Preparativos Para o Baile
O sol finalmente começa a se pôr e, em uma pequena torre, nos confins da cidade de Antary, capital do Reino de Crymell, Akkarin está se arrumando, contra a sua vontade, para o seu compromisso desta noite, que, aliás, ele não está nem um pouco animado.
Akkarin é órfão, não sabe quem são seus pais, se estão vivos ou mortos, e, a verdade, é que, pouco se importa com isso. Até onde se lembra, vivia nas ruas, sujo, maltrapilho, até encontrar o mestre Damon, que o adotou e o tornou seu discípulo.
Não se lembra dos detalhes deste encontro, e, nem faz muita questão, mas aceitou se tornar um plebeu de mago em troca de casa e comida. Para uma criança de rua, esta era, sem a menor sombra de dúvidas, uma oportunidade mais do que única.
Mas, os anos se passaram e ele percebeu que não leva o menor jeito para a magia e, por mais que tente dizer isto ao seu mestre, ele simplesmente não acredita, ou finge não acreditar para mantê-lo por perto. Vai saber, ele nunca entendeu muito bem o que se passa na cabeça do Grande Mago Damon.
Deixando estes pensamentos de lado, olha-se no espelho e, se surpreende consigo mesmo, pois nunca, em toa a sua vida, havia usado vestes tão bonitas e tão finas. E, considerando que irá pela primeira vez ao palácio, estar ao lado de nobres e da realeza, entende porque o mestre o obrigou a vestir isso, afinal, não é bom que o discípulo de alguém importante vá vestido com as vestes de treino.
E, apesar de tudo, ele gostou de suas roupas, camisa verde, caças e botas de cano alto pretas. Simples e, ao mesmo tempo, chique e, para um plebeu de mago, ele acha que está bem vestido até demais.
Escuta algumas batidas na porta de seu pequeno quarto e, rapidamente, sai da frente do espelho, para que possa ir atender, pois sabe que é seu mestre o chamando e, possivelmente, para lhe dizer que já está atrasado.
― Já está pronto? – pergunta Damon, assim que Akkarin abre a porta.
― Sim. – responde Akkarin, com a cara enfezada.
― Ótimo, porque já está na hora de partirmos.
― Mestre, tem certeza de que a minha presença é mesmo necessária?
― O que quer dizer com isso, rapaz?
― Ora, mestre, olhe só para mim, não sou nobre. Não combino nem um pouco com estes ambientes.
― Responda-me com sinceridade, Akkarin, como você pode ter tanta certeza de que não combina com um lugar como este, se você nunca esteve nele. Pense com cuidado e, quando retornarmos, você irá me responder esta pergunta.
Para Akkarin, o palácio é muito maior do que ele sequer imaginara. As torres que, boa parte de sua vida vira apenas de longe, parecem infinitamente grandes para ele, e, o salão de festas, todo decorado de azul, branco e prata, é grande demais.
O jovem aspirante a mago olha para tudo com grande admiração e, com o movimento de pessoas, acaba sentindo-se meio deslocado, pois nunca antes esteve no meio de tantos nobres.
E, a sua vontade é de sair correndo deste lugar, voltar para a sua casa e para seus estudos, mesmo que eles sejam inúteis, mas, qualquer coisa é melhor do que estar neste lugar. Qualquer coisa é melhor do que se sentir o menor dos peixes em um mar de tubarões, e é assim que, infelizmente, ele está se sentindo neste momento.
Está tão distraído em seus pensamentos que, não nota seu mestre o cutucando.
― Akkarin. – a voz de Damon se faz ouvir – Preste atenção, eles estão vindo.
Ao escutar as palavras de seu mestre, a atenção de Akkarin se volta para as grandes portas duplas do salão que se abrem e, por elas, começam a entrar o Rei Jonathan, acompanhado de seus dois filhos.
O Rei Jonathan Scorron é um homem com seus cinquenta anos de idade, cabelos negros e curtos, e, olhos de um verde intenso. Ao seu lado direito, está seu filho primogênito, o príncipe Alexander Scorron, vinte e dois anos de idade. O príncipe Alexander puxou a aparência do pai e, tem os mesmos cabelos negros e olhos verdes. Já a princesa Karoline Scorron, completando o seu décimo oitavo aniversário, tem os cabelos de sua falecida mãe, a Rainha Isabelle Scorron, que morrera precocemente, quinze anos atrás, a princesa, Akkarin não pode deixar de notar, é simplesmente a donzela mais bela que ele já vira na vida, com longos cabelos lisos e loiros, e olhos verdes, como os do pai e do irmão. E, sem que se dê conta, Akkarin se vê completamente hipnotizado pela beleza da jovem princesa.
A Família Real Scorron atravessa o grande salão de festas e, chegam ao fundo do mesmo, onde há um pequeno tablado, seguido de dez pequenos degraus e, em seu centro, um trono. E, assim que o rei se senta, seus filhos colocando-se ao seu lado, todos os presentes dobram os seus joelhos, em sinal de reverência.
O Rei então se levanta e, começa a discursar, mas, Akkarin não consegue prestar atenção em uma única palavra do homem, pois, por mais que não queira, sente-se totalmente deslumbrando com todo o ambiente, e, mesmo que tenha vindo contra a sua vontade, começa a pensar que, talvez, não tenha sido uma ideia tão ruim o seu mestre ter lhe obrigado a vir a este baile, afinal de contas, ele só não pode confessar isso a Damon, pois odeia a expressão do mestre toda vez que é obrigado a dar o braço a torcer.
E, enquanto Akkarin deixa-se deslumbrar por todo o luxo do palácio, a expressão de Damon é preocupada, diferente das expressões de felicidade dos demais convidados. O Mago simplesmente não sabe o que é, mas, está com um terrível mau pressentimento, como se alguma coisa, dentro de toda esta festa, não estivesse se encaixando.
― Escute, Akkarin. – Damon murmura para o seu discípulo.
― O que é, mestre?
― Eu quero que você fique de olho.
― Tenho que ficar de olho em que?
― Eu ainda não sei, mas, mesmo assim, é melhor que você esteja preparado, Akkarin.
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