movesse uma caneta azul apressadamente sobre uma folha de papel qualquer, escrevendo as seguintes palavras:

Não foi amor à primeira vista, talvez curiosidade e uma pontada de encantamento, afinal, eram tatuagens bem bonitas e um par de olhos capazes de me tirar o fôlego. Olhos de Capitu, lembra?

E aí então, o par de oblíquos deixaram de ser vistos como dissimulados e começaram a ser encarados como uma galáxia inteira a ser explorada. O gosto doce e amargo do café não foi o mesmo, muito menos as flores que eu via por aí, imaginando como as pétalas, tão delicadas, ficariam gravadas em seu tão inconfundível traço.

Me vi assustado quando cheguei em casa e, pela primeira vez, algo que você havia dito passeou em minha mente e logo em seguida vieram as lembranças dos toques, da boca, da voz, dos olhos... Mas estranhamente, gostei do que senti e não quis dispersar tais memórias, as nutri a ponto de socar a cara de um outro alguém em defesa de seu nome. Nome este que ainda não conhecia, mas que foi pronunciado pela primeira vez em meio a cozinha de armários de madeira rústica e o chá de camomila ganhou um novo sabor. O sabor do teu nome, que nunca mais saiu da minha boca, a ponto de notar sua ausência e clamar por sua presença.

Meu peito se encheu de angústia só de pensar na possibilidade de não ser correspondido, mas o que mais me assustou foi te ver do outro lado da rua e o seu corpo me querendo mais perto do seu. E eu não resisti. Aliás, resistência foi coisa que nunca tive perto de você.

Mas todo esse meu medo era culpa de toda essa sua reciprocidade, todo esse charme e facilidade com as palavras, coisa que eu sempre tive, mas com você, sei lá... Talvez fosse parte desse desespero todo que é começar a gostar de alguém, algo que eu não sabia, que de fato, é realmente desesperador. Quando dei por mim, já estava querendo que você ficasse bem e criando mecanismos para que isso acontecesse, porque eu sei que a sua vida tem muitas partes ruins, mas eu quero ser uma das partes boas.

Nunca foi minha intenção fazer com que você ocupasse mais que um parágrafo em minha vida, mas de repente, te li em várias páginas e desejei que não existisse um ponto final. Por medo, acabei colocando uma enorme reticência, quis entrar em abstinência de você e enxergar tudo menos colorido, numa fuga idiota e numa tentativa mais tola ainda de tentar me convencer de que nada era real.

Mas você, Jeon Jeongguk, é como tatuagem em mim. Mesmo de longe, arrumou um jeito de continuar tão cravado em minha pele quanto àquelas marcas que você fez em minhas coxas, as quais não querem desaparecer. Logo eu, que sempre me cicatrizei tão rápido.

E tudo se tornou mais apavorante a medida que tudo ao redor queria falar comigo, sejam as músicas que eu ouvia por aí, sejam poemas recitados em sala de aula enquanto eu te olhava de longe desenhar aquela tão bonita mugunghwa. É, eu te vi aquele dia e quis correr para os seus braços, mas eu ainda não sabia se seria capaz de fazer poesia em ti, da mesma forma que você faz em mim.

Eu não sei o que vai acontecer amanhã, ou depois, porque a verdade é que eu não sei de muita coisa e posso voltar a cometer tantos erros quantos eu cometi agora, mas posso garantir que a minha vontade de acertar ao seu lado é do mesmo tamanho da minha vontade de aprender a fazer o certo e ser o melhor que eu puder ao longo dos dias.

De qualquer forma, independente da sua resposta pelas inúmeras coisas que eu preciso lhe contar, agradeço por tudo o que me ensinou em tão pouco tempo e por ter me ajudado a libertar uma versão de mim mesmo que eu nem ao menos conhecia.

De: Park Jimin

Para: Jeon Jeongguk

(...)

Nunca um domingo pareceu tão longo para Jeongguk. Chegou em casa pela manhã e logo seguiu para o banheiro a fim de fazer o seu ritual para retirar qualquer resquício dos perfumes que grudavam em suas vestes. Em seus piores dias, os banhos eram quase agressivos devido a força com que esfregava a pele, numa vã tentativa de se livrar das memórias de noites que não eram lá muito agradáveis.

E para piorar, seu sono fora agitado. Mesmo exausto, despertava sem motivo aparente e levava alguns bons minutos para cair no mundo inconsciente mais uma vez. Numa dessas, seu corpo cansado de ficar na cama, mas sem coragem para se levantar, fitou o teto completamente entediado. Procurou pelo celular para checar as horas, mas acabou por matar o tempo olhando as notificações esquecidas, deletando uma a uma, até seus olhos se esbugalharem e o polegar travar no mesmo instante em que leu:

Uma ligação perdida de Jimin-hyung às 00:45hrs.

Fitou a tela do celular em silêncio até que tudo se apagasse e só restasse inúmeros questionamentos vagando pelo ar: O que aquilo significava? O que ele estava fazendo enquanto decidiu fazer a ligação? E se tivesse o atendido? O que ele teria falado?

Mas, e se fosse somente um erro de percurso e os dedos miúdos de Jimin clicaram no lugar errado?

A última opção parecia ser a mais dolorosa, pois sinceramente, Jeongguk estava cansado de se ver como um erro ambulante. Errado por ter nascido daquele jeito, a forma como vivia era efeito de uma cascata de erros, um atrás do outro e agora, aquela ligação.

Mas se não fosse um deslizar errado dos dedos, por que aquela conversa, ainda intacta, parecia tão vazia com a falta de respostas?

Voltou a olhar para o teto, que começava a ganhar sombras mais pesadas devido à noite que se aproximava e até pensava que depois de sete longos dias poderia se recuperar e seguir em frente, afinal, já estava acostumado. Mas aquela ligação perdida foi como um sinal para que ele pudesse parar e esperar, como se as pernas longas de Jimin finalmente pudessem o alcançar, para então, escutar que ele poderia se tornar os motivos de todos os futuros acertos de um outro alguém.

Os acertos de Park Jimin.

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