Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo Onze

Meus pulmões ardem como se estivessem embebedados em chamas. Minhas pernas fraquejam, os músculos em protesto ao exercício exaustivo. Caio em meus joelhos, cansada e dolorida, puxando qualquer oxigênio possível para aliviar a pressão em meu peito. Meus cabelos se desprenderam na corrida e caem ao lado meu rosto como dois muros, grudando ao suor nas minhas bochechas.

— Gwen — sussurro, arfando violentamente. Não há resposta. Busco-a com os olhos, pontos de luz pulsando por minhas órbitas. — Gwen!

Tento controlar minha respiração para conseguir ouvir ao meu redor. Não há qualquer sinal sonoro ou visual dos animais insólitos ou de Gwen. Não ouço nada além dos chiados de insetos e o ar que solto por minha boca.

Xingo, devastada, enquanto apoio minhas costas contra uma rocha. Preciso pensar. Atualizo meu mapa, o ponto vermelho indicando onde estou e por onde devo seguir. Em fuga, acabei saindo da rota e o mapa me apresenta duas opções de trajeto. Voltar e ir por onde deveríamos no primeiro plano, ou continuar por um caminho alternativo. Mesmo tento a possibilidade de me guiar no meio da floresta, me sinto muito mais segura com Gwen. Além disso, não posso deixá-la para trás ou seja lá onde ela estiver. Escolho a primeira rota.

Bebo uma cápsula de água, aperto os cordões da mochila, seguro minha arma e dou meia volta. Me sinto como uma cobra; silenciosa e sorrateira, atenta a qualquer sinal de perigo. Caminho cuidadosamente por alguns minutos, meu suor secando gradativamente ao passo que a temperatura do meu corpo diminui. Olho para o mapa algumas vezes para ter certeza de que estou no caminho certo. Chego ao local inicial dentro de vários minutos, atenta a qualquer aviso enviado por meus instintos. Conforme mudo de posição, a rota em meu pulso também, então sigo através dos troncos escurecidos pela trilha intangível.

A mulher de cabelos brilhantes aparece em minha frente subitamente; eu e ela levantando arma e arco ao mesmo tempo, e abaixando-as assim que nos reconhecemos. Com dois suspiros de alívios, nos puxamos para um abraço apertado de gratulação. Sinto seus batimentos escasseando através de sua pele quente.

— Você anda devagar demais — ela murmura, soltando-me e voltando ao seu humor de sempre.

— Como sabe disso? — pergunto. Ela ri e dá dois toques breves na curva do meu ombro. Tinha me esquecido completamente daquela sensação de estremecimento que senti quando conheci Gwen pela primeira vez, no Dia da Junção. — É um rastreador?!

— Eu disse que não confiava em você — ela se defende, dando de ombros. — Sabia, também, que seria útil algum dia. Todos nós temos um, então não se sinta muito especial.

— Você poderia ter me avisado — argumento, mesmo sabendo que não, ela não poderia.

— Sim, e eu tenho a imagem perfeita na minha mente do que viria a seguir: você tentando arrancar o negócio com a primeira faca que visse na frente — ela faz uma careta e se vira, começando a andar. — O rastreador precisa ser desativado para ser removido, caso contrário, envia uma sobrecarga direto para o coração do pobre infeliz.

Estremeço diante da ideia e não tento negar sua dedução.

— Porém, não gosto da ideia de ser vigiada e acompanhada o tempo todo, como... — paro, pensando na ironia da situação. Pigarreio e continuo: — como no Capitólio.

Gwen ri enquanto afasta galhos arranhadores do caminho de sua face. Faço o mesmo quando alcanço as garras de madeira fina.

— Não somos tão diferentes do Capitólio, ruiva. O que nos diverge é a motivação de fazer o que fazemos. Enquanto o Capitólio luta por controle, lutamos por independência. No final do dia, estamos resumidos a um único objetivo: liberdade.

Penso nisso com certo ceticismo. Lembro-me de sentar nas cadeiras confortáveis da biblioteca de minha escola, anos atrás, e ler livros antigos; aqueles que eram proibidos a qualquer pessoa fora da elite que comanda a Amásia. Livros supostamente perigosos, porque incitam o uso do questionamento, do livre arbítrio. O conhecimento estimula a questão; a questão estimula a discordância; a discordância estimula a revolta. E a revolta, agregada a um objetivo comum entre multidões, significa guerra.

O fim justifica os meios. Conhecimento é poder. A maior arma de um povo é a inteligência. O Capitólio teve a audácia de negar estudo às massas, temerosos em perder aquilo que haviam conquistado: o domínio supremo de riquezas, recursos, vidas. Eu, inserida na elite e cega por meus privilégios, nunca atribuí nada do que acontecia em minha volta à cobiça mesquinha das pessoas que considerava como amigas, parentes e família.

Sei bem que ainda não vi metade da miséria que acomete o continente. Não preciso ver tudo, no entanto, para tomar uma decisão. Até que tenha meu irmão de volta, contribuirei como for necessário para aumentar as chances dessas pessoas contra o regime, mesmo sabendo em meu ínfimo que essa é uma batalha já perdida. Nada nem ninguém se levanta contra o Capitólio e continua de pé, o que posso fazer é garantir-lhes mais alguns minutos de luta.

De repente me dou conta, e me empertigo, como se uma ideia genial acabasse de se acender em minha cabeça.

— Kwame também tem um rastreador, certo? — pergunto.

— Certo — Gwen responde, mas entende meu ponto e balança a cabeça, negando. — O dispositivo é desativado por regra da Floresta. Só duas pessoas podem ativá-lo novamente e garanto, nenhuma delas está disposta a nos fazer esse favor.

— Os Colligans? — concluo, entendendo. Existe um limite para até onde o comandante iria a fim de salvar um homem que odeia.

— Os próprios — murmura Gwen, suspirando pesadamente.

Continuamos nosso trajeto por mais alguns minutos, entre sussurros e sarcasmo. Percebo que Gwen carrega uma energia tranquilizadora; sua confiança neutraliza meu medo e me sinto mais segura, certa de que nada de ruim acontecerá conosco sem que ela tente evitar. Como se para confirmar minha concepção, os instintos dela agem mais rápido que o meu quando ela estende um braço para que eu pare de andar. Leva o dedo aos lábios para pedir silêncio. Atrasada, percebo o motivo de seu comportamento.

— Suba na árvore ao seu lado — ela balbucia, sem som.

Já subi em árvores antes, quando criança, não como adulta. Mais alta e pesada, penso em como isso é uma má ideia. Não posso ficar imaginando, preciso agir. Toco o tronco liso, sem elevações ou depressões para o apoio dos pés, então busco a corda na mochila rapidamente e jogo em torno de um galho grosso o suficiente a uns três metros do chão. Ouço o som da espada de Gwen sendo retirada da bainha ao mesmo tempo em que amarro um nó firme na corda e a puxo para que se aperte ao redor da madeira. Escalo a corda apoiando os pés no tronco e ganidos altos reverberam por entre a floresta. Uso as pernas para alcançar meu alvo, e finalmente consigo sentar, ofegante e com as mãos ardendo.

Abaixo de mim, vejo um círculo perfeito de criaturas astutas cercando Gwen. Conto doze dos mesmos bichos estranhos de cabeça redonda que nos perseguiram antes. Apenas um deles me notou subindo a árvore e agora me encara, e eu tenho certeza que são os mesmos olhos amarelo-queimados do meu descobridor. O alfa do bando autoriza o ataque com um latido breve, e é só isso que percebo antes que a massa de pelo reluzente corra até Gwen, dezenas de pares de dentes afiados e cobiçosos para perfurar a pele branca da mulher, buscando alívio para seus estômagos magros.

O golpe da grande e afiada espada é automático, treinado por anos. Gwen ataca o primeiro que se atreve a saltar para seu pescoço. Ela luta em silêncio. Miro minha trentis na cabeça da besta que se esgueira para atacar por trás; o trajeto da bala é suave e não sinto nenhum movimento da arma, apenas o protesto breve da minha vítima seguido pela queda de seu corpo como evidência de sua morte. Aperto o gatilho diversas vezes, atingindo os animais ou chão ou nada, mantendo minha mira fora de Gwen e seus golpes mortais.

Restam apenas três deles quando Gwen corre, alcançando a corda e enrolando-a no braço. Observo, hipnotizada, quando ela atravessa a lâmina manchada de vermelho pelo peito de um deles, ao mesmo tempo em que escala a corda e a enrola ainda mais em torno do braço. O penúltimo animal crava suas garras na madeira lisa do tronco, os dentes buscando qualquer parte dos pés de Gwen. Ela para apenas por um segundo e espera o movimento dele para chutar seu focinho com força e ele desliza para baixo ganindo enquanto eu miro e atiro em seu pescoço.

O último bicho é ainda meu observador. Ele não faz qualquer menção de ataque como seu bando, apenas olha para cima, dentro dos meus olhos, como se buscasse algo. Amarelo contra castanho. Besta contra humano. Barbaridade contra misericórdia. Como na última vez, ele pisca, inerte à luz vermelha da arma contra sua testa, e então se vira, caminhando calmamente entre os corpos sem vida de seus companheiros. Sua grande cauda arrasta-se atrás dele, manchada com o sangue de sua família. É a última coisa que vejo dele antes se camuflar na neblina da floresta. Espero por seu uivo clemente, mas ele não vem dessa vez.

— Está machucada? — pergunto a Gwen, inspecionando-a. Ela nega e suspira, curvando os ombros. Sua trança se desfez da ponta ao meio e sua espada suja descansa entre nossas pernas.

— Odeio isso — murmura, passando a mão trêmula na testa.

Ela percebe que está suja de sangue e tira o casaco grosso bruscamente, procurando por alguma parte limpa, sem sucesso. Busco algumas folhas que pendem sobre minha cabeça e entrego-as a ela. Sem a visão de seu próprio rosto respingado de sangue, ela não consegue se limpar com êxito e apenas espalha o líquido grosso por sua pele. Pego as folhas de volta e seguro seu queixo, usando suas lágrimas para remover os vestígios do massacre.

— Eu sempre tive um contato muito próximo com os animais, sabe? — começa a se explicar.

— Gwen, você não precisa justificar nada para mim — sussurro, trocando folhas sujas por limpas.

— Preciso colocar isso para fora, Aurora... — assinto e então ela continua. — Eu nasci na África do Sul, em uma cidadezinha pobre e rural, uma das poucas que ainda restam, ou restavam, não sei. Eu morava em uma fazenda pequena, com meus pais e três irmãs, todas mulheres — ela ri, nostálgica. — E tínhamos contato com a diversidade da natureza e dos animais... apesar de simples, era a vida perfeita. Muitas pessoas matariam para ter a vida que eu tinha. A escola era muito longe para eu e minhas irmãs irmos, então recebíamos educação em casa mesmo, o que não era muito diferente. Você pode imaginar que não tínhamos muito contato com meninos, não é? Então, quando ele apareceu subitamente, todas nós ficamos... encantadas.

— Ele quem?

— Radesh — Gwen diz, arfando. — Eu tinha treze anos e ele dezesseis quando nos conhecemos. Eunad bateu na porta da minha pequena casa dizendo que havia perdido a esposa e a filha em uma tentativa de sair da cidade e estavam sendo perseguidos pelas autoridades, algo assim. Meu pai, no auge da ingenuidade ou burrice, dependendo do ponto de vista, ofereceu o celeiro como esconderijo para o homem e seu filho. Estávamos isolados, era improvável que fossem encontrados ali, e, acima de tudo, ele ofereceu dinheiro pela estadia. Minhas irmãs suspiraram dias a fio por Radesh, murmurando o que mais gostavam nele: seus olhos grandes, seus cachos negros, seu porte educado, a tragédia de sua família...

— E pelo quê você suspirava? — questiono. Ela balança a cabeça e pega uma das folhas para passar por sua lâmina, tornando-a prateada novamente.

— Nunca suspirei por Radesh. Fiquei intrigada por ele. Às vezes, à noite, saíamos escondidos e deitávamos sobre as flores do jardim para conversar durante a madrugada inteira. Para mim, era só isso: um amigo legal que eu conversava regularmente coisas que jamais compartilhei com minhas irmãs ou meus pais. Ele era um estranho, e muitas vezes há uma intimidade entre dois estranhos que nunca seria possível entre pessoas que você conhece a vida toda. Todos os dias, confessávamos um ao outro algo ruim que havíamos feito. Eu confessava, sei lá, mentiras bobas ou coisas que escondia dos meus pais, travessuras que fazia com minhas irmãs, enfim... Ele mentia no começo, inventava histórias leves como as minhas, mas à medida que o tempo foi passando, ele começou a admitir coisas bizarras — ela toma fôlego e levanta os olhos. Enxuga as mãos na calça com uma careta de dor.

— Ele assistia escondido os pais fazerem sexo e planejava matar o pai porque, segundo ele, sua mãe apanhava e chorava durante o ato. Disse que antes que pudesse fazer algo, ela adoeceu e foi deixada em seu país, sozinha, enquanto Eunad fugia com ele. Sua mãe provavelmente estava morta àquela altura. Nunca existiu uma irmã. Ele cortava os braços e barriga com pedras e arrancava os próprios cabelos. Na sua última confissão, a que realmente me assustou, ele disse que iria embora em dois dias e me levaria com ele. Eu ri e disse que não queria deixar minha família. Ele respondeu dizendo para eu não me preocupar, já que eu não teria uma família até lá.

O sangue se esvai do meu rosto. Fico gelada, a respiração presa em minha garganta enquanto Gwen conta como, naquela noite, toda a sua família foi morta. Ela não teve tempo de reagir. Ela não pode correr. Radesh a atacou com um baque na cabeça e quando acordou novamente, estava na Amásia; na Estalagem 2, sem irmãs, sem pais, sem esperanças. Ela entrou em estado de choque e não levantou da sua cama por um mês. Radesh a visitou todos os dias, esperando resposta aos dedos assassinos que passeavam por seu rosto. Durante onze meses, ele tentou recuperar a admiração da garota que amava. Durante os onze meses, falhou. Até que o garoto se cansou e decidiu seguir o pai através do mundo, recrutando soldados.

— Eu odeio o que me tornei, Aurora. Odeio o que ele fez eu me tornar. Odeio isso de matar ou morrer. Odeio Radesh com cada fibra em meu ser — não há mais lágrimas em seus olhos. Como poderia ter lágrimas nos olhos de uma mulher que perdeu o suficiente para cinco vidas? — Depois que ele foi embora, eu me adaptei. Odeio ter desistido. Eu desisti. Eu não voltei. Não lutei.

— Pelo que haveria de lutar? — digo, com delicadeza. Encaro-a. — Não havia mais para o que voltar, Gwen.

— Ainda assim... isso não faz efeito em minha culpa — ela cruza os braços, como se estivesse exposta demais. — Eu nunca disse adeus.

A única coisa que faço, a única coisa que posso fazer, é abraçá-la. Sinto por ela, sinto por sua dor, sinto por seu luto eterno. Envolvo em meus braços a estranha que confiou em mim para compartilhar comigo sua história barbárie. Quando a solto, trago sua trança para frente e entrelaço as pontas soltas.

— O que faremos agora? — pergunto.

— Agora, nós dormimos... ou tentamos — ela se ajeita melhor no tronco. — Estamos seguras aqui em cima. E quando o sol levantar e podermos ver uma palma adiante, aí, então, vamos encontrar Kwame.

Ela diz sorrindo, como se estivesse fazendo uma escolha de última hora, quando nós duas sabemos que salvar Kwame Nkosi é a única alternativa possível.

— Essa dupla — aponto o dedo para nós duas — deveria ter um nome — digo, apenas para vê-la gargalhar.  


Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro