c a p í t u l o - 1 2
Ao olhar para fora da janela, Edith percebeu que já estava escurecendo. Foi uma tarde e tanto. Várias das questões em sua mente já foram respondidas, e a felicidade em encontrar a pessoa que mais lhe fez falta no seu crescimento foi realmente incrível. Sim, tudo aquilo que acontecia parecia ser apenas ficção, talvez loucura, mas ela sentia que pertencia àquela loucura. Finalmente se encaixou em algum lugar.
Grendow a acompanhou até sua casa, o percurso foi silencioso.
— Então, quando virá para a Catedral? — perguntou ele.
— Como assim? — Edith indagou, mesmo sabendo a resposta.
— Ah, sabe, de vez — disse ele — Você ficará mais segura se morar aqui.
— Eu só vou amanhã para a escola, último dia, e então — Ela parou alguns segundos, aquela sempre foi sua casa, deixá-la era como deixar uma parte de si para trás — Eu vou pensar com mais calma.
Grendow franziu o cenho.
— Mas você não ia só hoje? — perguntou ele.
— Eu quero me sentir um pouco normal, Grendow, só terminar essa semana — respondeu ela, e o anjo respeitou — Nem sei direito por que devo vir para cá, ninguém me diz nada.
— Perdão, Edith, é muita informação para você assimilar assim tão rápido — Ele parecia se sentir culpado pela falta de respostas de Edith.
— E o que mais fiz ultimamente não foi receber informação que nunca acreditaria se estivesse totalmente sã? — retrucou ela.
Grendow ficou em silêncio. Edith novamente ressurgiu em sua casa, onde finalmente conseguiu ter uma noite calma, em que finalmente conseguisse dormir. Sabia quem era seu pai, sabia como a mãe estava, sabia do seu poder, sabia que tinha pessoas que queriam seu bem. Então adormeceu e acordou disposta e feliz para o dia que se seguiria.
— Edith, está tudo bem com você? — Nathan perguntou, vendo a distância da mente da jovem enquanto ela fitava o nada, passando a mão na pulseira.
Ela virou-se piscando, voltando à realidade. A menina que esteve estranha e triste nos últimos dias agora sorria. E o mais estranho na mente de Edith era olhar para o lado e não ver mais Michel ali, quando perguntou apenas sobre o nome a uma colega, a menina a olhou como se fosse louca, dizendo que nunca teve nenhum Michel na sala. Isso fazia os pelos da nuca de Edith se arrepiarem, mas não havia nada que pudesse fazer, entendia que talvez a natureza do ruivo desfizesse quaisquer memórias dele.
— Estou bem — Deu um sorriso para Nathan.
— Seu humor muda muito rápido.
Edith franziu o cenho para Nathan. Ele estranhou a mudança de comportamento da menina, e ela a pergunta.
— Por quê?
— Você estava estranha, triste, e hoje acordou com um bom humor incrível.
— Você está me obrigando a vir para a escola. Qual será a surpresa? É a última semana de aula, e estamos na quarta-feira já. Aliás, não é bom eu estar feliz? — Edith sorriu, e Nathan ergueu uma das sobrancelhas.
— Mais ou menos — falou ele, brincando. Edith pousou a mão no coração e fez cara de surpresa. Então os dois riram.
— Por quê? — perguntou Edith, franzindo o cenho.
— Porque eu ia te convidar para tomar um sorvete hoje, caso ainda estivesse triste — disse ele.
— Se quiser, fico triste para ganhar comida de graça.
Edith fez uma expressão falsa de tristeza fazendo Nathan riu alto.
— Então você aceitaria?
— Como se eu fosse recusar comida — Edith respondeu, e Nathan apenas sorriu, pegando de leve no pulso de Edith, o que não estava com a pulseira. Olhando nos olhos violeta da menina, ele disse com um tom irônico.
— Se você recusasse, eu te arrastava.
Edith sentiu o rosto queimar, e Nathan soltou o seu pulso, sorrindo pela expressão que causou. Ele pegou a mochila e saiu. Edith percebeu que seu material ainda estava na mesa e o guardou rapidamente. Levou os livros no armário e, assim que fechou o maldito cadeado, ela percebeu uma movimentação do lado esquerdo. "O quê?" ela se perguntou, tentando entender o que via. Elizabeth estava tentando empurrar Nathan sensualmente — fracassando — contra o armário, enquanto puxava a gravata preta do garoto.
— Elizabeth, pare, por favor. — Nathan falou, segurando o braço da bruxa loura.
— Você me quer... — Ela disse, convencida, e Nathan negou com a cabeça.
— Não.
— Sim, olhe para mim, cê quer — A situação chegava a ser engraçada, ela empinava e rebolava tentando "seduzir".
— Não quero uma pessoa como você — Nathan não sabia por que disse aquilo, ele se sentia superficial, então julgá-la não fazia tanta diferença, porém precisava dar um basta naquela louca. E conseguiu. Elizabeth o soltou, encolerizada.
— O quê? Por que não me quer? — perguntou ela, revoltada.
— É o que disse, faça-me o favor, saia da frente — Nathan pediu calmamente.
— Quem você quer? A nerd com quem cê estuda? — explodiu Elizabeth, e Nathan olhou furioso para a loura. A mesma se encolheu de medo enquanto ele ainda segurava o seu braço. E então Elizabeth percebeu a presença de Edith.
— O que quer aqui, nerd? — exclamou ela, com a voz fina, era como unhas esfregando no quadro negro (arrepiou só de imaginar), soltando-se de Nathan, usando um tom de nojo conhecido por Edith.
— A nerd só diz que Nathan não gosta do seu tipo, Elizabeth.
Edith puxou Nathan pelo antebraço, deixando Elizabeth sem palavras, apenas de boca aberta. Ele ria interiormente, salvo por Edith, hilário. Ainda mais quando se tratava de uma oferecida. Ele já viu tantas dela em sua vida.
— Valeu por me salvar — Nathan disse a Edith quando passavam pelo portão da escola. Eles conseguiram escapulir por entre os grupos de alunos.
— Me deve um sorvete — respondeu Edith, rindo alto. O garoto não pôde deixar de fazer o mesmo.
Dirigiram-se ao sorveteiro do parque, a duas quadras de distância da escola. Um caminhão pequeno todo pintando com desenhos de sorvetes, a janela lateral era coberta por uma tenda, e havia várias crianças com os pais prontos para pagar sorvete para os pequenos. Nenhum dos dois percebeu a Catedral. Edith apenas pensava que uma construção daquele tamanho poderia estar no lugar de uma das florestas que cercava o parque. Ela chegou a ver de relance, porém se concentrou no sorvete.
— Que sabor você quer? — perguntou Nathan, em um sussurro.
— Pistache.
— Bela pedida. É bom — Ele concordou.
— Que sabor o casal quer? — O sorveteiro apareceu na janela. Edith ia dizer que eles não eram um casal, porém Nathan apenas respondeu.
— Um de pistache e outro de floresta negra, por favor — pediu ele, enaltecendo de forma obscura o nome do segundo sorvete.
— Floresta negra? — Edith perguntou.
— Chocolate com cereja.
— Ah, não conhecia.
— Devia provar. É meu preferido.
Pegaram as casquinhas e Nathan pagou. Andavam em passos calmos pelo parque, que parecia vazio para aquela hora do dia, comendo seus sorvetes.
— Vamos sentar naquele banco? — perguntou ele, apontando para um banco de pedra na frente de uma bela fonte, a mesma da visão de Zagan. Um arrepio passou na pele da jovem fazendo-a olhar para a pulseira. Mesmo ainda precisando treinar suas habilidades, ela pensava que sair viva era o que importava.
— Me dá um pedacinho do seu? — Nathan fez cara de cachorrinho sem dono. Edith apenas riu, lhe oferecendo a casquinha — Realmente, é muito bom — Ele falou, todo lambuzado. A garota apenas gargalhou, enquanto ele olhava confuso.
Os sorvetes se foram, e Nathan continuava sujo. Tinha um bigode de sorvete logo acima dos lábios. Edith continuou rindo.
— Está sujo? — perguntou o garoto, e Edith assentiu — Limpa para mim?
Edith pegou o guardanapo da casquinha e limpou a boca delicada do garoto. Sentiu seu rosto ruborizar sob o olhar estonteante de Nathan, enquanto o mesmo sentava mais perto da jovem, ele não sabia o porquê de estar fazendo aquilo, entretanto, era mais forte que ele. Percebendo a aproximação, Edith não sabia o que viria a seguir. A respiração dos dois estava acelerada, os rostos próximos. Nathan estranhava a atração que sentia pela linda jovem. Ele estava assustado com o que sua mente planejava fazer. Sua mente martelava a proibição, mas seu peito martelava um sentimento diferente de tudo que já tinha experimentado.
Ele virou o rosto de Edith, segurando a ponta do queixo e fazendo com que ela lhe olhasse no fundo dos olhos. Ele não queria que ela encontrasse o fundo dos seus, só queria memorizar o brilho violeta que os olhos da garota emanavam. E os lábios se tocaram levemente. A mão de Nathan deslizou para segurar melhor o rosto de Edith, enquanto ela enroscava as pequenas mãos em seu cabelo escuro na nuca. As bocas dançavam uma valsa lenta, beijos tímidos e longos que tiravam o fôlego.
E então se desprenderam. Edith não conseguia pensar. Até mesmo Nathan parecia atônito. O que seria inimaginável. Ouviu-se um farfalhar de folhas e os dois viraram-se, procurando. Nathan não sabia se a garota tinha visto, mas não pôde deixar de captar entre as árvores um vulto encapuzado.
— Er... vamos? — anunciou ele, preocupado.
Ela estava com o coração a mil.
Nathan não pôde deixar de sorrir com o que tinha provado. Mas estava curioso sobre aquele salto que seu corpo tinha dado. Era curioso. Novo.
(1583 palavras)
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