7- O Passado de Pedro! A Maldição da Solidão!
- Você é um revolucionário?- Perguntou Pedro surpreso.
- Estou mais para o menino que se juntou a eles pelo puro desespero de não ter uma casa, mas acredito que isso também funciona.- Falava o garoto sorrindo caminhando até a janela onde a escada de bambu esperava.
- Ei, o que esta fazendo?
- Descendo óbvio, o pessoal ainda deve estar no primeiro andar comendo e conversando. Você vai adorar eles Pedro, sem falar que eles podem te ajudar com seu problema.- O menino se preparava para descer as escadas quando o homem lhe perguntou.
- Por que você acha que eles podem me ajudar? Já houve uma garota que dizia conseguir me ajudar e não deu certo, então por que a sua ajuda seria diferente?- Tudo o que Luis fez foi sorrir e, enquanto tocava em sua boina, respondeu:
- Nós simplesmente podemos, se você não acreditar primeiro então nunca vai funcionar. Agora fique quieto e desça comigo.- O garoto começou a descer as escadas deixando Pedro sozinho por um momento. Sentado lá no chão o homem meditava no que a criança acabara de dizer.
- Acreditar hein...- Tal conselho sentimentalista. Pedro já havia feito isso antes. Não deu certo. Mas se já estava a beira de perder tudo. O que custaria mais uma vez?- Uma última vez. Vamos ver o que essas pessoas irão tentar me oferecer.- Dizia entre suspiros, ele lentamente se aproximou da janela, estava agora no último andar do prédio que ele ainda não havia conhecido.
Era completamente vazio. Um cômodo enorme sem motivo algum. Não era como o terceiro andar com seus corredores e quartos separados ou como o primeiro andar com seu tapete e suas cadeiras. O último andar não tinha paredes ou objetos, um cômodo vazio. Parando de se preocupar com isso Pedro subiu na escada e começou a descer, rapidamente passou pelo terceiro e segundo andar, cujo este tinha uma cortina na janela que o impedia de ver lá dentro, até chegar no primeiro andar onde todos aqueles estranhos o esperavam.
- O que eu já falei sobre trazer estranhos para dentro de casa?- Dizia Dulce segurando o menino pela orelha.
- Ai, ai, ai, que eu não podia trazer.- Luis obviamente estava segurando a risada, e sentindo um pouquinho de dor. Em volta deles havia um jovem homem, aquele que mais cedo lia um livro, ele dava voltas sobre os dois, desesperado, tentando achar um modo de acalmar Dulce sem ser xingado também, enquanto isso Rosa e o homem do chicote conversavam no canto do local.- Mas ele é bonzinho, meio biruta, mas acho que isso é comum hoje em dia.
- Nossa, muito obrigado amigão.- Disse Pedro entrando meio sem graça. Era constrangedor estar lá depois do chilique daquela manhã.
- Pedro!- Chamou Rosa se levantando após perceber a presença do homem, todos lhe olhavam com uma mistura de surpresa e nervosismo, todos exceto Luis.
- Estes são meus amigos e família.- Disse o menino sorrindo e abrindo os braços
- Nós já nos conhecemos na verdade.- Pedro queria se esconder em um buraco, e ficar enterrado lá para sempre.
- Sério? Desde quando? AI?- Gritou o menino após Dulce dar um tapa nas suas costas toda triunfante.
- Bom trabalho garoto, conseguiu trazer o fujão de volta.- Falava toda orgulhosa do menino enquanto continuava dando vários tapas em suas costas irritando o moleque.
- DULCE, PARA, ISSO É ABUSO INFANTIL.- Berrou o garoto enfurecido, a mulher se irou na hora.
- QUE? EU TO TE ELOGIANDO GAROTO!
- VOCÊ É BRUTA DEMAIS MULHER!
- E VOCÊ É MUITO MAL EDUCADO!
- CALEM A BOCA OS DOIS!!- Berrou o homem do chicote enquanto batia a arma no chão.- Deus, vocês são barulhentos demais.- Luiz e Dulce congelaram de susto com o berro do homem, e após alguns segundos, a mulher começou.
- DARIO QUEM VOCÊ PENSA QUE É GRITANDO COM SUA DOCE ESPOSA ASSIM, HEIN!?- Dizia a Mulher se aproximando dele em passos duros e pesados, o homem esfregava suas pálpebras com os dedos enquanto parecia perceber que havia cometido um grave erro.
- Me desculpe amor, mas vocês dois pareciam duas crianças brigando, e isso deveria ser apenas meia verdade.
- E isso te dá o direito de bater o chicote no chão por...?
- Oh, aquilo?- O homem gargalhou, uma risada pura e limpa, mas meio sem graça.- Tinha uma aranha enorme no chão, sabe como o Antônio tem medo delas.- Disse apontando para o que sobrara da aracnídeo, enquanto o único que até agora não havia dito uma palavra se escondia atrás de Rosa apavorado.
- Bem... do que ele não tem medo né?- Pedro apenas encarava a cena aleatória que se desenrolava no meio desses estranhos, nos dois sentidos da palavra. Sentiu então um puxão em sua roupa, Luis estava sorrindo.
- Eu sei, nós somos idiotas, mas nós podemos te ajudar, sem problema algum.- Pedro duvidava cada vez mais, mas esta era sua última chance, e as árvores o levaram lá por algum motivo, então por que não?
Após Pedro e Luis comerem um pouco, todos se assentaram em um círculo a pedido de Rosa. Dario e Dulce sentaram lado a lado, a mulher deitou sua cabeça sobre o colo dele. Luis sentou no colo de Rosa enquanto esta lhe fazia um cafuné, Pedro sentou entre Rosa e Antônio. Desconfortável e ansioso como sempre.
- Então o que fazemos agora? Uma sessão de terapia? Talvez uma massagem?- Perguntou tentando aliviar o seu próprio coração.
- Você está cansado e machucado, eu sei que suas piadas são apenas para aliviar um pouco a tensão, mas agora não é hora para elas.- Disse Rosa olhando bem em seus olhos, fazendo-lhe ter certeza de que estava séria.
- Okay, me desculpa, eu só não sei como reagir em situações como essas
- Então fique em silêncio.- Repreendeu Dulce olhando para o nada.- Quando você não sabe o que falar ou que assunto puxar, você fica em silêncio. Melhor não conversar do que tentar forçar algo que não vai acontecer naquele momento.
- Escute companheiro...- Dessa vez foi Dario que falou com ele pela primeira vez.- Apenas fale o que está te incomodando, estamos aqui para te ouvir.
- Bom... a parte difícil é saber por onde começar, é muito complicado...
- Que tal começar sobre sua "maldição".- Destacou Luis, mas Pedro não queria, este era o único assunto que não tinha vontade de falar- Você disse algo sobre estar amaldiçoado, sobre o que era aquilo?
- É verdade, mas...
- Pedro, as vezes os assuntos que mais evitamos são os que mais precisamos discutir- O homem se sentia muito pressionado cercado pelos olhares e argumentos, exceto por Antônio que escolhera focar sua atenção em seu livro. Queria ir embora mais do que tudo, virar e sair como fez antes, mas fugir do problema não o torna mais tolerável, apenas mais assustador.
- Muito bem, já que não tenho escolha. Melhor começar pelo começo...- O grupo estava ouvindo com atenção, e o encaravam como se estivessem prestes a ouvir uma historia de acampamento.
17 anos atrás
O sinal da escola bateu, as crianças apressadas corriam para ir embora com seus amigos e família, lógico sempre se tinha uma infortunada ou solitária que acabava indo embora sozinha, não que isso a tornasse diferente das outras, mas infelizmente as crianças tendem a pensar que sim, principalmente um jovem menino de 13 anos chamado Pedro, que novamente fazia seu caminho sozinho até a caminhonete na qual seu pai esperava.
- Você o que?- Perguntou o pai enquanto o filho sentava no banco ao lado, não esperaria ouvir o que ouviu do menino que acabou de sair da escola.
- Eu devo ser amaldiçoado, ninguém gosta de mim pai.- Disse o garoto jogando sua mochila com ferocidade no banco de trás.
- Que? Não fala isso, eu gosto de você garotão.- Afirmou o pai levantando a mão como se quisesse fazer um "toque aqui" com o filho.
- Pai, eu te amo e agradeço, mas eu me sinto como uma pintura, sem valor nenhum se o único que se importa comigo é o meu pintor.
- Ai, isso foi doloroso de se ouvir.- Falou o homem ligando o carro, após dar ignição ele continuou o assunto.- Mas e o Mike? Você não tinha feito amizade com ele?
- Eu tinha pai. Eu conseguia conversar com ele de boa, eu até tinha finalmente parado de gaguejar perto dele, mas parece que ultimamente ele tem me evitado.
- Você tem certeza que ele estava te evitando?
- Não...
- Então você não pode assumir as coisas.
- Eu sei que não, mas deve ter algo de errado, eu sou muito infantil para minha idade.- O pai deu uma gargalhada como se perguntasse "Qual o problema?"- É sério, a maioria das vezes eu não entendo o assunto que eles falam. Minhas brincadeiras parecem não ter muita graça para os outros, e eu não consigo pensar em nenhum assunto que faça os outros rirem.
- Pedro, calma.- Falou o pai ficando sério, o menino estava falando rápido demais.- Primeiramente fazer os outros rir não é o único ou principal meio de fazer amigos, você é uma criança, se você acreditar que alguém só é seu amigo porque ri das suas piadas você vai começar a ter medo quando contar algo que ninguém achar engraçado. Segundamente eu sei que parece um clichê, mas a verdade é que o melhor jeito de fazer amigos é ser você mesmo, quando você é você e não precisa forçar nenhum assunto que não conheça na conversa ou até mesmo assuntos que não gosta, você acaba agindo de forma natural, sem nervosismo ou gagueira, e assim você começa a atrair pessoas que falem a mesma língua.
- Mais fácil falar do que fazer.- Disse o garoto bufando enquanto encarava a janela, o pai apenas suspirou, pelo visto o pequeno não lhe daria ouvidos agora. O resto do caminho foi silencioso, a casa deles ficava em um dos cantos dos bairros mais normais da cidade de Nova York, Pedro não conseguia parar de pensar no por que era tão difícil conseguir fazer amigos, não conseguia conversar com ninguém direito, será que sua pele emitia um veneno que espantava as outras pessoas e ele não percebia? Talvez tenha sido o mesmo veneno que matou sua mãe no parto.
Pedro nunca contava isso para ninguém, mas ele sempre achava que não podia ter sido normal sua mãe morrer daquela forma, afinal parto era algo natural certo? Então por que sua mãe não conseguiu o dele? Não fazia sentido, todo mundo sempre dizia como ela era forte e saudável, sozinho o menino começou a teorizar que o veneno que ele emitia poderia ter infectado ela logo quando estava saindo, e no fim, a morte dela não passava ser culpa sua. Ele começou a pesquisar por piadas em seu computador, das mais clássicas e engraçadas até as mais modernas e ridículas, sua preocupação com isso era tanta que ele literalmente ficou até anoitecer procurando por assuntos, séries famosas e outras coisas que pareciam ser bem conversadas entre as outras crianças.
Era quase 21:00 quando Pedro parou de pesquisar, estava realmente cansado, teve pausas para o banheiro e comida mas isso não tornou menos cansativo, o menino foi até a cozinha de sua casa procurar um doce para comer, olhando o amontoado de louça na pia ele se irritou ao lembrar que hoje era o seu dia de lavar a louça, pensou em procrastinar, mas provavelmente seu pai ficaria bravo se não cumprisse o acordo, com a esponja em uma mão e o detergente em outra o menino se preparava para começar seu trabalho.
Até que ele sentiu um tremor, não um terremoto ou um arrepio, por um breve mínimo momento, o menino podia jurar que sentiu seu corpo balançar, será que estava tonto? Mas logo após o tremor, um segundo tremor ocorreu, era tão rápido e pequeno, e sempre que um temor terminava outro o acompanhava, era quase como se fossem passos.
Graças a sua enorme imaginação Pedro estava assustado com a ideia de que algum possível gigante estava vindo, sentiu vontade de correr para seu quarto e se proteger debaixo das cobertas, no caminho para o quarto ele começou a ouvir gritos do lado de fora, alguns pareciam ser humanos e outros eram bem finos, como pássaros, ele ouvia explosões e barulhos de batidas, um vulto passou correndo na janela da cozinha, era quase como um lobo.
A casa inteira tremeu novamente mas desta vez o pedaço esquerdo dela desabou, o menino estava paralisado vendo e ouvindo tudo ocorrer, foi tão rápido, quase como mágica, conseguia ver pelo enorme buraco em sua casa o lado de fora, em todo lugar estava um caos com vários monstros vagando pela terra, até que um gigante começou a entrar em sua casa, o tamanho massivo do bicho começou a corromper mais ainda a estrutura do local.
O garoto pensava em fugir, em chamar pelo pai, até mesmo pensou em fingir de morto, mas estava com tanto medo que não fez nada, ele não conseguia nem gritar com o enorme monstro em sua frente, o gigante ergueu sua mão direita preparando para mandar o jovem longe, as pernas de Pedro tremiam, o desespero cortava seu ar e apertava seu ser.
Mas sua salvação veio através de um barulho, um alto e estrondoso barulho de tiro, junto com o barulho veio a queda do gigante, o ataque foi mirado bem sobre a cabeça da criatura e ela despencou como uma árvore cortada, um casal se encontrava na frente da casa, a mulher com uma espingarda e o homem ao seu lado apenas encarava, assustado, o pobre menino paralisado.
- Ei menino, corre aqui, rápido!- Gritou o homem completamente preocupado.- Está esperando o que garoto? Não fica simplesmente parado aí.- Pedro ainda estava processando tudo em sua cabeça, tentando ver se seria melhor ir até estranhos ou ficar sozinho em casa.
- O que nós estamos fazendo? O garoto só vai nos atrasar.- A mulher estava apavorada, até mesmo a arma em suas mãos balançava incansavelmente, sua voz estava fraca e amedrontada.
- Mas, meu pai... eu preciso chamar meu pai...- O casal se entreolhou, não podiam continuar esperando por muito tempo.
- Nós procuramos por ele depois, agora temos que ir.- Disse o homem tentando salvar o menino. Mas Pedro não queria simplesmente largar seu pai
- PAI!PAI!- Berrava o menino chorando, ele não ousava caminhar para fora do seu lugar, congelado em puro medo, e preocupação pelo pai.
- Shhhh, QUIETO PIRRALHO.- Xingava a moça ficando cada vez mais e mais desesperada, mas seus gritos de desespero, apenas aumentavam o medo e o pavor de Pedro.- Tsc, vamos querido, temos que ir agora...
- Não podemos simplesmente deixar essa criança aqui.- Protestou o homem, se deixassem aquele garoto sozinho, com certeza não sobreviveria.
- EU NÃO VOU LEVAR ESSE GAROTO COM A GENTE, CRIANÇAS SÓ VÃO ATRASAR.- Pressionado e sem escolha, o homem lentamente se aproximou do menino.
- Calma amigão, vamos fazer o seguinte... se esconde no seu quarto e fica em silêncio, tenho certeza que logo seu pai vai vir te buscar.- Para aquele menino, que não queria abandonar o pai mas também estava com muito medo para ficar ali, aquela ideia acalmava, um pouco, seus nervos. Ele aceitou, e foi se esconder acreditando, por razão nenhuma, que o casal iria procurar por seu pai enquanto estavam fora.
Ele correu para o quarto do pai e se escondeu debaixo da cama com um cobertor, seu medo era tanto que temia a possibilidade de algo vir por trás da cama e puxar sua perna, ele ficou deitado, horas se passaram, ele ainda ouvia os barulhos do lado de fora, ele apenas ficou parado, aterrorizado, pensando em seu pai e como disse que o amor dele não o importava, até que lentamente ele adormeceu, talvez tenha sido por conta da tarde inteira de frente com uma tela, e horas seguintes de puro medo e adrenalina.
Um sono que, em sua percepção, não havia durado muito. Ele acordou com um som de arranhado, não, de arrastado, algo havia pulado em cima da cama e a feito se mover para frente. O coração de Pedro parou brevemente, estava claro lá fora, possivelmente era de manhã. O primeiro pensamento foi que seu pai havia chegado, mas os rosnados e grunhidos mudaram sua cabeça imediatamente, aqueles barulhos nada humanos assustavam tanto o menino que ele não conseguiu evitar, e se molhou bem debaixo da cama.
O cheiro forte de urina chamou a atenção do ser em cima da cama. A criatura parecia não saber distinguir de onde vinha, porém sabia que havia outro alguém no cômodo, Pedro se cobriu com sua coberta completamente assustado, mas a ação acabou fazendo sua respiração sair abafada e não ser escutada pelo monstro.
Pedro ouviu a besta pular da cama, a coberta não o deixava ver bem o que era aquilo do lado de fora, mas pelo barulho Pedro sabia que lentamente se aproximava dele embaixo da cama, rosnando e farejando, a procura do medroso garoto embaixo da cama.
O menino torcia para que o monstro o confundisse com um cobertor velho jogado no chão, seu medo aumentava cada vez mais, ele estava seriamente considerando atacar o bicho ou correr para trás, não pensando em como o cobertor poderia o enroscar e imobilizar caso tentasse, pela segunda vez, sua vida foi salva por um tiro, desta vez do lado de fora da casa, o barulho chamou a atenção da criatura que saiu em disparada atrás da origem do som.
Pedro, mais uma vez, foi salvo pelo gongo, o menino estava começando a ter perda de oxigênio debaixo daquele manto, assim que ele saiu, tanto debaixo do coberto quanto da cama, ele começou a respirar fundo e pausadamente, apreciando o ar que tanto procurava. O garoto se sentia apavorado, que bicho era aquele que o havia tentado pegar? Será que seu pai havia chegado e estava lutando contra os bichos lá fora?
O tiro se repetiu, desta vez estava mais perto da casa, Pedro correu para fora procurando seu pai, queria ver ele mais uma vez, estava com tanto pavor, só queria pedir desculpa, estar com seu pai e viver. Mas a pessoa que encontrou lá fora não era seu pai, era a mulher que havia visto antes, um monstro pequeno estava morto na frente pelo tiro, ela nem percebeu que Pedro estava lá e continuou caminhando sem rumo pela rua, sozinha, foi quando Pedro deduziu que ela deve ter voltado para lhe avisar que achou seu pai.
- Moça, estou aqui.- O menino correu até ela. A mulher o encarou com uma expressão vazia.- Você achou meu pai? Onde ele está? Ele está com o homem que estava com você?
- Tsc.- O rosto da mulher finalmente assumiu uma expressão: raiva. Ela mordeu seus lábios enfurecida e encarou o menino.- Por que diabos eu procuraria seu pai, hein seu menino idiota?- Pedro se assustou com a enorme brutalidade repentina.
- Mas...
- Mas? MAS O QUE? Quer saber onde está meu noivo? Morto. Aquele idiota de coração mole morreu tentando salvar outros.- Os olhos daquela mulher emanavam loucura, tristeza e raiva. Enquanto ela pensava e se lembrava de tudo o que viu, ela começou a rir, soluçar e chorar, colocando mais medo ainda em Pedro que lentamente se afastava. A mulher então se lembrou da presença do garoto e se virou para ele.- Gente como ele só se dá mal, chorões como você só atrapalham, não é à toa que seu pai te deixou.- O comentário atingiu Pedro em cheio, havia ouvido a pior coisa possível.
- O que? Como assim?
- Por qual outro motivo ele não está aqui? Ou está morto ou te abandonou e, honestamente, provavelmente foi o último. Ele deve ter sido inteligente e deixado um pedaço de lixo como você. Por que meu amor não foi um pouco como ele?- Dizia chorando.
- Meu pai... me deixou...?- Uma onda enorme de sentimentos cresceu em seu coração, tudo o que ele se lembrou foi do momento em que disse ao próprio pai que o amor dele não contava, e o menino começou a chorar e gritar.- PAAAAAAAAI.... ME PERDOAAAAA...EU NÃO QUERIA....
- CALA A BOCA MOLEQUE, VOCÊ VAI CHAMAR OS MONSTROS.- A mulher levantou a mão seriamente considerando bater no menino até ele ficar quieto, mas foi impedida. Por uma lembrança de um certo alguém. Um certo, bondoso, alguém.- Eu não tenho tempo para chorões que nem você, se quiser ficar aqui para morrer então fique.- Ela fez como disse, a mulher correu para longe assustada, deixando Pedro sozinho.
Completamente sozinho.
No fim, nenhum monstro veio ao seu encontro, e a vida de Pedro em um mundo destruído começou. Ele cruzou com diversos grupos de pessoas ao longo dos anos, mas sempre tudo terminava em tragédia.
Uma vez ele encontrou dois idosos, após dois dias criaturas os caçaram e Pedro sobreviveu.
Sozinho.
Quando ele tinha 15 encontrou um grupo de quatorze pessoas, em uma semana, Pedro acabou irritando um deles com uma piada sem graça e o que começou com uma briga acabou fazendo o grupo se dividir com nem mesmo um querendo estar junto dele. Novamente Pedro continuou.
Sozinho.
Aos 17 ele encontrou uma dupla de pai e filha, eles riam de suas piadas e eram bem engraçados também, mas por um erro de Pedro, eles foram caçados e devorados vivos, mas Pedro sobreviveu.
Sozinho.
Estes são apenas alguns exemplos, mas por 5 anos, a vida de Pedro foi a mesma, não importava o quão grande, bondosos, pequenos ou malvados eram os grupos e pessoas que Pedro encontrava, no fim todos morriam por sua culpa. No fim todos o abandonavam.
Completamente sozinho, sem motivo para viver ou alguém para se importar com ele. A maldição, que acreditava ter levado sua mãe e seu pai... a maldição, que o impedia de ter pessoas ao seu lado...
Lentamente tentava consumir sua existência. Nunca conseguia por completo, pois o coração de Pedro era grande, ele nunca culparia os outros, ele sempre acreditaria em todos, não importava quantas vezes fosse abandonado ou traído, ele nunca perdeu sua fé nas pessoas. Apenas em si mesmo.
Até que quando Pedro tinha 18 anos, ele havia ouvido por um grupo de pessoas que cruzou que existia um local seguro. Ele então decidiu tomar seu caminho para lá, ver se conseguia achar um local de descanso, um local para morar em paz, no caminho ele começou a conversar com o nada, nessa época seus poderes não haviam despertado e o jovem apenas tinha a mania de falar sozinho.
- O que irei fazer quando chegar lá?- Começava a divagar, sua preocupação não era se o deixariam entrar ou como chegaria lá, seu maior medo era não ter razão nenhuma mesmo estando lá. Seu maior medo era simplesmente estar lá e não influenciar nada ou influenciar para pior. Suas mãos estavam suando e Pedro ficava mexendo nelas imaginando o que iria dizer para eles.- Talvez se eu ficar em silêncio e deixar eles falarem primeiro, eu consiga me adaptar ao assunto, acho que assim dará certo...
- Falando com quem?- Uma jovem garota interrompeu o caminhar do homem, havia surgido do nada como um fantasma, mas era linda.
Ela tinha longos cabelos negros, uma pele caucasiana mais rosada, um pedaço de Wisteria repousava em seu cabelo, e escondia parte de seu rosto com um leque.
Pedro se encantara com a graça que emanava da presença da menina, como se ela fosse a mais bela das princesas.
- Ninguém. Apenas falando sozinho. Sabe como é, já que não tenho companhia alguma.- Ele sabia que estava vermelho, não queria que ela pensasse nele como alguém chato, como alguém idiota e sem graça.
- Você está convidando alguém que acabou de conhecer para te acompanhar?- Esse pensamento NÃO tinha passado pela mente de Pedro. Agora ele estava mais perdido ainda pois não sabia se desfazia o mal entendido ou deixava assim. Mas e se fizesse outro comentário que ela entendesse errado mas desta vez de um jeito ruim? Em resposta a confusão do jovem, a menina apenas afundou em gargalhadas, que pareciam canções no ouvido dele.- Okay, eu aceito.
- Hã? Como assim?- Ela se aproximou dele, pôs a palma de sua mão esquerda sobre o peito dele e sussurrou.
- O que acha, esquisito? Eu permito você me acompanhar.- Ela abaixou um pouco o leque, revelando seu sorriso belo e, de certa forma, mortífero. Pedro nunca havia conhecido uma menina tão bonita e que parecia emanar tanto ácido. Ela se virou e começou a caminhar.- A propósito, meu nome é Margaret, prazer em lhe conhecer.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro