Dia 30
DIA 30
Não existe nada nessa vida que eu odeie mais do que semana de prova. Sempre que as provas se iniciam eu sinto como se minha alma estivesse sendo sugada lentamente. É um cansaço emocional que consegue ser pior que o físico — e isso já foi cientificamente comprovado. Quando o seu corpo está cansado você pode parar e descansar ou dormir, mas o seu emocional não é recuperado tão facilmente assim. Estava me sentindo bem por ter meus amigos de volta e pela minha relação com Matthew estar mais forte do que nunca, mas agora eu tinha outras preocupações para lidar: as provas.
Na segunda passada, logo depois do final de semana da reconciliação — é assim que eu o apelidei —, tive o meu encontro com Aidan depois que ele teve sua conversa com Natalie no domingo. Os dois estavam de bem e iriam praticar melhor essa coisa da amizade, já que agora ele compreendeu os motivos de Natalie ter sido tão encrenqueira com ele desde que se conheceram. Também contei a ele que estava saindo com alguém, e, mesmo não especificando quem era esse cara, ele entendeu perfeitamente que ele e eu nunca iria acontecer.
Eu sei que ele não vai deixar de gostar de mim da noite para o dia, mas fiquei feliz por ele ter compreendido e ter se importado com a minha felicidade. "Felicidade em primeiro lugar", disse ele depois de me perguntar se eu estava feliz saindo com esse cara. Não me senti pronta para revelar que esse cara é o Matthew. A verdade é que eu gosto desse compromisso despreocupado que nós dois temos, sem precisar se preocupar com a opinião de ninguém.
Nessa última semana Matthew e eu não conseguimos nos ver, a não ser em uma aula ou outra. Ficamos ocupados estudando para as provas e eu ainda tinha o jornal, mas eu iria para a casa dele hoje à noite. Era sexta-feira, pelo menos hoje prometemos tirar a noite de folga dos estudos antes de passar todo o final de semana presos novamente nos livros para as provas na segunda.
Quando cheguei em seu apartamento estava me sentindo nervosa, mais nervosa do que da última vez. Estamos saindo oficialmente há três semanas e agora ficaríamos sozinhos, de novo. Na última vez ele foi muito atencioso e cumpriu exatamente suas palavras, hoje ele foi bem claro em sua mensagem "venha passar a noite aqui", não foi "dormir aqui' como da última vez, então esse "venha passar a noite aqui', pode acabar resultando em muitas coisas. Podemos passar horas assistindo a um filme ou série, conversar a noite toda, comer pizza e depois dormir até o amanhecer — ou fazer sexo. Pensando bem agora, fazer todas as opções não seria nada mal, porém a última opção me deixava um pouco desconfortável.
Matthew tinha as suas sombras e confiou em mim para me contá-las, agora era a minha vez. As sombras de Finley eram muito intensas, bem mais do que o meu passado, então eu teria que juntar coragem e contar sobre a minha. Somente dessa forma ele saberia como lidar comigo e somente assim ele poderia entender tanta insegurança.
Quando a porta da frente se abriu depois das minhas batidas, seu enorme sorriso ao meu receber aqueceu o meu coração. Nos abraçamos forte, pude sentir todo o seu cheiro másculo misturado com algum perfume maravilhoso masculino, e então seus lábios esbarraram nos meus, me preenchendo com um beijo carinhoso e ao mesmo tempo intenso.
— Chegou na hora certa. Pedi pizza, acabou de chegar.
Risquei mentalmente a pizza da minha lista imaginária. Será que ele estaria lendo meus pensamentos?
— Kat? — Matt olhou para mim com um leve sorriso no rosto. — Escutou o que eu disse?
— Desculpa. — sorri, sem graça. — O que você disse mesmo?
Ele riu.
— Pedi o sabor tradicional, tudo bem pra você?
— É claro!
Sentamos na sala com a caixa de pizza sobre o colo de Matthew, então ele procurou algum filme no catálogo da Netflix para que pudéssemos assistir. Fiquei chocada quando ele me disse que nunca tinha assistido O Clube dos Cinco. Colocamos para assistir enquanto devorávamos a pizza inteira.
Eu tentava me manter concentrada, mas às vezes me distraía com os assuntos pendentes que eu precisava lidar. Não sabia como iniciar esse assunto, ou qual seria a melhor forma para abordá-lo. Poderia começar com um simples:"Hey, tenho algo para contar", mas eu não sabia qual era o momento apropriado ou se queria estragar esse momento confortável e agradável que eu estava tendo com ele. E se eu começasse a puxar esse assunto do nada, ele poderia pensar que eu estou pensando em fazer sexo com ele — o que não é uma mentira —, porém a minha necessidade de conversar com ele a respeito vai muito além disso. Eu precisava ser sincera e honesta com Matthew da mesma forma que ele foi comigo, eu só não sabia como fazer isso.
— Tudo bem! — a TV foi desligada, com Matt me encarando logo depois. — O que aconteceu?
— O que? — olhei para ele, confusa.
— Você parece estar distante. Se aconteceu alguma coisa você pode conversar comigo, ou se quiser voltar para o alojamento para estudar não tem problema, não ficarei chateado.
Droga. Agora eu iria estragar tudo porque estava perdida nos meus pensamentos e não reparei que ele percebeu que eu estava estranha. Eu precisava de um momento certo para falar, e agora ele chegou.
— É o seguinte, Matt... — deixei as palavras no ar, respirando fundo, pensando em como prosseguir. — Na semana passada quando você foi sincero comigo em falar sobre as suas sombras... é que eu também tenho a minha, e preciso que você saiba.
— Agora você está me preocupando. O que foi, Kate?
Ele sentou no sofá de frente para mim, olhando bem em meus olhos.
— Estamos fazendo isso aqui — articulei com as mãos para nós dois, sem rótulos para o que estávamos vivendo. — E em algum momento eu teria que te contar sobre algumas coisas que me deixam desconfortáveis, porque, você sabe, em algum momento vai acontecer...
Meu Deus. Estava mais vermelha que um tomate. Sentia minhas bochechas queimarem de vergonha. Não fazia ideia de como falar com ele sem ser direta demais. Sua boca se contorceu em um leve sorriso, ele estava achando graça da minha vergonha, mas ao mesmo tempo os seus olhos ainda carregavam uma certa preocupação.
— Acho que entendi sobre o que você está se referindo, mas se é com isso que está preocupada, não precisa se preocupar. Tudo vai ser no seu tempo, quando estiver preparada.
Cruzei o cenho, segurando a vontade de rir.
Ele estava achando que eu era virgem.
— Você não entendeu. Eu não sou virgem, Matthew.
Ele pareceu totalmente chocado com a revelação. Homens costumam identificar quando uma mulher é ou não virgem, agora ele deve estar totalmente confuso com o seu radar de virgens.
— Como assim? — perguntou totalmente confuso.
Dei risada.
— Eu sei, pela forma como eu me comporto parece que sou, mas não sou. E é esse o problema que eu preciso contar para você. — respirei fundo, mudando minha posição no sofá. — Estava no último ano do colégio quando comecei a namorar, ele sempre foi muito atencioso e eu gostava da atenção que recebia. Meu pai ficava sempre muito tempo fora, então ter alguém ao meu lado dizendo que me amava me fazia bem. — dei de ombros. Matthew me observava em silêncio prestando atenção em cada palavra. — Então chegaram as nossas cartas com aprovações para universidades, nós dois entramos na mesma universidade, Cambridge, em Boston, mas eu também tinha entrado em uma de Nova York, e como meu sonho era morar na cidade ele sabia que eu iria pra lá, o que ele não sabia é que eu mudaria os meus planos só para tentar agradá-lo.
— Ainda não entendi, o que isso tem a ver com nós dois ou com sexo?
— Eu vou chegar lá. — murmurei, umedecendo meus lábios. — Então veio o baile, naquela noite nós dois transamos no carro dele. Foi a minha primeira vez, e foi tudo muito lindo e especial, eu realmente achei que ele pensava da mesma forma. Então duas semanas depois fomos para a universidade, o que ele não esperava era que eu também entrasse em Cambridge. — fiz uma pausa breve, revivendo em minha mente aquele dia. — Eu fiz tudo sem ele saber. Me matriculei, aluguei o alojamento, fiz todos os planos sem que ele soubesse, eu queria fazer um surpresa. Qual namorado não iria gostar de ter sua namorada na mesma universidade que ele? — passei minha mão em meus cabelos, colocando alguns fios atrás da orelha. — Então eu fui atrás dele na festa de boas-vindas aos calouros que tem todo ano, aquela que você também foi. — ele assentiu com a cabeça. Foi na festa de boas-vindas dos calouros desse ano que ele havia me emprestado a sua jaqueta. — E não fui recebida da forma como eu achei que seria. — engoli em seco ao me lembrar da forma como meu ex-namorado me olhava e das suas palavras rudes.
Só notei que estava chorando quando Matt tocou em meu rosto delicadamente, enxugando uma lágrima.
— O que ele fez, Kate? — sua voz estava carregada de preocupação.
— Ele ficou furioso de uma forma que eu nunca poderia esperar. Disse que eu era uma maluca, lunática, stalker e mais um monte de merdas. — respirei fundo, enxugando algumas lágrimas. — Ele disse que iria terminar comigo quando entrasse na faculdade. Eu fui só uma distração para ele, sua intenção nunca foi estar realmente comigo. Matthew, ele espalhou para todos que eu era uma louca perseguidora, ainda debochou da nossa primeira vez. Como eu posso confiar em um cara para me entregar assim novamente? — agora eu não tentava controlar as minhas lágrimas, elas marcavam o meu rosto por onde passavam. — Fazer sexo com alguém requer confiança, a única pessoa que eu tive essa confiança me fez viver no maior inferno por meses. Até hoje eu sei que as pessoas me acham uma maluca, sempre falam de mim pelas costas. Estou no meu segundo ano de faculdade, e nenhum outro cara teve a coragem de chegar em mim, eles acham que eu sou uma stalker maluca. — Matthew desviou o seu olhar do meu, parecendo envergonhado. Não acredito, ele sabia disso. — Espera, você já tinha ouvido algo a respeito?
— De que você era uma stalker maluca? Sim, me alertaram sobre você.
Eu não acredito nisso. Ele sabia desse boato o tempo todo e nunca me disse nada. Estava me sentindo mais envergonhada ainda. Apoiei minha cabeça em minhas mãos, deixando que as lágrimas me consumissem. O sofá se mexeu, o cheiro de Matthew ficou mais forte até que eu pude sentir seus braços fortes e convidativos me envolverem. Apoiei minha cabeça em seu peito, colocando tudo que eu tinha para fora. Matthew me apertou forte contra o seu peito, passando segurança. Alguns minutos depois, eu estava me sentindo mais leve e segura.
— Olhe pra mim, Kate! — fiz o que me pediu, levantei minha cabeça e encarei seus olhos azuis. — Eu nunca acreditei neles, eu confio em você. Nem estaríamos aqui se eu não confiasse.
Sorri para ele e beijei seus lábios lentamente.
— Mas e se de fato a culpa foi minha?
— Como a culpa poderia ser sua? Esse cara foi um cretino, Kate, espalhou mentiras sobre você.
— Eu sei, mas ele também nunca me pediu para vir com ele.
— Não justifica o surto ou as humilhações que ele faz você passar até hoje. Ele poderia ter dito que não queria nada com você e que não tinha gostado que você viesse para a mesma universidade que ele, mas isso não dava o direito de ele te humilhar para todo mundo.
— Eu me sinto uma idiota. — apoiei minha cabeça com minha mão direita, me lamentando. — Estava tão apaixonada, eu podia jurar que estava fazendo algo por amor e que ele iria amar a surpresa. Fui uma completa idiota.
— Qualquer cara apaixonado pela namorada iria amar essa surpresa, vai por mim. Ele só não te amava, estava usando você esse tempo todo, não se culpe por achar que estava fazendo a coisa certa para a pessoa que amava.
Matthew podia ser bom em dizer coisas inspiradoras quando ele queria. Deitei novamente minha cabeça em seu peito com os seus braços fortes me envolvendo. Ele poderia estar certo, nada justifica toda a humilhação que ele me fez passar, mas eu também poderia ter enxergado os sinais antes de fazer toda essa baboseira.
— Quem é ele?
Sua voz cortou o silêncio como uma faca, rápido e sem piedade. Meu coração se apertou, não queria ter que tocar em seu nome, e pela forma como o seu corpo estava rígido ele sabia muito bem de quem se tratava.
— Tyler. — minha voz saiu como um sussurro, como se eu tivesse medo de pronunciá-la em voz alta e acabar invocando o demônio.
— Por que você não me contou antes, Kate? — me virou para ele. Olhei em seus olhos, pareciam irritados. — Esse cara te machucou emocionalmente e você continuou me deixando sair com ele, por qual motivo?
— Você queria que eu dissesse o que? "Hey, Mattew, esse cara fodeu comigo e depois me largou dizendo para todo mundo que eu era uma stalker. Não saia mais com ele". — tentei fazer uma imitação de mim mesma, o que ficou uma grande merda.
— É, era exatamente isso que você deveria ter feito.
— Ah, claro, com toda certeza. — me desgrudei dele, sentando mais afastada no sofá. — Isso é um tipo de coisa que eu não me sinto confortável em sair espalhando por aí como uma epidemia. Eu fui humilhada, Matthew, você acha mesmo que eu consigo falar sobre isso com todo mundo o tempo todo, ainda mais com alguém que acabou de entrar na minha vida?
Ele suspirou pesadamente, passando a mão em sua nuca.
— Desculpa. Você tem razão, não queria te ofender.
— Eu precisava ter confiança em você primeiro. Depois que você me contou algo do seu passado, eu pude conseguir ter essa segurança em você.
Seu corpo se aproximou do meu, Matthew apoiou suas mãos em meu rosto me fazendo olhar em seus olhos bem de perto, seus lábios rosados se esbarraram nos meus, calmos e delicados. Ele não tinha pressa, e muito menos eu, tínhamos a noite toda. Sua mão desceu para minha nuca, puxando meus cabelos. Sua língua se envolvia com a minha, quente e convidativa. Nossas cabeças se movimentavam em uníssono, com a mesma intensidade. Passei minha perna sobre ele, sentando sobre o seu colo. Suas mãos desceram pelo meu corpo apertando minha bunda e acariciando minhas coxas. Envolvi meus braços ao redor do seu pescoço trazendo seu corpo para bem perto do meu, rebolando lentamente sobre sua calça de moletom e em sua ereção que estava presente. Ele estava excitado.
— Kate... — murmurou entre o beijo, me afastando aos poucos. — Hoje não. — não pude deixar de transparecer minha frustração. Matthew percebeu. — Sei que confiou em mim para me contar isso. Precisamos ir devagar, não quero que você se assuste ou fique insegura de novo.
Assenti com a cabeça, apesar de não ter falado nada, eu sabia que ele estava certo. Era uma grande responsabilidade para ele ter que lidar com uma pessoa com problemas de confiança, ele não queria ser o responsável por ferrar ainda mais com o meu psicológico. Eu amava isso nele. Matthew não é o ser humano mais centrado psicologicamente, mas ele sempre dava o máximo de si para as pessoas.
Terminamos o filme, devoramos a pizza e depois conversamos por horas e horas. Quando percebemos, passava das duas da manhã, então cada um foi para o seu quarto dormir. Queria poder dormir com ele, mas depois de tudo que conversamos eu sabia que ele não iria querer.
Tomei um banho antes de me deitar e rapidamente adormeci.
Notas Finais: Espero que tenham gostado de mais um capítulo. Estamos quase chegando nos meus capítulos preferidos, mal posso esperar haha. Até o próximo sábado <3
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