Capítulo 5 A dama de azul
Era noite de outro dia, quase na hora da festa de Kim Jin-yi. Na casa Yoon, todos vestidos encontravam-se nos últimos preparativos para saírem. Kim Tae-hyung se encarava no espelho pensativo, tinha que ter um bom plano para alcançar seu objetivo e conseguir, pelo menos, alguns minutos com o Conselheiro Kim Chung-hee sugerindo a ele, Yoon Seon-ok, como esposa de um de seus filhos. Por outro lado, estava preocupado com a concorrência que ela teria, já que ambos os homens, eram extremamente cobiçados por conta de seu sobrenome imponente e respeitado. Kim Tae-hyung era esperto e astuto, mesmo que não conseguisse chegar ao conselheiro, daria um jeito de transformar a irmã em alguém por quem os irmãos Kim se apaixonariam, porque se ficasse ali muito tempo acabaria tornando-se um consumista exagerado como seus pais.
Elegante e indescritivelmente bonito, Kim Tae-hyung vestia um belo jeogori (jaqueta), baji (calças) e durumag verde (sobretudo), algo muito comum na época. Mas diferente da maioria, os cabelos longos soltos não eram um costume comum, os homens lhes usavam bem amarrados e em seu devido lugar, mas não era algo que lhe incomodasse, o estilo selvagem lhe caía muito bem e atraia a atenção de mulheres, o que sempre elevou seu ego de maneira positiva.
Certificou-se que todos estavam prontos e partiram para as festividades de noivado com um belo presente. Se isso fosse algum tipo de jogo doentio por dinheiro, quanto mais gastassem com a família Kim, mas simples seria chegar a eles.
A música tocava lenta e alguns dançarinos pintados estavam no centro dançando, no lugar que exclusivamente acabava destinado aquele fim. Apenas olhou tudo por cima dos olhos, tentando disfarçar a curiosidade, já que aquela noite em questão era o primeiro baile deles. A origem humilde da família Yoon às vezes não sumia de seu corpo, mesmo depois da quantidade exorbitante que receberam em dinheiro, todos ainda sentiam-se meio envergonhados diante de pessoas como aquelas. Kim Tae-hyung avistou Jeon Ban-hae cumprimentando os convidados e pensou ser a chance ideal de começar. Instruiu Yoon Seon-ok e seus pais a ficarem na mesa até que fossem chamados, certificou-se que eles não iniciariam conversa alguma para não comprometerem o plano e ainda assim, volta e meia ele se virava para a mesa que estavam, apenas para ter certeza que não fariam besteira alguma.
— Deve ser o noivo.
— A roupa denunciou-me? — riu colocando uma tigela sobre a mesa e apontou para que o outro sentasse em sua frente. — Você é novo por aqui?
— Família Yoon. Kim Tae-hyung, estou apenas de passagem.
— Yoon, parece-me familiar. Sua família não foi aquela que ganhou uma herança milionária há quatro anos?
— Exatamente. — respondeu-o. — Mas agora resido na China e devo permanecer lá.
— Ah, minha amada China. — observou o teto e bateu na barriga, meio fadigado. — Pretendo voltar logo para lá, sem intenção de visitar Koguryo.
— É como dizem, não há lugar como o lar.
— Então, o que lhe traz à Koguryo?
— Minha irmã mais nova, Yoon Seon-ok. Está à procura de um bom marido e decidi ajudá-la.
— Fez muito bem, não é fácil casar-se devidamente hoje em dia. Vê meu exemplo? — bebeu o que estava no copo em sua frente e apontou Kim Jin-yi que cumprimentava alguns convidados do outro lado do salão. — O pai pagou um dote enorme apenas para que aceitasse a filha dele. Mas se pudesse escolher, não seria minha primeira escolha. Deve encontrar um bom marido para sua irmã, alguém com nome honrado.
— É, mas fazemos questão de um Kim. Por acaso, eles virão?
— Ah, claro que sim! — riu. — O Conselheiro adora atrasar-se e se tornar o centro das atenções. Seus filhos geralmente vem primeiro e estendem o tapete para o grande Kim Chung-hee. — apontou pedindo para os músicos tocarem outra coisa, apenas sacudindo os dedos. — Os conhece, os filhos do Conselheiro?
— Ainda não tive oportunidade. Quando morava aqui eles passavam a maior parte do tempo viajando.
— São cinco, dois homens e três mulheres. Olha, olha lá! — mostrou a porta. — Eles chegaram.
— São eles? — arqueou uma sobrancelha para os homens e não pareceu muito surpreso com o que via.
— O alto meio magricelo é Kim Seok-jin. — aproximou-se de Kim Tae-hyung e começou a falar. — É o mais velho e cobiçado, já que herdará o título do pai e os negócios da família. Ele usa o nome Kim sempre que pode em seu benefício e não se engane com a face limpa e o jeito refinado, é o pior deles.
— E o outro?
— Kim Nam-joon é o filho estudado. Inteligente, bom rapaz e bem educado. — bateu no braço de Kim Tae-hyung e continuou. — Precisava tê-lo visto fazer o parto da minha égua, foi incrível. O único problema é que o garoto não amadureceu ainda e nem cogita a ideia de se casar, nem por amor. Lastimável.
— E as mulheres? Elas quase não eram vistas antigamente, parece que aconteceu algo com a mais velha. — parou pensando. — Não me recordo da história.
— Ela está entrando, a do hanbok mórbido e exagerado. A bela Kim Ha-won, cujo passado deprimente lhe deixou amargurada. Sabe, quando tinha dezessete anos, um príncipe chinês veio até Koguryo e apaixonou-se por ela, pelo menos foi o que todos pensaram. Na verdade, recebeu o dote e desapareceu antes do casamento, levando não só o dinheiro, mas a confiança de Kim Chung-hee. Agora o homem vive hostil em relação a todos os pretendentes que apareceram para ela e as outras. — puxou o copo cruzando as pernas e apontou-a indo se sentar. — Está envelhecendo e logo acabará no palácio solteira para sempre.
— Ela ainda tem pretendentes?
— Alguns homens mais velhos. Um tio meu até tentou, mas o pai dela disse que não fazia questão de entregar sua filha a ele.
Kim Hye-ji entrou no salão radiante por seu hanbok novo. Cruzou com os convidados e cumprimentou algumas garotas com quem conversava aos domingos depois da visita ao centro e foi se sentar ao lado dos irmãos.
— A mais nova é uma mistura perfeita das duas irmãs, lembro-me quando nasceu, foi um sacrifício mantê-la viva, mas deu tudo certo e agora é quase uma mulher. Ainda tem muito que aprender, mas a beleza, ah! É inconfundível, como as outras duas.
— É uma bela menina. — Kim Tae-hyung seguiu-a com os olhos até que sentasse e reparou que as mesas deles estavam lado a lado. Aquilo com certeza poderia ser usado em seu benefício. — Como se chama, a pequena?
— Kim Hye-ji, é a favorita do pai. Seria mais fácil roubar um jarro de jade da casa deles do que aproximar-se da menina. Os rapazes entre quinze e vinte anos lhe colocam na palma da mão, lhe cortejam como se fosse a própria princesa, mas é só o conselheiro despontar em algum canto que todos correm parecendo baratas quando surge luz. Até o meu irmão mais novo tem medo dele, o que particularmente é deprimente.
Jeon Jung-kook ainda não tinha chegado ao salão, assim como Park Ji-min e Jung Ho-seok, por isso a maioria dos solteiros ali não tinham chamado a atenção das irmãs Kim.
— É? — riu percebendo que as coisas que Jeon Ban-hae falava pareciam um absurdo. Aparentemente Kim Chung-hee tratava suas filhas como pequenos vasos delicados de porcelana, daquele tipo frágil e fino, onde é apenas permitido olhar, tocar os despedaça. Kim Tae-hyung desprezava aquele tipo de atitude, não era do feitio dele admirar coisas presas. — Não são três, cadê a filha do meio? — perguntou puxando um dos pães que estava sobre a mesa, rasgou-o colocando na boca para tentar enganar a fome, ele sabia que não teria oportunidade para sentar e jantar se quisesse alcançar seu objetivo e lamentou-se, o cardápio estava estupendo.
— Por que diabos não me esperaram? — ouviram uma moça gritando e ela adentrou no salão andando apressada para se sentar.
— É claro que acabaria chamando atenção de alguma forma. — Jeon Ban-hae baixou a cabeça e riu. — Aquela, meu caro Yoon, é a filha do meio. A majestosa e delicada Kim Kkoch-hee.
— Não me pareceu muito delicada. — levantou um pouco a cabeça e tentou vê-la melhor, mas já tinha sentado.
— Ah, não nesse sentido. — respondeu-o e apontou-a de costas para eles. — Kim Kkoch-hee é como uma flor delicada no meio de um denso espinheiro. Para alcançá-la precisa ferir-se e muito. Ano passado quando visitei Koguryo no verão a conheci por acaso no reino. Ela me deu umas vassouradas por atropelar a boneca de uma menina e me fez pagar por uma nova, só para que a criança parasse de chorar. Não me custaria nada, mas uma mulher enfrentando um homem por causa de uma criança que nem era sua? Claro que quis saber onde isso ia dar.
— E no que se sucedeu? — perguntou curioso, Kim Kkoch-hee parecia alguém admirável e não apenas um frasco bonito e vazio.
— Um nariz quebrado, mas depois que me contaram quem ela era imediatamente fui atrás de seu pai para pedir sua mão, valorizo uma mulher com bons ideais.
— Presumo que Kim Chung-hee não lhe entregou a filha.
— Ele disse que Kim Kkoch-hee só se casará depois da irmã mais velha. Kim Ha-won é muito bela, temos quase a mesma idade, mas não quero uma esposa cuja face parece que só tem uma expressão.
— Se por acaso quisesse chamar a atenção do Conselheiro Kim Chung-hee, qual delas teria que tirar para dançar?
— Oh não, meu caro! — parecia perturbado. — Ninguém as tira para dançar, nunca. Kim Chung-hee não permite que toquem em suas filhas.
— Esse homem não me parece dos mais amigáveis. Mas se fosse chamar a atenção dele, qual seria a ideal?
— Meu conselho é que atinja Kim Mo-yeon, não há como não chegar a Kim Chung-hee se conseguir a atenção de sua esposa e se quer atingi-la, deve ir atrás da que sempre lhe contradiz e lhe enfrenta.
— Deixe-me adivinhar, a senhorita Kim Kkoch-hee?
— Exatamente.
Aquele parecia um golpe arriscado, se tentasse demais poderia acabar odiado e completamente contrário ao seus planos. Mas era ousado e não tinha muito medo do que poderia acontecer, afinal, eram ricos. Yoon Seon-ok se casaria facilmente e ele voltaria para a China, lugar de onde se lamentava ter saído. Reconheceu o Conselheiro Kim Chung-hee adentrando no salão e desta vez nem foi porque todos pararam o que faziam para recepcioná-lo dignamente, mas porque aquele rosto sempre foi familiar a ele, estampado em muitos papeis que usou para se aquecer durante o inverno quando criança. Impulsivo e arriscado decidiu levantar-se e fazer alguma coisa, talvez fosse destino ou mera coincidência, mas enquanto caminhava até sua mesa que era ao lado da família Kim, viu Kim Kkoch-hee se levantar e os dois se encararam, como dois desconhecidos. Kim Tae-hyung não poderia negar que era uma moça bela como tanto falavam, além disso, deslumbrava e destacava-se no salão por ser uma das poucas ali com um hanbok brilhante.
Kim Kkoch-hee parecia visivelmente incomodada com algo, percebeu estar sendo observada o que incomodou ainda mais. Kim Tae-hyung viu Kim Mo-yeon lhe advertir discretamente, mas a garota não pareceu intimidada, pelo contrário, continuou em pé mesmo depois que seus pais se sentaram e todos aos poucos voltavam ao que faziam. Kim Chung-hee não cumprimentou ninguém ou mesmo virou-se e acenou a todos, sentou-se e tratou de pedir os melhores pratos servidos jantando como quem comia uma vez por semana, um mendigo sujo e faminto. O rapaz parou antes de chegar na mesa e sentar-se, olhou Kang Roo-hyang, sua mãe, que tinha certo tempo que não tirava os olhos da comida e o rapaz acenou com a cabeça indicando que tudo bem se comer. Ela sorriu agradecendo pela ajuda do filho e seu pai parecia orgulhoso, o homem que Kim Tae-hyung tornou-se era admirável. Tinha que pensar nisso, não era apenas um garoto que morava nas vielas escuras e sujas de Baekje, seu nome tornou-se conhecido e aja o que houvesse, era disso que tinha de lembrar.
— Senhorita Kim Kkoch-hee? — aproximou-se dela e parou em uma distância que considerava segura.
— Kim Kkoch-hee está bom. — respondeu-o e esperou que falasse.
— Concede-me essa dança?
Todos na mesa dela soltaram o que tinham nas mãos sobre os pratos e viraram-se para os dois esperando para ver o que a moça diria. Kim Tae-hyung aproveitou aquele breve instante e percebeu que Kim Mo-yeon tinha um olhar extremamente reprobatório, exatamente como ele queria.
— Está querendo acabar morto em alguma viela? — aproximou-se uns segundos dele e cochichou, exalava uma fragrância doce e atrativa, tão maravilhosa ao olfato como algo que nunca tinha sentido. Aquele breve segundo que o pescoço dela chegou bastante perto de seu nariz, fez Kim Tae-hyung sentir o corpo inteiro arrepiar e olhou-a ainda mais corajoso que antes.
— Talvez me arrependa, mas insisto na pergunta. — arqueou uma sobrancelha e ouviu Kim Chung-hee engasgar, mas manteve-se firme em seu propósito.
— Definitivamente enlouqueceu. — sorriu e baixou a cabeça sentindo sua pele corando, estava com as bochechas rosadas e depois de rir delicadamente, estendeu a mão assentindo o convite para dançar. Kim Kkoch-hee fazia aquilo por mero capricho, o que Kim Tae-hyung não sabia é que o motivo por trás da irritação da jovem, na verdade, era que seus pais instruíram que ficasse na mesa sem fazer absolutamente nada, nem ao menos comer. Tinha quase três anos que Kim Kkoch-hee não participava de uma festa e se fosse para ser assim preferia levantar-se e seguir a pé para casa. Foi exatamente por esse motivo que levantou, sairia do ambiente sem se importar com Kim Mo-yeon pedindo-lhe com os olhos, lhe obrigando a sentar e ficar em silêncio. — Adoraria dançar. — encarou a família uns instantes e virou a cabeça para frente, ignorando qualquer olhar que fizessem.
— Eles parecem furiosos. — Kim Tae-hyung e ela foram para o centro e aos poucos o rapaz percebeu que todos foram abrindo passagem como se aquilo fosse um grande evento. Uma mera dança tornava-se a atração principal da noite enquanto os noivos nem sequer levantaram de sua mesa. — Tem certeza que é uma boa ideia?
— Tomou a coragem que todos esses homens não tiveram. — apontou os outros cavalheiros e viu Kim Tae-hyung seguir sua mão, observando principalmente aqueles que pareciam indignados com os dois. — Quer acovardar-se agora que conseguiu o que queria? Está com medo do que meu pai pode fazer? — riu enquanto o rapaz lhe olhava. — A parte do morto foi uma brincadeira.
— Não tenho medo do seu pai. — puxou-a pela cintura bruscamente e ela encostou seu corpo no dele saindo da zona considerada adequada. — E se não se importa com isso, sugiro que aproveite a dança, já que terá o que contar a suas irmãs, está sendo invejada por elas.
— Você... — piscou aceleradamente e começou a sentir o ar falhando, como pudera um homem desconhecido quebrar tantas regras com dois gestos simples?
Kim Kkoch-hee sentia seu coração batendo mais forte, ela não tinha ideia do que aquilo significava, mas parecia incomodada com a nova sensação experimentada. Costumava conhecer-se bem, lidava com suas emoções com controle, desde que não a enfrentassem ou como agora, lhe colocassem em uma posição constrangedora diante de todos.
Kim Tae-hyung, no entanto, poderia não demonstrar, mas sabia que só tinha duas possibilidades depois daquele momento tolo e impulsivo. Ou Kim Chung-hee lhe daria a palavra por pelo menos cinco segundos ou realmente lhe mataria e jogaria seu corpo em uma viela escura. Observava-os enquanto dançavam, deslizando pelo enorme salão com um piso de madeira tão brilhante que era possível enxergar seus próprios reflexos nitidamente. Estava rodeado por enormes pilastras brancas com as bordas douradas, a escada principal era de madeira e seus corrimões dourados pareciam de ouro, no meio e no alto do salão, uma lanterna acesa, que apesar de enorme não iluminava quase nada. Kim Tae-hyung estava perto o bastante para apreciar a fragrância desconhecida que Kim Kkoch-hee exalava de seu corpo. Às vezes sentia os pés dela batendo na ponta de seus sapatos, confirmando o que suspeitava, ou ela nunca dançou com homem ou fazia tempo que não dançava.
A música finalizou e os dois se separaram dois passos, mas continuaram a se olhar enquanto todos os outros convidados permaneciam como meros espectadores do que viria a seguir. A moça curvou-se segurando as laterais do hanbok e agradeceu a dança, ele baixou a cabeça e também pareceu grato por ela ter aceitado, mas ao invés de seguirem seus caminhos como dois desconhecidos Kim Kkoch-hee ainda tinha algo para perguntar.
— Você não é daqui, é?
— Já fui.
— Como se chama? Não se apresentou.
— Esse é o senhor Yoon, Kim Tae-hyung se não me engano! — Jeon Ban-hae aproximou-se debruçando o braço sobre o ombro do rapaz. — Devo dizer que está estonteante esta noite, senhorita Kim Kkoch-hee.
— Agradeço o elogio e parabéns pelo noivado.
— Kim Tae-hyung, gostaria de lhe falar, se não se importa.
Jeon Ban-hae tratou de puxar o jovem dali e o fez sentar-se ao seu lado. A todo momento ele encarava a mesa dos Kim esperando que alguma coisa acontecesse. Viu uns outros homens bem vestidos cochicharem algo no ouvido de Kim Chung-hee e ele lhes olhar indiferente, depois o homem levantou-se e sem dizer nada a nenhum dos filhos ou mesmo a esposa, sentou-se na frente de Kim Tae-hyung e Jeon Ban-hae.
— Soube que quer falar comigo. — arqueou uma sobrancelha. — Precisava usar minha filha?
— Teria vindo se não o fizesse?
— Acha que esquecerei isso? Está pensando que é quem?
— Perdoe-me senhor, mas ouvi que é muito rígido e ocupado, a única forma de ter sua atenção seria fazendo algo que desaprove.
— Yoon, esse é seu sobrenome?
— É o nome da minha família.
— Então, sua família quer oferecer a filha mais nova para um dos meus filhos?
— O senhor tem mesmo olhos e ouvidos em todo lugar, quando me disseram não acreditei.
— Espera que acredite que tudo isso não foi delicadamente arquitetado bem antes de eu sequer pisar nesse salão? — Kim Chung-hee retrucou e aproximou-se da mesa falando mais baixo. — De todos os truques que pense em usar, já fiz muito pior. Ou acha que cheguei onde estou, sem burlar as regras?
— Se veio até aqui está interessado. — Kim Tae-hyung aproximou-se também como se o confrontasse. — O que me diz, senhor Kim, minha irmã é bonita e jovem, dará belos herdeiros a qualquer um dos seus filhos.
— Venha ao palácio amanhã com sua irmã e conversaremos. — levantou-se. — Ah, senhor Yoon. — virou-se uns instantes para o rapaz. — Se encostar daquela forma na minha filha de novo, cortarei sua mão.
Kim Tae-hyung engoliu sua saliva e sentiu-a descer seca pela garganta, mas estava satisfeito de ter convencido Kim Chung-hee, era um passo e tanto o conselheiro lhe convidar ao palácio, tudo seguia seu curso e logo ele poderia voltar para a China.
— Passou perto demais da morte, Kim Tae-hyung.
— Nada muito surpreendente. — bebeu vinho. — Meus parabéns pelo noivado. — estendeu a mão e se cumprimentaram. — Meu propósito aqui se cumpriu, nós devemos ir.
— Gostaria de lhe ver mais vezes, me procure quando voltar para a China. Sinto que seremos bons amigos.
Kim Tae-hyung voltou para a mesa e chamou todos para saírem. Lentamente eles se levantaram tentando não chamar a atenção e o rapaz não deixou de notar que Kim Kkoch-hee não estava mais a mesa com sua família o que provavelmente era culpa dele. Todos saíram para fora e esperavam debaixo de uma cobertura até que trouxessem os cavalos. Kim Tae-hyung avistou Kim Kkoch-hee sentada em um canto pouco iluminado de cabeça baixa segurando as mãos enquanto os pais lá dentro se esbaldavam no belo baile e banquete oferecido. Ele poderia ignorar aquilo e fingir que não era de sua conta, mas não parecia certo, ela lhe ajudou de alguma forma e se fosse necessário retribuir agora, talvez devesse.
— Me esperem aqui, já volto. — instruiu os pais e caminhou na direção da mulher sentada. — Kim Kkoch-hee? Está tudo bem?
— Ah! — levantou a cabeça e limpou as lágrimas. — Está, está sim.
— Tem certeza? — puxou um lenço do bolso antes de sentar e entregou a moça, a mão dela estava rígida e parecia com frio. — O que houve com sua mão?
— Nada. — escondeu por baixo da outra e continuou a segurar o lenço. — Devia ir, senhor Yoon. Não vai querer irritar meu pai.
— Nós já nos acertamos, não se preocupe. E pode me chamar de Kim Tae-hyung. Por que está aqui fora no frio? Nem ao menos pegou um casaco! — questionou-a. Parecia realmente preocupado com a mão que não se movia por nada.
— Saí com pressa, é só um casaco. Tenho vários. — limpou o rosto. — Vou chamar um palanquim e ir para casa.
— Seu pai não seria louco de lhe deixar ir para casa sozinha. Quer matá-lo de preocupação?
— Eles não se preocupam comigo, não teria feito isso se eu fosse importante. — baixou a cabeça. — Obrigada. — lhe olhou e sorriu. — Tenho mesmo que ir. — levantou-se e tentou sair, Kim Tae-hyung puxou-a pela mão e lhe ouviu gritar puxando o braço de volta ao corpo. — Desculpa, me desculpa! É que está doendo. — tinha lágrimas nos olhos e segurava a mão.
— Você se machucou?
— Foi um acidente. — distanciou-se dois passos. — Tenha uma boa noite, senhor Yoon. Ah! Kim Tae-hyung.
— Espera! — chamou-a sem lhe tocar. — Deixe-me levá-la para casa, vou me sentir melhor se de alguma forma souber que está segura.
— Não precisa se incomodar, posso ir sozinha.
— Não seja modesta, faço questão. — sorriu a ela. — Meus pais não se importam também.
— Certo, se não se importam aceitarei seu convite. De novo. — sorriu e os dois seguiram até os cavalos da família.
— Mãe, pai e Yoon Seon-ok. Farei a gentileza de levar a senhorita Kim até o palácio Bunhong.
— Você é mesmo muito bonita. — Yoon Seon-ok aproximou-se dela. — É verdade que sua irmã foi abandonada no altar?
— Irmã, isso não é adequado.
— Seria uma honra para nós, senhorita Kim. — Yoon Dong-yul estendeu a mão e a moça subiu no cavalo de Kim Tae-hyung depois dele.
— Nunca andei em um cavalo assim. — Kim Kkoch-hee comentou tocando a cela.
— Se quiser, podemos trocar, querida. — Kang Roo-hyang ofereceu.
— Não, não! — riu e olhou-os atrás. — Sempre quis andar a cavalo. Meu pai diz que é para homens. Agora entendo, é muito mais interessante ter a perspectiva do caminho.
— Quer colocar a cabeça para o lado e gritar? — Kim Tae-hyung riu e continuou prestando atenção na estrada.
— Oh! Eu posso? — perguntou empolgada.
— Foi uma brincadeira, mas se quer... — apontou. — Vá em frente, não vamos contar a ninguém.
Kim Kkoch-hee subiu um pouco o corpo, abraçando-se a Kim Tae-hyung e colocou a cabeça e parte do busto para o lado gritando para algumas pessoas que passavam na rua. Ventava muito, por isso seu cabelo soltou-se e quando se sentou já estava meio desarrumada. Kim Tae-hyung olhou-a brevemente, mas o bastante para rir por ela não se importar como estava. A jovem Kim podia ter nascido em um dos berços mais ricos de Koguryo, mas era mais parecida com os Yoon do que pensava. Quando chegaram ao palácio, Kim Tae-hyung deu a mão para que Kim Kkoch-hee descesse e acompanhou-a até a porta.
— Mais uma vez agradeço por tudo. — olhou-o sorrindo lindamente alegre.
— Você é diferente da maioria, não é? — direcionou sua mão tirando os cabelos dela de seu rosto, apenas para olhá-la melhor.
— É o que dizem. Boa noite, foi um prazer conhecê-lo, Kim Tae-hyung.
— Igualmente, senhorita Kim Kkoch-hee. — beijou a mão dela e saiu andando, sem perceber acabou com um sorriso bobo em seu rosto, não sabia exatamente o significado, mas parecia disposto a querer descobrir.
— Ei! — Kim Kkoch-hee lhe alcançou e tocou seu ombro fazendo-o se virar. — Isso é seu, se ficar comigo meu pai vai te caçar nos confins da terra para te matar.
— Ah! — pegou o lenço. — Então, devo levá-lo comigo?
— Sim. — distanciou-se dois passos depois acenou mais uma vez antes de entrar no palácio.
O lenço exalava o cheiro da pele da jovem Kkoch-hee, o perfume doce e atrativo que tinha deixado Kim Tae-hyung curioso. Gentilmente dobrou-o e guardou no bolso torcendo para que o perfume não se esvaísse por completo.
Kim Kkoch-hee seguiu para o quarto e correu para a janela, debruçando-se na soleira para ver um dos cavalos da família Yoon desaparecer no portão. Estava feliz, imensamente feliz, mesmo tendo a mão machucada pela mãe, Kim Mo-yeon. Ela parecia bem, já que em todos os anos de sua vida, ninguém nunca se importou tanto com ela ou mesmo lhe concedeu uma bela dança. Enrolou umas ataduras sobre a mão e torcia para não estar quebrada, já que teria de trabalhar logo cedo no consultório do doutor Choi Seo-joon, com o médico chinês desconhecido. Também tinha certa preocupação que sua mãe não lhe deixasse sair, mas cansava-se de obedecer pois sempre acabava como vilã de sua própria história.
Ouviu os pais chegarem com seus irmãos e passos largos e pesados no corredor, que pareciam vir em direção ao seu quarto. Kim Kkoch-hee estava sentada em frente a um espelho escovando os cabelos enquanto se preparava para dormir, mas teve de parar quando sua mãe entrou e lhe encarou reprovando-a imediatamente.
— Como chegou em casa? — gritou com ela e tentou estapeá-la, mas recuou a mão. Ela não poderia manchar o rosto de Kim Kkoch-hee, Kim Chung-hee não a perdoaria se fizesse aquilo.
— Isso importa? — arqueou as sobrancelhas e levantou-se. — Você me mandou sair, não achou que seria mais adequado que viesse embora ao invés de ficar lá fora, a vista dos convidados? O que pensariam da senhora Kim, se uma de suas filhas simplesmente foi deixada no frio sozinha e desprotegida?
— Não me faça lhe bater, Kim Kkoch-hee! — gritou com a moça. — Por que diabos insiste em nos confrontar? É tão difícil assim se comportar como uma dama?
— Eu me comporto como quero! Se for para acabar como você, prefiro continuar assim.
Kim Mo-yeon não aguentou ouvir aquilo, segundos depois da menina terminar de falar, a mãe estapeou seu rosto tão forte que ela caiu sobre a cama perplexa com a atitude. Kim Kkoch-hee levantou-se com a mão na face, a pele ardia e até inchava pela força com que a mãe lhe bateu. Seus olhos cheios de lágrimas denunciavam um desgosto que há muito tempo não sentia.
— Kim Mo-yeon... — Kim Chung-hee apareceu na porta. — Acho que deve ir para o quarto.
— Espero que estejamos entendidas. — baixou a mão e saiu sem dizer mais nada a filha.
— Kim Kkoch-hee, minha querida. — sentou-se ao lado da garota que chorava com o rosto vermelho. — Não devia confrontá-la, sabe o que acontece.
— Ela me odeia pai, sou uma desgraça para ela.
— Ela não te odeia, meu anjo. — tocou o rosto da menina e depois lhe puxou para um abraço. — Só não quer que se machuque e se continuar a doar-se extremamente as coisas, vai acabar se machucando.
— É injusto. Não fiz nada de errado e por um segundo, só por um segundo estava tudo bem.
— Por que diz isso? Pelo homem que te convidou para dançar? Acha que ele fez aquilo porque queria alguma coisa com você?
— Como assim? — perguntou curiosa.
— Aquele rapaz é bastante inteligente, confesso. Ele te usou, Kim Kkoch-hee. Queria chegar até mim, por isso te convidou para dançar. Na verdade, ele quer que a irmã mais nova case com um dos seus irmãos. Não tem nada a ver com você.
— Nada a ver comigo... — remendou o pai. — Talvez tenham razão, não é? — limpou as lágrimas. — Acho que vou me deitar, essa noite já deu tudo que tinha para mim.
— Eu te amo, minha filha. Do jeito que é e não tem um dia que não tenha medo de que alguém te machuque, por isso cuido de você, todas vocês são minhas princesas e merecem ser muito felizes.
— Obrigada, pai.
— Boa noite, minha querida. — beijou a testa dela e saiu do quarto seguindo para seus aposentos. Lá encontrou a esposa já vestida para dormir, sentada na cama resmungando enquanto penteava os cabelos.
— Você não devia mimá-las, é por isso que ela faz isso.
— Fazer o quê? Kim Kkoch-hee ainda não se decepcionou com nada, Kim Mo-yeon. — sentou-se na cama beijando o ombro e o pescoço da esposa e continuou. — É uma sonhadora, como eu, quando mais novo.
— Ela precisa amadurecer, precisa tornar-se uma dama ou nunca casará.
— Temos problemas maiores do que o fato de Kim Kkoch-hee ser uma bela dama cobiçada quando sequer podemos dá-la em casamento à um bom homem.
— Vai concordar com o casamento com a menina Yoon?
— Ouvi dizer que são muito ricos, veremos de quanto será o dote, depois pensarei nisso.
— Os fará vir aqui à toa?
— Não, a menina terá que sentir na pele o que é ser uma Kim.
— Com a Kim Kkoch-hee parecendo que saiu do meio da floresta?
— Kim Kkoch-hee ficará em seu quarto, já que fez o favor de machucar o rosto dela. — tocou a testa como se aquilo lhe incomodasse. — Já lhe disse para não machucá-la, a menina pode agir como uma raposa serelepe, mas é delicada como uma rosa, qualquer coisa à machuca.
— Ela não devia me enfrentar, sou a mãe dela.
— Por ser mãe dela que devia dar-lhe amor ao invés de estressar-se tanto. Às vezes sinto falta da mulher com quem me casei, gentil e delicada. O que houve no caminho?
— Cinco partos e nossa pobreza repentina respondem sua pergunta?
— Daremos um jeito, minha amada. Agora vamos dormir, amanhã bem cedo teremos visita.
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