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11. Relief

#CodinomeFlamingo

Parecia estar bêbado na beirada de um precipício, não queria se jogar, mas a condição de seu corpo não o ajudava a manter o equilíbrio. Sua mente em estado de fuga apenas seguia o caminho em direção a caminhonete, mas a passarela estava tão bem iluminada, machucava os seus olhos e ele não queria mais sentir dor. Nem percebeu quando afundou o rosto no primeiro escudo que viu pela frente: O ombro de Taehyung, que o avisou com a voz rouca e cautelosa quando podia voltar a olhar para o caminho.

Ergueu o rosto lentamente e notou a ausência de lâmpadas, a escuridão era bem-vinda e havia um aperto firme em sua cintura, seu corpo estava apoiado, abraçado. Estava sendo protegido?

Olhou para o lado e viu que seu braço esquerdo estava sobre os ombros de Jimin e quando deu por si novamente, ele já estava dirigindo a sua caminhonete, com os cabelos negros voando com o vento frio da recente madrugada. Até parecia um sonho, mas nada era muito nítido. Em um borrão sentiu Taehyung afagar o seu ombro e se despedir, em outro, estava na frente de uma casa que julgava saber de quem era, não era a primeira vez que a via. Sua mente só ligou os pontos quando Jimin abriu a porta com as chaves e o puxou para dentro, segurando em sua mão calmamente, o levando em direção as escadas sem nem ao menos tirar os sapatos.

— Hyung... — Foi a primeira coisa que disse desde que saíra da festa, o que fez o moreno estancar o corpo no mesmo instante, dando-lhe total atenção. — Eu não quero trazer sujeira pra sua casa.

Jimin soltou todo o ar de seus pulmões e seus ombros caíram, não porque se sentia exausto, mas sim devido ao cuidado que Jeongguk estava tendo com a sua casa. Concordou com a cabeça e se abaixou para puxar os cadarços do tênis do tatuado, ajudando-o a retirá-los.

Segurou em sua mão mais uma vez para subirem os degraus de madeira, os passos sendo amaciados pelas meias brancas. Quando adentraram o quarto de Jimin, que fechou a porta com todo o cuidado, o surreal caiu por terra e a realidade foi como um tapa na cara.

Não havia mais para onde fugir, a linha de chegada era ali. Jeongguk olhou ao redor e sentiu o cheiro característico de Jimin por todo o canto, a fragrância natural da pele, a qual já sabia que conseguiria farejar mesmo debaixo de inúmeras camadas de perfume caro. A estante de livros ocupava toda uma parede, sem qualquer espaço vago para mais exemplares. A escrivaninha estava desarrumada com cadernos e marcadores de textos espalhados. O imaginou ali sentado, com preguiça de estudar, apoiando o rosto em uma das mãos ao olhar para o movimento da rua vazia. A cama com os lençóis revirados, os travesseiros desalinhados, a mesinha de cabeceira com mais livros empilhados. Estava dentro de sua casa, do seu quarto, da sua intimidade.

E então era isso. Entraram com um soco na vida do outro. A cara de Chanyeol não foi a única coisa a ser danificada, o semáforo o qual Jimin acreditava existir, estava completamente destruído. Ultrapassou o sinal e foi atingido por todos os carros da avenida, mas não havia machucados em seu corpo, só uma vontade de ser – naquele momento – tudo o que Jeongguk precisasse. Se ele quisesse um ombro amigo, Jimin já estava ali; se quisesse um ouvinte, seus ouvidos estavam atentos; se quisesse um apoio para não desmoronar, seus braços eram fortes para o segurar.

E de repente, todo o dia de Jeongguk passou em sua mente como um filme, mas quem dera fosse, mudaria o roteiro sem nem ao menos pestanejar. E por saber que não era o diretor de sua vida, os soluços do seu choro ecoaram pelo quarto, o mesmo que ele tanto reprimiu por não saber se conseguiria algum dia parar. O nó na garganta já não era mais dele e sim de Jimin, que se controlava porque devia ser forte para ele.

As mãos que tapavam o rosto foram agarradas e Jimin viu, não pela primeira vez, mas lá estava ele, o outro lado do Flamingo, aquele que ainda não tinha nome para si. Sua língua permanecia sem fala e os olhos vidrados nas estrelas debaixo do mar. E no fim das contas, não havia o que ser dito, apenas abraçá-lo o mais forte que podia e escutar o choro tão perto do ouvido, mas os sussurros soaram como um grito. Jeongguk estava exausto de não se entregar a própria tristeza, de não questionar aos céus o porquê de viver daquele jeito, só queria jogar pra fora.

— Eu me odeio tanto, Jimin..., mas tanto. — O moreno apertou ainda mais o abraço, como se descontasse toda a dor que ouvia vindo daquelas palavras. — Isso não é justo! O que foi que eu fiz de errado?! — Apoiou a testa na curvatura do pescoço do menor e perguntou para si mesmo: — Por que a vida tem que ensinar de um jeito tão cruel? Por que eu tenho que aprender tanto? — Elevou o rosto, fazendo o outro desafrouxar o abraço e olhou no fundo dos seus olhos. Não fazia ideia do que ele pensava e não queria saber, também não queria escutar nenhum consolo, pelo menos não em forma de palavras. Aquele era um dos únicos momentos em que Jeongguk focou apenas em si, no que ele queria e sentia. Não enxergava Jimin como um herói, o salvando dos vilões, ele era apenas um amigo que estendeu a mão. — Eu quero tomar um banho.

— Quer ajuda? — Ao que o tatuado respondeu apenas com um aceno de cabeça, Jimin o guiou até ao pequeno banheiro de seu quarto, ligando o chuveiro para que a água esquentasse. Voltou a olhar para Jeongguk e ele permanecia parado, e sem perguntar mais uma vez, começou a desabotoar a camisa lentamente, passando-a pelos braços e deixando o tronco nu. E com ela se foi o cheiro forte das outras pessoas que pareciam formar uma redoma em volta de seu corpo, um peso retirado de seus ombros. Aqueles trajes pertenciam ao Flamingo e ele não queria estar em sua casca naquele momento.

As mãos pequenas foram de encontro ao botão da bermuda e ao não encontrar resistência, deslizou o zíper para baixo, puxando junto a ela a cueca que o mais novo vestia, retirando também as meias, fazendo-o se apoiar na parede. Jimin deu passagem para que Jeongguk entrasse no box, mas o desespero em entrar de uma vez debaixo do chuveiro foi tamanho, que nem se importou em puxar a porta de vidro. Jimin até teria feito isso por ele, mas seu corpo ficou estático ao finalmente ver o que havia tatuado nas costas alheias: A máscara de Hannya. As sobrancelhas curvadas em puro desespero, assim como a boca aberta mostrando os dentes com garras salientes debaixo da tempestade do chuveiro. O único chifre que aparecia era tomado por flores de cerejeira que se estendiam até os ombros. Nada ali aparecia na frente de seu tronco, muito menos seguia para os braços, que apenas possuía desenhos de tamanhos diferentes e imagens que ele julgava ser aleatórias.

Jeongguk apenas sentia a água quente esquentar a sua pele, desatando todos os nós do seu corpo, enfim relaxando. Mesmo que soubesse que havia muito no que pensar, preferiu deixar que todos os pensamentos fossem para o ralo. Passou as mãos pelo rosto para lavar qualquer vestígio das recentes lágrimas e olhou ao redor a procura de algum sabonete, mas encontrou apenas a feição chocada de Jimin, que ainda permanecia ali.

Desconcertado, olhou para baixo quase que de imediato e fechou a porta do box lentamente. Era a primeira vez que Jimin colocava os olhos sobre aquela tatuagem e Jeongguk sabia disso, mas não havia julgamento algum em seu olhar, apenas uma curiosidade saciada em um momento tão íntimo como o significado daquele desenho.

— Você pode ficar? — Jeongguk perguntou porque não queria ficar sozinho consigo mesmo naquele momento e escutar as vozes que poderiam surgir em sua mente. Era mais fácil manter a cabeça vazia em companhia.

— Posso. — Jimin ainda estava com os dedos repousados no vidro frio, tentando entender o turbilhão de emoções que percorria o seu corpo.

— Conversa comigo. — Pediu ao que esfregava a pele com a esponja embebida de sabonete de manga.

Ao ouvir o pedido, Jimin se sentou na privada fechada e apoiou os cotovelos nos joelhos. Olhava para os próprios pés ainda cobertos pelas meias e se concentrou no som da água que jorrava do chuveiro, percebendo os diferentes tons à medida que Jeongguk se movia. Não sabia o que dizer, sua mente estava em branco.

— E se eu lesse pra você? — Perguntou com a voz um pouco mais alta para se fazer ouvido. Os livros sempre eram o seu refúgio e talvez fosse uma boa ideia levar o tatuado para um outro mundo, um lugar onde não existisse tantas pessoas que queriam ser diferentes, mas que no fim, eram todas iguais.

— Ler? O que? — Jeongguk fechou os olhos ao sentir o aroma do shampoo tão cheiroso de Jimin, escutar a sua voz em meio a espuma o acalmou ainda mais. Gostou da sensação.

— Deixa eu ver na minha estante, já volto, tudo bem? — Jimin só deixou o banheiro quando ouviu a resposta do mais novo, voltando segundos depois com um livro que julgava ser conhecido pela maioria. — Diz um número de um a vinte e sete.

— Vinte e um. — Respondeu pensando em sua idade.

O chuveiro não o deixava ouvir o farfalhar das folhas, os dedos apressados de Jimin em achar o número da página. Mas assim que ouviu a voz suave interpretando as vozes da Raposa e do Príncipe, logo soube de que livro se tratava. E entre bom dias e convites para brincar, surgiu aquela tão famosa pergunta: "Que quer dizer cativar?"

Jeongguk apoiou a testa sobre o braço escorado no azulejo frio e escutou atentamente a explicação da raposa do que era afinal cativar, criar laços: — "Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo..."

Jimin respirou fundo e olhou para o vidro que começava a ficar nublado, pensando em qual foi o momento em que Jeongguk deixou de ser igual a tantos outros, mas suas sobrancelhas se arquearam em questionamento ao se lembrar da palavra necessidade, tão frisada pela raposa. Pigarreou antes de continuar com a leitura e o restante da explicação o incomodava ainda mais, principalmente a vontade constante dela em ser cativada. A ideia de precisar de alguém para que os dias se tornassem menos monótonos não lhe caía muito bem, os seus pensamentos transpareciam em sua voz desanimada e os lábios que se contorciam. Jeongguk percebeu a entonação diferenciada e se sentiu bem com aquilo, suas ideias eram recíprocas e eles nem precisavam entrar em uma discussão para analisarem os fatos.

"A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa."

"Não seria melhor conhecer muito bem alguém antes de cativá-la?", os dois pensaram ao mesmo tempo. Jimin ficou em silêncio por tempo suficiente para fazer com que Jeongguk olhasse para o vidro do box, enxergando a silhueta embaçada pelo vapor da água quente. Via-se que o moreno ainda estava sentado, olhando para o livro em suas mãos, mas recomeçou a leitura de repente, com o mesmo tom questionador ao que a raposa explicava como ter paciência e o que era rito.

Mas a Raposa foi cativada, afinal, e o Príncipe precisou partir, deixando apenas a boa lembrança do som do vento nos campos de trigo. Logo, Jeongguk se lembrou do sino de vento em sua antiga casa em Busan, mas achou besteira relacionar algo tão forçado e passageiro – como a Raposa e o Príncipe – com a relação de mãe e filho. Não houve pedidos de "por favor, me cative", nunca precisaram disso. Suspirou pesado ao que Jimin chegou na parte que ele pouco se lembrava, mas que sempre achou que tivesse algo de errado com aquela tão famosa frase.

— "Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos." — Jimin leu com um tom mais suave dessa vez e escutou a voz abafada pela água que caía do chuveiro repetir a última frase, tão baixinho que se perguntou como conseguira ouvi-lo. — "Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante." — Passava os dedos pela folha a cada palavra lida, marcando linhas com a sua unha por cortar, esperando atentamente para ouvir a voz baixa do outro.

— "Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa..." — Jeongguk repetiu mais uma vez, como o Príncipe fazia no livro.

— "Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa..." — Mas dessa vez, o tatuado não repetiu, apenas rodou o registro do chuveiro para desligá-lo e ouviu um suspiro pesado do outro lado do vidro. Passou a mão espalmada pelo mesmo, desembaçando-o e perguntando logo em seguida:

— Você acredita nisso, hyung? — Jimin não olhou para ele, sabia muito bem do que falava, mas Jeon tratou de se explicar. — Acredita que somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos?

— Nada é eterno. — Se entreolharam através do vidro nublado e Jimin se levantou, pegando a toalha recém trocada e abrindo o box, esticando o tecido como um chamado para que o mais novo se aproximasse. — Acho que o problema desse livro é a extremidade das palavras: único, eternamente... A vida não é assim. — Disse como quem não queria nada, mas a julgar pela feição absorta do outro enquanto o acolhia com a toalha, pensou ter atingido o seu objetivo: O consolar, mesmo que indiretamente. Ser e estar eram verbos diferentes, mas ele deixaria essa conversa para um outro dia.

Os olhares que trocaram logo a seguir fizeram os ponteiros do relógio pararem. O quarto só estava iluminado pela lâmpada do banheiro e o silêncio entre os dois já não era um incômodo. Havia tanto cuidado sob as digitais de Jimin que Jeongguk apenas fechou os olhos, sentindo o toque macio da toalha passar por seu corpo sentado na cama, a nudez apenas fazendo parte do momento íntimo que compartilhavam e a segurança que o mais velho passava com os seus dedos pelo cabelo desbotado, penteando-o.

Jimin se sentou no chão e passou a toalha entre os dedos dos pés de Jeongguk, um a um, massageando o dorso logo em seguida, sem se incomodar com a dor latente em sua mão. — Seu pé é bonito. — Comentou baixinho e Jeongguk abriu os olhos, mais brilhantes e sorridentes dessa vez, dando uma sensação de alívio ao moreno, que sorriu de volta e pensou: "Você é todo bonito."

Não sabia o que estava vestindo, mas ao sentir a camiseta passando pela sua cabeça, desejou nunca mais ser sozinho. Olhava para Jimin com os olhos tão cativos sobre si e se sentiu agradecido por ter alguém por ele naquele momento, alguém que escolheu ficar, que o deixou falar e o escutou atentamente, ignorando por completo o que as tatuagens tanto gritavam. Era preciso ter ouvidos mais atentos e precisos para conhecê-lo e Jimin se esforçava para não se deixar levar pelo o que a maioria pensava.

— Eu não vou colocar a sua roupa pra lavar agora porque vai fazer muito barulho, outro dia eu te entrego, tudo bem? — Jeongguk concordou com a cabeça e Jimin sentou-se ao seu lado. — O que você comeu hoje?

— Não estou com fome. — O mais velho semicerrou os olhos ao ouvir a resposta e repetiu a pergunta. Jeongguk contorceu os lábios e virou o pescoço para conseguir cheirar a camiseta branca, finalmente respondendo: — Nada.

— Bem... não vou te convidar pra tomar aquele café que eu te prometi por conta do horário, mas eu fiz uma sopa que tá bem boa. — Arqueou as sobrancelhas duas vezes, sorrindo grande quando Jeongguk também sorriu, cedendo ao convite.

— Só vou aceitar porque foi você quem fez.

E saíram do quarto da mesma forma que entraram, de mãos dadas. Jeongguk não sabia o que sentir, mas gostava daquele lugar. Era aconchegante porque não era tão pequeno ao ponto de se sentir apertado entre os móveis, mas também não era tão grande para se perder. O andar de cima possuía apenas dois quartos, no que parecia ser uma espécie de mezanino cercado pela mesma madeira do corrimão, já que o teto da sala atingia o limite do telhado da casa. A cozinha era pequena, mas cabia uma mesa redonda de seis lugares, sendo ali também a sala de jantar. Todos os armários possuíam tons escuros de madeira antiga e rústica, em contraste com o piso e as paredes em um tom de creme.

Jimin abriu a geladeira e retirou a sopa que estava em uma panela e colocou para esquentar, assim como um pouco de água, a qual Jeongguk, já acomodado em uma cadeira, só foi entender o motivo quando viu os sachês de chá colocados em cima da mesa.

— Gosta de calmomila?

— Calmomila? — Jeongguk repetiu rindo da pronúncia errada de Jimin, esperando algum tipo de explicação.

— É, não acha que seria melhor se chamar calmomila? Faz todo o sentido... Porque deixa a gente calminho. — Dizia ao mexer um pouco a sopa e preparar as canecas para o chá.

Jeongguk acompanhava toda a movimentação do corpo de Jimin, sorrindo pequeno, se encolhendo na cadeira e abraçando as pernas ao observá-lo abrindo e fechando os armários e se esticando para pegar o pote de açúcar. Se sentia bem mergulhado no cheiro dele, da sopa que fervia; o barulho das canecas sendo enchidas de água quente, o sachê imerso e a sensação de aconchego no peito ao se ver naquela cena, escutando a voz baixa de Jimin tagarelando sobre as coisas que se passavam em sua mente.

Ao que a sopa foi colocada à sua frente, em uma daquelas tigelas que mais pareciam uma caneca gigante, Jeongguk se desligou do mundo e se concentrou apenas no sabor dos legumes cozidos e bem temperados em meio ao caldo. E Jimin ficou ali, com o queixo entre as mãos, observando o outro comer com um sorriso singelo nos lábios, apenas apreciando o momento enquanto o chá esfriava.

Sempre existiu uma curiosidade incessante dentro de si de conhecer outros mundos e satisfazia parte de sua vontade devorando livros e mais livros, indo do outro lado do globo terrestre, abaixo da linha do equador, como era o caso dos Morangos Mofados. Degustava todos os abraços que duravam tempo suficiente para fazer com que um cigarro aceso se tornasse apenas uma linha de cinzas, mas todos, é claro, presentes nas poucas linhas que aquele único momento durava em um livro de várias páginas, sem saber exatamente como os minutos se arrastavam nos braços de alguém.

Sempre achou que quando algo do tipo acontecesse consigo, perceberia e traçaria cada olhar diferente e batida desconcertada do coração, afinal, cada nova história de amor era como um manual para si. Mas Jimin era um bobo que estava se deixando levar sem perceber, mesmo que tudo fosse de propósito, porque no fundo, ele queria Jeongguk na sua casa; queria que ele fizesse parte do livro de sua vida e queria ocupar algumas inúmeras páginas na vida do outro também, e com precisão, saberia qual seria a intensidade de cada palavra escrita. Desejava e muito, mesmo que ainda estivesse confuso com os novos sentimentos, sem saber exatamente o que eram e por isso, acabar por não conseguir se expressar muito bem quando era pego pensando no tatuado.

Não sabia, mas as suas escolhas já haviam traçado os resultados, pois antes estava acostumado a acordar em camas estranhas e agora, estava ali, sendo a pessoa que ficava e acolhia, que esquentava uma sopa durante a madrugada e fazia o outro sorrir com o próprio sorriso bobo que pintava os lábios.

— Essa sopa tá muito boa, hyung. — Jeongguk inclinava a tigela para conseguir pegar o restante no fundo. — Foi você mesmo que fez?

— Eu cortei os legumes. — Escondeu o rosto com as mãos ao que sorria sem graça, o que piorava com o olhar semicerrado de Jeongguk, demonstrando uma falsa irritação ao ser enganado.

— Mas tenho que admitir que eles estavam muito bem cortados, todos do mesmo tamanho e... — O tatuado se interrompeu ao sentir Jimin – que ria de felicidade e alívio por ver o outro tão bem – repousar a mão na sua, em uma ação tão natural, mas que o fez ver mais de perto as consequências do soco dado mais cedo na cara de Chanyeol.

A feição do moreno se fechou e até tentou puxar a mão de volta, mas Jeongguk a agarrou com cuidado e acariciando os nós dos dedos, puxou os anéis que os enfeitavam, tão delicado quanto a areia que desliza por uma ampulheta. E como se os pequenos grãos pudessem vagar pelo ar, o tempo começou a passar mais devagar quando Jimin ouviu a pergunta:

— Por que você fez isso? — Os olhos de universo nunca foram tão penetrantes, Jimin se sentia ferido com aquele questionamento devido a tudo o que havia por detrás da resposta.

Depois de alguns segundos, considerados longos demais, Jimin engoliu em seco e sussurrou: — Eu não gostei nada de ouvir ele falando aquilo sobre você.

— E eu não gostei nada de quase presenciar você levando uma surra por minha causa. — Tudo no momento era intenso, os ponteiros que marcavam os segundos que se passavam entre uma resposta e outra pareciam estar em câmera lenta. Os olhos que não ousaram desgrudar um do outro, se achavam em todo o mundo perdido que existia nas íris acastanhadas, se desencontrando somente quando Jeongguk, frustrado por não ter feito algo em meio a toda aquela situação, afundou o rosto nas próprias palmas e disse: — Eu não consegui te defender, eu não consegui fazer nada, eu...

Jimin fitou a própria mão e os tons mais escuros que começavam a tingir a sua pele. Se lembrou de toda a ira que sentiu ao assistir todos os estudantes de braços cruzados e olhos arregalados. O que eles queriam? Assistir a uma briga? Jimin não poderia deixar que isso acontecesse, não quando sabia de parte dos fantasmas que assombravam a vida daquele que estava por trás do Flamingo e de alguma forma, também sabia que era ele quem estava lá durante a festa, seja pelos olhos de universo tão foscos como o céu de nanquim de seus pesadelos, ou pela forma como evitou contato assim que se entreolharam.

— Quem estava lá não era o Flamingo. — Jimin deixou escapar em um sussurro, chamando a atenção de Jeongguk, que o olhou tão intensamente quanto o efeito que aquela frase tinha sobre os dois.

— Por que você nunca perguntou o meu nome? — E foi aí que o mais velho não conseguiu dizer mais nada. Parecia estar em queda livre no universo sideral só de ter aqueles olhos tão cativos sobre si.

— Porque... — Precisou buscar refúgio na camomila que tingia a água já morna, dançando com o sachê entre os dedos. — Porque eu estava esperando você se sentir à vontade pra me dizer.

— Então pergunta. — Não era uma ordem, mas um pedido para que qualquer barreira que ainda existisse entre os dois, se rompesse com a resposta entalada na garganta, mesmo que já sentissem que a mesma já estava aos pedaços há muito tempo. — Pergunta o meu nome.

— Qual é o seu nome? — A voz de Jimin era apenas um fio, porém longe de ser fraco, pois o nó que antes era frouxo, se tornava forte a cada novo olhar e confissão escondida. Os corpos que tinham tudo para se repelirem, não conseguiam ficar longe um do outro nem mesmo em pensamento. As pontas dos dedos quase se esbranquiçaram devido a força que apertava a caneca, sem se importar com a cerâmica quente.

— Meu nome é Jeon Jeongguk, mas você já me conhece. — E o eclipse que existia em sua face finalmente deu lugar para toda a luz que somente as galáxias em seus olhos eram capazes de resplandecer. Não havia mais sombras e muito menos dúvidas, o vazio que Jimin sentia quando pensava nele fora preenchido com o seu nome, e assim, repetiu:

— Jeon Jeongguk. — O sussurro se seguiu de um toque, os dedos se entrelaçaram e não havia nada de diferente no contato das peles macias e quentes, pois desde o início sempre foram eles, Jimin e Jeongguk.

E assim, os grãos de areia seguiram o fluxo da ampulheta, o tempo obedecendo a normalidade dos ponteiros e o sono chegando junto ao chá doce tomado entre sorrisos e digitais que acariciavam as pétalas da rosa negra. O vapor morno esquentava a face de Jimin mergulhada na caneca e ali, olhando para os fios bagunçados e desbotados; a camiseta que ficava menor nele; as tatuagens que escapavam do tecido em meio a cozinha clara e pés na cadeira em segredo... Tudo isso formava o cenário perfeito para que Jeongguk percebesse que não poderia estar ali se não quisesse dizer o seu nome.

Subiram para o quarto quando as canecas foram esvaziadas. Jeongguk se sentou na cama novamente, a espera de Jimin que tomava banho. Seus olhos vagavam por todos os cantos, desde as paredes em um tom amarelo pastel, que se parecia com as páginas de um livro envelhecido, até a mesa de cabeceira bagunçada com um exemplar etiquetado no topo da pequena pilha.

— Morangos Mofados. — Leu o nome da capa, traduzido para o coreano, mas tendo dificuldade em entender o nome do autor. Apenas encarou que o homem por detrás do abajur fosse o próprio e folheou o livro para sentir o cheiro das folhas, mas elas eram velhas demais e não cheiravam nada bem. Enrugou o nariz e o colocou no lugar assim que Jimin abriu a porta do banheiro. Sem graça, cerrou os lábios e balançou as pernas, sentindo o perfume mais forte do sabonete, o mesmo que também estava impregnado em sua pele.

— Você podia ter se deitado, bebê. Deve estar cansado. — O moreno começou a arrumar a cama, esticando o lençol e colocando um travesseiro de cada lado do colchão de casal.

— Mas eu vou dormir aqui? Com você? — Perguntou ao que assistia Jimin engatinhar até a outra ponta, cobrindo-se com o lençol fino usado em noites de verão.

— Sim, felizmente é o único jeito. — Sorriu sapeca e deu de ombros, batendo no lugar vazio ao seu lado. — Vem cá, bebê.

E Jeongguk foi, timidamente, mas foi. Se deitaram de lado, um de frente para o outro com os olhos pesados de tanto sono, mas as pálpebras insistiam em se manter abertas para captar cada novo fragmento da história que estavam escrevendo juntos. E não poderia ser diferente, afinal, um dos personagens principais já possuía um nome.

E ali, olhando para os orbes em pura ressaca, Jimin não conseguia pensar em nenhuma outra denominação que fizesse jus ao ser que estava a sua frente. Tinha que ser Jeon Jeongguk, o nome recém descoberto, mas que fora repetido tantas vezes em sua mente, que as contas até já foram perdidas.

— Jimin-hyung. — A voz cansada chamou, juntamente com as lentas piscadas. — Você me chamava de bebê porque não sabia o meu nome?

O sorriso do mais velho fez com que os seus olhos finalmente se fechassem, mas seus braços se esticaram para tocar Jeongguk, que já sem pensar direito, se aninhou em seu peito, escutando as batidas lentas que ecoavam do coração.

— Sim..., não acho que Flamingo combine muito bem com você. — E não haveria noite quente que afastasse tais corpos, muito menos cicatrizes e estereótipos que fariam com que Jimin olhasse para o tatuado de forma diferente. E ali, dentro daquele abraço entre lençóis que voavam devido ao ventilador potente, ele pode finalmente dizer: — Boa noite, Jeongguk. — Com um beijo estalado na testa e a respiração tranquila daquele que já dormia.

E assim, Jimin poderia cair no sono serenamente, pois não precisaria mais se questionar em como se referir àquele que não saía de seus pensamentos.

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