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Capítulo Cinco


Quando a noite caiu, horas atrás, não adormeci antes dele. Não consigo dormir quando estou vazia de emoções.

Observo a sombra de Kwame, deitado no chão, do outro lado do quarto, e não sei o que pensar. A escuridão limita meu campo de visão, mas ainda posso ver o brilho da pele dele e o som de sua respiração regulada.

Você tem a mim, foi o que ele disse, mas não. Eu não o tenho. Não o tenho porque não o conheço e tampouco confio no que diz. Seria estúpida se fizesse. Ele mesmo seria burro se confiasse em mim, porém, quando está ao meu lado não demonstra qualquer receio.

Enumero minhas alternativas de fugir daqui. Zero.

Esfrego os olhos, cansada de tudo. Preciso tomar uma decisão sem a pressão constante de que estou presa aqui. Preciso pensar sem todos os olhos virados para mim esperando que eu faça o que eles querem. Necessito de ar.

Encaro minhas mãos enfaixadas, os hematomas trazendo à tona os sentimentos que transbordavam dentro de mim, e única opção que tive foi extravasar em alguma coisa, porque tinha que ferir alguém, ou melhor, algo. Como esperado, a sessão de ódio me esgotou de tal forma que já não sinto nada. Raiva, tristeza, decepção... nada tem efeito em mim agora.

A única coisa que me remove da ideia de desistir é o pensamento de que meu irmão está vivo. Essa certeza envia uma fagulha de calor ao meu coração, um sentimento antigo se renova dentro de mim, trazendo lágrimas tímidas aos meus olhos.

A saudade é o mais perigoso dos sentimentos.

A ideia de fugir faz meu cérebro repassar a proposta de Kwame um zilhão de vezes. Eu mesmo te levarei de volta. Você tem a mim. Eu te levarei de volta.

Será que ele estava falando a verdade? Se sim, porque se arriscar para satisfazer uma vontade minha? Ou foi apenas um truque, para me matar assim que eu disser que quero que ele me leve embora? Eu quero ir? Como posso ir atrás de Kard se já não confio nem em minha sombra?

Os raios de luz atravessam a janela de teto de Kwame bem em cima do meu rosto. Basta apenas um pouco de claridade para que ele desperte, piscando os olhos rapidamente e esticando os braços. Ele é muito comprido, e a roupa de malha que está usando não faz um bom trabalho em esconder a quantidade de músculos em seu corpo.

— Não dormiu? — pergunta, sentando e analisando meu rosto. Imagino que eu pareça um robô agora. Apenas nego com a cabeça, sem vontade de falar. — Vamos sair em alguns minutos para comer e depois te levo de volta ao seu quarto — anuncia, pondo-se de pé e arrumando o saco de dormir em um rolo.

Enquanto Kwame se dirige ao pequeno banheiro do seu alojamento, a palavra "quarto" envia ondas de náusea ao meu estômago. Somente a sugestão de voltar a ficar presa por não sei quanto tempo me deixa nervosa. Não posso voltar. Não vou.

Diante do meu desespero, passo os olhos freneticamente pelo pequeno cômodo de Kwame, em busca de qualquer coisa que seja útil, qualquer coisa que me dê uma nova perspectiva de escolha. Um soldado deve ter alguma arma escondida, alguma coisa que sirva para machucar.

A mobília é composta por cinco peças: a cama, uma mesa sem compartimentos, uma cadeira, uma arara presa em uma das paredes e um baú. Levanto rapidamente quando ouço o chuveiro ligar, isso vai me dar algum tempo. Reviro e apalpo os móveis, sem saber exatamente o que espero encontrar. Cada toque na madeira dos móveis ou no ar vazio me faz gemer em tristeza.

Deixo o baú por último, que está trancado por uma tira de pano, os vários nós emaranhados deixando uma mensagem bem clara de não mexa.

Trabalho meus dedos nos nós, usando a boca quando necessário. O chuveiro ligado ainda me dando esperanças de que posso abrir a tempo. Estou no penúltimo nó quando ouço a água ser desligada. O medo afunda meu peito, mas não desisto. Uma gota solitária de suor desce por minha espinha no momento em que desato o último. Quando a porta do banheiro se abre e Kwame coloca os olhos em mim, já agarrei a primeira coisa que vi brilhar dentro do baú e seguro a lâmina ameaçadoramente na frente do meu corpo.

Kwame se mantém imóvel, os olhos na faca e a testa franzida. Uma toalha jaz no seu ombro nu e o amaldiçoo por estar sem camisa. Não vai ser fácil ferí-lo através dos músculos rígidos do seu abdômen.

Posso sentir o gosto da sua decepção quando seus olhos finalmente encontram os meus, o brilho bem-humorado sendo substituído por puro desgosto.

— O que você planeja fazer? — sua voz é calma e lenta, nada vacilante pela leve vantagem que mantenho entre nós.

— Fugir.

— Vai me matar? E depois? — dá dois passos em minha direção, e eu seguro a faca mais alto. — Rasgar a garganta do guarda que está atrás dessa porta? Nós dois sabemos que você consegue, mas e depois? — mais dois passos, ele para frente e eu para trás. — Correr das centenas de outros guardas que estarão atrás de você? Tudo bem. E depois? Pular da porra da montanha? Digamos que você sobreviva, e depois? Voltar para o seu marido mentiroso e para sua vida cheia de hipocrisia?

Não sei quando acontece, porém pisco e seu corpo cresce por cima do meu, a centímetros de distância da lâmina. Suas mãos estão abertas ao lado de sua cabeça, à mercê da minha decisão. Tento focar meu cérebro em enviar o comando para minha mão e colocar a maldita faca em seu coração, seu pescoço, qualquer lugar.

— O que você quer, Aurora?

A carótida pulsa sob sua pele negra quando ele fala, um convite tentador bem ao alcance de meus olhos e da minha mão. Porém, invés de obedecer ao resto de lógica que possuo, solto a faca no chão.

Minha respiração sai pesada e urgente, a humilhação atinge meu rosto em um soco e mantenho os olhos longe da expressão de Kwame. Ele chuta a faca e não se importa em fechar o baú, apenas pega uma camisa do seu fardamento na arara e a veste, como se nada tivesse acontecido.

Quero gritar. Quero chorar. Os soluços se emaranham nos meus pulmões, implorando para sair e preencher o ambiente com minha lamúria e sofrimento. Mas não deixo. Contraio a mandíbula com tanta força que sinto meus dentes se forçando contra minha gengiva.

— Você precisa comer — diz, naturalmente. Imagino que já se tornou normal ter facas apontadas em sua direção.

— Espera! — exclamo quando faz menção de abrir a porta. Fecho os olhos em arrependimento por ter de fitá-lo, mas faço mesmo assim. Não posso ser uma covarde. — Sua promessa ainda está valendo?

Surpresa invade seu rosto, a boca abrindo apenas um centímetro. Quase posso ouvi-lo dizer: É sério isso?

Sim, é sério. Eu quero voltar para meu marido mentiroso e minha vida de merda.

— É claro.

— Então eu quero voltar. Preciso voltar para casa — admito. Kwame assente apenas uma vez, como um bom soldado recebendo uma ordem.

— Então você estará lá antes do fim do dia — anuncia, antes de abrir a porta e sair, sem me esperar.

O resto da manhã passa com um fio de constrangimento no ar. Meu constrangimento. Tentei matá-lo duas vezes e falhei duas vezes.

Comemos sem dizer uma só palavra, ainda que eu esteja inquieta com a evasão de informações sobre o que vamos fazer. Kwame, no entanto, não parece preocupado, apesar de não estar em seu comportamento usual. Não me olha nem faz comentários sarcásticos, apenas mastiga e olha para o horizonte atrás de minha cabeça, como se eu não estivesse sentada em sua frente e não fôssemos fugir em algumas horas.

— Qual é o plano? — finalmente solto. Kwame me fita apenas por um segundo antes de voltar para onde estava.

— Não tenho um plano — dá de ombros, indiferente.

— E como você planeja sair dessa espelunca? — engulo em seco a irritação das palavras. Ele ri, sem humor.

— Não planejo nada, simplesmente faço. Geralmente funciona.

— Geralmente? — arfo, em descrença. Que brincadeira de mau gosto é essa? Que tipo de soldado não planeja seus próximos passos, principalmente quando eles são passos perigosos?

— Se você acredita em algum tipo de força sobrenatural, acho melhor começar a rezar — aconselha, apoiando o queixo nas mãos cruzadas sobre a mesa.

— E aqui estamos — murmuro. — Minha vida em suas mãos. De novo.

— Graças que não é o contrário, senão já estaria morto.

— Não tenho a mínima dúvida disso.

〆〆〆


Não me irrito ou perco a paciência facilmente, mas Aurora Park parece estar muito focada em tornar essa conjectura uma mentira. A mulher tentou, mais uma vez, enfiar uma faca em mim. E apesar de eu achar sua obstinação admirável, estou igualmente enfurecido.

Ela pedir para voltar não era o que eu esperava. Não acreditava que ela é o tipo de mulher que, diante de uma situação dessa gravidade, decide se cegar. Eu estava terrivelmente enganado, e agora vou correr o risco de ser considerado um traidor para cumprir minha palavra.

Que assim seja, então.

Assim que Aurora termina de comer, levanto e começo a andar para fora da cafeteria. Diferente de sempre, não a chamo ou espero que passe em minha frente. Sei que vai me seguir.

Uma espiada por cima do ombro me dá toda informação que preciso. Ela está com os olhos arregalados e os braços cruzados, as unhas cravando o tecido do casaco.

— Se você continuar com essa expressão, os soldados vão saber que há algo de errado — digo.

— Não sei qual deve ser o semblante normal de uma pessoa que está presa contra sua vontade — sua voz é um fio de algo azedo.

— Solte os braços, respire fundo e olhe para baixo — instruo quando chegamos à Central Logística, onde fica a Estação de Pouso e Decolagem. Tudo que entra e sai da Estalagem 2, passa por aqui.

Faço a leitura biométrica da íris na entrada, seguida pelo reconhecimento de voz.

— Kwame Nkosi, número 5469 — demora apenas três segundos para o portão principal ser liberado. Ando depressa, querendo fazer isso o mais rápido possível para todo mundo.

Atravesso o largo corredor de paredes de aço, portões grandes de cada lado separam diferentes tipos de aeronave para cada função. A aeronave que eu preciso fica no compartimento no fim do corredor. Quando chego ao portão, repito todo processo de segurança novamente e adentramos o local.

— *Axus — reconhece Aurora, parecendo surpresa. Três Axus estão posicionados lado a lado no meio da sala, suas enormidades de metal e vidro diminuindo-nos ao tamanho de formigas. — Não imaginei que...

— Que fôssemos atualizados em tecnologia? — a corto, virando meu corpo para encará-la. — O que você acha que fazemos aqui? Brincamos de separar um continente e morremos de mentirinha no processo?

— Vocês não parecem estar fazendo muito progresso — rebate Aurora e eu rio de sua ingenuidade.

— Só porque você não vê, não significa que não acontece. Achei que os acontecimentos de ontem haviam te dado uma boa ideia disso. Estava errado, de novo.

Pela vermelhidão que sobe a pele do seu colo e pescoço, tenho certeza de que só não voa em mim agora para não comprometer sua viagem para casa. Uma pena, iria adorar contê-la.

Dei apenas dois passos quando o teto de metal começa a se abrir, indicando que algo está entrando ou saindo. E, como eu não tive a chance de mexer em nada, só uma das opções é viável no momento.

Rapidamente empurro Aurora atrás do Axus mais distante e encontro seu rosto assustado quando me viro para ela.

— Faça o favor de não respirar — advirto.

— O que você... — Aurora sussurra, mas me viro antes dela conseguir terminar, bem a tempo de ver o Axus pousar graciosamente ao lado dos outros três.

Caminho inocentemente em direção à parte lateral da nave, e algumas pessoas carregando grandes sacos ou caixas descem quando a porta se abre.

Fico surpreso quando Gwen desce logo depois, de uniforme e trentis na mão. Axus não são usados para transporte de carga, e Gwen nunca esteve na lista de soldados de acompanhamento antes.

— Temos alguma missão? — pergunta Gwen quando me vê, com a testa franzida. Não gosto de mentir para ela, porém não cogito a ideia de colocá-la em posição de cúmplice.

— Eu tenho — confirmo, assentindo.

— Sozinho? — inclina a cabeça, descrente.

— Com Quazi e López. O que você está fazendo acompanhando carga? E por que estão usando um Axus para transportar comida? — direciono a conversa para ela e espero que pare de ser tão desconfiada.

— A Estalagem 3 perdeu duas naves de carga em um bombardeio ontem, e tivemos que ceder uma das nossas. As outras naves de carga estão ocupadas levando mantimentos para lá, então tivemos que usar um Axus para trazer nossa comida — explica, cerrando os olhos para mim. — Como você não sabia disso?

— Não faço ideia. Achei que informações sobre as outras Estalagens fossem restritas aos Comandantes.

— Ainda é. A única coisa que sabemos agora é que há outras pessoas vivendo lá — Gwen explica, cruzando os braços, desconfiada. Neste momento, odeio que ela me conheça tão bem.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, apenas nos encarando. Quando os cargueiros esvaziam o Axus e a sala fica vazia — com exceção de Aurora, Gwen e eu —, ela dá dois passos em minha direção.

— O que você está aprontando? — corre os olhos ao redor como se eu tivesse implantado uma bomba em algum lugar.

— Estou esperando Quazi e López — digo, impondo firmeza. Gwen faz uma careta de descrença para mim.

— Me faça o favor de não subestimar os doze anos em que te conheço. Você fez ou vai fazer alguma besteira e eu quero saber o que é.

— Gwen... — entrego, soltando o ar. — Você confia em mim?

— Não.

— Nós dois sabemos que isso é mentira — empurro seu ombro, brincalhão. Ela puxa o canto da boca em um leve sorriso e balança a cabeça.

— Kwame, você está me preocupando. Se me disser o que está planejando eu posso te ajudar.

É exatamente por isso que não posso falar nada. Gwen tem uma lealdade cega, e depois de me xingar de todas as formas que existem, pularia para dentro do barco e levaria Aurora para casa junto comigo. E também sofreria as consequências disso. Não vou deixar que entre nessa por minha causa.

— Ele vai me levar de volta — a voz de Aurora se levanta quando ela sai de trás do Axus. Não contenho o rosnado que atravessa minha garganta.

— Não achei que precisava mandar você calar a boca também — reclamo. Gwen olha para nós dois com os olhos arregalados.

— Você vai o quê?! — grita Gwen, esmurrando meu braço. — Seu filho da mãe estúpido. Isso ultrapassa todos os níveis de burrice estabelecidos no universo.

— Eu fiz uma promessa — falo, arrancando uma cara incrédula de Gwen.

— Não dou a mínima para sua maldita promessa. Você não vai a lugar algum — balança a cabeça diversas vezes. Se vira para Aurora, apontando o indicador. — E que droga você tem na mente? Não foi o suficiente ver o seu irmão virar a porcaria de um robô-assassino e saber que seu amado marido mente para você todos os dias? Você precisa de mais para sair da sua bolha de dinheiro e poder e enxergar que se você fizer isso vai estar condenando Kwame a traição?

— Eu só preciso pensar — diz Aurora e eu fico surpreso. Pensar? É pra isso que estou me arriscando? Para ela pensar?

— Não sabia que seu cérebro tinha ficado fora da sua cabeça quando te pegamos — Gwen diz, muito irritada. Ela dá passos quase imperceptíveis em direção à outra, e sei que se tiver a chance de colocar as mãos nela, já era.

— Kwame, sua vida ficará em risco se continuarmos com o plano? — Aurora pergunta.

— Não — é verdade, traição não é paga com a morte aqui. É paga com prisão. — Gwen, olhe para mim — peço. Algo parecido com decepção atravessa seus olhos.

— É óbvio que você não vai me ouvir, seu idiota teimoso — olha para cima, pensando por um minuto inteiro e então dá de ombros. — Bom, se você vai ser preso, melhor eu te fazer o favor de dividir a cela comigo. Vamos.

— Gwen, pare! — grito quando ela começa a andar para dentro do Axus. Corro até ela e puxo seu braço, prendendo seu corpo contra o vidro da nave. Olho dentro de suas íris azuis, enfatizando cada palavra. — Eu não quero ter que te desacordar. Você não vai comigo.

— Kwame, você não pode decidir isso por mim. Eu quero ir! — apesar de seus protestos, ela não faz menção de se desvencilhar do meu aperto. — E, você não conseguiria me derrubar nem se eu estivesse desarmada.

— Não, você não quer ir. E eu prefiro morrer a ter que assistir você definhar dentro de uma cela por uma promessa que eu fiz.

— E eu prefiro morrer a deixar você fazer a maior merda da sua vida sozinho — Gwen mantém a expressão de súplica no rosto corado.

— Eu nunca poderia conviver comigo mesmo se te condenasse a isso — solto um de seus braços e enrosco minha mão em sua nuca. — Diminua meu sofrimento. Fique, se não por você, então por mim. Por favor.

Quando Gwen suspira, sei que a convenci. Quando coloca a mão no meu rosto e desfaz a distância de nossos lábios, sei que estou cometendo uma loucura em levar Aurora. Quando sua língua toca a minha, sei que vou me arrepender de passar anos na prisão, mas não posso voltar atrás.

Gwen desfaz o beijo com uma esperança no olhar que pergunta se decidi desistir no último momento. Por mais que me doa, um segundo é o suficiente para ter sua resposta, então se afasta e coloca a postura do bom soldado que é.

Sei que está travando uma batalha ardilosa entre seu senso de sobrevivência e sua lealdade, porém eu colocar sua lealdade no mesmo lado do senso de sobrevivência dá um fim à luta.

— Vou te cobrir pelo máximo de tempo que conseguir. Use a camuflagem da nave e desligue o transmissor para não ser rastreado, eu vou desligar o dela — vacila por alguns segundos, mordendo o lábio.
— Boa sorte.
Se vira sem cerimônias e para na frente de Aurora. O olhar que alguns dias atrás era de admiração, agora inflamam um desgosto doloroso. — Espero que pensar valha a pena, Sra. Aurora Park — Gwen faz uma reverência exagerada e vai embora sem olhar para trás.

Não ouso olhar para Aurora quando abro o vidro e entro na Axus, pois não quero encontrar piedade em seus olhos. Juro que largaria ela no meio da floresta.

Sento na cadeira de direção da nave e fecho o vidro quando Aurora se posiciona no assento ao meu lado. Desligo qualquer transmissor rastreável nas opções do Comando e clico na opção de abrir o teto da Estação. A Axus vem à vida quando inicio o motor, o leve zunido de eletricidade preenchendo o silêncio.

Programo a nave para o endereço desejado e subo com ela para fora, fechando o teto abaixo de mim com outro clique. Ativo a camuflagem automática e simples assim, estamos invisíveis e irrastreáveis.

A parte de vidro da nave permite uma vasta imagem de onde estamos. Deixamos para trás um conjunto de montanhas, árvores e neblina para encontrar o rio que se estende à nossa frente e o ameaçador céu cinza. Aurora faz alguns murmúrios de admiração olhando para a paisagem, alheia à tensidade que emana entre nós.

Após alguns minutos, percebo que ela puxa o ar, pronta para falar alguma coisa e eu fico imóvel. O que pergunta, porém, não é o que eu esperava.

— De onde você é?

— O quê? — a pergunta me surpreende e por um momento eu não entendo o que ela quer dizer.

— Você tem um sotaque. É diferente, eu não consigo reconhecer — justifica, ainda olhando para o redor.

— Eu nasci no Sudão — esclareço.

— Como é lá? — indaga, para meu espanto. O que a deixou tão conversadeira, justo quando parece que minha língua está dez vezes mais pesada?

— É... diferente. O pouco que me lembro não é maravilhoso, mas... você sabe — dou de ombros, sem conseguir verbalizar o que penso.

— Não, não sei — ela finalmente vira o rosto para me fitar. Desejaria que não fizesse, pois seus olhos têm a capacidade irritante de me compelir à confessar meus piores pecados.

— É minha casa. Meu lar.

— Deve ser bom — ela diz, sorrindo levemente. É a primeira vez que a vejo fazer isso. — Ter um lar. Deve ser uma sensação boa. Por que você foi embora?

— Eu não tive escolha. Alguns vilarejos da cidade estavam em guerra, incluindo o meu, então meus pais e eu entramos no próximo navio clandestino para a Amásia, a terra onde todos são iguais — dou uma risada amarga, a dor da lembrança pinicando meu peito.

Ignoro a pergunta automática que vem à minha boca, porque não quero prolongar a conversa. Não quero ter que relembrar o que aconteceu com meu pai, ou como foi difícil sobreviver aqui.

— Isso não é exatamente verdade, é? — Aurora deixa no ar, e para meu alívio, não parece que vai continuar a sessão de perguntas.

— Não, não é.

Notas: Axus é uma nave especial que, como vocês leram, possui a tecnologia de camuflagem, tornando-a invisível. Também existem outros recursos que vocês irão descobrir no decorrer da história. Espero que tenham gostado desse capítulo e dessa interação entre os personagens. Não esqueçam de votar e deixar comentários ;)

Ate mais, xoxo.

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