DIA 22
Notas Iniciais: Espero que vcs tenham lido pelo menos o capítulo anterior para se lembarem de onde a história parou. Se você não fez isso, FAÇA AGORA, depois volte aqui. Boa Leitura!
DIA 22
Abri meu olhos abruptamente me sentando sobre a cama logo depois de ouvir um barulho. Olhei ao redor recordando estar na casa do Finley. Estiquei o braço para pegar meu celular, passava um pouco das dez da manhã. Ouvi novamente algo estranho vindo em algum canto da casa. O barulho parecia estar vindo do quarto do Matthew. Levantei da cama cruzando meus braços como se eu pudesse me proteger do frio daquela manhã. Abri a porta bem devagar e olhei o corredor. Não havia nenhuma movimentação estranha. Ouvi passos rápidos e voz angustiada vindo do seu quarto. O que estava acontecendo?
Quando ouvi algo sendo quebrado e um grito exasperado, corri em direção à porta de Matthew, abrindo-a logo em seguida. Fragmentos que antes pertenciam a um espelho, agora estavam espalhados pelo chão. Um livro estava caído sobre os cacos espalhados, provavelmente usado para quebrar o espelho em mil pedaços. E ele estava ofegante sentado sobre sua cama, somente de cueca. Olhei ao redor, e mesmo notando seu belo físico e o grande volume em sua cueca, estava assustada demais para ficar reparando nisso sem saber o que estava acontecendo ou o que o levou a fazer aquilo.
— Matthew? — minha voz saiu como um sussurro, quase inaudível, mas alto o suficiente para ele notar a minha presença.
Ele levantou a cabeça, seus olhos estavam lacrimejados e sua expressão cansada. Ele não tinha notado que eu estava ali até aquele momento.
— Desculpe ter te acordado, só saia daqui. — disse com a voz angustiada, voltando a enterrar o rosto em suas mãos.
— O que aconteceu... — murmurei entrando no quarto, mas parei abruptamente quando ele fez um gesto de "pare" com as mãos.
— Não! Só saia da porra do meu quarto. Você pode fazer isso? — perguntou com raiva.
Agora ele estava bravo comigo?
Sem entender absolutamente nada, fiz o que me pediu, me afastei e voltei para o meu quarto. Muitas perguntas sem respostas passaram pela minha cabeça naquele momento. O que poderia ter o perturbado tanto ao ponto dele descontar no espelho daquela forma. Nunca o vi com tanta raiva ou coisa parecida. Não foi agradável. Foi assustador. Aquele homem no quarto ao lado não parecia nada com o cara da noite anterior.
Peguei minhas roupas que eu havia dobrado e colocado sobre uma cadeira e as vesti. Lavei meu rosto e fiz um gargarejo com água e pasta de dente já que não havia trazido uma escova, até porque não estava nos meus planos dormir em seu apartamento. Peguei minhas coisas e saí de fininho do quarto, não queria que ele me escutasse, tudo que eu não queria agora era mais drama. Se ele me visse indo embora da forma que estou fazendo com certeza iria ficar mais irritado, e isso é tudo que eu não quero, mas também não queria estar mais ali.
Consegui sair do apartamento sem que ele me notasse.
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Abri a porta do quarto levando um susto ao encontrar Natalie sentada sobre sua cama. Pensei que ela chegaria só a noite, ou amanhã bem cedo. Ela ainda estava arrumada da viagem e com suas malas jogadas perto dos pés. Natie levantou seu olhar assim que a porta se abriu, observando todos os meus gestos desde então. Parei por um segundo antes de entrar completamente e fechar a porta. Fiquei em pé no mesmo lugar sem saber o que fazer, muito menos o que falar. Daria um simples "Oi', ou poderia perguntar sobre a viagem, mas eu nem sabia se ela queria conversar a respeito de qualquer coisa comigo. Olhei para os meus pés, naquele momento eles pareciam muito atrativos. Enquanto eu pensava em mil formas de começar uma conversa, sua voz rompeu o silêncio.
— Eu não mordo, Kate. — revirou os olhos, me olhando ainda parada no meio do quarto.
— Eu sei, é que, hmmm — umedeci meus lábios, esfregando minhas mãos suadas sobre a calça. — Não sei se está afim de conversar ou não, não quero forçar a barra.
Ela novamente revirou os olhos.
— Você não fez nada. Ninguém fez, na verdade — ela abaixou a cabeça, olhando para os seus dedos. — Fiquei irritada e frustrada, acabei descontando em vocês. Desculpa. — deu de ombros, ainda de cabeça baixa.
Fui em sua direção e me sentei ao seu lado.
— Você poderia ter me contado como você se sentia a respeito do Aidan, nem ele fazia ideia que você tinha sentimentos por ele.
— Não é tão simples dizer que você está afim de alguém, principalmente se esse alguém vive babando na sua melhor amiga que não dá a mínima para ele. — bufou, parecendo exausta. — Mas isso tudo continua não sendo culpa de ninguém, eu que acabei perdendo o controle. Foram quase dois anos, uma hora eu ia explodir.
Concordei com a cabeça, não falando mais nada. Sei como é gostar de alguém que não dá a mínima pra você, e mesmo essa pessoa te magoando, você continua amando ela. Por experiência própria, isso é mesmo uma droga.
— É sério, me desculpa, não queria ter causado esse clima tão ruim.
Seu semblante estava bem triste, ela realmente estava afetada com toda essa situação. Passei meu braço ao redor do seu ombros, trazendo-a para mim. Natie apoiou sua cabeça em meu ombro.
— Essas coisas acontecem, está tudo bem. Mas você sabe que não é só para mim que precisa se desculpar. — ela soltou um grunhido manhoso. — Nem adianta, você sabe que ele também não teve culpa de nunca ter notado nada, não precisava ter pegado pesado com ele. Você precisa se desculpar com Aidan e pararmos com essa palhaçada toda.
Natalie levantou sua cabeça, suspirando.
— Eu sei, tudo bem.
Seguimos para a fraternidade de Aidan. Eu não o via fazia uma semana, tentou nos evitar a todo custo na universidade e simplesmente não respondeu nenhuma das minhas mensagens ou ligações. Não sabia se tinha passado o final de semana em casa como Natalie, mas estava torcendo para que ele estivesse no campus. Foi difícil trazer Natie até aqui, primeiro ela quase não saiu do nosso quarto, depois ficou mais vinte minutos na entrada da fraternidade sem me deixar bater na porta, mas agora finalmente estávamos aqui conversando com Ethan, um dos rapazes que também morava na fraternidade. Ele era estranhamente alto e magro, poderia ser um jogador de basquete se não fosse tão desengonçado e um nerd sedentário.
— Oi, Kate. Acho que Aidan ainda está dormindo, ficamos jogando até tarde ontem, mas posso...
— Não tem problema, podemos acordar ele. — peguei Natalie pelo braço, puxando-a na direção das escadas.
Não queria que alguém avisasse a ele sobre estarmos aqui, ele poderia inventar uma desculpa para não nos receber. Apesar de achar que ele não faria isso, eu não queria pagar pra ver.
— Tem certeza? Eu posso acordá-lo primeiro. — Ethan perguntou, um pouco preocupado.
Ele não aparentava saber de algo, mas poderia achar que seu amigo não fosse gostar de ser acordado por suas amigas. Agora comecei a pensar na possibilidade de ele gostar de dormir pelado, espero em Deus que não, nada seria mais constrangedor que isso nesse momento.
— Espera! — Natie me interrompeu antes que eu abrisse a porta. — É melhor bater ao invés de sair entrando. — ela olhou ao redor para se certificar de que ninguém estava nos ouvindo. — Ele pode estar pelado. — sussurrou as palavras, como se fosse um crime pronunciar a palavra "pelado" em voz alta.
Porém, ela tinha razão, é melhor não arriscar. Fora que ele está em seu quarto, na sua privacidade, não seria certo sair invadindo. Dei três batidinhas na porta e esperei por alguma resposta, nada. Novamente bati na porta e dessa vez consegui alguns resmungos de Aidan.
— Quenhé? — murmurou grogue, embolando as palavras.
Não deixei Natalie responder, bati novamente na porta, não queria que ele soubesse que era a gente antes de abri-la. Ouvi ele bufar do outro lado, então passos sonolentos se aproximaram da porta. Ela se abriu revelando Aidan somente de cueca, cabelos bagunçados e bocejando de sono, mas quando notou nossa presença, arregalou os olhos e escondeu seu corpo atrás da porta, deixando somente a cabeça a nossa vista. Qual o problema dos homens de dormirem vestidos?
Para alguém que o único exercício que fazia era os cálculos de matemática, ele tinha um ótimo físico. Seu olhar intercalava entre mim e Natalie — que por sinal estava roxa de vergonha.
— Oi. — disse finalmente, sorrindo.
— Oi. — respondeu ainda intercalando seu olhar entre nós duas, mas dava para perceber que sua curiosidade maior era Natalie.
Ele realmente parecia surpreso por ela estar aqui, ainda mais com todo o histórico de ambos antes da bomba toda explodir. Aidan sabia o quanto Natalie podia ser difícil, então o fato de ela estar aqui, com certeza é algo pra se chocar. Olhei para Natie e a cutuquei, incitando ela a falar alguma coisa. Ela precisava fazer isso sozinha, eu já tinha a arrastado até aqui.
— Hmmm, oi. — murmurou depois da minha cutucada. — Precisamos conversar.
Ela falava olhando para todos os lados, menos para os olhos de Aidan, ainda estava roxa de vergonha com o incidente da cueca.
— Preciso trocar de roupa, vocês esperam um minuto?
Assentimos com a cabeça. Aidan fechou a porta e segundos depois ela foi aberta novamente, dessa vez ele estava com um short e uma camisa. Ele abriu um espaço para que passássemos por ele. Assim que entramos em seu quarto, a porta foi fechada. Fazia um tempo que eu não vinha aqui, mas estava tudo exatamente igual. Aidan tinha uma estante enorme cheia de livros e jogos de vídeo game, e tirando sua cama bagunçada, seu quarto era bem organizado para um jovem rapaz.
— Podem falar. — cruzou seus braços, esperando que alguém falasse alguma coisa.
Olhei para Natalie, insinuando que estava na hora de ela começar a desembuchar.
Natalie suspirou pesadamente, criando coragem.
— Eu vim aqui para me desculpar, Aidan. — ela olhou para ele, cautelosamente. — Eu peguei pesado com você, estava com raiva e frustrada por estar guardando algo por muito tempo, vocês dois não tiveram culpa de nada. — ela intercalou seu olhar entre mim e Aidan antes de voltar a encará-lo. — Espero que possa me desculpar e que possamos seguir em frente.
Natalie abaixou a cabeça, agora olhando para os seus pés. Olhei para Aidan, esperançosa. Ele sempre foi um bom rapaz e nunca foi de guardar ressentimento de ninguém, mas havia sido magoado ao ter seus sentimentos expostos por Natie, e ainda teve toda a bomba que ela jogou sobre gostar dele. Não sabia se ele aceitaria as desculpas, mas esperava que isso fosse o início de algo novo para todos nós — de preferência positivo.
— Eu quis entrar em contato no decorrer da semana, mas confesso que me senti envergonhado demais para fazer isso. — suspirou, frustrado. — Não deveria ter ficado tão ausente, eu devia ter encarado as coisas e resolvido isso logo. Peço desculpas também.
Confesso que por essa eu não esperava, e ao notar a reação de Natalie, ela também não esperava nada disso.
— Precisamos contar tudo um para o outro de agora em diante, sem mais segredos. — indaguei, sentindo meu corpo ficar tenso. Essa regra deveria ser aplicada para mim também, eles ainda não estavam cientes dos meus amassos com Matthew Finley, mas não sei se levantar esse assunto agora seria o ideal. Até onde eu sei, Aidan tem sentimentos por mim e Natalie é apaixonada por ele, não posso simplesmente jogar uma nova bomba nisso tudo, irei ferir mais ainda os sentimentos de Aidan. — Vou deixá-los sozinhos agora para que possam conversar sobre tudo o que aconteceu. — disse olhando para os dois. Natalie arregalou os olhos, quase enfartando, mas ignorei suas súplicas. Ela precisava encarar a situação e deixar tudo esclarecido com ele. — E nós dois iremos conversar amanhã, tudo bem? — perguntei a Aidan.
Precisava preparar o terreno antes de contar que eu estava ficando com Matt, isso se eu ainda estiver. Depois de hoje de manhã eu realmente não sei como está o nosso status.
— Claro! — concordou, olhando para mim.
— Ok, estou indo.
Fui em direção à porta, mas não antes de dar uma olhada para Natalie de "resolva as coisas com ele". Mesmo com um semblante de que queria fugir, Natalie ficou firme e forte, ela sabia o quanto era importante resolver tudo com ele. Saí do quarto e me despedi de Ethan que estava esparramado no sofá da sala. Não vi os outros quatro rapazes que também moram aqui, deviam estar dormindo ou passando o final de semana fora.
Caminhei de volta para o meu dormitório, não era longe e o dia estava lindo naquela manhã. Já estava ofegante e suada quando entrei na rua de acesso ao dormitório. Realmente estava quente naquela manhã. Mas todo o desconforto do calor desapareceu assim que vi o carro de Matthew estacionado na rua. Ele estava aqui. Olhei ao redor para ver se o encontrava, mas ele poderia estar na parte de dentro onde estava mais fresco.
Corri para dentro.
— Kat? — parei abruptamente, ouvindo sua voz inconfundível atrás de mim. Virei de frente para ele que vinha caminhando apressadamente em minha direção. Ele estava no carro esse tempo todo. — Estava te esperando, você não estava em casa. — disse quando ficou cara a cara comigo.
— Precisei sair, o que faz aqui? — olhei ao redor preocupada que alguém pudesse nos ver.
— Notei que tinha ido embora. Podemos conversar em particular?
Depois de ouvir seu pedido, fiquei sem saber o que eu deveria fazer. Depois do que eu vi mais cedo, tudo que eu não queria era ficar sozinha com ele. Eu sabia que Matt lidava com problemas emocionais, e que muitas coisas que ele havia enfrentado no passado ainda o assombravam. Ver o seu excesso de raiva de perto não foi nada agradável.
Como se ele estivesse lendo os meus pensamentos, Matthew disse:
— Eu sei o que você viu mais cedo. Não precisa ter medo de mim, Kate, eu posso te explicar algumas coisas.
Senti sinceridade em suas palavras, e apesar do meu receio eu não sentia medo dele, nem um pouco. Eu sentia uma estranha sensação de que eu podia confiar nele. Concordei em conversarmos em meu quarto, como hoje era domingo o campus ainda estava vazio.
Matthew fechou a porta atrás de si quando entramos no quarto. Ficamos em pé, um olhando para o outro em algum determinado momento, podia sentir que ele estava envergonhado, não sabia por onde começar. Não é fácil ter sua fragilidade exposta, podia imaginar como ele estava se sentindo nesse momento.
— Não estou com raiva ou com medo. Pode se abrir comigo, Matt. — tentei tranquiliza-lo.
Depois de ver seus ombros relaxarem e ele soltar um suspiro, Matthew disse:
— Fui diagnosticado com depressão e ansiedade há uns dois anos. Às vezes eu tenho alguns surtos, começo a chorar ou fico paranoico. — disse sem olhar em meus olhos, apesar da minha tentativa de tranquiliza-lo, ele se sentia envergonhado. — Sempre consigo conter quando estou em público ou com alguém por perto, mas essa manhã... foi difícil. — fez uma breve pausa, umedecendo seus lábios. — Nunca gostei de demostrar minhas fraquezas, odeio só de pensar na possibilidade das pessoas me acharem um fraco. Não era pra você ter visto nada disso, peço desculpas.
— Você já pensou em procurar ajuda?
Senti que a minha pergunta era idiota. Se ele foi diagnosticado é óbvio que procurou alguma ajuda, mas para ele estar nessa situação eu acredito que ajuda é uma palavra que não pertence ao seu vocabulário. Matthew riu ironicamente, reforçando a minha suspeita.
— Quando eu comecei a me afundar meu empresário tentou me ajudar, aceitei fazer algumas consultas e então veio o diagnóstico, mas então me disseram que o melhor para mim seria entrar em uma maldita reabilitação e começar a tomar vários medicamentos. Isso não é vida, Kate. — dessa vez ele olhou para mim, aflito. — Imagina o escândalo que seria assumir para todos o quanto eu estava fragilizado? Ou virar um dependente de remédios e terapias? Eu não sou fraco, não quero que as pessoas me vejam dessa forma, eu posso conseguir lidar com isso sozinho.
Suspirei pesadamente, sem saber o que falar. Confesso que fiquei desnorteada com a sua confissão.
— Matthew, as pessoas tem percepções diferentes de fraqueza. Para mim, por exemplo, demonstrar suas fraquezas vai muito além de ser fraco. Eu acho muito corajoso alguém se abrir da forma como você acabou de fazer e expor os seus maiores temores. Você não é fraco para mim, Matt. — murmurei me aproximando dele.
Envolvi meus braços ao redor do seu pescoço enquanto ele envolvia minha cintura com seus braços fortes. Sua expressão estava suavizada agora, sem preocupações ou medo. Ele abriu um breve sorriso antes de tocar seus lábios com o meu. Foi um beijo breve e carinhoso, mas o suficiente para fazer meu corpo inteiro sentir como se estivesse flutuando.
Notas Finais: Estou MUITO feliz por estar de volta. Por favor, deixe seu VOTO e seu COMENTÁRIO, isso é muito importante pra mim. Eu me dediquei de verdade nesses capítulos, eles estão INCRÍVEIS, mal posso esperar para vcs lerem tudo. Até sábado que vem <3
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