1- O Coração de uma Covarde.
Helena havia acordado mais cedo do que o costume, o grupo havia concordado em dormirem primeiro antes de sair no meio da noite. Outro pesadelo havia vindo lhe atormentar, não sabia se estava ansiosa, preocupada ou simplesmente assustada. Talvez um pouco dos três, mas o estranho seria se não estivesse sentindo nenhuma dessas coisas, certo?
Enquanto despertava e pensava, Helena acabou olhando lá fora, algo se moveu lá embaixo. Curiosa, ela correu para investigar a tempo de ver Pedro caminhando silenciosamente em direção a floresta.
- Indo tão cedo?- Perguntou Helena de forma brusca e seca assustando o homem. Nem sabia dizer o por que estava irritada, já deveria esperar isso dele assustando o homem.
- É que... bem... me desculpa... é muito difícil de explicar- Desajeitado como sempre, novidade, o homem procurava a maneira certa de não piorar as coisas, falhando em ver o que Helena precisava.
- Então não precisa. Não seria a primeira vez que você sai sem nenhuma explicação.
- Eu...- As palavras sumiram de sua boca antes que saíssem, queria poder lembrar ela sobre como ele estar ali era perigoso por conta de sua maldição, mas simplesmente não conseguia.
- Viu? Você é um covarde incompetente que não tem culhões para ficar do lado de ninguém.
- Você não está sendo justa.- Dentre tantas coisas que podia ter tido a coragem de falar, por que justo as erradas saem?
- Não! Você nem ouse me transformar na vilã aqui!- Ela então se lembrou que estava tentando não ser impulsiva, lembra Helena? Seu objetivo é ser controlada, você pode odiar o Pedro, mas certamente não quer o matar. Ela respirou fundo, fechou as portas de seus sentimentos o máximo que podia, sentindo as pontadas do seu coração se acumularem.- Pois, se lembre, foi você que me deixou quando eu mais precisava sem me dar uma única explicação decente. Meu tio estava sendo enterrado em minha frente, eu me lembrei de você e eu voltei para te buscar, mas você já tinha ido, você não conseguiu esperar um pouco e me deixou sozinha, assim como os outros dois, vocês três não passam de covardes. Então não venha me dizer o que é justo ou eu acabo com você.- Ficou um silêncio constrangedor, em que ela olhava para ele com fúria e algum sentimento misterioso. Ele não conseguia continuar olhando para os olhos dela, até que ela segurou suas mãos.- Eu te odiei, e por mais que eu tenha tentado lhe perdoar como meu tio me ensinou, há uma parte em mim que nunca irá. Se você ficar eu vou te odiar mas eu tentarei lhe perdoar. Se você for, eu não sei se conseguirei olhar pra tua cara de novo.
- Mas...
- Não tem "mas", Pedro. Se agarre a esta última chance, ou vai ser tarde demais. Seja lá o quê você pensa quê tem, eu posso te ajudar a superar isso, assim como eu peço que você me ajude a superar a minha.- Tão falho, a fraqueza na voz dela, o modo como segurava suas mãos, ela falava com puro pânico. Pedro queria tanto ajudar ela, mas era exatamente por isso que...
- Desculpa. Eu não posso arriscar, porque enquanto eu estiver aqui, vocês nunca serão felizes.- Assim Pedro largou a mão dela e adentrou na floresta. Deixando uma mulher desemparada e abatida, quase a desmoronar, completamente sozinha.
A vontade de chorar veio, assim como a decepção, e tantos outros sentimentos nada bons. Helena sentia uma dor tão grande em seu peito que nenhuma palavra poderia descrever, a mulher que antes foi conhecida como guerreira agora não é nada mais do que uma covarde. Hipócrita. Chamou tantas pessoas disso, mas ela era pior, pois tinha medo de sentir e chorar, estava apavorada com seu próprio coração. Uma covarde que tinha medo de ir atrás dele, uma covarde que, para seu azar, tinha medo daquilo que sempre estará com ela: sentimentos.
Horas se passaram, e enquanto ela tentava prender tudo aquilo que queria sair, ela esperava quase adormecida no sofá da sala. Até estranhar a demora dos outros e subir as escadas, Lysa não estava em seu quarto, mas Gabriel se encontrava roncando, nocauteado, na cama. Ela chamou e nada. Então, para andar logo com tudo isso, ela segurou o nariz dele, tampando sua respiração e o fazendo levantar imediatamente em desespero.
- O que você está fazendo?- Disse o quase asfixiado caindo da cama ainda confuso.
- Aquela idiota da Lysa não esta no quarto, ela deve ter ido sozinha.
- O quê? Por quê?
- Ela nos vê como estorvos e acha que vamos ficar no caminho dela. Você já arrumou sua mochila correto? Pois bem, vamos.
- Que mochila?- Disse Gabriel pegando seu violão.
- Você só vai levar isso?
- Eu não sei em que mundo você vive mas nós não temos tantas coisas assim para levar.
- Eu estou estressada demais para brigar então faça o que quiser.- Suspirou saindo do quarto. Ela desceu as escadas rapidamente e acabou por sentir uma tontura. Ela acabou cambaleando um pouco para frente mas seu mal estar não tardou a passar. Devia ter descido rápido demais, sem falar que não havia comido ainda, que outra razão teria para isso?
Uma hora depois Helena e Gabriel já estavam a caminho de onde Pedro havia afirmado ter visto Stuart, a mulher levava consigo uma espada normal e velha que havia encontrado, não podia pedir muito, afinal jogara fora o último presente que seu tio lhe dera.
Caminhavam com calma. Gabriel não sabia lutar, então se fossem atacados por qualquer tipo de monstro seria Helena quem teria que lutar sozinha, tudo dependia dela agora. O que estava fazendo? Era perigoso demais, Helena no que você está pensando? A tontura voltou, no meio do caminho suas pernas fraquejaram e a mulher sentiu o sangue fugir de seu rosto, seu coração parecia ser espremido sem dó.
- Helena você está bem?- Gabriel perguntou e, bem devagar, a dor parou.
- Estou! Eu fiquei tonta hoje de manhã, mas deve ser apenas porque não comi ou algo assim.
- Tem certeza?- A mulher virou um olhar para ele, durou segundos, mas ele percebeu a raiva dela. Mantendo o autocontrole, enquanto estava meio pálida, ela respondeu afirmativamente e os dois, então, seguiram caminho.
Foi uma caminhada até que quieta, exceto pela parte em que Gabriel falava, o que era bem mais frequente do que eu gostaria de dizer:
- Por que a Lysa nos vê como fardos?- Perguntou o estúpido com a pergunta mais estúpida dentre todas as perguntas estúpidas que alguém poderia fazer, sério Gabriel? Existe um neurônio funcionando aí? Ela apenas lhe lançou um olhar como se esclarecesse o como é óbvio o motivo dele ser um fardo, então ele se corrigiu.- Por quê ela vê você como um fardo? Pelo o que eu soube você já derrotou oponentes muito fortes e...
- Você sabe que eu não luto mais, eu tenho medo do que pode acontecer se eu o fizer. Agora podemos seguir quietos? Não queremos ser pegos por nada inconveniente.
Haha boa sorte Helena, pedir para esse cara ficar quieto? Não vai funcionar, a matraca dele não fecha.
- O Pedro foi atrás dela na frente?- Helena sentiu vontade de parar de caminhar, chorar de ódio e gritar enquanto esmurrava a cara daquele burro. Mas continuou caminhando, sem lágrimas e sem berros, sem responder a pergunta. Gabriel entendeu o recado e não disse mais nada sobre o assunto, confesso que com uma ajuda minha, eu também não aguento mais ouvir ele falando.
Quando o céu escureceu, um vento muito forte dominou, Helena e Gabriel precisavam dormir, e se manter seguros na calada da noite. Mas as criaturas não dormiam, então não podiam abaixar a guarda.
- Vamos dormir por aqui.- Indicou Helena enquanto se encostava a uma árvore velha, estavam cercados por uma densa mata, iria se tornar mais difícil de alguém os avistar e pegar desprevenidos.- Você quer começar a tocai...
- SOCORROOO!- Helena foi interrompida por um grito de uma criança. Os dois viraram assustados mas o berro ecoava.
- Por aqui Helena.- Gabriel foi ágil, mesmo sendo um simples violeiro, não pensou duas vezes e seguiu o som. Helena tentou o impedir mas era tarde e se viu obrigada a o seguir, sua mão tremeu ao desembainhar a espada, se bem que todo o seu corpo tremia. Helena sabia lutar mais que Gabriel, deveria ter sido ela a primeira a correr na frente mas simplesmente não conseguia. Como queria saber controlar Criara. Agora pessoas podem morrer por sua idiotice. Por sua fraqueza. Por sua incompetência. Pessoas irão morrer e a culpa é dela, a culpa sempre será dela, pois ela trouxe a morte, pois ela vive com a morte dentro de si. Sempre ela vai machucar os outros. Pedro pode ter uma maldição, mas Helena é a maldição.
- Para de gritar Saulo!- Uma voz de homem ecoou. A dupla estava próxima, entretanto ainda não conseguiam ver ninguém.- Samantha, pegue o Saulo e se afaste!
- Papai!
- Miguel!- Finalmente Helena e Gabriel alcançaram os gritos, três pessoas estavam cercadas por monstros semelhante a lobos, mas feitos de sombras e um rosnado doentio. Uma mulher ajoelhada no chão segurava o garoto em seus braços sem ter para onde correr, o homem lutava contra um lobo que mordia seu braço e planejava puxar até arrancar.
- Temos que ir.- Gabriel disparou, mas o reflexo de Helena foi segurar o amigo e o jogar no chão.- O que está fazendo Helena? Eles vão morrer.- Helena sabia disso, sabia que o certo era os proteger, mas seu medo era muito forte, e estava sobre passando sua bondade, se os ajudassem, os monstros iriam os avistar e ela teria que lutar. Havia por volta de uns três lobos os cercando, mas foi a criança que avistou os dois primeiro.
- Por favor, ajudem meu pai!- As palavras sofridas do garoto viraram culpa, e a culpa machucou Helena mais forte do que qualquer golpe poderia. As três criaturas avistaram o violeiro e a covarde, partindo ao ataque. Rápidos e sombrios, na escuridão da noite eles não passavam de vultos sedentos por uma caça.
Eles vieram correndo em direção a Helena. Ela travou, sua mente deu um branco e, o simples ato de movimentar uma espada, pareceu ser algo que a mulher nunca aprendeu. E se acabasse matando a pobre família junto apenas por quê se soltou demais? Não iria conseguir viver com aquilo. Não podia ter mais sangue nas mãos, e ainda mais sangue de uma criança.
Quando o primeiro lobo pulou sobre ela, ela não se moveu nem um milímetro. Gabriel teve que defende-la batendo o violão na cabeça do bicho em pleno ar fazendo os outros dois monstros pararem por surpresa.
- É o seguinte Helena, você obviamente perdeu seu jeito para lutar. Então por hora, me deixe distrair essas coisas. Se for só três eu consigo, pegue a família e corra!- Gritou o homem, enquanto balançava freneticamente seu violão de um lado ao outro, para assustar os monstros que rosnavam de puro ódio e fome.
Disparando com toda a velocidade, Helena colocou sua arma de volta na bainha e chegou até a família. A mãe e o filho estavam tentando levar o pai machucado em seus ombros para longe das criaturas. Um arbusto se moveu no meio da floresta, e de lá, outros dois lobos vieram em sua direção. Desta vez Helena não congelou e prosseguiu correndo, estava fazendo de tudo para manter a mente ocupada e não ter a chance de pensar em Criara.
Ela conseguiu por um tempo mas quando se aproximou dos monstros e se preparou para atacar, o medo lhe dominou mais uma vez e, ao invés de atacar, a mulher pegou o menino no colo e correu para a floresta enquanto os monstros atacavam os pais do garoto.
Helena passou mal ouvindo o berro que a criança soltava enquanto presenciava a morte dos outros dois. Pontadas enormes de dor atingiam seu coração enquanto ela sentia que a qualquer momento iria vomitar, os dois lobos a perseguiam, eles eram mais rápidos que ela então não tiveram dificuldade em a passar e impedir sua fuga. O menino chorava tanto que sua voz começara a ficar rouca de tanto choro, o som que saia de sua boca agora não era mais do que um ganido de puro terror e medo. Helena não podia correr e não queria escrever.
- Se acalma, se acalma. Nós vamos conseguir sair daqui. - Sussurrava promessas vazias ao ouvido da criança, se era verdade, se era realmente para o garoto ou para si mesma, não irei lhe dizer.
- Você vai me deixar morrer também?!- Gritou a criança com uma voz rouca e sofrida.- Você é um monstro, uma assassina!
Como essas palavras atormentavam Helena, lhe relembravam de tudo o que havia feito. A mulher só queria implorar para a criança parar, ela queria chorar, gritar e berrar por ajuda. Mas guardou tudo em seu coração e tentou se acalmar. Afinal, não podia arriscar.
- Me solta!- Dizia o menino tentando sair do colo dela- Me larga sua assassina!- Apenas cale a boca.- Assassina!- Apenas cale a boca.- Assassina!- Por favor, cale essa sua boca.
Um barulho interrompeu os gritos, era o som de algo rasgando e líquido transbordando. Uma dor repentina se iniciou na barriga de Helena, ela sentiu algo escorrer pelo seu quadril até suas pernas, a criança havia acabado de atravessar sua barriga com seu braço.
- Eu disse que era para ter me soltado.- Comentou a criança pondo um sorriso medonho em seu rosto. Helena o jogou para longe, uma péssima decisão devo dizer, pois a mão do garoto ainda estava em sua barriga, e doeu quando toda a carne e tecido do ferimento foram rasgadas mais ainda pela saída repentina do membro. A covarde caiu no chão vomitando.
O menino começou a crescer, se tornando marrom, enquanto escamas surgiam em seu corpo. Aquilo que era uma criança rouca, agora se revelou outro monstro.
- Vocês sempre caem feito patos nesse jogo.- Gargalhou a criatura enquanto encarava Helena com desprezo.- Eu achei que vocês lutariam para salvar a pobre família indefesa, mas não, no fim vocês deixaram minhas irmãs serem mortas.
- Elas realmente morreram?- Perguntava Helena tentando se por em pé, mas suas pernas não queriam obedecer.
- Mas é claro. Se você pretende enganar alguém querida, tem que atuar pra caramba. Mas devo dizer que foi uma experiência incrível.- Os lobos lentamente se aproximavam, rosnando e grunhindo. O que fazer? Se não lutasse morreria ali e agora, mas se lutasse poderia machucar Gabriel.
Espera, Gabriel estava bem? Onde estava ele? Se Lysa estivesse ali poderia os ajudar, mas ela os abandonou, não que estivesse errada, aparentemente as pessoas só ficariam seguras se abandonassem Helena. Aquela desculpinha esfarrapada e nojenta de maldição era só para ficar longe dela. Ela era um peso, chata e miserável, agora essa fraca ainda tinha que salvar, não apenas Emily, mas o mundo também? Grande salvadora era essa, incapaz de lutar sangrando no chão. Não conseguia mais respirar, o ar parou de passar pela sua garganta enquanto os animais se aproximavam, não importa o quanto puxasse, oxigênio não vinha.
O que estava acontecendo? O ataque deve ter ferido seu pulmão. O que fazer? Cadê todo mundo? PEDRO? GABRIEL? LYSA? EMILY? Estava sozinha e desabando para a desgraça, não tinha forças, só poderia ser salva por um milagre, a mulher deitou no chão em pânico por falta de oxigênio. Mas uma parte de si se entregava e aceitava o fim. Uma parte de si queria o fim.
Os dois monstros atacaram, e uma forte luz surgiu, desfazendo todos os monstros no terreno. Helena conhecia esse poder, mas a falta de oxigênio de pouco em pouco a fez desmaiar, observando enquanto uma formosa garota loira se aproximava.
Algumas horas depois...
Helena acordou em uma cama macia. Tão confortável. Não sonhou com nada, mas acho que foi isso que a fez se sentir tão bem. Então ela se lembrou de que não havia dormido em uma cama, mas desmaiado por falta de oxigênio no meio da floresta. Sua espada estava ao seu lado e seu ferimento havia sido tratado, então quem quer que seja que a tivesse pego não planejava fazer mau algum, até que a porta do quarto abriu e Gabriel entrou com muita calma:
- Helena, você está acordada.- Disse o violeiro sorrindo com todo o carinho que continha. Helena queria pular da cama e o abraçar. Chorar em gratidão por ele estar vivo. Mas não o fez.- Gabriel? Como você esta vivo?
- Lysa nos salvou, mas não me pareceu que ela estava muito feliz em fazer isso não.
- Claro que não. Se ela não fosse uma boa pessoa teria nos deixado morrer por nos ver como imprestáveis. Onde estamos?
- Na casa do Stuart.
- Vocês acharam ele?
- Não, ele achou Lysa e no meio do caminho os dois nos salvaram. Ele é bem forte Helena, cuidou daqueles três lobos como se não fossem nada.
- Eles estão aqui agora?
- Sim, estão na cozinha conversando.- Ouvindo isso ela se levantou e se direcionou a porta, mas antes de sua mão tocar a maçaneta. Uma pergunta lhe parou.- Você está bem Helena?
- Por que você me perguntou isso?- Disse a mulher se virando para ele, não sabia dizer o que era, mas havia algo naquela pergunta que lhe perturbava, ela estava bem. Estava calma.
- Eu apenas senti de perguntar.- Não havia malícia ou maldade em sua voz, era uma pergunta genuína, mas por quê essa pergunta incomodou tanto Helena?
- Sim, eu estou bem...- Gabriel permaneceu lhe olhando, com o semblante mais sério que ela já vira ele ter. Esse é o mesmo extra de sempre?
- Você tem certeza?
- Sim...- Ela achava, mas o semblante sério de Gabriel estava lhe incomodando. Ela estava bem.
Que sensação estranha, que dor no peito. Tudo a sua volta pareceu ficar desfocado, o mundo parou de importar por um momento, até mesmo os sons haviam ido embora. Se lembrou da época em que Pedro e Lysa se importavam com ela, uma época em que Emily, Clark e seu tio estavam bem e saudáveis. Mas aquilo não existia mais, pois ela destruiu tudo, ela perdeu tudo, ela errou em tudo. Pois ela é um monstro, ela deveria ter morrido também, e agora ela tudo está tão estranho, seu peito está doendo tanto, ela está ficando gelada, parando de sentir sua própria pele. O mundo não importa, si mesma não importa, pois aquilo que deveria importar ela já destruiu.
A respiração parou de sair novamente, ouvia um zunindo se iniciando em seus ouvidos, enquanto todo o resto parecia ficar abafado, seu coração estava acelerando e doía a cada batia como se agulhas o perfurassem. Suas pernas fraquejaram e ela caiu no chão, puxando o colarinho de sua roupa por ar. Não conseguia respirar, não conseguia focar em nada, tudo estava parando e ela estava se sufocando. Por que é burra e uma assassina.
-Eu sabia.- Disse Gabriel correndo até a mulher preocupado.- Helena olhe nos meus olhos. Helena!
- Eu estou morrendo, Gabriel eu não vou...
- Não, Helena, você não está morrendo, você está tendo um ataque de pânico. Helena, respira, você tem que se acalmar, tente por seu foco em alguma coisa e vai dar tudo certo. Rápido, me diga 5 coisas que você pode ver.
- Você...a espada...
- Isso, assim mesmo.- Reconfortava Lucas, ele tinha que de pouco em pouco ir acalmando o subconsciente dela. Colocar o foco dela me outra coisa. Mostrar que, apesar de tudo, ainda existe um mundo a sua volta. Apesar de tudo, ela ainda existe. Estava tudo bem, mostrar para ela que existe mais do que apenas seus problemas.
- A cama....- Por um breve momento ela perdeu a voz e Gabriel segurou sua mão, continuando a falar com calma.- ...a porta e o violão.
- Muito bem mulher, agora me fale 4 coisas que você consegue sentir em sua pele.- Segurando sua mão, ele falava com calma e paciente para que não a agitasse demais. Helena começou a procurar as coisas a sua volta, sentir a textura, se permitir parar de pensar e focar apenas em seus dedos. Seu coração parou de doer.
- O chão... a parede...- Sua voz voltava aos poucos.- Minhas roupas e sua mão.
- Perfeito, isso mesmo.- Agora era seu peito que parava de doer, mas ela ainda não conseguia respirar bem.- Agora três coisas que você pode ouvir. Pode ser qualquer coisa.- Ela tentou se concentrar no barulho ao seu redor. Lucas pegou o violão e começou a tocar uma melodia calma- Se concentre na musica e procure os sons.
Helena parou de pensar e se permitiu ouvir com calma, através da melodia, aquilo que podia, sentindo cada vibração sonora. Verdadeiramente ouvindo.
- Sua voz, minha respiração e o vento?- Realmente ventava muito lá fora, a mulher começou a demonstrar indícios de que o pânico estava querendo voltar, mas Gabriel, atento, percebeu e não deixou ela pensar em o que quer que fosse que a incomodava.
- Isso mesmo Helena.- Falou rápido, baixo e calmo, atrapalhando os pensamentos dela.- Agora me diga dois cheiros, por favor- Ela respirou fundo procurando sentir algum aroma, o que lhe ajudou a respirar com calma, sua tremedeira já estava parando também.
- Madeira e... seu hálito?- Ambos riram com o comentário.
- Isso foi maldade, eu procuro umas plantas para escovar melhor depois. Agora por último: me fale um gosto em sua boca. O primeiro que vier.- Ela mexeu a língua procurando qualquer coisa.
- Maçãs. Eu amo maçãs.
- Isso mesmo. Sente melhor agora?- Lacrimejando, ela balançou a cabeça confirmando positivamente.- Helena, eu sei que tem muita coisa acontecendo em sua vida, mas me escute, não esconda e guarde o que está em seu coração?! Você só vai carregar um fardo maior do que deve. Você só vai sobrecarregar e acabar tendo um ataque cardíaco. Se você quiser chorar, chore. Se você quiser gritar, grite. Se quiser rir, ria. Mas não se sobrecarregue.
- Mas...
- Nada de "mas", Helena. Você se importa com os outros? Eu entendi isso, mas se importar com os outros toda santa hora não é bondade, é idiotice. Uma idiotice que pode afetar sua saúde. Você nunca fez nada para a Lysa ou para o Pedro, certo? Sua consciência está limpa, então se eles te deixaram, a culpa e responsabilidade é completamente deles você não tem nada haver com isso. Pare de se auto sobrecarregar com coisas fúteis ou você vai morrer.
Por um tempo ela o encarou confusa, mas grata. Então ela se jogou sobre ele chorando. Que alívio era poder se soltar.
- Gabriel, me ajuda! Eu não o que fazer. Eu sinto que eu vou morrer a qualquer momento, são tantas coisas para me preocupar!
- Você está errada Helena, você não tem que se preocupar com tudo isso que acha que tem. Apenas pare um pouco e respire.
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