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❙❘ Vinte e Três ❘❙

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Que seja eu o motivo da sua felicidade.


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Clara pegou no armário da casa da piscina¹, sua antiga bolsa de praia, um guarda-sol e pegou o caminho para a praia, nos fundos do terreno, se sentia em casa, enfim. Paris era uma cidade muito fria, mesmo no verão, e não era uma crítica às pessoas, ela adorava seus vizinhos e conhecidas, era mais por sentir falta da sua família e da areia fofa e quente da praia, mesmo esses anos todos vivendo lá, ainda não se acostumou.


Saindo pelo portão estreito, Clara ajustou os óculos escuros em cima do nariz e se aventurou na imensidão dourada. A areia macia acolheu seus pés a cada passo, enquanto o som das ondas e o chamado insistente das gaivotas preenchiam o ar. Escolhido um ponto estratégico, estendeu a toalha e, com movimentos lentos, preparou seu refúgio.

- Primeiro o guarda-sol! - Sentia-se revigorada e animada, mas por um breve momento.

A cada golpe da estaca no solo, a areia cedia, revelando a força da natureza e a fragilidade humana. Com os dedos afundados na areia quente, sentia que o suporte não se aprofundava.

- Não é possível que eu tenha perdido o jeito! - exclamou para si, indignada com sua falta de destreza.

Como um filme passando diante dos seus olhos, lembrou das vezes que precisava conversar e tinha Amélia, sua fiel amiga. As meninas pegavam essa mesma bolsa, compravam alguns lanches e sucos na vendinha da esquina de casa e desabafavam suas dores e alegrias, enquanto curavam uma a dor da outra sentadas na areia da praia.

Mas o que poderia ter acontecido entre essas duas amigas que tinham tudo para ter uma amizade de anos a se separarem do dia para a noite?

Um homem. Diego, mais precisamente.

Clara sabia que era errado desde que Diego sentou ao seu lado na fogueira, no dia da festa de Rodrigo, ela pressentia que algo iria acontecer e que pessoas iam se machucar. Ela hesitou, mas foi mais forte do que ela.

Acontece que desde que ela e Diego se viram pela primeira vez na escola, eles se apaixonaram perdidamente, se esbarraram outras vezes e por fim, Diego criou coragem para chamar a garota para sair e imaginou que a discoteca Furacão 2000 seria uma boa ideia, o que ele não esperava era que o irmão a roubaria dele.

Vendo como ambos estavam se divertindo, ele não quis incomodar e achou ser o destino. Foi quando ele conheceu Amélia. Ele também não esperava que ela e Clara fossem melhores amigas. Que destino cruel, não é?

Um estalo trouxe Clara de volta de seus devaneios, um jovem rapaz que por ali corria quis ajudar. Era Dominic.

- Olá, senhora Clara - chamou o rapaz da beira da praia, onde a água salgada deixava sua marca na areia, levantou uma mão para chamar sua atenção.

- O-oi - gaguejou, levantando o rosto na direção ao chamado com um sorriso torto, ela havia sido pega desprevenida. - Oi, Dominic!

- Quer ajuda com o guarda-sol? - o jovem leu a expressão de Clara e pensou por um segundo que não era uma boa ideia, mas ela de repente sorriu e deu um passo para o lado lhe estendendo o suporte de metal, prontamente ele se aproximou.

- Rapidinho estará pronto - disse o rapaz forçando o ferro na areia fofa com mais precisão e força do que Clara. Sem tirar o olho do que estava fazendo ele perguntou - A Camille está em casa? Eu saí pra correr e não trouxe o celular.

- Está sim, ela vai ficar muito feliz de te encontrar. - Como um girassol ela girou seu corpo em direção ao astro no céu, um raio de sol refletiu no mar e junto com o clarão nos olhos, também lhe trouxe boas lembranças. - Você surfa?

- Ah, eu surfo sim. - Dominic amontoou um pouco de areia com o pé ao redor do suporte e pisou forte em cima, afim de o firmar bem no chão. - Meu pai e o tio do Liam surfam e eles nos ensinaram.

- Então precisamos marcar algum encontro para vocês surfarem juntos, nós temos tendas, podemos passar o dia por aqui.

- Legal! Vou chamar meu amigo e combinar com a Camille - respondeu fixando o guarda-sol ao ferro, agora firme na areia. - Prontinho - Clara agradece e Dominic se despede.

- Seguindo por aquele caminho - Clara apontou com o dedo na direção da trilha de areia entre a restinga - ele dará em um portão pequeno de ferro, está apenas encostado, pode entrar e vai encontrar ela na piscina.

- Eu vou lá então, obrigada Senhora Clara.

Com aceno distante deixando o rapaz seguir seu rumo, Clara esticou-se em sua toalha pegando um livro para lhe acompanhar nessa manhã enquanto sua pele recebia o calor do sol.

Nesse momento um jato de vento passou colocando à prova o trabalho do rapaz, que não se moveu um centímetro, apenas balançou a borda do tecido. Clara sorriu agradecida pela ajuda.

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Seguindo as instruções de Clara, Dominic encontrou o portão facilmente, vestiu a camisa e entrou chamando por Camille assim que avistou seu chapéu, ela debruçada na beira da piscina.

- Camii! - o rapaz fechou o portão atrás de si e deu passadas rápidas até se aproximar da garota.

- Dom, que surpresa incrível! - Camille sorriu ao ver o rapaz e fez um gesto para se distanciar da beirada e nadar até a escada. - Espera que eu vou me secar.

- Não precisa, ta calor aqui - disse firmemente segurando na gola da camisa e abanado reforçando sua intensão, em seguida se sentou relaxado em uma espreguiçadeira com os braços apoiados para trás, suavizando seu tom - foi fácil te achar, porque encontrei sua mãe na praia e ela me ensinou o caminho, agora eu já marquei o local, posso achar sozinho da próxima vez.

- Sério? Ah que ótimo, eu sabia que só te explicar aquela vez não faria você gravar, porque o acesso é bem escondido mesmo - ele concordou com a cabeça.

- Ah sim, eu vim aqui, porque ...- Camille que tentava prestar a atenção no que Dominic falava, mas só conseguia encarar os gomos da sua barriga. O suor de sua pele formava uma película que esculpia a camisa em seu corpo como os deuses de mármore que haviam nos museus de Paris.

- Você quer entrar? - Perguntou pausadamente sem pensar com os olhos vidrados. Dominic, totalmente absorto do que se passava na mente da amiga, não parava de falar enquanto Camille lutava para manter o foco.

- Mas eu não tenho roupa de banho aqui - explicou, olhando para si.

- Capaz, só toma uma ducha - jogou seu corpo para trás e bateu os pés nadando de costas - depois eu pego uma roupa do meu tio, vem! A água está uma delícia!

Em um gesto lento e sensual, ele se pôs de pé, deslizou a camisa pela cabeça, revelando um corpo levemente bronzeado e definido. O chinelo arremessado com precisão, caiu embaixo da espreguiçadeira. A água fria do chuveiro externo contrastava com o calor do dia, enquanto ele se refrescava tentado tirar os resquícios da areia da praia. Camille, agora deitada em seu flamingo rosa, o observava com um sorriso travesso, seus dedos brincando com a água.

- Lá vou eu! - gritou ele antes de correr em direção à piscina e pular próximo a garota hipnotizada, espirrando água para todo lado e fazendo ela cair da boia, perdendo seu chapéu para o impacto, afundando lentamente como um navio naufragado.

Camille mergulhou e submersa nadou até alcançar os pés do rapaz que o fez soltar uma gargalhada gostosa. Dona Maria ouviu o barulho de água agitada e foi conferir, mas não conseguiu mover seus pés para longe observando a cena engraçada.

A cada braçada, Dominic se aproximava da escada deslizando sobre a água como um golfinho, ele parecia tão a vontade, leve e ágil, que dona Maria quase o confundiu com um deles. Subiu as escadas com a água caindo a seus pés torrencialmente e parou rente a beirada para observar Camille, inclinando um pouco sua cabeça para o lado um sorriso apaixonado brotou em sua face e ele só conseguia pensar no quão linda ela estava hoje, mais que ontem e menos do que amanhã.

Enquanto isso, com a agilidade e graça de uma foca, Camille nadou até a borda contrária, abriu o registro e subiu no mini tobogã, observando fascinada a água descendo em um fio contínuo.

- Essas crianças - Dona Maria suspirou, balançando a cabeça com um sorriso nostálgico e um olhar melancólico. - Ah, a juventude... lembro quando eu tinha a idade deles.

Ao perceber que era observada pelo rapaz, Camille acenou antes dele cair na água e nadar em sua direção. Ela, por sua vez, desceu pelo tubo d'água parando antes de cair parando sentada com as pernas balançando, a ponta dos seus pés tocavam a superfície.

- Você está se divertindo longe de mim? - Provocou, aproximando-se ainda mais, o olhar fixo nos olhos dela. Com um sorriso malicioso, ele a encurralou no tobogã. A garota sentiu um arrepio percorrer sua espinha, presa entre ele e a água. Em um movimento rápido ela gritou se jogando em seus braços.

- SIMM!! - Dominic a agarrou pela cintura para que ela não afundasse, ela por sua vez, gargalhou alto passando seus braços ao redor do pescoço dele.

Em um piscar de olhos o momento divertido se tornou mais intenso e as risadas cessaram, seus pés batiam em sincronia sob a água criando um som único de relaxamento, audível apenas para eles. O sol do meio dia, alto no céu, revelava a o fervor do momento em seus rostos; o dela, corado e radiante, estava tão perto que ele podia sentir a maciez de sua pele e se perder no oceano dos seus olhos. O dele, o suor misturado à água da piscina criava um aroma único e irresistível, um perfume masculino que deixava Camille cada vez mais embriagada.

Dominic fechou os olhos e diminuiu a distância entre eles fazendo a ponta de seus narizes se roçarem e a cada respiração, seus hálitos se misturavam, aquecendo o ar entre eles. O coração batia forte em seu peito, e a cada toque, uma nova explosão de emoção os tomava. Era agora ou nunca.

Tocou seu lábio no dela acariciando em movimentos suaves, um leve contato que a eletrizou. A resposta dela foi imediata, seus lábios se abrindo para recebê-lo. A língua dele deslizou pela dela em um movimento lento e sensual, despertando um desejo que crescia a cada segundo. Com um movimento rápido, ele a encurralou contra a parede da piscina aprofundando o beijo, enquanto sua língua explorava cada canto da boca dela. A água os envolvia como um testemunho silencioso da paixão.

Um farfalhar violento fez Camille vacilar o beijo tocando o peitoral dele suavemente, por um breve momento ela se esqueceu que estava na casa dos avós e que eles estavam em casa. A garota colocou o indicador nos lábios dele para silenciá-lo enquanto olhavam ao redor.

Soltando o ar que nem sabia que estava prendendo, ela confirmou que ainda estavam sozinhos e que poderia ter sido algum passarinho ou bixo no mato. Dominic se impulsionou apoiando o pé na parede da piscina e nadou para o meio, dando espaço para Camille. Jogou um beijo no ar que foi devolvido com respingos de água e gargalhadas.

- Acho melhor a gente sair daqui, suas mãos já estão enrugadas - ela confirmou com "tá" olhando para suas mãos. Tentando controlar o que sentia por dentro, deslizou pela água morna até a escada, Camille o seguiu ao seu lado com um sorriso bobo no rosto.

- Espera aí, vou te dar uma mãozinha - ele chacoalhou a cabeça, afastando as gotas d'água dos fios, e com um movimento único, ajeitou o cabelo para trás.

Dominic subiu a escada submersa primeiro, água caia torrencialmente ao seu redor a medida que ele emergia e chegando à beirada estendeu a mão para que ela pudesse segurar e sair em segurança.

- Senta aqui na espreguiçadeira enquanto eu desligo o tobogã - pediu ela segurando em seus ombros enquanto o empurrava para frente - e vou pegar uma toalha pra gente também.

- E o seu chapéu? Jurava que você estava usando um quando eu cheguei - Dominic coçou a cabeça tentando imaginar onde ele estaria, Camille olhava por todos os lados, mas também não o via.

- A-há! - o rapaz exclamou e apontou com o dedo indicador - lá no fundo da piscina, deixa que eu pego, busca as toalhas para nós? - Ele rapidamente se jogou na água mergulhando para alcançar o chapéu, depois nadou até o togobã para desligar o registro, saindo da piscina no momento que Camille trouxe as toalhas, jogou uma para ele.

Nessa hora o portão de acesso à praia range, denunciando a entrada de Clara, um pouco desajeitada devido a sua mão estar ocupada com bolsa e tudo mais, ambos giraram na direção do barulho.

- Mãe, eu te ajudo! - Camille deu um passo à frente, mas Dominic interpôs, bloqueando o caminho da garota.

- Eu ajudo a senhora! - o rapaz também avançou um passo, mas, de repente, parou abruptamente.

- Nem se preocupem, vou deixar aqui mesmo, - deitou a bolsa com o guarda-sol ali mesmo fora do caminho e explicou com a voz pesada, cansada por trazer os itens - o Guto me mandou uma mensagem, disse que foi buscar a namorada e vai usar depois, e pediu pra deixar aqui. Se divertiram na piscina?

- Nos divertimos sim - Camille e Dominic se encararam, os olhos brilhando e um sorriso travesso nos lábios, gesto que fez o coração de Clara dar um salto.

Ela sabia que a filha já não era mais criança, e ela até gostava de Dominic, mas imaginar como as coisas estavam acontecendo a deixava preocupada. Pensamentos de mãe, mas impossível manter a memória do seu primeiro beijo com Diego dentro da caixinha em seu coração. Sorriu ao lembrar.

- Eu preciso ir agora, Cami, te vejo à noite?

- Hã, a noite? - A garota parecia confusa por um momento - Sim, mas nós marcamos algo? Eu não lembro! - suas mãos foram à boca no mesmo instante que seus olhos se arregalaram ligeiramente.

- Claro, você me deixou fazendo um monólogo agora a pouco, você não lembra de nada do que eu falei? - ela fez que não com a cabeça, e ele riu alto - tudo bem, eu te mandei o convite antes de sair de casa, depois você olha o seu celular.

- Não quer ficar para o almoço? - Clara convidou fazendo o rapaz parar com a mão no portão para olhar para trás.

- Hum, - ele pensou um pouco olhando para um ponto fixo e em seguida mirou em Clara com um sorriso sincero antes de responder - eu tenho planos com meu pai, mas em uma próxima, sim. Até à noite!

- Tudo bem então, até mais Dominic - Clara se despede girando os calcanhares, deixando a filha para trás.

Ele jogou outro beijo no ar para Camille enquanto Clara estava de costas e saiu pelo caminho que viera deixando para trás uma garota sonhadora e apaixonada.

Depois de tirar o biquíni molhado e tomar um banho, Camille checou finalmente as mensagens de Dominic. Gemeu ao se sentar no sofá da varanda, o verão mal tinha começado e ela já estava queimada do sol.

- O Dom me mandou um convite VIP para ir ao bar do pai dele, pelas fotos parece bacana, Pier Havana Lounge Bar, gostei da vibe, olha mãe - aproximou o aparelho de sua mãe.

- Deixa eu ver - Clara tomou o celular nas mãos e foleou o convite de cima a baixo - é onde vou me encontrar com meus amigos hoje, se importa de irmos juntas, filha?

- Claro que não, mãe!

- Vamos almoçar e se arrumar pra essa noite, vamos ficar bem lindas!

A ansiedade tomava conta de Clara. Fazia mais de um ano que não via seus amigos e a expectativa para o reencontro era imensa. Para a ocasião especial, contrataram uma profissional de beleza e passaram a tarde em um verdadeiro ritual: unhas impecáveis, cabelos modelados e maquiagens que realçavam a beleza de cada uma. A dona Maria, com seu bom gosto inegável, as ajudou a escolher os looks perfeitos para a noite.

A tarde se transformou em uma verdadeira celebração da amizade, com direito a risadas, confissões e muita animação enquanto o perfume das flores e o som do secador de cabelo preenchiam o ar, criando uma atmosfera festiva.

- Mãe, você está deslumbrante! - exclamou Camille, admirando o resultado da transformação.

1. Uma casa anexo à piscina com academia, jogos, cinema, um loft para visitas e também era guardado algumas coisas referente à praia e piscina, como pranchas, guarda-sol, etc.

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