Capítulo 4: Revelações E Suspeitas
Angie
— Ai, que dor... — falei, enquanto segurava a cabeça. O peso do mundo parecia concentrado ali, pulsando intensamente.
Maite exclamou aliviada:
— Ela acordou, gente!
Olhei para ela, tentando focar sua expressão, mas meus pensamentos estavam enevoados.
— Como você tá, querida?
— Eu... eu tô... — Minha resposta foi cortada quando comecei a observar ao redor, buscando entender onde estava e quem mais estava ali. — Estou bem. — Tentei forçar um sorriso, mesmo com a cabeça ainda latejando.
Uma mulher que estava perto, alguém cujo nome eu não sabia e, honestamente, não queria saber, aproximou-se com uma expressão preocupada.
— Você está bem mesmo? Se não estiver, podemos levá-la ao médico. Não seria problema algum.
— Sim, estou bem. — Respondi rapidamente, querendo encerrar o assunto. — Mas quero ficar sozinha com as meninas... só com elas.
Ela hesitou por um momento, mas acabou concordando com um aceno. Quando todos saíram do quarto, suspirei de alívio.
O silêncio veio, mas minha mente não parava.
Ana foi a primeira a quebrá-lo.
— Angie, eles já saíram. O que houve? Não gosta deles? — perguntou, com um olhar diferente, quase desafiador.
— Não, não gosto deles — respondi firme. — E vocês também não deveriam gostar. Tem algo errado... eu sinto.
May franziu a testa.
— Por que você não gosta deles, Angie? Eles têm sido bons conosco... Eles são nossos pais!
— Não, não são! — exclamei, tentando conter a irritação. — Vocês podem sentir isso, mas eu não sinto nada... absolutamente nada.
O ar ficou pesado, mas eu precisava contar o que estava dentro de mim.
— Meninas, preciso contar o que aconteceu comigo antes de desmaiar... Não sei se foi um sonho ou... uma lembrança, mas eu preciso compartilhar com vocês.
Ana se aproximou, sempre a mais preocupada.
— Não me assusta, Angie. O que foi?
— Fala logo! — disse May, curiosa como sempre.
Respirei fundo e tentei organizar os pensamentos antes de começar.
— Quando ouvi aquela voz na sala... algo dentro de mim congelou. Foi como se eu já tivesse conhecido aquela pessoa há muito tempo. Quando ele me olhou, senti calafrios, mas também uma sensação estranha, como se estivéssemos conectados... como se eu o conhecesse há séculos.
As duas me encararam, confusas, sem palavras.
— Numa aldeia... — completei, quase sussurrando. — Mas talvez seja só um sonho... talvez...
Ana e May me encararam como se esperassem mais explicações.
— Angie, como isso é possível? — perguntaram em uníssono.
— Eu vou contar tudo. Tenham calma... Mas antes, me respondam: vocês acreditam em seres sobrenaturais?
May deu de ombros.
— Não exatamente... Acho que isso é só coisa de séries, filmes, desenhos...
Ana, por outro lado, abriu um sorriso largo.
— Eu não acredito, mas adoraria que fosse real. Seria incrível ter poderes! Por quê?
Engoli em seco antes de soltar tudo de uma vez.
— Porque eu não sou normal... Eu sou um ser sobrenatural.
A revelação pairou no ar como um trovão, e eu esperei julgamentos. Mas eles não vieram.
Ana foi a primeira a reagir, com um sorriso acolhedor.
— Amiga, eu te aceito assim como você é.
May assentiu, sincera.
— Sempre estaremos ao seu lado, não importa o que aconteça. Mas como isso é possível?
Aquelas palavras me aliviaram mais do que eu imaginava. Pela primeira vez, me senti... aceita.
— Obrigada, meninas... de verdade.
Passamos horas conversando. Contei tudo o que lembrava: as visões, as sensações, a confusão que me tomava sempre que ficava perto deles. Elas ouviram tudo com atenção, fazendo perguntas e tentando entender o que aquilo significava.
A conversa foi interrompida por uma batida na porta. Era eles.
— Meninas, trouxemos o jantar — disseram com vozes calmas, quase tranquilizadoras.
Entraram no quarto com bandejas nas mãos. A atmosfera ficou tensa novamente. Depois de colocarem a comida, um deles perguntou com um sorriso:
— Já decidiram que cursos vão fazer na faculdade?
Ana foi a primeira a responder, com empolgação.
— Medicina!
— Direito. — Minha resposta saiu curta, seca, mas firme.
— Contabilidade! — disse May, animada.
Eles sorriram, parecendo satisfeitos com nossas escolhas. Mas havia algo nos olhos deles... como se já soubessem nossas respostas antes mesmo de perguntarem.
Depois do jantar, a exaustão nos venceu. Acabamos adormecendo ali mesmo, as três juntas.
Mas antes de cair no sono, o mesmo pensamento persistia na minha mente: Eles sabem mais do que dizem. E nós estamos mais conectadas a isso tudo do que imaginamos.
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