Quando eu era uma das internas desse hospital, podia-se encontrar crianças andando por aqui o dia inteiro. Eu não tinha entendido aonde essas crianças tinham ido, mas isso estava me cheirando muito mal. Segurei na mão do Tonho com mais força do que o necessário, mas ele pareceu não ter notado.

– Ela entrou em contato comigo novamente – disse a Malu, com um tom de apavoro na voz.

– Ignora ela e vamos seguir – respondeu o Zeca, puxando-a pela mão.

– Não dá, Zeca. Ela está exigindo a minha presença – tornou, parecendo mais assustada a cada instante. – É sério.

O Zeca parecia não ter notado o que eu notei. Ela estava com muito medo. Essa mulher tinha falado alguma coisa que a amedrontou de verdade. Ela ficou imóvel no meio do corredor, enquanto lágrimas surgiam nos seus olhos.

– Ela está te ameaçando, né? – indaguei, aproximando-me dela. – É por isso que você está desse jeito.

Ela concordou com um aceno e senti o Tonho ficar tenso ao meu lado. A coisa estava ficando bem séria.

– Ela disse que se eu não for atrás dela agora, vai começar com as crianças – disse, com a voz embargada. – Eu não sei o que ela vai começar, mas nem quero pensar nisso.

– E o que a gente está esperando? – Foi a vez do Tonho se pronunciar. – Vamos logo atrás dessa mulher. Duvido que ela consiga dar conta de nós quatro juntos.

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Beijão