DIA 8
DIA 8
Batendo minha caneta sobre o caderno, estava entediada ouvindo ao fundo a voz da minha professora de sociologia. Não fazia ideia sobre o que dizia e nem me importava em saber, só queria que os minutos se passassem rápido para que eu pudesse sair dali. As manhãs de segunda-feira costumavam se arrastar, mas hoje em específico era a pior de todas. Meu pai já deveria estar a caminho da sua próxima missão, e eu ficaria todo esse tempo sem saber se está vivo ou se algo aconteceu.
Senti um frio na barriga, odiava pensar nessas coisas, então balancei minha cabeça e fechei meu olhos com força, suspirando pesadamente deixando toda essa sensação ruim sair do meu peito. Abri meu olhos quando a professora parou de falar com a porta da frente sendo aberta. Todos pararam de falar ao ver Matthew Finley entrar em sala estando quase uma hora atrasado. Revirei os olhos para aquela cena, não estando nem um pouco surpresa com a falta de responsabilidade com os seus compromissos.
Matthew fez uma rápida troca de olhar com a professora, como se pedisse desculpas por interromper a aula e roubar toda a cena, então olhou pela classe em busca de um lugar para se sentar, quando seu olhar parou sobre mim ele mudou de caminho e veio em minha direção.
Não ouse, Finley. Pensei comigo mesma, mas cada vez mais ele se aproximava. Levantei meu olhar e o encarei, deixando bem claro para não se aproximar, mas ele abriu um enorme sorriso e se sentou bem ao meu lado.
— Bom dia pra você também, Mackenzie. — alfinetou.
— Bom dia, Finley. — murmurei indiferente, mantendo meu olhar na professora.
— Você tem mesmo aversão em ser vista comigo, não é? — perguntou olhando para mim e, apesar da sua pergunta, ele não estava irritado.
— Com tanto lugar por aqui, não sei qual a necessidade de sentar ao meu lado.
Ele riu.
— Gosto do prazer da sua companhia.
Não consegui me segurar, meus lábios se estenderam em um sorriso largo. Olhei para ele e seus olhos encontraram os meus enquanto ríamos. Balancei minha cabeça voltando minha atenção para frente, tentando não me distrair com o seu olhar intenso. Era mais forte do que eu, a todo tempo eu tentava evitá-lo, e eu nem sabia ao certo o porquê de sempre fazer isso.
Ao final da aula juntei minhas coisas e saí da sala com Matt logo atrás de mim. Quando ele se aproximou de mim pelo corredor e se manteve ao meu lado, eu soube que ele não se afastaria tão cedo. Se ele estava mesmo tão interessado na minha amizade não tinha o porquê de eu ficar dispensando o garoto.
— Não se esqueça da entrevista na saída. Hoje minha aula é integral, então me procure na redação às dezesseis horas.
— Não irei esquecer.
Assenti olhando rapidamente em sua direção, sem saber o que dizer. Como ser amiga de uma pessoa famosa? Tinha medo de perguntar algo e acabar me tornando invasiva, ou ser ignorante com as escolhas erradas de palavras.
Não sabia ao certo como lidar com ele.
O silêncio constrangedor entre nós dois se estendeu, mas fiquei grata quando ele finalmente decidiu abrir a boca e puxou assunto.
— Como foi seu domingo? — perguntou enquanto caminhávamos lado a lado indo em direção ao refeitório.
— Tedioso... Me despedi do meu pai e... — parei de falar ao notar que estava revelando algo que não precisava, era pessoal demais. — Enfim, não fiz nada de interessante, e você? — ele me olhou notando minha mudança de assunto, mas não perguntou sobre, respeitou minha decisão de não querer tocar no assunto e fiquei feliz por ele respeitar isso.
— Não fiz nada de interessante. — deu de ombro. Senti que ele estava mentindo para mim tanto quanto eu estava mentindo para ele.
— E você se resolveu com seu empresário?
— Sim, tudo se resolveu no final, não se preocupe.
Matthew abriu uma das portas duplas do refeitório para que eu passasse primeiro, foi um gesto simples, mas significante, até mesmo para os olhares que nos foram direcionados assim que adentramos no local. Apertei a alça da minha mochila, desconfortável, procurando rapidamente por Natalie e Aidan.
— Matthew! — uma voz feminina ao fundo gritou seu nome.
Olhamos na direção em que o som vinha encontrando a mesma ruiva da festa de sábado balançando seu braço para que Matthew a achasse. O que ela fazia aqui? Notei que ela estava na mesa de Tyler com o mesmo sentado ao seu lado que me olhava com o cenho franzido. Me senti ainda mais desconfortável, e Matthew reparou, me olhando de soslaio.
— Você conhece Tyler?
Olhei para ele surpresa com a sua pergunta.
— Não, quer dizer... Ele é capitão do time da nossa faculdade, óbvio que o conheço, mas não temos contato. — murmurei as palavras olhando apressadamente para as pessoas presente, tentando encontrar Natalie e Aidan. Assim que os vi, suspirei aliviada. — Preciso ir com os meus amigos. Até a saída. — soltei as palavras apressadamente enquanto me afastava dele o mais rápido possível.
Tudo que eu não queria era ter que falar sobre isso em plena segunda-feira e justo com alguém como Matthew Finley, um dos maiores pop stars do planeta. Na verdade não queria falar sobre isso com ninguém, era vergonhoso demais.
Joguei minha bolsa sobre a mesa me sentando ao lado de Aidan.
— Você e Finley agora estão amiguinhos, não é? — quis saber, me olhando de soslaio.
— Deixa de ser chato, Aidan. — olhei agradecida para Natalie. — Mas me conte tudo, ele já falou algum babado forte de Hollywood?
Bufei.
— Sério? Vocês poderiam parar de tratar isso como se fosse um absurdo, ele também é uma pessoa normal.
— Tudo bem, você tem razão. Como você está? — Ela e Aidan pararam com o que estavam fazendo e prestaram atenção em mim. Não precisavam dizer sobre o que estavam perguntando, seus olhares já entregavam. Eles queriam saber como eu me sentia com meu pai desaparecendo em mais uma missão.
— Normal. — dei de ombros, fingindo indiferença. — Já estou acostumada, pelo menos tenho vocês. — segurei suas mãos que estavam sobre a mesa, sorrindo para eles.
Ao final das aulas, atravessei todo o campus com meu fone no ouvido reproduzindo Versace on The Floor do Bruno Mars. Estava um dia lindo nessa tarde, os raios de sol brilhavam entre as folhas das árvores, uma brisa fresca soprava fazendo fios rebeldes saírem do meu rabo de cavalo e se espelharem pela minha face, trazendo consigo um delicioso e reconfortante cheiro de flores. Me sentia privilegiada por ter a oportunidade de estudar em um lugar tão bonito quanto Boston, apesar de eu morar em uma cidade vizinha, amava essa cidade como se a conhecesse a mais tempo.
Quando me aproximei da redação, avistei Matthew no mesmo lugar de sempre incrivelmente sexy com sua jaqueta de couro jogada sobre os ombros enquanto tragava um cigarro.
Assim que notou minha presença, abriu um sorriso charmoso jogando seu cigarro fora e pisando sobre ele.
— Parece que alguém está atrasada.
— Não estou atrasada. Minha última aula foi quase do outro lado do campus, infelizmente não sou o Flash. — abri a porta e adentrei sabendo que ele me seguiria logo atrás.
Rindo do meu comentário, ele entrou antes que eu fechasse a porta. Subimos as escadas e logo já estávamos no editorial da universidade, com várias mesas, computadores e pilhas e mais pilhas de jornais espalhados. Meus colegas de trabalho ainda não haviam notado a presença do Matthew, continuavam pilhados no que estavam fazendo, falando alto e compartilhando informações.
— Galera? — disse olhando para todos eles, mas como eu esperava, fui ignorada. Olhei para Matthew e ele parecia achar tudo normal, ou pelo menos não deixou abrangente. — Pessoal? — dessa vez falei mais alto que o normal, trazendo os olhares curiosos para mim, depois para Matthew. — Matthew chegou para terminarmos a entrevista.
Rapidamente todos se levantaram e vieram até nós, diferente de mim, eles estavam tendo um contato pessoal com Matthew pela primeira vez.
— É um prazer Matthew. — Ethan esticou sua mão para cumprimentá-lo. Ergui uma sobrancelha para ele, segurando um sorriso. Nem parece que há alguns dias atrás ele havia o chamado de "bomba Matthew Finley".
— Sou Amanda Adams, se precisar de qualquer coisa, estou aqui. — Amanda cumprimentou Matthew jogando seu melhor charme.
Olhei para Ethan e reviramos os olhos.
— Tudo bem, vamos para a sala de reunião. Lá podemos ficar à vontade.
Guiei Matthew até a sala que costumávamos usar para reuniões de pauta, ela era ampla e toda fechada com uma mesa redonda no meio. Uma grande janela toda de vidro proporcionava uma bela vista de todo o campus. Eu amava essa sala pela vista incrível que ela proporcionava.
— Pode se sentar, fique à vontade. — apontei para uma das cadeiras ao redor da mesa, mas Matthew se jogou todo casual sobre um sofá por perto. Olhei para ele surpresa com o seu comportamento, porém, ignorei puxando uma cadeira e me sentando à sua frente. — Podemos começar? — depois da sua confirmação, folheei meu bloquinho em busca das perguntas. Com toda a tecnologia hoje em dia, as pessoas costumam optar pelos seus aparelhos eletrônicos, mas eu ainda era a favor do antigo bloquinho e caneta. Nunca quebrava e não tinha problemas de perder tudo. — Você havia me dito que decidiu estudar em nossa instituição porque proporcionamos o melhor programa de comunicação social. Até o momento, alguma coisa o fez mudar de ideia?
— Só reforçou o que eu pensava, tanto o ensino quanto a estrutura fornecida para as aulas em prática, tudo é melhor do que eu imaginava.
— O que você diria para as pessoas que ainda estão indecisas sobre qual universidade cursar?
— University of Cambridge é uma boa opção.
Fechei meu bloquinho e olhei para ele, frustrada.
— O que foi? — perguntou notando minha mudança de humor.
— Você precisa levar isso a sério, está me dando respostas vazias demais.
— Desculpe. — ele esfregou o seu rosto, suspirando pesadamente. Parecia angustiado ou extremamente exausto. — É que eu estou com a cabeça quente.
— Alguma coisa aconteceu depois do refeitório? — quis saber, mas depois fiquei me pergunto se havia sido invasiva demais. Não nos conhecemos ao ponto de desabafarmos um com o outro.
Ele me fitou por um tempo, provavelmente pensando se deveria me contar ou não. — Se não quiser falar, tudo bem...
— Não é nada demais. — fez uma pausa emudecendo seus lábios com a língua. Uma simples e sexy ação. Pisquei meus olhos desviando minha atenção de seus lábios. — Só recebi um convite do aniversário da minha mãe no próximo fim de semana, mas não sei se devo ir.
Franzi o cenho.
— Porque não iria? É sua mãe, ela iria gostar de vê-lo no dia do seu aniversário.
— Bom... — se remexeu desconfortável. — É complicado de entender.
Seu olhar se distanciou, ficando perdido por algum lugar daquela sala. Ele parecia pensar, talvez estivesse se perguntando se seria mesmo uma boa ideia. Me perguntava o motivo de ele não querer comparecer ao aniversário da própria mãe. O que poderia ter acontecido que estava fazendo ele duvidar que a mãe não iria querer ele presente?
Levantei-me para guardar minhas coisas, Matthew praticamente deu um pulo do sofá.
— Podemos continuar. — olhei para ele e ele realmente parecia disposto a continuar, mas sabendo que não estava no seu melhor momento eu preferia encerrar por aqui.
— Não se preocupe, já tenho o suficiente, juntando com o material anterior vou conseguir criar algo. — sorri tentando passar confiança nas minhas palavras. Ele permaneceu me olhando como se esperasse que eu mudasse de ideia.
— Se você tem razão. — deu de ombros se levantando e se aproximando de mim enquanto eu guardava minhas coisas em minha bolsa. Matthew parou bem ao meu lado observando cada movimento que eu fazia. — Como vai embora? — murmurou perto do meu ouvido fazendo minhas mãos ficarem trêmulas.
Engoli em seco.
— Tenho que começar a escrever essa matéria, então ficarei até as oito.
— Tudo bem, te pego às oito. — se afastou saindo da sala. Quando percebi o que ele havia falado, paralisei. Levantei minha cabeça olhando na direção em que acabara de sair, ainda estupefata. O que? Saí para tentar alcançá-lo, mas Matthew já havia passado por todo mundo e se despedido.
Peguei meu celular e enviei uma mensagem:
Mensagem enviada por Katherine, às 4:20PM.
Como assim "te pego às oito"?
Poucos segundos depois, ele respondeu.
Mensagem enviada por Batman, às 4:21PM.
Sabia que mandaria mensagem
Você vai ficar até tarde por minha causa, nada mais justo buscá-la.
Mensagem enviada por Katherine, às 4:22PM.
"É o meu trabalho, a culpa não é sua"
"Você não está me devendo nada"
Mensagem enviada por Batman, às 4:24PM.
Até às oito, Katherine.
Bloqueei a tela do meu celular bufando.
Ele era mesmo insistente.
Voltei para minha mesa para começar a montar a pauta, tinha pouco material — apesar de eu ter falado para Matthew que já tinha o suficiente —, agora eu teria que fazer o pouco se tornar o suficiente. O tempo foi passando e quando me dei conta, Amanda havia sido a última pessoa a se despedir de mim. Odiava quando era eu a pessoa que acabava ficando sozinha na redação enquanto todos já tinham terminado seus afazeres.
Massageei meu pescoço, tentando aliviar a tensão, voltando a digitar minha matéria sobre Matthew em nossa instituição, quando uma voz atrás de mim me fez dar um pulo de susto.
— Desculpe, deveria ter avisado que estava me aproximando. — sua voz saiu como um sussurro, como se estivesse ali escondido, e provavelmente estava. Não esperava por ele aqui nem em mil anos. — Podemos conversar? — Tyler mantinha suas mãos em seu bolso e um olhar piedoso.
— Não temos nada para conversar. — disse rispidamente.
Voltei a ficar de costas para ele, fingindo tentar me concentrar no que eu estava fazendo.
— Olha, eu sei que não gostou da brincadeira...
— Aquilo não foi brincadeira. — virei minha cadeira de volta para ele, com raiva. Sentia a raiva crescer dentro de mim. — Aquilo me fez de chacota por meses, me fez passar por humilhações e pode ter certeza que não foi uma brincadeira para mim. — falei rápido tudo que estava entalado há mais de um ano em minha garganta.
Senti meus olhos queimarem avisando que lágrimas estavam próximas.
Mas eu não daria esse gostinho a ele.
Não mesmo.
— Peço desculpas por isso, eu era muito novo naquela época, Kat.
— Não me chame mais assim. — esbravejei com raiva. — Você não tem mais esse direito. Afinal, o que você está realmente fazendo aqui? — cruzei meus braços e esperei pela sua resposta.
— Você disse algo ao Finley?
Ri debochadamente.
— É claro, você só está preocupado se manchei sua bela imagem — dei ênfase ao "bela imagem", em ironia. — para o seu novo amiguinho pop star, mas não se preocupe... Seu segredo está seguro comigo. — ironizei cuspindo as palavras.
Fiquei de costas para ele novamente, desejando que esse assunto já estivesse mais do que encerrado. Quando escutei seus passos se afastarem, suspirei aliviada soltando um ar que eu nem sabia que estava prendendo a tanto tempo. Era inacreditável sua capacidade de ser um completo imbecil. Não conseguia acreditar na tamanha cara de pau em vir até aqui pensando somente em si mesmo depois de tudo que me fez passar.
Tyler Carter era o ser humano mais desprezível que eu conhecia.
A tela do meu celular brilhou me avisando de uma nova mensagem, me tirando dos meus pensamentos e fúria.
Mensagem enviada por Batman, às 8:00PM.Estou aqui em baixo.
Sorri com a mensagem, e nem sabia exatamente o porquê, mas algo me reconfortou e eu estava feliz que naquele momento eu teria uma carona para fugir.
NOTAS FINAIS:
MIL DESCULPAS PELO ATRASO. Semana passada não consegui escrever a tempo, hoje minha internet ficou de palhaçada e não consegui postar por nada nesse mundo. São 00:44 e eu finalmente estou conseguindo postar (dessa vez a culpa foi da internet, não me matem). Mas aqui está o capítulo, desculpem novamente por esse atraso.
*Esse capítulo é dia 8 pq o dia 7 não foi narrado, por isso pulei do dia 6 para o dia 8, acontecerá isso algumas vezes *
Com amor, Ka♥
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