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Capítulo Quatro


Conto cinco dias desde que fui sequestrada. Cinco dias em que estudo o horário de troca dos guardas, guardo remédios debaixo do colchão e planejo a morte de várias pessoas. Cinco dias que estou sendo procurada por todo Continente. Cinco dias que não sou encontrada.

Kwame, como prometido, veio todos os últimos quatro dias. No mesmo horário, com o mesmo sorriso convencido no rosto. Ele traz minha comida da manhã, sempre a mesma coisa. E o suco de laranja que eu sempre deixo que ele beba.

Não conversamos muito. Não quero simpatizar com ele, só tornaria meu objetivo mais difícil. Na maior parte do tempo, apenas encaramos um ao outro. Ele nunca desvia seus olhos negros dos meus castanhos. Enquanto encaro seu rosto desenhado, planejo matá-lo. Não sei o que ele pensa quando encara o meu.

Hoje é o dia que decido agir.

Espero que o banho frio me dê a coragem que necessito para fazer o que eu planejo. Posso morrer, ou posso conseguir me libertar. A possibilidade de sucesso é grande o suficiente para que eu decida tentar.

Estou escovando o cabelo, numa tentativa de me acalmar com os movimentos repetitivos, quando o guarda da minha porta coloca a cabeça para dentro da cela.

— Esteja pronta em cinco minutos, vamos dar um passeio — ele pisca e eu reprimo uma careta de repulsa. A proposta de sair seria interessante se eu já não tivesse planos para esta manhã.

Controlo minha respiração, frustrada. Como eu vou sair daqui agora? Tinha planejado cada detalhe, cada movimento e um balde de água fria é jogado com essas palavras. Mas, independente, isso pode me dar uma chance para estudar o local.

Depois de exatos cinco minutos, o guarda entra e segura meu braço para sairmos. Para minha surpresa, o lado de fora não é nada como eu imaginei. Um corredor estende-se à minha frente, as paredes de concreto liso e a iluminação branca. Como havia suposto, não há qualquer recurso tecnológico na porta da cela, e também não há outras portas no corredor.

Memorizo todos meus passos. Depois de alguns minutos, e sempre virando esquinas à direita, uma escada estende-se para fora do teto. Estava no subsolo o tempo todo. Dou uma risada amarga, recebendo um toque do guarda atrás de mim. Assim que termino de subir à superfície, perco o fôlego.

Eu nunca sairia daqui. Nem em um milhão de anos.

Minha recusa em libertar as lágrimas deixa a visão turva e fungo, respirando pela boca. No horizonte, não há nada além de verde. A neblina esconde boa parte de tudo, mas consigo ver que estamos muito alto pela minha dificuldade em respirar.

Meu guarda pigarreia atrás de mim para que eu continue andando. Ele me leva por um ambiente aberto e lameado, e algumas pessoas no caminho olham para mim com uma expressão que não entendo. Pena, acredito.

Minhas esperanças se esvaem a cada metro que eu ando. Não há mais solução. Estou andando para minha própria morte e isso causa uma vibração no meu estômago, porém não tenho mais forças.

Entramos em uma grande sala vazia, mobiliada apenas com uma mesa e duas cadeiras enferrujadas. Não percebo mais nada, apenas sento-me em uma delas, minha cabeça tombando para frente.

Deixo de lado a parte de mim que ainda quer encontrar uma maneira de fugir. A parte que ainda pensa ser possível e quer que eu continue pensando, porém minha cabeça está vazia.

Não faço ideia de quantos minutos se passam até que uma voz alta e autoritária faz eu levantar meu rosto. Na minha frente, um homem alto e robusto toma seu assento à minha frente. Ele estende a mão e eu a tomo, ainda relutante por sua presença.

— Bom dia, Park. Sou Eunad Colligan, Comandante Geral da Base Rebelde. Essa é Ikari Nkosi, minha Comandante de Inteligência de Ataque.

Olho para seu rosto redondo e depois para a mulher que permanece de pé atrás dele. Ela me dá um leve aceno de cabeça que eu retribuo automaticamente. Mesmo se não soubesse seu sobrenome, saberia que é parente de Kwame. Eles compartilham os mesmos olhos pequenos e o mesmo formato dos lábios cheios.

— Base rebelde? — repito, em choque. Parece algum tipo de piada, mas o homem continua com a expressão calma. — Isso não existe.

— Sim, existe. Mas não estou aqui para discutir isso. Tenho algumas informações que acredito serem do seu interesse — ele cruza as mãos em cima da mesa, enquanto eu ainda estou com a cabeça rodando.

— Informações? — pergunto, certa de que estou com uma careta idiota. Ikari se move para colocar algumas pastas na mesa e um crops.

— Você reconhece esse homem? — Eunad liga o crops e transmite uma imagem para a parede preta.

Demoro alguns segundos para saber do que ele está falando, mas quando percebo, meu mundo cai. Não, não, não. Não pode ser.

Sinto minha garganta se fechar, meu pulso acelera e as lágrimas que eu estava segundo até agora fazem seu caminho livremente pelo meu rosto até minha blusa.

— Impossível — soluço, negando com a cabeça. — Impossível.

— Este homem é Kard Baek? — pergunta Eunad, parecendo impaciente.

— Não pode ser. Vocês modificaram a foto, vocês... Não pode ser. Não é ele — murmuro, a sala cada vez se tornando menor e menor ao redor de mim. Meu peito queima em busca do oxigênio que as arfadas não são capazes de mandar.

— Temos centenas de fotos e vídeos, Aurora. Só me diga, é ou não é?

Olho novamente para a imagem. Seu rosto está mais largo, a cor rosada não existe mais. O cabelo, antes tão cheio, está em um corte quase careca. O corpo está tão cheio de músculos que ele não parece humano. Veias saltam de seus braços e pescoço, e há um rabisco em sua nuca. O que me tira o fôlego são seus olhos... os olhos que sempre brilhavam quando ele sorria, estão perdidos... sem vida. Mas mesmo debaixo de toda essa carcaça, ali estava ele. Meu irmão.

Uma parte de mim tenta se agarrar à lógica, ao óbvio, ao possível. Porque isso... isso não me parece nada possível. As pessoas não ressuscitam. Eu o vi morrer... e agora ali estava ele, depois de tantos anos...

— Ele está morto há quinze anos! — explodo, me dirigindo a Eunad que ainda mantém o rosto impassivo. — Quinze anos. Você quer me explicar como isso aconteceu? O luto, a dor, a separação de meus pais, minha dor... O que você está me dizendo? Que eu chorei por meu irmão morto, mas ele está vivo? Que o coração que eu vi parar de bater, simplesmente voltou à vida?

A sala fica em silêncio. Não consigo ouvir nem meus soluços, porém sinto-os rasgando minha garganta. Eunad coloca um vídeo no lugar da foto. Nele, meu irmão caminha lentamente para algum tipo de prédio. Seus passos parecem... estranhos. A câmera foca muito bem em seu rosto e ele parece feito de algo irreal. De repente, um portão é aberto e algumas pessoas saem para se deparar com a figura de Kard. O que acontece, então, quebra meu coração de uma forma que nem sua morte foi capaz.

Kard mata todos eles. Um por um. Quebra seus pescoços ou crava uma faca nos seus corações. Em dois minutos, vários corpos jazem aos seus pés. Ele se vira, sem qualquer emoção, e vai embora.

Meu irmão é um assassino. Meu sangue, parte de mim, parte do que sou. Kard nunca faria isso por vontade própria, eu o conheço. O rapaz cheio de vida, talentoso e risonho não seria capaz de tirar a vida de alguém assim... Não seria.

Não sei quando levanto ou quando começo a gritar. Só percebo quando estou encolhida no canto escuro da sala, meu choro desesperado cortando o ar. Minha mente se fecha e eu não consigo pensar, não consigo falar. Tremo e choro, e é só isso que faço por muito tempo.

Quando minhas lágrimas secam e minha cabeça lateja em dor, religo meu sistema e decido o que tenho que fazer. Caminho até Eunad e Ikari, tédio e pena estampado em seus respectivos rostos.

— Se vocês me deixarem sair daqui com meu irmão agora mesmo, não haverá punição. Eu me certificarei disso. Não vou falar sobre vocês ou esse lugar, esquecerei seus nomes e seus rostos. Vocês podem seguir suas vidas normalmente, sem nenhum perigo. Mas eu levarei Kard.

— Ele não está aqui — é Ikari quem diz. — O seu irmão é propriedade do governo.

— Como? — pergunto, incrédula. — Então Eunjin e eu iremos atrás dele, mas eu preciso sair daqui.

Eunad ri, sem um pingo de humor. Ele clica no crops novamente, reproduzindo outro vídeo.

O meu coração que antes estava quebrado, agora é reduzido a pó.

O vídeo parece ser de uma câmera de segurança, e Kard está de pé no meio de uma sala branca. Uma pessoa com um jaleco o deita em uma maca e vejo uma superfície de vidro trancá-lo ali. Sua maca é levada para o lado de várias outras. E então, uma pessoa de terno entra, as abotoaduras de ouro reluzindo na câmera. Eu conheceria aquelas abotoaduras até no inferno. O jeito de andar, a elegância, o cabelo brilhante a forma como gesticula. Eunjin.

Não tenho forças para reagir. Sento meu corpo na cadeira em um baque surdo. Olho para Ikari, em busca de qualquer coisa que me guie, e encontro olhos compreensivos. Eles deixam com que eu tome meu tempo para digerir.

Meu mundo, minha vida, tudo que eu achava que conhecia destruídos em cinco minutos. É só isso que precisa para se destruir alguém. Agora, não tenho mais nada. Tudo se foi.

— O que vocês querem de mim? — minha voz sai rouca, sem emoção. Fixo meus olhos na mesa.

— Estamos dispostos a te ajudar, Aurora. Ikari já tem em andamento o plano de resgate de Kard Baek. Será difícil, para não dizer quase impossível, no entanto eu confio que somos capazes de te devolver seu irmão.

Penso nessas palavras, Eunad está claramente tentando me manipular a pensar que isso é sobre Kard, mas eu sei melhor. Ninguém dá nada de graça. Tudo tem um preço.

— O que você ganha com isso? — encaro-o. Ele respira fundo antes de responder.

— Precisamos de alguém de dentro. Precisamos de você. O único preço é que você se junte a nós. Se junte a causa.

— E qual exatamente é essa causa? — franzo as sobrancelhas e não tenho certeza de que quero ouvir.

— Iremos tirar Dimitri Bullock da presidência. Queremos matá-lo. E depois, restituir a independência dos antigos países. Nós vamos destruir a Amásia.

Meus olhos estão quase saltando das órbitas, mas não consigo conter minha expressão. Belisco minha perna debaixo da mesa para ter certeza de que isso não é minha imaginação, apesar da mesma não ser tão fértil. Não pode ser sério que essas pessoas estão dispostas a lutar uma guerra inútil e querem me arrastar junto. Destruir a Amásia, retroceder centenas de anos... para quê? Para ter mais liberdade, mais poder? Não faz sentido.

Enquanto peso quais as consequências de minha escolha, a imagem de Kard vem à minha cabeça. Mesmo depois de quinze anos, sua risada está tão vívida em minha mente de modo que parece que eu acabei de ouvi-la. Seus abraços tão calorosos, nossas conversas, o modo como ele me carregava em seu ombro tão facilmente, ou quando apostávamos corrida e ele sempre deixava que eu ganhasse. É desse Kard que eu me lembro. É esse Kard que eu conheço e amo. Já desisti de muita coisa, meu irmão não vai ser uma delas.

Não deixarei que um vídeo mate minhas esperanças. Ele está vivo, e isso é suficiente para eu cruzar terra, mar, céu e inferno a fim de levá-lo para casa, nem que eu precise destruir o Continente para isso.

〆〆〆


Os soluços de Aurora são audíveis mesmo do lado de fora. Não posso imaginar sua dor. A dor de ser traída, de tomarem tudo das suas mãos em apenas um segundo. De tudo que ela imaginava ser real não passar de uma grande miserável mentira.

Diversas vezes tento entrar, querendo levá-la para respirar, para chorar longe de tantos ouvidos incompreensíveis, quero emprestar meu ombro para sua tristeza, ou até meu corpo para que desconte sua raiva, mas os guardas de Eunad fazem um ótimo trabalho em me imobilizar.

Espero do lado de fora, agonizando em ansiedade até que ouço a porta se abrir. Tento entrar, porém alguma mão me segura. Aurora sai andando devagar, deixando um rastro de tristeza e frustração pelo caminho. Parece estar alheia ao que acontece à sua volta, parece fraca e pequena. Ela tropeça nos próprios pés e seu guarda a segura com impaciência.

— Deixem ela tomar um ar primeiro! — reclamo, empurrando o guarda para longe e tomando o braço de Aurora eu mesmo. Ela está mole, olhando para o chão. — Mãe, acho que ela não pode ficar sozinha por enquanto — apelo para Ikari, que assente sem questionar.

— Ela pode ficar aqui fora por algumas horas, depois você deve levá-la de volta.

— Ponha um guarda em minha porta e deixe que ela fique comigo hoje. Não acho prudente jogá-la lá embaixo sozinha, considerando o estado em que ela está — Ikari me olha desconfiada, porém dá uma olhada de pena para Aurora e confirma.

— Não tire seus os olhos dela. Sua porta estará vigiada à noite — dá um tapa em meu ombro antes de ir embora. Pela facilidade de convencer Ikari, imagino que o que houve dentro da sala foi muito pior do que eu pensei.

Sustento o corpo de Aurora e a levo para longe dos olhares curiosos. Caminho para a horta da Estalagem, onde é mais aberto. Há um tronco de madeira deitado ali, e eu sento nós dois nele.

— Aurora? — chamo-a, e recebo um olhar vazio em troca. — Você quer conversar?

Ela balança a cabeça, juntando as mãos no colo. Toca levemente o dedo onde sua aliança costumava estar e começa a rir. Gargalhar, melhor dizendo. Curva o corpo para frente e para trás, rindo como uma criança. Tampa a boca e seus olhos se demoram em mim.

— Não é engraçado, Kwame? — quero dizer que não, porém fico quieto. — Não tenho mais lágrimas e a situação parece a porra de uma piada — explica, balançando os ombros.

— Ainda quer voltar para casa? — pergunto, receoso.

— Não sei. Não faço a mínima ideia. Preciso pensar — Aurora cruza os braços. — Foi isso que eu disse para Ikari e Eunad.

— Minha promessa ainda está valendo — garanto. Ela afirma, respirando fundo. — Você pode dormir no meu alojamento hoje. Não é grande coisa, porém é melhor que sua cela.

— Tem água quente? — levanta uma sobrancelha e eu rio.

— E uma cama maior.

— Você vai estar lá? — sua voz não impõe nada e por um momento não sei qual a resposta que ela quer ouvir.

— Eu posso dormir no chão... ou em outro lugar, se preferir.

— Não é com isso que estou preocupada — seu olhar vaga novamente por toda horta. — Vocês realmente acham que serão capazes de destruir um Continente? — sussurra.

— A Amásia já está destruída — constato e ela volta a me olhar. Preciso respirar fundo antes de continuar porque seus olhos são muito mais intensos à luz do dia. — O que queremos é restaurá-la para o que era antes.

Tudo é uma questão muito maior do que eu posso explicar para ela agora, sem saber qual será sua decisão. Aurora e eu conhecemos Continentes diferentes, vivemos realidades muito divergentes e eu entendo que o tom de tudo é muito surreal para ela.

Aurora nasceu e cresceu na bolha da Elite, o mundo real ainda é muito cru aos seus olhos. Ela nunca foi ensinada que o chão que ela pisa foi construído pelo sangue e suor dos pobres e miseráveis. Aurora não conhece o lado feio da Amásia, o lado em que nossos governantes agem em benefício dos seus e nos deixam para morrer, simplesmente porque podem. Ela foi criada na ignorância, e até que veja com os próprios olhos o mundo em que vive, continuará pensando que tudo o que queremos é loucura demais.

Talvez até seja, mas é uma loucura muito válida.

— Eu acho que preciso muito bater em alguma coisa agora — ela diz e eu sorrio, feliz em saber exatamente como distraí-la.

— Vamos — chamo e deixa que ela passe na minha frente. — Eu me voluntaria, porém acho que você já me fez muito estrago — ela ri, dando uma olhada em minha perna.

— Não acho que foi estrago suficiente — força um sorriso e eu balanço os ombros.

Ponho a mão em suas costas para guiá-la, recebendo um olhar de soslaio, porém ela não diz nada. Levo-a para o Centro de Treinamento Armado. Sei que não é uma boa ideia deixá-la tão perto de armas e facas, mas decido dar um voto de confiança. Considerando tudo, ela merece descontar em alguma coisa que não vá machucá-la.

Apresento minha palma para liberarem a entrada e damos a volta para alcançarmos o fundo das salas. Aurora mantém os olhos atentos às portas e paredes de vidro que separam os ambientes por tipo de arma: Faca, espada, lança-chamas, besta, arco e flecha, pistolas, fuzis e *trentis.

— Qual é a sua? — indaga, apontando para os cômodos transparentes.

— Eu sou ótimo em espada, pistola e trentis, e bom o suficiente no resto — ela franze a testa, assustada. — Quando se está em campo, um milhão de possibilidades podem acontecer, inclusive ficar sem sua arma. Então, é bom saber usar todos os tipos, mas isso é uma coisa minha. Você quer treinar alguma? — pergunto, sabendo que eu vou arranjar um problema.

— Não, eu quero bater em algo — assente rapidamente, determinada.

— Dois passos para longe, apenas por precaução — me afasto dela o suficiente para não ser seu alvo. — Os sacos de areia são logo aqui.

Chegamos no único ambiente aberto e livre de paredes de vidro, no final do CTA. Era apenas uma parte não usada do CTA, mas os soldados fizeram alguns ajustes. Há sacos de areia suspensos no teto, pesos organizados em duas paredes e alguns acolchoamentos velhos espalhados. Um lugar perfeito para descarregar o ódio.

— Você talvez queira alguma proteção para as mãos? — pergunto quando Aurora se posiciona na frente de um saco, as mãos fechadas em punho.

— Não. Eu preciso sentir. — Sua voz é firme quando diz. Assinto e espero.

E então ela começa a esmurrar o saco de areia como se sua vida dependesse disso. São golpes firmes e certeiros, alternados com chutes altos e investidas de joelho. Sinto minha boca abrir, mas não consigo fechá-la de volta. Aurora começa a gritar no meio dos socos, o rosto completamente vermelho, os olhos fulminando. Passa vários minutos assim, e quando tenho certeza de que ela está a apenas um murro de quebrar a mão, puxo seu corpo para longe do pobre saco. Ela grita ainda mais alto, tentando se livrar. Giro-a e dou uma rasteira em seus pés, colocando seus punhos para cima, seguros em minhas mãos.

— Pare! — grito, quando ela ameaça chutar o meio das minhas pernas. — Quando você disse que queria esmurrar algo, não achei que o processo incluía quebrar suas mãos! — vocifero, tentando fazê-la calar a boca.

Ela se cala, para meu alívio, porém antes que eu possa respirar, seu corpo amolece e ela começa a chorar. Puta merda.

— Achei que não tinha mais lágrimas — tento fazer graça, mas me amaldiçoo na mesma hora, porque Aurora começa a chorar ainda mais, o peito dando solavancos violentos com os soluços.

Solto-a, levantando seu corpo. Sento ao seu lado e espero. Espero que seu choro cesse e sua dor diminua, porém não sei o que fazer para ajudar. Quero tocá-la, mas parece a coisa errada a se fazer. Então, apenas fico ali, sentado, minha presença como a única forma de ajuda que posso oferecer.

Após bastante tempo, o berro é substituído pelo som de sua respiração profunda e constante, e até penso que ela adormeceu, mas seus olhos estão encarando a parede, as sobrancelhas franzidas como se estivesse pensando. Dou uma olhada na sua mão ao meu lado, que está em um tom preocupante de vermelho, os nós dos dedos começando a inchar.

Levanto subitamente, mas Aurora não me acompanha. Pego alguns itens para curativo no armário grande que fica no meio do CTA e volto, sentando em sua frente.

— Posso olhar suas mãos? — indago, com medo de sua reação. Ela apenas estende os dois braços sob os joelhos.

Analiso e toco sua mão direita, não parecendo ter nada quebrado. Tomo cuidado ao começar a enfaixar, porém Aurora não parece sentir nada. Traço o pano através de seus dedos, passando pela palma e fechando-o no punho.

— Eu perdi tudo — ela diz, como se constatando um fato. Mantém seus olhos na parede. — Acabei de perder tudo. — Não parece haver qualquer ressentimento em sua voz, e isso me surpreende.

Não tenho o menor direito de sentir o que eu sinto, mas ainda assim acontece. Sinto compaixão por um segundo, entretanto a irritação toma todo o espaço que restava. Tento calar a boca e empatizar com sua dor, mas nunca fui muito sábio mesmo. Quero dizer que ela tem uma segunda chance, que ela tem uma alternativa na palma de suas mãos. Quero dizer que se parasse de ser tão teimosa, viria que pode conquistar tudo novamente, simplesmente porque ela é ela.

Porque ela é Aurora.

Encaro-a por muito tempo até que ela seja obrigada a me encarar de volta. Quando nossos olhos se travam, porém, a raiva se dissipa e tudo que estava na minha mente se torna apenas palavras não ditas. Esqueço tudo. Só há eu, ela e seus malditos olhos.

— Você tem a mim — é o que eu digo, para minha futura desgraça. 


Notas: *Trentis é um tipo de arma que é três em uma: pistola, espada e tridente. A arma é ativada por biometria, e quando é escolhido a arma que você preferir usar, ela assume o formato da arma escolhida.

Espero que tenham gostado desse capítulo e que algumas coisas estejam esclarecidas, rs. Não esqueçam de votar e comentar, até mais! <3       

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