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Capítulo Dezessete

Sempre fui amante das manhãs, uma espectadora fiel do nascer do sol. Quando a luz em tons de laranja e amarelo invade, dissipando as trevas e levando com elas os resquícios da noite, gosto de sentir o calor ameno na minha pele, agindo como uma fonte de água corrente e limpando a minha mente.

Hoje, no entanto, o sol se retraiu, tímido, atrás de uma nuvem cinza e pesada, não fazendo qualquer disposição em aquecer minha pele e clarear meus pensamentos.

— Você também? — sussurro para ele, compreensiva.

Hoje é o dia da Sentença, onde será posto em julgamento a veracidade a alegação de legítima defesa de Aurora, e considerando meu conhecimento da mentira que ela está sustentando, o pânico interno que carrego é mais que justificável.

— Voltarei mais tarde — prometo ao sol, enfiando os polegares no bolso e indo em direção ao centro médico.

Corto caminho pela cozinha para buscar dois copos de café, acenando brevemente para as pessoas que preparam o desjejum de mais tarde. Coloco açúcar e leite em um copo e deixo o meu puro e amargo.

No centro médico, encontro o Dr. Mendoza dentro de sua sala, dormindo de qualquer jeito por cima de vários crops. Dou dois chutes leves na porta para acordá-lo, sem sucesso. Impaciente, puxo seus cabelos cacheados, sentando-o na cadeira enquanto um filete de saliva acompanha o trajeto.

— Acorde! — falo alto em seu ouvido, recebendo um pulinho de susto em resposta. Mendoza limpa a boca com a manga de sua roupa branca, claramente constrangido.

— Gwen... — a rouquidão da sua voz matinal o deixa levemente atraente.

— Você precisa de um banho e café — suspendo as sobrancelhas, sugestiva. — Posso tomar conta de um desses, se você quiser.

Ele pigarreia, arregalando os olhos castanhos. Dou risada quando ele gagueja, e estendo o segundo recipiente para ele.

— O café, eu quis dizer — escondo meu sorriso malicioso atrás do copo. Colocando de lado todos os comentários maliciosos que garantem minha diversão com o doutor, volto minha atenção ao que realmente importa. — Então, o que temos?

Desde que Aurora foi presa, há dezesseis dias atrás, tenho concentrado todo meu tempo em desvendar o mistério do comportamento incomum de Kwame. Submetido a diversos procedimentos, exames e entrevistas, ele não foi o paciente mais agradável do mundo, apesar de ter concordado em cooperar com o andamento de todos os processos.

Como Aurora havia pedido, Dr. Mendoza e eu nos enterramos em todos os tipos de arquivos existentes sobre as mutações genéticas que o Capitólio mantém feito armas em um arsenal. Os transmutes são, em sua maioria, híbridos dos mais diversos tipos de animais; com suas habilidades mortais combinadas e fraquezas naturais inibidas, o resultado é realmente maquiavélico.

Continuamos a tentar provar nossa teoria de que Kwame foi atacado por um transmute, mesmo que o próprio não se lembre de nada do que aconteceu na Floresta. Mas eu e Aurora estávamos lá e não há palavra maior que o que nossos olhos testemunharam.

— O sangue dele está limpo — Mendoza espelha seu crops na mesa digital, onde todas as informações físicas e psicológicas de Kwame estão armazenadas.

— Nós sabemos disso desde o primeiro dia — murmuro. O corpo virtual de Kwame gira levemente na tela, pontos vermelhos indicando todos os locais onde ele estava ferido. Clico no ponto grande em seu ombro, abrindo os detalhes da lesão feita por garras nojentas e afiadas.

— Esse é interessante — diz Mendoza, abrindo as imagens dos cortes em diferentes ângulos. — Sem sangue, como um corte cauterizado. Definitivamente um animal, mas não conseguimos nenhuma informação genética que indique qual.

— O que é isso? — aproximo a imagem para algumas ramificações na pele próxima ao ferimento. Mendoza olha rapidamente, acenando.

— Sujeira.

— Não é. Tem um padrão — desenho as pequenas linhas brancas com meu indicador; elas são tão finas que quase parecem estrias, mas se repetem por todo comprimento dos cortes, dividindo-se e depois encontrando-se novamente, enfeitando as bordas das lacerações.

— Vou adicionar algumas palavras-chaves nas pesquisas... só um minuto — enquanto meu coração acelera com a possibilidade de obter alguma resposta, Mendoza se concentra em operar vários aparelhos ao mesmo tempo. Ele me passa um crops aberto em um texto. — Aqui. Eu pedi uma solicitação para invadir o sistema do Capitólio, mas o nosso Centro de Tecnologia só conseguiu entrar ontem. Eles mudaram todo o funcionamento do sistema depois que Aurora fugiu.

— É claro que mudaram — esbanjo um sorriso de ambos sarcasmo e orgulho. Aurora criou a maioria dos softwares usados por toda a Amásia, inclusive os sistemas de segurança, a especialidade dela, então é óbvio que eles não cometeriam esse erro.

Mas, seja lá qual for o método de segurança que estejam usando agora, duvido que seja tão bom quanto o de Aurora.

— Leia isso, Fitz.

"As informações obtidas através da anastomose entre o veneno da Oxyuranus microlepidotus com as proporções físicas do transmute 714 mostram-se sem utilidade para os objetivos capitais."; "... a neurotoxina presente nas garras e dentes do híbrido trouxe efeito inibidor no sistema límbico humano; lesões estriadas na pele; danos fisiológicos inconsistentes, não alcançando a dimensão de degeneração esperada."; "... a lentidão do híbrido tornou-se significante para justificar um descarte, bem como os efeitos da neurotoxina no cérebro humano não atingem a eficácia esperada...".

— O que isso significa? — mordo o interior da minha bochecha para controlar o asco que sobe por minha garganta.

— A Oxyuranus microlepidotus é uma espécie de serpente antiga, seu veneno era um dos mais mortais do mundo. Ela foi extinta, mas o Capitólio ainda reproduz a composição química da toxina. O sistema límbico é responsável pelas nossas respostas emocionais, então acredito que o "efeito inibidor" seja justamente o que estamos observando em Kwame.

— Ikari estava trabalhando com a teoria de que eles têm criado armas animais e humanas nos últimos anos, sabendo que não demorará muito para uma guerra; são verdadeiras bestas que não fazem a menor diferença para eles se morrerem em batalha.

Mendoza abre novas abas na mesa para identificarmos o transmute 714. Híbrido do urso-pelado e morcego-gigante, a criatura de pele lisa e negra é uma verdadeira aberração biológica. As garras são grandes demais para as patas redondas; a barriga sobressai-se em frente ao seu corpo, estampando cicatrizes horrendas; a cabeça pequena e triangular não faz sentido ao restante e os olhos do híbrido vociferam um grito silencioso de pena.

— Os descartes são feitos na floresta, o que ocasionou no encontro dele com Kwame — Mendoza informa, as sobrancelhas juntas mostrando o quão concentrado em suas pesquisas ele está. — É uma informação importante, já que outras centenas de "erros" devem estar morando ao nosso redor por todo esse tempo e nem tínhamos ideia.

— É, nenhum condenado à Floresta voltou para nos contar a novidade — empurro o ombro dele, sorrindo, para aliviar o nível de sarcasmo.

— Foco, Gwen — Mendoza revira os olhos, apesar de não conseguir conter o leve sorriso. — Precisamos descobrir como reverter os efeitos do veneno no sistema límbico de Kwame.

— Simples: removendo a toxina — como se tivesse todas as respostas do mundo, respondo antes de realmente pensar. A forma como vejo as coisas de maneira prática e simples não faz efeito na ciência do corpo humano.

Mendoza me fita com as sobrancelhas levantadas, sem julgamentos, apenas ciente de que temos inteligências diferentes. Afinal, se nos encarássemos em uma luta, mesmo se eu estivesse sem um braço e uma perna, ainda ganharia dele em três minutos.

— Não comente, só trabalhe — ordeno, levantando a mão para ele.

— Como quiser, chefe — ele volta para a mesa, novamente focado no que sabe fazer.

Alguns minutos observando Mendoza são suficientes para me dar dor de cabeça, então agradeço quando meu crops toca, transmitindo a imagem de Ikari quando aceito a chamada.

— General — saúdo, não transmitindo minha confusão em receber sua ligação tão cedo.

— Soldado Fitz — ela parece estar andando, dois outros soldados aparecendo de relance nos cantos da imagem. — Quero avisar que a Sentença foi antecipada para daqui a vinte minutos.

— O quê? O Comandante já pousou?

— O Comandante Colligan estará presente apenas por transmissão — apesar de ela se referir a ele com respeito, sei bem que Ikari está colocando mais uma falha do comandante na sua enorme lista. — Emergências o impossibilitaram de sair da Estalagem 3, pelo visto.

— Colligan e suas emergências — murmuro em ironia, arrancando um sorriso breve da General. — Aurora já está ciente?

— Sim, ela está pronta.

Mesmo cética da veracidade dos acontecimentos que colocaram Aurora nessa posição, torço para que ela consiga o resultado planejado. Confio nela e confio nos motivos que a levaram a mentir, até mesmo para mim, mesmo que isso confronte todos os juramentos que fiz à causa rebelde e a mim mesma.

— Tudo bem, encontro você lá — com uma continência, desligo a chamada.

Levanto apressada, sem efeito em desviar a atenção de Mendoza de suas pesquisas, e corro para a porta, mas giro o corpo antes de sair, lembrando de uma coisa.

— Ei — chego perto dele, apertando seu ombro com firmeza e recebendo olhos arregalados em resposta. — Acredito em você, e principalmente nesse seu cérebro brilhante. Você consegue fazer isso.

Ele assente, colocando a mão sobre a minha e sorrindo.

— Não se preocupe, Gwen. Vou descobrir como trazê-lo de volta.

— Você que não descubra — brinco, piscando como despedida e saindo porta afora, prestes para testemunhar a Sentença de Aurora Park.

***

Conto trinta pessoas presentes, todas mantendo o silêncio necessário para o evento. A Sentença é um evento incomum na Estalagem 2; reservada apenas para crimes de sangue, acontece poucas vezes, e nunca com uma boa perspectiva para o condenado.

Existe um protocolo para o caso de Aurora: com sua alegação de legítima defesa, ela não estará na posição de condenada, mas a Tribuna decidirá se as provas do caso são suficientes para justificar sua absolvição. Se decidido que a legítima defesa não é justificável, Aurora passará para a posição de assassina, e condenada à sentença de morte.

Um a um, os membros da Tribuna começam a aparecer nos seu telões, sempre em silêncio e inexpressivos. Espalhados ao redor do mundo por motivos de segurança, suas presenças são apenas virtuais, mesmo que explanem a mesma sensação de autoridade se estivessem em carne e osso. A imagem do comandante Colligan se junta aos demais, apesar de bem menor e menos significativa.

A Tribuna, composta por cinco membros, representa os cinco alicerces da causa rebelde. Eles estão acima de todos, liderando milhares de pessoas e fazendo ser possível o nosso objetivo comum de liberdade.

Aurora finalmente entra na sala, seguida por dois guardas. Está bem vestida, confortável em sua elegância natural. Não encara ninguém em específico, apenas mantém o queixo em pé e a expressão de confiança enquanto se direciona à sua mesa posta no meio dos telões para que a Tribuna possa vê-la. Ela me procura com os olhos, acenando com a cabeça brevemente quando me encontra, e eu retribuo com um sorriso encorajador.

Kwame entra depois, passando despercebido para todos que encaram Aurora. Mas eu, já acostumada em notar sua presença quando ele entre em um cômodo, o acompanho com os olhos. Ele se posiciona de pé ao lado da porta de saída, os braços cruzados e um olhar vazio no rosto. Meu coração aperta novamente, como sempre acontece quando o vejo, e digito uma mensagem para dr. Mendoza.

"Qualquer novidade que seja, me avise."

Encaro Kwame por mais alguns segundos, esperando pelo sorriso de lado ou a piscada que ele sempre dá quando me vê, mas como desde a Floresta, ele nem se dá conta de que estou por perto.

Ikari inicia a Sentença se posicionando no meio da sala, a voz passeando pelos transmissores de som com suavidade e autoridade ao apresentar os membros da Tribuna. Yuna Malika: liberdade; Wonder Raoni: força; Berique Jozan: valentia; Diara Xoloni: isonomia; Luandre Paz: poder.

É por cada uma dessas virtudes que lutamos. A vida comum que nos é oferecida pelo Continente não é o suficiente; queremos mais, podemos ser mais e se necessário ultrapassaremos limites para chegar onde queremos. E é por essa ambição de ascensão que deixamos nosso sangue em cada treino, cada missão, cada luta. É pelo valor de cada vida menosprezada que permanecemos de pé, mesmo que todas as chances estejam em nosso desfavor.

Dado o fim da cerimônia de apresentação, Ikari segue para a identificação das duas pontas envolvidas na história, apresentando os dados simultaneamente na sala e nos dispositivos dos membros da Tribuna.

— O falecido, Palore Wickman, trinta e cinco anos, Soldado de Infiltração da Estalagem Dois. Nível cinco em armamento de fogo, assim como em missões de disfarce. Ele trabalhou disfarçado por quatro anos dentro do Capitólio, nos fornecendo material para o avanço dos nossos interesses. Três advertências registradas por agressão e mais uma por indisciplina em função.

Há uma abafada sensação de admiração por Palore entre o presentes. Por mais desvirtuado que fosse seu caráter, o soldado fez muito pela causa, e o fato de isso ser incontestável me dá desespero pela situação de Aurora.

— Aurora Park por casamento e Baek por nascimento, trinta e um anos — Ikari continua, trocando as imagens. — Extraída do Capitólio pela execução da Missão 55, ela era o cérebro dos sistemas de ataque e defesa do Continente, o que a torna imprescindível para o nosso êxito.

— Seja imparcial, por favor, General Nkosi — o comandante Colligan interrompe, como o pedaço de merda que ele é.

— Apenas estou apresentando os fatos, Comandante — Ikari rebate, sem qualquer afetação pela audácia dele. — Continuando... A moeda de troca entre nós e Aurora é o seu irmão, Kard Baek. O mesmo está sendo mantido em um laboratório, servindo como arma para assuntos capitais desconhecidos, por ora. Aurora nos fornece a vastidão de seus conhecimentos em troca do resgate de seu irmão.

Berique Jozan pigarreia levemente, chamando a atenção de todos para a sua imagem no telão. Seus longos cabelos negros estão presos atrás da nuca, o rosto comprido está franzido levemente.

— Se me permite... — ele pede a palavra, concedida com um aceno de cabeça de Ikari. — Os motivos para a permanência de Aurora Park na sua estalagem me parecem... rasos. Ela é casada com o segundo homem mais importante do Continente, apenas uma palavra dele e Kard Baek estaria de volta aos braços da irmã. O que os fazem ter certeza de que ela não os trairá na primeira oportunidade? Eu sei que o motivo dessa Sentença é distinto, porém não poderia deixar de ressaltar que os riscos que estão tomando são enormes em comparação à confiabilidade dessa mulher.

— Senhor, na verdade... — Ikari fala, mas a voz de Aurora se sobrepõe ao mesmo tempo.

— Posso ter a palavra? — com a afirmação da General, ela continua, encarando Berique com confiança. — Senhor, eu respeitosamente discordo de sua opinião, apesar de entendê-la. Sim, meus motivos parecem rasos, mas não são. Meu ex-marido, Eunjin Park, não faria qualquer coisa para salvar meu irmão, porque é ele quem o está mantendo preso como um maldito transmute naquele laboratório. Minha mãe e de Kard, caso o senhor se pergunte, foi a responsável por todo processo burocrático que o levou aonde está hoje, inclusive a falsificação de uma morte que eu acreditei piamente durante quinze anos. Ainda me pergunto se o sangue que cobriu meu rosto naquele dia foi falso ou não. — Aurora mantém a voz firme, mesmo que seus olhos brilhem com lágrimas e uma perna trema violentamente.

— Então, se não acredita em minha palavra, acredite em minha solidão. Estou sozinha, senhor, e a única pessoa capaz de mudar isso é o meu irmão. Se preciso ajudar a derrubar um Continente para tê-lo de volta, assim farei. E garanto, não tenho nada pelo que me arrepender.

Todos parecem prender a respiração enquanto processamos as palavras de Aurora, e tenho noção do aumento significativo da minha admiração por ela. Ela está sentada lá, em meio a pessoas que seguram seu destino, sua vida ou morte nas mãos, e ainda assim sua energia obstinada permanece como um gigante; impossível de não notar, impossível de não temer.

Berique parece se dar por satisfeito com a declaração de Aurora, já que acena para a continuidade da cerimônia com uma nova expressão. Ikari passa a palavra para que o analista de provas, Gunter Hernández, apresente todas as evidências coletadas da cena do crime, da autópsia de Palore e o que foi recolhido do corpo de Aurora.

Seguro minhas mãos com força no meu colo para que elas parem de tremer. Essa é uma das partes mais essenciais do caso, e espero que Aurora tenha usado toda sua inteligência em tornar as provas inquestionáveis.

E Gunter Hernández faz sua mágica... evidência por evidência, foto por foto, dna por dna; a cada minuto a base do testemunho de Aurora vai sendo construído em fatos que a colocam na cena do crime, sendo estrangulada pelas mãos de Palore Wickman, mesmo que eu e ela saibamos que nada daquilo é real.

— Acredito que a única peça ausente do conjunto de provas para que possamos absolver a senhorita Aurora, seja as imagens das câmeras de segurança perto da cena do crime, correto? — Diara Xoloni questiona, escrevendo algo em seu crops.

— Correto, Diana — Luandre Paz confirma, claramente esperando alguma resposta, e levantando as sobrancelhas quando não a tem. — Então, General Nkosi, onde estão essas imagens?

— Não temos posse dessa evidência, senhor — Ikari hesita antes de falar, algo que nunca vi acontecer. Existe um fio de tensão ligando-a à Aurora e Kwame. — Alguém apagou os registros visuais do momento do crime. Colocamos todo o setor tecnológico para tentar recuperá-las ou rastrear qualquer pista sobre quem as removeu, mas sem sucesso.

Posso sentir por um segundo a incredulidade que atravessa os rostos da Tribuna, e mordo o interior da minha bochecha já machucada. Sem a prova visual, todo o restante é colocado em dúvida, se torna circunstancial, raso.

— Está dizendo que quem apagou os registros que, supostamente, provam a legítima defesa de Aurora, sabia tão bem o que estava fazendo que nem o seu setor de tecnologia foi capaz de resolver? — à medida que as palavras saem da boca de Luandre, a agonia que cresce em meu peito torna-se ainda mais dilacerante e sei que todos os olhares de pena que estavam apontados para Aurora se transformaram em acusações silenciosas.

Mas então, tudo se torna ainda pior quando a voz grave tombera por todo o salão, os soldados em função, incluindo Ikari, fazem a continência de respeito enquanto ele atravessa o cômodo com o pulso estendido e um sorriso ardiloso enfeitando o rosto.

— Sim, senhor, ela está dizendo que eu sou incrivelmente bom — é o que ele diz, ao mesmo tempo em que duas lágrimas dolorosas caem em meu colo. Não me dou ao trabalho de enxugá-las, pois sei que está tudo acabado.

Aurora também sabe. Kwame também sabe. Todo o esforço colocado em inocentar Kwame é jogado no lixo desde o momento em que Radesh Colligan decide fazer parte da Sentença. Sei o que sua presença significa, sei que agora perderei uma amiga e um irmão. E não há nada que eu possa fazer além de assistir enquanto o mundo desmorona ao nosso redor.

Com um péssima noção de tempo, meu crops de pulso apita com uma nova mensagem de Mendoza, dando luz a um túnel que não tem mais fim.

"Eu descobri como reverter a ação da toxina no cérebro de Kwame!".

Sua mensagem não tem o efeito esperado em mim, porque assim como sei que não verei o nascer do sol amanhã, sei que em alguns dias, Kwame Nkosi estará morto pelo assassinato de Palore Wickman.

Enquanto Radesh conecta seu crops à transmissão visual no telão, procuro por Kwame, silenciosamente implorando para que seus olhos encontrem os meus, que ele sorria e diga que tudo vai ficar bem, mesmo que isso seja mentira. Por favor, me olhe. Por favor, minta para mim. Eu estou aqui, me veja, me busque, se apoie em mim.

Mas imploro em vão, tento em vão, porque a mente de Kwame não está ali, seus sentimentos estão cativos longe, inalcançáveis, perdidos. Continuo presa em seu rosto, porque eu mesma preciso do conforto familiar de seus traços, da maneira como eu ajusto minha respiração com a dele, sempre serena e controlada. No entanto, sua expressão muda por completo, e meu coração dá um salto ao ver a confusão em seus olhos.

No telão, as imagens que anunciariam a mentira de Aurora e o crime de Kwame, trazem exatamente o contrário. Questiono meu estado mental, pisco várias vezes e até conto meus dedos para ter certeza de que estou vendo o que estou vendo.

O vídeo mostra Aurora andando, sem pressa, e um Palore bem vivo atrás dela, parecendo ansioso. A imagem segue com eles até uma parte mais reclusa da estalagem, perto da floresta e longe dos olhos de testemunhas, e é quando Palore entra na frente de Aurora, discute algo com ela, e então a derruba no chão pedroso.

Assim como eu, Ikari, Kwame e Aurora permanecem sem reação alguma ao desenrolar dos segundos em que Palore e Aurora brigam, e então ela consegue chutá-lo e sai correndo para uma esquina, onde outra pessoa, um menino, tenta segurá-la, mas ela também consegue se livrar dele.

O menino do vídeo, Devon Martins, foi anunciado como testemunha do caso de Aurora, mas a prova em vídeo descarta a necessidade do seu testemunho. Olho rapidamente para ele, que parece confuso, e basta a sutil troca de olhares entre Radesh e ele para eu saber o que aconteceu.

A parte em que Aurora hipoteticamente mata Palore é confusa e a imagem é escura. Há apenas as sombras de seus corpos, Palore colocando-a contra a parede por muitos segundos, até que tudo para, seus braços caem e o corpo já sem vida sucumbe ao chão enquanto Aurora cai e desmaia, o que justifica a lacuna de tempo até o momento de sua confissão.

Apesar de aquilo ser real, minha mente tem dificuldade para entender como. Ou o porquê. De todas as pessoas, Radesh Colligan deliberadamente agiu em favor da vida de Aurora e Kwame.

A pergunta não dita se repete, de novo e de novo: o que Radesh quer de nós, em troca? Eu o conheço mais do que gostaria, sei de sua mente perversa e seu coração duro. O que ele fez com minha família ainda dói, todo maldito dia. Não existe possibilidade de uma boa ação vinda desse homem, e nada do que ele faz é em vão.

Quando Radesh me encontra em meio a multidão, o seu sorriso me dá a certeza cruel que, não importa qual o plano maligno que ronda sua mente, está relacionado a mim. São os passos calculados de uma mente psicopata para obter a única coisa que ele realmente deseja: eu.

Notas: Capítulo grande, ein? Fizeram uma pausa pra beber uma água? Espero que sim! Eu tentei focar apenas na narração de Kwame e Aurora, mas Gwen se tornou uma personagem tão especial e querida, que tive a ousadia de passar por cima da minha palavra e espero que tenha valido a pena. Não sei com que regularidade ela aparecerá narrando capítulos por aqui, vai depender do feedback de vocês, então me digam: gostaram, odiaram, tanto faz? Me digaaaam!

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