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10. Angst

#CodinomeFlamingo

Os fortes pingos que caíam do céu faziam música em sua janela. O quarto iluminado somente por um abajur era o cenário perfeito para que Taehyung revezasse entre a pintura de uma aquarela e o livro que estava lendo. Ler o inspirava a pintar. Não era muito fã de retratar fielmente os cenários descritos pelos autores, gostava mesmo de criar algo completamente diferente, inspirado pelas palavras que dançavam sobre o papel, o levando para um lugar distante.

A sequência de pingos que batiam no vidro da janela deram voz a uma ilustração de um menino em meio a tempestade. Ele estava de costas, os seus trajes não eram o foco e sim a mudança de cor em seu corpo, a alma sendo lavada em um degradê se espalhava pela sua carne, tão perfeito que dava inveja a qualquer profissional. Mas Taehyung era só um amador, que pintava por instinto, por obedecer uma voz criativa que sempre estava presente em sua cabeça.

Assim como as ideias flutuavam soltas, prontas para serem colocadas em prática, quase em emergência, se levantou de súbito após observar por um instante a própria pintura e saiu do quarto, rumo ao quintal de grama bem aparada. Sem se importar com a intensidade da chuva, apenas fechou os olhos e retratou o que estava no papel, mas não havia alma para ser lavada, apenas uma cicatriz no coração, pronta para que as cascas fossem retiradas. A pele brilhando abaixo em um tom mais claro, ainda sensível e precisando de um maior cuidado, mas não sangrava mais ao ser tocada.

E ali, com o tecido do pijama grudando em sua pele e o cabelo encharcado caindo sobre os olhos, se sentia parte da tempestade, mas por ter sentido tantas outras lavarem o seu peito. Forte, intensa, levando tudo o que via pela frente sem medidas, mas no fim, era só um evento passageiro, assim como todas as paixões que emaranharam a sua garganta e a boca do estômago.

Sabia que no dia seguinte o grande astro se faria presente, iluminando todo o céu sem nuvens. Era uma pena ter parado de chover ainda de madrugada, pois não havia luz para que um arco-íris fosse visto por todo o percurso até a Yonsei, até que ele se perdesse entre os prédios e as janelas de neve o impedissem de fitá-lo até que o mesmo desaparecesse.

Dois dias eram o suficiente para que a grama secasse por completo, pronta para servir de descanso para os estudantes entre uma aula e outra. O gramado era enfeitado por pequenos passarinhos amarelos, que andavam em busca de alimento

— Eu me sinto bem, sabe? — Jimin olhava para o céu azul decorado com as folhas das árvores, deitado sobre a sua bolsa, uma mão atrás de sua cabeça e a outra acariciando os fios castanho de Taehyung, enquanto o ouvia falar deitado em sua barriga. — Não dói mais... Pelo menos não tanto.

— O que você está sentindo exatamente? — O moreno sempre escutava tudo o que o amigo falava atentamente, porque Taehyung era alguém que mergulhava de cabeça em todas as suas relações e com Yukhei não foi diferente. Ele era o seu melhor livro de romance, mas naquele momento, havia um aperto que nunca antes fora sentido ao escutar tais palavras, talvez fosse medo, ele ainda não sabia.

— Sinto que tudo vai ficar bem algum dia, mas por enquanto eu prefiro ficar sozinho. Eu gosto da minha companhia, de ler e pintar os cenários que os autores me fazem imaginar, escutar as minhas músicas em paz... — Suspirou e fechou os olhos, apreciando o cafuné.

— É bom ser inteiro sozinho. — Jimin disse e assistiu parte de seus dedos sumirem entre os fios que ficavam mais longos e ondulados a cada semana.

— Mas isso não quer dizer que você não possa transbordar. — Taehyung abriu os olhos e o encarou profundamente. A mão cessou o carinho em seu cabelo, assim como o abdômen parou de subir e descer. — É bom transbordar, é bom amar e ser amado.

— Por que você está olhando pra mim desse jeito? — Jimin buscou refúgio no céu, às vezes não conseguia lidar com a intensidade do olhar de Taehyung. Colocou as duas mãos atrás de sua cabeça, bufando logo em seguida.

— Porque você deveria tentar.

Não era a primeira vez que escutava aquele tipo de coisa, tudo sempre entrava por um ouvido e saía pelo outro, mas a voz rouca tão conhecida o afetava pela primeira vez. A chuva não só serviu para que a temperatura fosse amenizada por algumas horas, mas também para lavar as angústias do peito de Taehyung e germinar o que havia sido plantado no peito de Jimin. Tudo o que ouviu dentro daquela caminhonete velha não saía de sua cabeça, assim como o dono das palavras. Ao deixar que as pálpebras descansarem, tudo o que vinha em sua mente eram os olhos de universo se fechando ao se aproximarem para que os seus lábios se tocassem, e os mesmos se abrindo após o beijo, com um ar de ressaca, como se estivesse embriagado, querendo mais. Era estranho querer beijar alguém somente pela visão dos olhos do outro.

Jimin se sentia como um colecionador de corações partidos que não eram seus. Um colecionador de histórias das quais não fazia parte, mas com ele nutria secretamente um desejo de ser mais do que isso, queria ser uma de suas páginas, talvez até várias delas. Mas ainda não se sentia preparado para dizer tais coisas em voz alta, verbalizar era colocar em ação algo que ainda não sabia lidar e assim, o silêncio se tornou o seu fiél escudeiro, pois também não poderia negar que essa nova sensação era melhor do que ele poderia esperar.

A quietude que pairou entre os dois foi interrompida com a vibração do celular de Jimin que estava jogado no chão, o nome que pulou na tela chamou a atenção de Taehyung, que não conseguiu deixar de perguntar, sorrindo e estreitando os olhos: — Mark? — Jimin olhou de relance para o celular e entendeu do que o amigo falava, deixando que ele lesse a mensagem: — Ele tá te chamando pra ir ao show daquela banda barulhenta que você gosta.

Arqueou as sobrancelhas ao ler o conteúdo da mensagem e exasperou: — Ah, eu não vou ao show da minha banda preferida com ele, sem tempo pra calouro. — Revirou os olhos, não iria respondê-lo.

— Faz tempo que você não sai com alguém, pelo menos não que eu saiba. — Taehyung observou o moreno o olhar com desdém, pois já sabia o que teria que confessar logo a seguir. — Quem foi o último?

— Flamingo. — Sua voz era seca e precisou desviar o olhar para dizer tal codinome.

— Quando?

— No dia da chuva. — Assim que última palavra saiu de sua boca, ouviu a risada grave cantar junto aos pássaros.

— Tempo bom pra transar.

— Nós não fizemos nada disso, nós só... — Disse como se estivesse ofendido e respirou fundo antes de continuar, pois ao se lembrar das histórias que haviam compartilhado um com o outro, a sua garganta se apertou. — Só conversamos e escutamos música quando ele me levou pra casa.

— Conversar e escutar música? — Taehyung falou mais alto, elevando a cabeça de tão surpreso. — Você já foi a dois encontros com esse cara! Quem diria, Park Jimin conhecendo alguém antes de transar.

Tal fato não era uma inverdade, mas se sentiu insultado por não gostar de pensar no Flamingo dessa forma. Era desesperador ter plena certeza de que agora, depois de tudo o que escutou, não conseguia o enxergar como um mero alguém com quem trocou saliva. Sabia de parte de sua história e de suas cicatrizes, não poderia deixá-lo passar despercebido mesmo se quisesse. Era como se Jimin andasse de cabeça baixa por todo o caminho e só ousou levantar os olhos para assistir com mais atenção a luz brilhante que Jeongguk emanava.

Mas ele não conseguiu se defender das palavras de Taehyung. Como dizer que com o Flamingo era diferente? Como dizer que o coração batia de forma estranha para o traficante da universidade? Como explicar que odiava tal codinome porque, de certa forma, o enxergava para além daquela fachada. Já via Jeon Jeongguk a sua frente mesmo sem saber o seu nome.

Já sabia quais seriam os alertas que o amigo daria, mas Jimin não conseguia evitar que os pensamentos flutuassem em direção à ele.

— Tá na hora da aula. — Foi tudo o que conseguiu dizer antes de se levantar e expulsá-lo de seu colo, começando a andar na frente, sozinho. Preferia não falar nada, mas era exatamente isso que mais o entregava.

Taehyung apenas o seguiu, balançando a cabeça negativamente, sem saber se ia contra ou se aprovava as ações do amigo. Mas sabia muito bem que Jimin era um adulto responsável, dono do próprio nariz, e se ele estava se deixando levar daquela forma, alguma coisa a mais tinha.

(...)

O som das ondas batendo na areia infiltrava os seus ouvidos a ponto do coração martelar desesperado por achar que estava dentro delas, se afogando. Seu pulmão tentou se encher de ar, mas só o que o preencheu foi a água salgada do mar, fazendo tudo arder dentro de si e o seu corpo ser jogado com brutalidade, afundando.

Mal conseguia sentir os próprios membros, já que tudo era congelante ao redor e até teria desistido e se entregado a escuridão do oceano, mas uma onda o elevou até a superfície e uma lufada de ar dolorosa foi puxada em emergência, esticando o pescoço ao máximo para se manter respirando.

E assim, a enxergou na praia, dando passos calmos sobre a areia fina e clara, suas pegadas sendo lavadas enquanto seu vestido rosa pastel voava com a brisa calma. O horizonte atrás dela possuía um céu com nuvens brancas espalhadas pelo azul tão claro como elas próprias. O sorriso ainda era o mesmo, mas a pele estava mais enrugada e os olhos pareciam cansados, não sorriam junto aos lábios. O que existia sobre a sua face só podia ser uma máscara.

As lágrimas de Jeongguk ajudavam a salgar o oceano que o cercava. Arriscou a olhar para o seu próprio céu e tudo o que viu foi uma escuridão sem fim. Se era noite para ele, não deveria existir inúmeras estrelas e uma lua? Se os pequenos pontos brilhantes que iluminavam o horizonte nanquim, eram apenas o resquício do que um dia já existiu, então as estrelas simplesmente morreram e o universo o abandonou?

Se deixou afundar mais uma vez, se entregando ao breu do Pacífico. O corpo inerte sem fazer questão de lutar. Se fechasse os olhos enxergaria o mesmo que via quando abertos.

As pálpebras se abriram de repente e o tronco foi elevado de súbito do colchão velho, puxando o ar para dentro dos pulmões com toda a força e de forma ruidosa, despertando do pesadelo. Sua respiração era mais alta do que o som do ventilador parado, soprando diretamente em sua face, o que não impedia que um fio de suor escorresse pela sua têmpora e se perdesse no pescoço.

O peito subia e descia de forma desesperada e um nó na garganta se fez presente, ele só queria chorar. Puxou as pernas para perto do tronco e as abraçou por um instante, mas logo as suas mãos se afundaram nos fios rosados, puxando-os com um pouco de força, acompanhado de um ranger de dentes.

Colocou os pés sobre o chão frio e se forçou a sair da cama, mesmo que em seu âmago habitasse uma angústia que o fazia querer se deitar novamente, mas não podia se entregar a própria tristeza. Seu corpo parecia pesado, achou que fosse efeito do suor e do sonho conturbado, mas mesmo depois de uma ducha fria, o peso continuava lá, no coração e na mente. O cansaço físico existia, mas o mental e emocional também, Jeongguk não sabia o que fazer com nenhum deles.

Ainda com a toalha sobre os ombros, parou em frente ao espelho que quase mostrava o seu corpo inteiro e observou os olhos vermelhos, frutos da sensação de engasgo; as olheiras que pareciam mais escuras especialmente naquele dia e os fios rosados, quase desbotados, pingando sobre a sua face. E olhou para as tatuagens que ilustravam a sua pele. Era uma lástima que grande parte das pessoas as enxergava como um sinal de perigo, mas no tribunal de Osíris, o seu coração pesava menos que a pena¹, pois nele havia harmonia, justiça, ordem e o mais importante, a verdade, mesmo que Jeongguk olhasse para si e clamasse a Ma'at para ter piedade, pois questionava o quão limpo era. Nunca matou alguém diretamente, mas quantos já se foram por overdose? Quantos já se embriagaram com todos aqueles pequenos pacotes que existiam em sua pochete? Pensar na possibilidade fazia uma angústia surgir, a ponto de faltar ar e uma ânsia crescer na boca do seu estômago.

E ainda havia o sonho. Ele se esforçava para viver um dia de cada vez, esquecer, mesmo que por um minuto, do que fazia e de como havia chegado àquela condição, mas a sua mente traiçoeira fazia questão de o martirizar com lembranças de caminhadas na praia ao lado da mãe. Em todas as vezes que visitou aquele local, ela estava presente, era impossível dissociar uma imagem da outra e assim que deixou Busan, a praia já não era um lugar tão bonito, muito menos quando a sensação das ondas preenchendo os seus ouvidos fora tão vívida, mesmo em sonho. As imagens não eram reais, mas a sensação de abandono não poderia ser mais palpável.

Olhou para o celular repousado no pequeno criado mudo e sem nem pensar duas vezes, discou o número da mãe e se sentou na cama. Mas à medida que um toque se seguia do outro, seu coração começava a martelar frenético, pois não sabia o que diria se caso fosse atendido. Seus olhos estavam esbugalhados em ansiedade, mas só o que ouviu foi a mensagem da caixa postal: "Olá, aqui é a Eunbi. Não posso atender agora, então... só deixe um recado após o sinal."

Jeongguk sorriu ao escutar a pausa na mensagem, algo tão característico da mãe. De repente, o peito doeu de saudade das conversas, até mesmo da praia e do sino de vento que existia na varanda. Na época ele achava aquilo tão irritante, mas Eunbi dizia que a relaxava, "é o vento tocando o seu melhor instrumento, Ggukie", era como ela dizia. Por um momento, pensou em comprar um daqueles, ter uma parte dela para si, tão perto... Preencher o rombo no peito com qualquer coisa que encontrasse sobre ela. Porque sempre foram apenas os dois, mesmo que Jeon ficasse sozinho a maior parte do tempo, Eunbi sempre voltava e queria ficar por perto, mas agora, ambos estavam em lados opostos e feridos pela dor da falta.

Queria tanto falar com ela... Mas pensar no que poderia ouvir não o agradava muito, talvez fosse melhor continuar do jeito que estavam, mantendo uma distância segura, para que nenhuma outra mágoa surgisse. Ele já estava cheio de machucados e mesmo sendo forte, às vezes a bagagem das cicatrizes pesava mais do que ele conseguia carregar.

Olhou para o lado e viu a pochete jogada no chão, logo se lembrou onde deveria ir e do que deveria fazer. Não havia escolha. Jeongguk era só mais uma peça do tabuleiro que se movimentava de acordo com as escolhas do jogador que traçava os seus caminhos e escolhia se ele poderia ganhar alguma partida ou não. Mas o vencedor nunca era ele.

Se sentia como o Coelho Branco da Alice, mas diferente dele, nem ao menos tentava correr, apenas aceitou que perdeu o tempo e se sentou junto a Lebre de Março para tomar um chá².

Saiu de casa sem nem ao menos pentear o cabelo. Seguia pelas ruas movimentadas de Seul em sua caminhonete de forma automática, querendo se esquecer para onde estava indo, mas aquele velho amargo na língua sempre surgia assim que via a fachada da loja. Não gostava muito do rosa do seu cabelo, mas o rosa da vitrine e daquele nome lhe causava repulsa.

Persona: Para o restante da população, apenas uma loja de cosméticos. Maquiagens que eram usadas para transformar e cobrir os defeitos das faces de todos aqueles sul-coreanos. Mas Baekhyun era tão irônico, pois os cosméticos também serviam para encobrir todo o dinheiro sujo e ilegal que o mesmo ganhava com o tráfico de drogas. Um empório que era usado para encobrir um império.

Jeongguk adentrou a loja e logo sentiu o efeito do ar condicionado potente mudar por completo a temperatura de seu corpo. Todo o interior era tão claro e limpo, nem parecia se tratar de um local que escondia toda uma sujeira. A luz forte das prateleiras dos produtos de cuidados com a pele machucava os seus olhos, era melhor ficar longe daquela área e se encaminhar para as tinturas de cabelo. Andava lentamente pelo pequeno corredor, fingindo ler os rótulos das tintas fantasia, era um disfarce perfeito, uma vez que Jeongguk realmente as usava e também, não poderia simplesmente aparecer e logo se encaminhar para o caixa e encontrar Jooheon com cara de tédio.

Pegou um frasco qualquer, sem se importar com o preço e esperou que uma das clientes concluísse a compra e saísse de perto, recebendo um sorriso largo daquele que parecia ter o melhor trabalho. Caixa de loja era legal, mas ter que ir junto a Baekhyun receber a carga que chegava do exterior era uma merda.

— Rosa cereja? — Jooheon perguntou pegando o frasco em suas mãos e o colocando em uma sacola de papelão rosa pastel, com o nome Persona cravado em letras garrafais brancas e em alto relevo. A sacola já estava separada, apenas esperando para que o recebedor aparecesse.

— Rosa flamingo. — Jeongguk o corrigiu, se segurando para não revirar os olhos, mas sem conter o sorriso pequeno em seus lábios. Jooheon era simpático com todos, mas quando os meninos da venda apareciam na loja para se reabastecerem, seu sorriso dobrava de tamanho, afinal, eram um dos seus. Pareciam ser confidentes, trocando segredos com olhares e frases que, aos ouvidos dos outros, eram completamente sem sentido, mas para eles, eram informações valiosas.

— Como está o chefe? — O mais novo perguntou e logo o moreno soube que o outro estava tentando preparar o terreno.

— Vai se encontrar com ele amanhã, é? — Riu elevando uma das sobrancelhas e Jeongguk apenas deu de ombros, aparentemente relaxado, mas por dentro, seu coração disparava acelerado em ansiedade, torcendo para que o Byun estivesse em um bom humor. — Ele tá um pouco surtado... — Não era isso que queria ouvir e de repente, mais um peso parecia querer dobrar os seus joelhos. — Você assiste o noticiário?

— Não, deveria começar? — Jeongguk chegou mais perto do balcão, repousando os dedos frios sobre o vidro, deixando as marcas de seus dígitos suados.

— O Bogum apareceu por lá... — Fez que sim com a cabeça ao que Jeon arregalou os olhos, desacreditado. — Toma cuidado, os caras estão em cima.

— Você também. — Disse e ergueu o pulso para que os betas se tocassem, em um cumprimento que era apenas deles.

Entrou mais uma vez em sua caminhonete, com as suas têmporas latejando intensamente e só ousou tocar no conteúdo da sacola quando chegou ao estacionamento da Yonsei, colocando com cuidado os pacotes dosados em sua pochete antes de se encaminhar até o jardim do Centro de Belas Artes.

Não queria estar ali. Não acordou bem e nada indicava que o seu dia melhoraria, pois a primeira pessoa com quem conversou já foi o contando uma péssima notícia, mais uma preocupação para a sua mente. E se fosse pego? Engoliu em seco e sentiu um enjoo incômodo, olhou ao redor e agradeceu aos céus pelo local estar mais vazio do que de costume. Não sabia o que fazer para aquela angústia passar, era tão pesada que mal conseguia respirar, mas se sentou em um dos bancos de cimento espalhados pela grama e tentou se distrair desenhando folhas de samambaia em seu pequeno caderno, uma por uma. Pelo caule central havia inúmeros ramos, cada um preenchido com folhinhas que eram ainda menores na ponta e ao longo dele, seguiam exatamente o mesmo tamanho. Alguns dos ramos eram curvos e dobrados, o que dificultava o seu trabalho, mas não deixava de ser perfeito.

Jeongguk não parou de desenhar nem mesmo quando alguma pessoa sentava junto a si e tentava puxar assunto, reclamando sobre uma vida que ele julgava ser perfeita, entre problemas com notas, namoros complicados e muchochos desanimados. "Queria eu ter esse tipo de problema", pensou, mas logo após se repreendeu mentalmente, não era de seu feitio julgar a dor dos outros, cada um com os seus problemas, mas ele era tão julgado por quem aparentava ser, suas preocupações eram tão maiores, que naquele momento, se segurou para não revirar os olhos. A voz de alguém que não tinha importância falando sobre algo desinteressante, só fazia a ânsia em seu estômago crescer e um nó o sufocar, porque tudo o que ele mais queria era gritar, mas se reprimia. Quando a noite caiu, o seu caderno estava repleto de folhas de samambaia, até mesmo uma completa com direito a um xaxim e um regador flutuante.

Só percebeu que o jardim se encheu de estudantes quando a caixa de som potente começou a tocar uma música da moda em um volume ainda moderado. Levantou a cabeça e fechou o caderno, se sentou na mesa numa forma de tentar impedir que aqueles que se achavam próximos, se sentassem junto a si. Jeongguk não queria ninguém por perto, mas ele parecia um enorme doce em meio a formigas desesperadas: "Tem bala?"; "Tem erva?"; "Cocaína?"; "Posso conseguir um pouco de cristal com você?". Vozes que pareciam o efeito de algum tipo de psicose, mas nada poderia ser mais real do que os sussurros que saíam de lábios estranhos, corpos perto demais do seu, os perfumes impregnados em sua roupa em abraços falsos e uma repulsa crescente que fazia as suas pálpebras tremerem.

Não estava conseguindo atuar, seu personagem estava saindo de foco, tremeluzindo em seu ser. As vozes irritantes em risadas nada autênticas, não estavam sendo ignoradas, muito menos a música ruim, que descompassava o ritmo da sua frequência cardíaca. A dança de corpos suados e despreocupados, em meio a sorrisos que ele sabia muito bem que eram causados pelos pequenos pacotes que iam de um a um, não era uma felicidade genuína.

Suas mãos começavam a ficar ásperas, efeito das notas de wons gastas e dobradas de qualquer forma. Cada pacote que passava de uma mão para a outra, levava um pedaço seu, seja pelo contato forçado ou pela falsa simpatia.

A festa parecia mais cheia do que o normal. Jeongguk conhecia bem os rostos dos estudantes que costumavam frequentar aquele local, seja de dia, entre as aulas, ou durante a noite, em festas espontâneas ou bem planejadas. Mas como tudo parecia estar conspirando para que ele se sentisse desconfortável, rostos estranhos o encaravam e ele se perguntava se eram policiais disfarçados, mas a julgar pelas pupilas dilatadas, agentes oficiais não se drogariam àquele ponto.

Como se tudo estivesse borrado ao redor, Jeongguk só enxergava um cara em específico, com o cabelo em um tom de laranja medonho, que parecia estar mais descontrolado do que os outros. Ele se movimentava entre as pessoas com os punhos cerrados, parecia querer quebrar os próprios dentes, mas acabou por se sentar justamente em uma mesa à frente de Jeongguk. A mesma que Chanyeol conversava distraidamente com seus colegas enquanto fumava o baseado de sempre, mas o estranho parecia inerte a qualquer voz, seus olhos não piscavam e os seus dedos das mãos se contorciam, agitados.

Jeongguk engoliu em seco e desviou o olhar, enxergando ao longe Jimin ao lado de Taehyung, observando o movimento, encostado em uma das pilastras, tão distraído. Se entreolharam como se estivessem procurando um pelo outro, mas tudo o que o tatuado não queria naquele momento era que Jimin viesse ao seu encontro, não quando ele mesmo repudiava as suas ações, se culpando pelo estado de fuga exagerada de grande parte de todas aquelas pessoas. Abaixou a cabeça quase que imediatamente e fitou os próprios dedos, até que o nó fosse engolido, se esforçando para fingir estar ali, de corpo e alma.

Respirou fundo e elevou o pescoço, se concentrando no grupo que jogava baralho e tomava cerveja, mas em uma fração de segundo, seus olhos teimaram em se encontrar com aquele mesmo cara sentado à sua frente. Os olhos estáticos pareciam encarar o nada, mas como em um quadro animado, em que a pintura move o globo ocular de repente, Jeongguk foi pego em flagrante, seu coração disparou em desespero e a música deixou de ser viva em seus ouvidos, se tornando algo turvo.

Subitamente, o estranho se levantou com os punhos cerrados e foi ao seu encontro, bufando com as narinas estufadas. Os olhos de Jeon se esbugalharam e o seu corpo não conseguiu reagir quando o outro chegou perto demais de si, quase sentia as lufadas de ar em sua face e tudo só piorou quando escutou a voz rasgada ecoar em seus ouvidos, em gritos que causavam-lhe repulsa devido a saliva densa que escapava pelos cantos dos lábios:

— O que você quer comigo? Quem você acha que é pra me olhar desse jeito? — Jeongguk se esquivou para trás, apoiando o corpo sobre as palmas e a respiração presa fazia os seus movimentos se perderem da ação. Não conseguia dizer nada, mas seus pensamentos foram em direção ao que Baekhyun sempre dizia: Parecia estar executando muito bem o seu trabalho ao deixar alguém daquele modo. A lembrança do sonho surgiu de forma dolorosa, pois ele só queria correr para os braços de alguém que fosse confortá-lo, mas tudo o que enxergava era o céu no mais puro nanquim.

Os outros que observavam a cena, nada fizeram. Nem mesmo Chanyeol que era um cliente fiel do Flamingo e amigo de Dakho, pois a única coisa que importava para ele naquele momento era a onda boa na qual o seu corpo estava mergulhado. Era mais fácil não mover um dedo, fechar os olhos e omitir ajuda.

Flamingo era a carcaça, mas Jeongguk era a peça a ser julgada. O caos tomando conta de sua cabeça, desejando se tornar poeira estelar e abandonar a si mesmo.

O corpo paralisado de Jeon dava uma sensação de poder a Dakho, como se pudesse fazer qualquer coisa, invencível. — Eu vou acabar com a sua raça... — Puxou o punho para trás enquanto berrava, mas uma mão cheia de anéis interrompeu a sua fala, agarrando os cabelos descoloridos, afastando o corpo inconveniente de perto de Jeongguk.

— Cuida do seu amigo, não tá vendo que ele tá completamente fora de si? — A voz grave de Jimin foi a única coisa que reverberou em seus ouvidos, como se a música de péssimo gosto tivesse sido desligada. O estranho era conhecido do moreno, se relacionou com Chanyeol a ponto de conhecer seus amigos, assim, apenas jogou o corpo suado e descontrolado em direção ao mais alto, que apenas fez com que o outro se sentasse e logo depois, deu total atenção a Jimin.

— E por que você tá defendendo o Flamingo, cara? — Perguntou ao que se virou de costas para a mesa.

— Não tenho culpa se você é um babaca que só o trata bem enquanto ele te vende uma erva da boa. — Jimin afetou a voz para soar sarcástico, tentava manter a calma, mas sentia que coisa boa dali não sairia. Estava tão concentrado em o responder à altura que nem percebeu os olhos preocupados de Taehyung ao seu lado, e Jeongguk, ainda sentado.

— Você só tá defendendo esse cara porque tá comendo o cu desse otário. — Chanyeol esbravejou com um sorriso debochado, o que fez ascender uma ira em Jimin, que não conseguia aceitar a ideia de que Flamingo não fosse um ser que precisasse de ajuda, tendo a sua humanidade negada para todos aqueles que somente ficaram olhando e nada fizeram. E em um ato impensado, deu alguns passos para frente, tão rápidos quando o seu punho fechado acertando em cheio o osso da bochecha de Chanyeol, em um soco direto que jogou a face para o lado esquerdo.

Tudo em volta pareceu parar por um momento. Jimin nem sentia a mão que latejava e Jeongguk não conseguia fechar a boca, chocado demais para dizer qualquer coisa. O seu raciocínio foi interrompido a medida que viu Chanyeol mover o rosto lentamente para frente, suas mãos começaram a suar frio e a sua respiração foi cortada assim que o viu se levantar em um impulso repentino, o punho cerrado indo em direção a Jimin, que se manteve estático, assistindo a mão grande ir em sua direção em câmera lenta. Mas o movimento foi interrompido por outra mão igualmente grande: a de Taehyung, que segurou o punho de Chanyeol, fechando e apertando os dedos em sua pele com força, fazendo-o se sentar novamente.

— Eu sei muito bem que você se arrependeria disso depois. — Taehyung curvou o tronco para olhar no fundos dos olhos do estudante de música, ainda enfezado e quase espumando de raiva. — Me agradeça mais tarde. — E se afastou, soltando o pulso alheio, indo em direção a mesa de trás.

— Ei, olha só pra mim. — Jimin dizia ao que massageava as têmporas de Jeongguk com os polegares. — Puxa o ar e solta, bem devagar, por favor... — Sentia os olhos quererem desaguar ao ver o outro hiperventilando. Taehyung passou as mãos sobre as costas do tatuado, tentando reconfortá-lo, enquanto Jimin conversava com ele e tentava o guiar para uma respiração mais ritmada. — Tá tudo bem, eu tô bem.

Jeongguk fechou os olhos e se concentrou no hálito de menta que ricocheteava em sua face, inspirando fortemente com o nariz e expirando devagar de uma forma quase dolorosa. O coração batia tão acelerado que quase gerava uma dor física no peito. Apertou as pálpebras com toda a força, deixando escapar uma lágrima sacana, sentiu o gosto salgado banhar-lhe os lábios e assim, mordeu o inferior, apenas soltando-o quando o ritmo da sua respiração se tornou mais lento.

A voz de Jimin parecia incansável em recitar o mantra que tantas vezes repetiu pra si mesmo. A sensação de abandono não era nova, o sonho fora apenas a consequência de pensamentos que não saíam de sua cabeça, mas naquele dia, havia medo, não só de Baekhyun, mas também da polícia, da mesma forma que existia a culpa. Não queria fazer mal a ninguém.

— Você tá seguro agora. — O sussurro de Jimin fez com que Jeongguk derramasse mais lágrimas e pousasse as mãos frias nas dele, sentindo de imediato o contraste com a pele morna. Abriu os olhos de universo e em súplica, sussurrou de volta:

— Por favor, me tira daqui. — Sentiu a testa de Jimin se encostar na sua, sem se importar com todos os olhares que caíam sobre os dois, os quais Taehyung fez questão de analisar um por um, varrendo o local com um semblante sério, quase mortal.

A estrela solitária precisava de abrigo e que bom que o céu de Jimin era tão grande quanto o que habitava em seu peito.

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