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Capítulo 4 - Granizos não!

          Hélio era filho de mãe solteira, diarista que dependia da ajuda da família para cuidar de seus filhos enquanto estava fora. Nada aborrecia mais o garoto do que ficar na casa da avó. Os motivos eram muitos. Ele não podia correr, espalhar brinquedos pela casa, brincar com o cãozinho do tio, fazer barulho, pois, atrapalhava a soneca vespertina da vó, nem assistir televisão por que gastava muita energia... Os dias na casa da avó eram tediosos e longos.

          Mas não era isso que o faziam não querer ir para lá. O tédio era suportável, as chineladas e pimentas na boca — quando escapava um palavrão — também. Os brinquedos que iam parar no lixo eram mais difíceis, mas ainda assim suportável.

          O que amedrontava o garoto era seu primo. Essa memória ficou escondida muito tempo, até a fase adulta. O primo já quase adolescente, que durante as sonecas da avó, ameaçava-o com uma tesoura de jardim e o forçava a fazer coisas horríveis. Tão horríveis que nem todo adulto lidaria bem com a situação. Enquanto criança, por algum motivo, Hélio reprimiu essas lembranças. Depois de adulto, em momentos de reflexão, quando tentava identificar quando iniciara suas inseguranças, esbarrou com as dolorosas lembranças do primo o forçando ao sexo oral. Como adulto, tinha de lidar com isso e conseguiu entender que não foi culpa sua, e sim maldade daquela pessoa monstruosa. Não conseguia mais esquecer esses flashes de memória, no entanto, eles não o machucavam.

          As antigas memórias teimavam em brotar na mente de Hélio nos momentos mais inoportunos. Ele se lembrava do quanto tinha medo de o primo usar a tesoura contra ele, e que diversas vezes perguntou para um adulto se "a tesoura de jardim machucava". E recebia um seco "sim", mas nunca quiseram saber o porquê da pergunta.

          Felizmente o primo foi embora para outra cidade, e as tardes voltaram a ficar agradavelmente tediosas.

          Hélio assistia às novelas e queria saber se todo mundo tinha que casar, se todos podiam ser ricos, e viajar... Na verdade, Hélio queria saber se as pessoas tinham liberdade de escolha, mas não sabia formular a pergunta adequadamente, e assim ficava sem resposta.

          Mais ou menos nessa época, Hélio passou a ter vergonha de usar o banheiro sentado, mesmo quando estava sozinho. Sempre pensava que alguém saberia e o insultaria por isso. Foi também nessa época que sua mãe casou-se novamente e largou os empregos. Ele agora passaria a viver com ela.

          A infância de Hélio a partir daquele momento, mudou drasticamente. Inúmeras vezes ele acordava assustado durante a noite, por ter tido um pesadelo em que ele se tornava uma menina e apanhava de seu padrasto por isso. O guri tinha muitas curiosidades sobre o corpo, mas não conseguia mais perguntar para ninguém, sempre que formulava a pergunta, algo o impedia de pô-la para fora. Hélio se sentia cada vez mais fechado, preso e amordaçado. Sua mãe começou a sofrer com o casamento que não ia muito bem, o padrasto mostrou um lado perverso e animalesco, que antes não era visível. Tudo isso gerava no garoto, traumas suficientes para mantê-lo escondido de sua própria personalidade, com medo do homem e com dó da mãe. Para não sofrer, ele encontrou novos caminhos. Fez amizades com crianças de sua idade e com isso começou a desenvolver uma socialização benéfica.

          Com as meninas, conversava, falava sobre sonhos, desejos e brincadeiras, mas sempre tomando cuidado para não revelar seu lado íntimo. Com os meninos, era bicicleta, bolas de gude e taco. As horas após chegar da escola voavam, os dias corriam, os anos passavam e desapareciam muito rapidamente.

          Mas durante todo esse tempo, algo crescia dentro dele. Algo que ele não entendia e não podia conter. Um incomodo tão grande que o fazia chorar repentinamente, por sorte ou por azar, a maioria das vezes durante a noite enquanto estava sozinho.

          Quem quer que seja que esteja lá em cima deve me odiar, ou está de brincadeira comigo... Granizo? Aí já é demais.


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Oi gente linde! (Repostado após revisão)

Cá estou eu de novo. Agora já estou me acostumando com a ideia. Estou mais tranquila, juro.

Vamos dar seguimento a essa história, e espero que ela traga a todos, muita reflexão e empatia.

Beijinhos e até o próximo!

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