c a p í t u l o - 5
Grendow estava ao lado de Lilayh, conversando e planejando os próximos passos quando o sentimento o alcançou. Medo, pavor e outros sentimentos. Ele sentiu o perigo. Uma pontada no coração que lhe dizia que ela precisava de ajuda. Lilayh o olhou e percebeu algo de errado.
— Tem algo muito errado! — exclamou ele, olhando nos olhos de Lilayh.
— Vá! — disse ela. Sabia que havia algo errado também.
Grendow colocou as armas no cinturão e seguiu para onde seu coração mandava. Disparou por entre as colunas brancas até a sacada, de onde se lançou ao céu.
De longe, já conseguiu ver uma névoa escura, perigosa, e Edith com uma expressão apavorada. O motivo estava alguns metros à sua frente, Abbadon, um velho conhecido. O Príncipe das Trevas correu em direção a Edith de forma acelerada, com as garras à mostra. A menina, que estava apavorada e não sabia se deveria correr, fechou os olhos e esperou pelo pior. Grendow agiu por simples instinto. Edith esperou a morte, mas ela não veio. Ela ouviu apenas o suave bater de asas.
Grendow se pôs na frente de Edith, surpreendendo o demônio, segurando sua espada de duas mãos. A ferramenta tinha pelo menos um metro e meio e era tão afiada que podia dividir até um fio de cabelo. Edith abriu os olhos e encontrou o homem de cabelo cacheado e louro até os ombros que estava a sua frente. De suas costas, irrompiam belas asas azuladas de quase quatro metros de envergadura. Brilhantes em um tom de azul-safira que se igualava aos olhos, o anjo observava o inimigo cautelosamente. A tensão permaneceu no local por alguns longos segundos. Ouvia-se apenas o som das asas batendo e o monstro rosnando. Grendow estudava seu oponente. Já havia lutado com o demônio antes, sem vencer. Agora ele tinha que fazê-lo.
E então, Abbadon puxou uma espada das costas. Sua face horrenda parecia dizer "vou me divertir agora". O cabo da arma era de madeira grossa escura, como carvão, e o pomo era uma caveira que emitia fogo, a qual o monstro parecia nem sentir. No sulco entre o gume havia mais desenhos estranhos alaranjados. Grendow atacou primeiro, mas o demônio defendeu facilmente. O ataque de Abbadon possuía força, e quando as espadas se tocavam, o corpo inteiro de Grendow estremecia.
O demônio tentou atacar de cima para baixo, mas o anjo desviou com sua espada, dando alguns passos para trás. O que o monstro continha de fúria e força, o anjo possuía de graça, velocidade e asas. Edith engatinhou para fora do campo de batalha que a rua se tornou. Escondeu-se atrás de um dos bancos de pedra em meio às árvores, enquanto ouvia o som das espadas. O anjo a viu se escondendo e atacou com mais destreza. Sua mente estava focada apenas em proteger a jovem. Edith não estava acreditando no que estava vendo. Asas. Dentes. Chifres. Espadas. Era muita informação para sua mente mundana.
Tudo acontecia em uma dança entre as grandes espadas. Uma perigosa e mortal luta com brilho azul e laranja. Abbadon atacava com força, mas mantinha a guarda aberta. E então aconteceu. O anjo abaixou-se e, em um giro de trezentos e sessenta graus, sua espada se projetou na parte de trás do joelho do Príncipe do Abismo. O demônio urrou de agonia e deu uma cotovelada no rosto de seu adversário, que se afastou atônito. O demônio percebeu aquela brecha e chutou o cabo da espada do anjo louro, fazendo-a voar de suas mãos.
O louro cuspiu sangue no chão e procurou verificar como e onde Edith estava. A mesma observava tudo com os olhos violeta arregalados. Mas o anjo tinha uma carta na manga, ou duas no cinturão de prata. Ele puxou duas belas facas de caça das bainhas com um som agudo. Elas tinham gumes curvos e o tamanho dos seus antebraços tinha o formato de uma onda, delicada e tempestuosa. Grendow tinha em mente que nada poderia acontecer à menina. Nada.
O demônio atacou com a espada, entretanto, o anjo, pisando no chão, parou-as segurando suas armas em forma de "X". O homem com asas pulou e, voando por cima do monstro, cortou seu flanco por trás. Sangue pegajoso e escuro saiu pela brecha. Abbadon virou-se para o louro com as pontas de suas asas esfregando no asfalto e esperando o ataque do Príncipe do Abismo.
Grendow jogou uma das facas, a qual se afundou no tórax do inimigo, que não se deu por abatido. Retirando com um puxão a faca do lugar, jogou na direção do anjo, que a pegou com facilidade, sorrindo. Mas Grendow não percebeu o truque e quando notou, Abbadon já o tinha empurrado com a cabeça na velocidade e força de um trem de carga. O impacto fez o anjo ser lançado a alguns metros e suas facas caíram a pouca distância de Edith.
Ele caiu de costas no asfalto, com as asas esparramadas, abertas. Encolhendo-as, virou de barriga para baixo, tentou se levantar, mas não conseguiu, caindo de joelhos pelo cansaço. O monstro se aproximou para dar o golpe final. Edith não sabia quem era o louro, todavia ele havia salvado sua vida do monstro e ela sabia que não podia deixá-lo à mercê do Príncipe do Abismo.
Acabou de ver a mãe sumir sem nada poder fazer, mas agora ela podia fazer algo, mesmo que arriscando sua vida. Não podia deixá-lo perecer. Arrastou-se para pegar as facas e então correu em direção a Abbadon. Ela não percebeu que, quando tocava a arma, soltava o mesmo fogo azul. Entretanto, Abbadon e o anjo machucado perceberam.
E os olhos dos dois brilharam com intenções diferentes.
Os de Edith emitiam uma confusão de sentimentos e, principalmente, coragem. Então ela não parecia mais a donzela em perigo.
A jovem atacou com sua força o grosso flanco do monstro no mesmo local já cortado e ele urrou de dor. Ergueu a espada e se preparou para um golpe certeiro na menina. Edith segurava uma das facas do anjo machucado de forma ameaçadora, apesar de todas as emoções que corriam em seu corpo. Medo. Adrenalina. Velocidade. Força. Coragem.
Sentimentos os quais não fazia a menor ideia de onde se originaram. O anjo caído só pensava que falhou em seu propósito. Ela precisava ter a força necessária para vencê-lo. Não sabia ao certo o que fazia, mas estava ligada em um modo automático, sem sentir o que sua mente temia.
Tudo aconteceu em menos de cinco segundos, que pareceram uma eternidade. Abbadon correu com uma das mãos-patas no flanco machucado, atacando Edith. A menina deu um salto, desviando e se levantando rapidamente logo em seguida. Jurava que poderia ter sido cortada ao meio. Não sabia o que estava fazendo, parecia simples e puro instinto de sobrevivência. A espada demoníaca afundou no concreto escuro da rodovia, acarretando uma grande rachadura que se estendeu por vários metros.
Edith acabou ficando parada ao lado do Príncipe do Abismo. Ele ainda estava na mesma posição: corpo curvado exibindo uma corcunda de músculos grotescos, segurando o cabo da imensa espada afundada no concreto até o guarda-mão de metal espiralado. Aproximando-se da criatura demoníaca, com toda a força, física e psicológica, a jovem deixou a faca descer sobre o pescoço de Abbadon como uma guilhotina.
Era a única parte visível e ela não sabia o quanto a arma estava afiada, nem sua força. A cabeça monstruosa caiu rolando com um grito estridente dele e de Edith, manchando tudo ao seu redor com seu sangue negro.
Edith pensava que estava louca ao ouvir a voz do demônio em sua mente que dizia: "ainda vamos tê-la.".
Sentia-se desolada. Caindo de joelhos sobre o asfalto rude, pensando que havia matado um ser totalmente inimaginável em seu mundo normal, sentindo a presença de um anjo machucado ao seu lado arfando pesadamente. Ainda tremendo, se aproximou do belo homem de cabelos louros. Conseguia observar os cortes e arranhões em seu corpo, dos quais ainda o sangue se esvaía, mas se curava em velocidade visível. Segurou seu rosto e examinou os ferimentos. Ele ficaria bem. Não tanto quanto a sanidade de Edith. Ela só queria entender o que estava acontecendo.
Não aguentando mais, ela, com seus poucos machucados e milhares de sentimentos, dos quais o terror superava todos, desmaiou. O rosto entrou em contato com o asfalto rude, desejando que tudo tivesse sido apenas um sonho.
Os anjos viram Edith ao lado de um dos seus enquanto observaram de longe a luta sem interferir, pois não chegaram a tempo. Contudo, agora a ajudariam, pois era Edith por quem procuravam. O mais alto deles, de olhos tão claros quanto água cristalina, acenou com a mão, e outros dois anjos, um de pele negra e lindos cachos escuros, e a outra com um rabo de cavalo dourado, aproximaram-se e levantaram os dois caídos com cuidado, levando-os para casa. A loura passou os braços de Grendow por seu ombro, ele estava tonto, perdido. Levantou-se e chacoalhou os cabelos louros. Seus olhos piscaram, e ele respirou fundo.
— Você está bem, Grendow?
— Estou — Ele balançou a cabeça positivamente.
— Você estava louco?! — A loura perguntou exaltada, preocupada — Podia ter sido pego por eles! Por que não pediu ajuda?
Eliel, o lindo anjo de pele oliva, estava com Edith no colo. Ela claramente estava ferida, com cortes e arranhões.
— Eu... não sei... precisava ajudá-la... seria tarde demais — Grendow falou.
— Deixe-o, Liviel, sabe que não conseguimos controlar esses impulsos — Halliel, o mais alto, comentou.
— Só porque é nosso dever proteger, não significa que às vezes não precisemos de ajuda. Ele podia ter nos chamado.
— Concordo quanto a isso, mas agora não há mais nada a se fazer. Já foi feito.
O silêncio pairou enquanto eles observavam a estrada destruída. Um cenário macabro de uma batalha. Eles sabiam que, como a paisagem estava, nenhum humano acreditaria que foi obra da natureza, por isso, precisavam reparar os danos antes de partir.
— Quando ela acordar vai ter uma baita dor de cabeça — disse a anjo, com compaixão, olhando para Edith nos braços de Eliel.
Então Liviel pegou impulso para um salto e alçou voo com suas cintilantes asas cor-de-rosa. Os outros fizeram o mesmo. Voltariam para o lar, e para Lilayh contariam que a menina derrotou o avatar de um dos demônios mais poderosos de toda a Terra.
(1780 palavras)
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