5- México (Pedro)
Pedro avançava pela mata densa em total velocidade. Seu objetivo era simples e complicado, derrotar as virtudes para salvar Emily e poder compensar pelos seus crimes. Compensar por existir. Sua maldição então pararia de machucar e atormentar os outros.
O homem finalmente começou a avistar as grandes muralhas do México. Seu plano seria invadir sem expor ninguém ao perigo, ver se avistava alguma virtude e sairia sem avisar.
Não sabia muito sobre o lugar e o povo, mas não precisava saber, não iria criar uma ligação com ninguém. Ele corria suave e com graça, sua velocidade era estupenda, aquela muralha que a pouco se escondia no horizonte agora se encontrava enorme separando o homem de seu objetivo. Usando as raízes das árvores para escalar e o mimetismo de camaleão para se esconder, Pedro rapidamente passou por cima daqueles muros de uma forma imperceptível, o sacerdote passava pela cidade procurando com calma sinais de vidas.
Conseguiu detectar certo alvoroço em um ponto da cidade, e por isso decidiu ir para o ponto oposto, havia uma grande construção no centro de todo aquele local, parecia um lugar perfeito para um ser mágico estar escondido, mas era exatamente porque aquele lugar parecia ser tão importante que Pedro não foi até ele de primeira, o jovem preferiu descer na cidade e tentar conseguir informações, desativando sua camuflagem em um beco escuro e saindo para caminhar como se fosse um nativo, não havia porque esconder o rosto afinal ninguém ali deveria conhecer ele, sem falar que atrairia mais suspeitas um homem encapuzado caminhando no meio da multidão em plena luz do dia.
Mas a cidade em si era meio suspeita, desenhos de águias brancas em todos os lugares, um alvoroço enorme do outro lado da cidade como se fosse um campo de batalha enquanto aqui estavam em comércio, pessoas caminhando e crianças brincando. Bem... não era um comércio porque não haveria sentido em usar dinheiro na situação atual, era mais uma distribuição de quantidade específica de alimentos por dia.
Curioso para saber mais sobre o local Pedro se aproximou de uma das distribuições de alimentos, haviam filas de pessoas com diversos tipos de potes, barro, porcelana, pratos, alguns levavam até pedaços de panos para coletar comida em pequenas construções parecidas com barracas, um grupo de pessoas, homens e mulheres, com luvas e toucas de cozinheiros, distribuindo porções de carnes e cogumelos. E novamente, haviam vários desenhos de águias brancas dentro do local, ele pensou em perguntar para alguém mas isso só levantaria suspeitas em relação a ele.
- Ela é a nossa protetora!- Uma voz bem jovem falou, Pedro pensou ter ouvido a conversa de alguém passando perto mas quando se virou viu um garotinho, de aproximadamente 10 anos, sentado em um banco, balançando as pernas e lhe observando.
Suas roupas eram diferentes, ele usava um macacão jeans, uma boina enorme, era tão grande que servia como um gorro para ele, a criança era magrela com sardinhas em toda sua bochecha, sua pele era amorenada em um tom pardal, seu cabelo castanho aparecia apenas um pouco por debaixo do chapéu.
- Perdão, você falou comigo garoto?- Perguntou ainda confuso, nem havia ouvido direito para dizer a verdade, foi pego completamente desprevenido, o menino apenas sorriu para ele e continuou.
-A Águia Real Albina é nossa protetora. A Águia Real em si sempre foi o símbolo de nosso país, mas dizem que agora uma versão albina dela apareceu nas ultimas noites, ela salva os injustiçados e concede um desejo a qualquer pessoa boa que a vê.- Enquanto falava o menino juntava as mãos e mexia os dedos como se estivesse bem ansioso.- Prazer em te conhecer, meu nome é Luis.- Foi uma abrupta mudança de assunto, mas Pedro percebeu que pela gagueira e a voz, o menino estava com muita vergonha.- Ah, me perdoe eu fiquei sem saber mais o que falar e acabei mudando o tópico completamente.- O sacerdote não se segurou e teve que soltar uma baixa risada envergonhando um pouco o garoto.
- É um enorme prazer te conhecer Luis, meu nome é Pedro, como sabia que eu estava me perguntando sobre os desenhos, amigão?- Os olhos do menino pareceram se iluminarem por alguma razão.
- Amigão?- O menino então, sorrindo e avermelhado como um pimentão, abaixou sua grande boina escondendo uma bela parte de seu rosto.- É bem óbvio pelas suas roupas, rosto e comportamento que você não é daqui. Eu apenas quis ser gentil e lhe ensinar um pouco de nossa cultura atual.- Aquela criança era muito fofinha, fazia Pedro se perguntar a quanto tempo ele não tinha encontrado com uma criança de verdade, afinal Emily e Lysa estavam longe de serem crianças normais na época em que se conheceram. Pedro colocou suas mãos sobre a cabeça do menino e ajeitou sua boina.
- Muito obrigado pela preocupação parceiro, mas tem certeza que deveria contar essas coisas para um estrangeiro?- O menino que ainda estava vermelho pegou um copo de plástico com água ao seu lado e bebeu um pouco.
- Eu só te contei uma lenda.... e eu não acho que um muro entre nós significa que somos diferentes.
- Uau, isso foi uma resposta muito legal cara.- O comentário elogioso novamente alegrou muito o menino, se enchendo de orgulho.
- Ei moço, você quer ver uma coisa legal?- O menino basicamente saltou em seu banco enquanto observava Pedro de forma alegre. O amis velho realmente estava se divertindo com aquele menino então simplesmente aceitou e observou as próximas ações do garoto, agitadamente o menino fechou o punho da mão direita e segurou com a mão esquerda.- Agora eu vou tirar meu dedão...- Pedro já entendeu, fazia uns anos que não via este truque mas sabia muito bem qual que era, e sabia que Luiz havia feito de maneira errada- Espera, eu acho que agora faz...- O menino tentou tudo de novo mas novamente ele não conseguiu.- Como era mesmo?
- Era algo assim?- Pedro, com facilidade, mexeu seus dedos e criou a ilusão de que havia retirado seu dedão. Luiz completamente impressionado escorregou de seu banco e tombou no chão.
- Você conseguiu fazer moço! Me ensina por favor! - Aquele garoto era realmente muito bobinho, Pedro queria muito ensinar ele o truque, mas não queria colocar a vida do garoto em perigo, então ele teve que inventar uma desculpa para se afastar.
- Talvez uma outra hora, foi mal parceiro mas eu tenho que ir agora, até.- Dava para ver pelo rosto dele que o garoto não estava preparado ou querendo aquela notícia, seu rosto rapidamente se entristeceu. O homem pensou em voltar mas o rosto gelado de Kate imediatamente surgiu em sua mente e ele recuou.
Os olhos do menino pareceram começarem a se molhar, Pedro não sabia como reagir mas para sua sorte um alvoroço se iniciou do lado de fora da barraca, Luis correu curioso criando a oportunidade para ele para sair na multidão, foi enquanto ia embora que o homem ouviu um comentário interessante.
- Eles estavam com dois forasteiros. Era uma mulher com uma mecha ruiva e um homem com um violão.- Pedro se virou na direção da voz, uma mulher com uma mecha ruiva e um homem com um violão? Não pode ser. Espera, pode sim, como havia se esquecido? Eles estavam vindo nesta direção também, eles tem o mesmo objetivo que ele, era óbvio que iriam se encontrar, ele chamou a atenção daquelas pessoas e perguntou:
- Desculpa incomodar mas o que houve aqui?- Os homens estavam em tal pânico e tão distraídos que devem ter presumido que Pedro era um conhecido, pois nem estranharam as coisas que Luis percebeu.
- Aqueles dois cachorros do rei foram o que aconteceu. Não importa como atacamos, não conseguimos encostar um dedo neles.- Para sorte de Pedro ele não precisou se arriscar de fazer outra pergunta pois uma mulher a fez por ele.
- Mas e esses forasteiros?
- Uma mulher com uma espada e um homem com um violão, estavam sendo guiados pelos gêmeos até o prédio central, se não fosse pelo homem acredito que alguns de nós pudessem ter sido mortos.- Pedro estranhara ser Gabriel, e não Helena, a defender as pessoas. Parecia ser uma ação que ele tomaria.
- E o que aconteceu com eles?
- Após arrancar nosso couro os gêmeos guiaram os dois forasteiros para o prédio central, provavelmente eles vão lhes petrificar.
- Petrificar?- Mesmo não sabendo o que aquele comentário significava Pedro não gostou nenhum pouco de ter ouvido aquilo, uma ansiedade horrível tomo conta do jovem que tentava prestar mais atenção na conversa.
- Sério isso? Pobre casal. Aquele Alejandro, não tem um pingo de compaixão e vergonha, transformando seres humanos em estátuas de decoração...- Seu arrepio virou calafrio e mais nem uma palavra foi necessária para Pedro, em instantes o jovem já estava em velocidade máxima rumo ao prédio central, o edifício era enorme, os arredores dele era como uma praça criando um enorme espaço entre ele e o resto da cidade.
As plantas chamariam atenção demais então Pedro usou um mimetismo de falcão para voar em volta do local em uma velocidade estupenda, procurando ver algo por uma das janelas abertas, foi no segundo andar que ele avistou a dupla apertando as mãos de um idoso.
Havia algo errado, algo muito errado, o casal pareceu congelar no momento que encostaram nele, e lentamente partes dos corpos deles começavam a ficar cinza. Estavam virando pedra!
Pedro voou rápido como um jato, quebrando a janela enquanto gritava o nome de Helena, mas pelo tempo que ele entrou, eles já tinham se tornado estátuas completas.
- Outro intrometido? Eu devia ter esperado.- Pedro não sabia o que fazer, por mais que estivesse com raiva daquele homem que nem conhecia, seu sentimento dominante era a preocupação, precisava salvar seus amigos, ou melhor, seus conhecidos o mais rápido que podia.
Antes que pudesse raciocinar o chão abaixo de si se remodelou formando rochas pontudas atacando o homem, com o instinto afiado o sacerdote voou para longe do ataque. Não percebendo os ataques semelhantes que vinham do teto, mas novamente ele conseguiu se mover a tempo desviando impecavelmente das pontas.
- Por que você fez isso com eles?- Gritou o sacerdote furioso encarando Alejandro.
- Eles estavam me incomodando.- A calma na voz dele enquanto dava um motivo tão absurdo só fez com que Pedro ficasse mais furioso, as janelas foram encobertas pelas rochas das paredes do prédio impedindo sua fuga. Mas todos os pensamentos que corriam entre a mente de Pedro foram interrompidos por uma voz cansada e meio aguda...
- Outro problema de invasão Alejandro?- Ambos, Pedro e Alejandro, se viraram em direção a uma porta dos fundos pela qual um homem magrelo entrava, devia ter por volta de seus 30 e poucos, tinha olheiras enormes em seus olhos, sua voz entretanto demonstrava ser mais jovem, pois era uma voz cansada, aguda e fraca.
- Mil perdões rei Max, eu achei que poderia me livrar dos dois facilmente mas não previ a existência de um terceiro.- O homem parou de atacar , assim como Pedro que pousou nos escombros no chão distraído pelo frágil rei.
- Estou vendo bem.- Disse o rei olhando em direção as estatuas do casal e logo em seguida a Pedro.- O que diabos eles querem de nós?
- Pelo o que eu entendi eles querem suprimentos ou algo assim.- Um claro olhar de nojo, desprezo e raiva se formou no rosto de Max.
- Que coisa ridícula, com certeza é aquela mulher nojenta que só me traz problema. Ela deve estar tramando alguma de novo, eu não vou cair nessa! Ei verme!- Gritou em direção a Pedro.- Seja lá o que diabos foi que aquela mulher pediu para vocês fazerem comigo, eu não vou ceder aos caprichos alambicados dela.
- Que?- Pedro não sabia como responder aquilo.- Eu nem sei o que significa Alan-picado homem.- O rei passou os dedos sobre os olhos como se estivesse muito decepcionado.
- Além de conspirador ainda é estúpido como uma mula.
- HEY, mulas são muito inteligentes! Assim como jumentos e burros.- Alejandro e Max só encararam confusos enquanto Pedro os corrigia.
- Ai, cale a boca.- Max estalou seus dedos da mão direita e Pedro, por puro instinto selvagem, saltou para trás, ambas as estátuas de Helena e Gabriel atacaram onde ele estava parado.- Vá embora invasor, ou terá que mexer com meus bonecos.
A estátua de Helena ria enquanto dizia:
- Isso, vai embora fracassado, eu não suporto mais você e suas brincadeiras chatas.- Já a estátua de Gabriel suspirava em desanimo.
- Vamos, caia fora, ser patético.
Pedro não sabia se aquelas falas simbolizavam o coração do rei, do conselheiro ou dos próprios petrificados, mas elas machucavam ele demais. Reconhecia que sempre foi alguém chato, sabia que era idiota demais, não tinha autoconfiança o bastante para negar isso, mas ter isso esfregado em sua própria cara machucava.
Seu sentimentalismo excessivo o estava fazendo fraquejar e ele não tinha ideia do quão resistentes eram aquelas estátuas, dependendo da força de seu ataque poderia muito bem os estilhaçar, foi por estes medos que Pedro decidiu que a melhor ação no momento era fugir.
Ele se virou e correu contra a parede, usando o mimetismo de touro para abrir um buraco na parede e fugir dali com o voo de falcão. Alejandro e Max apenas encaravam enquanto viam Pedro desaparecer:
- Fugindo como o rato que ele é.- Disse o conselheiro reconstruindo o buraco na parede.- Eu agradeço pela ajuda rei Max.
- Não se comporte como se você fosse amigo meu, você trabalha para ela que eu sei, todo mundo trabalha para ela.
Pedro voava pelo ar triste a arrependido. Pensava no que poderia fazer para ajudar Helena, com sua força atual ele poderia levar aquele prédio inteiro as cinzas, mas estava muito preocupado em como afetaria as pessoas petrificadas, sem falar que preferia não matar.
Era tão mais fácil desistir, Helena deveria o odiar, ela nunca deve ter considerado ele legal para inicio de conversa e ele nem conhecia Gabriel para arriscar tanto. Não era inteligente, por isso sua cabeça doía ao tentar pensar em uma solução. Tudo isso por conta das pessoas? Elas são tão horríveis quanto os animais.
Como deveria saber quando alguém realmente gosta de você ou só finge por educação? Como deveria conviver se a convivência não passa de um monte de armadilhas, miras e fofocas? Ele sempre odiou ficar sozinho, mas parece que começou a se acostumar com a ideia pois conviver era tão complicado.
Um vulto branco passou diante dos olhos de Pedro, interrompendo seus pensamentos, o homem olhou novamente tentando compreender o que foi aquilo: uma águia real albina se encontrava em puro voo seguindo para fora da cidade. O homem se lembrou das palavras de Luis sobre como aquela ave atendia desejos de coração puro, talvez ela pudesse ajuda-lo. Poderia pedir para que salvasse Helena ou Emily. Poderia pedir que impedisse Lily, ou até mesmo pedir que acabasse com sua maldição.
Ela poderia fazer ele sumir. Assim ninguém se machucaria com sua presença e ele não precisaria mais se preocupar se alguém realmente gosta dele ou não.
Seria bem mais fácil se ela pudesse simplesmente resolver as coisas.
De forma cuidadosa Pedro seguiu o rastro da ave, iria esperar até ela pousar em algum local para falar com ela, o voo teve por volta de uns 12 minutos, o destino da ave era um enorme prédio feito de madeira no meio da floresta. A ave adentrou por uma das janelas de um dos andares superiores e Pedro a seguiu. Lá dentro era escuro, a madeira não parecia ser podre mas bem nova.
Ele deu 2 passos e imediatamente sentiu algo se enrolando em suas duas pernas e o fazendo perder o equilíbrio. Das sombras, surgiu um homem com feições duras, carregando um chicote que havia usado para derrubar Pedro:
- O que faz aqui?- Ouviu o homem dizer com uma rigorosa voz, Pedro pensou em responder, mas outra voz, desta vez feminina, falou:
- Você me seguiu não foi?- A Águia desceu da escuridão do teto até a borda da janela.- Quem é você?
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