DIA 14: Continuação
DIA 14: CONTINUAÇÃO
Matthew ainda me olhava como se eu fosse algum tipo de aberração. Sua expressão estava séria e sua respiração mais rápida que o normal, mas ele não parecia bravo. Queria saber no que ele realmente estava pensando, provavelmente estava me achando uma completa maluca por estar propondo algo assim, mas eu sentia que era o certo. Não sabia o motivo de ele não querer encontrar a mãe, mas eu sentia que ele queria isso e precisava de um empurrão para conseguir.
Por fim, ele desviou seu olhar de mim respirando fundo, como se estivesse prendendo a respiração por um tempo sem perceber.
— Matt... — sussurrei calmamente, quase como um suspiro.
Notei ele fechar os olhos e trincar o maxilar antes de abri-los novamente e me olhar.
— Eu entendo o porquê de você estar fazendo isso, você acha que é o melhor para mim, mas... — suspirou pesadamente, ficando em silêncio.
Esperei que ele prosseguisse, mas notei que isso não aconteceria.
— Você tem razão, eu acho que isso é o melhor para você, porque eu posso ver isso, eu consigo ver o quanto você quer e precisa ir nesse aniversário. — ele não olhava para mim, sua cabeça estava baixa, e apesar do seu olhar estar distante, ele estava prestando atenção nas minhas palavras. — Seja lá o que tenha acontecido, você precisa começar a enfrentar. — ele ergueu a cabeça com o seu olhar encontrando os meus.
Seus olhos estavam indecifrável, com mil emoções através deles.
— Não acredito que me convenceu a fazer isso. — murmurou suspirando, voltando a ligar o carro.
Não acredito que consegui convencê-lo a ir. Pensei comigo mesma.
Um sorriso se estendeu em meu rosto.
Matthew saiu do acostamento e voltou para a estrada, e apesar de eu estar sorrindo por ter conseguido fazê-lo mudar de ideia, sentia que eu só tinha ganhado uma batalha, a verdadeira guerra ainda estava por vir. Durante o caminho, Matt avisou que teríamos que parar no posto de gasolina para abastecer.
— Vai aguardar no carro ou vai comprar alguma coisa? — perguntou assim que parou o carro.
Olhei para a típica lojinha que tinha em todo posto de gasolina.
— Acho que vou comprar alguma coisa, a viagem será longa — tirei o meu cinto. — Vai querer alguma coisa?
— Cheetos, Coca e doces de goma. — disse tirando o seu cinto e pegando sua carteira. — Aqui, compre o que quiser. — pegou seu cartão platinum.
Olhei para sua mão segurando o cartão em minha direção e depois olhei novamente para ele.
Ele estava tirando uma com a minha cara?
Cartão Platinum era só para pessoas com uma conta bancária altíssima e muito movimentada, e ainda tinha direito a ter acesso exclusivo a diversos eventos e locais, sala VIP em aeroportos e serviço de concierge.
— Pode usar, não vai afetar minha conta bancária se você comprar porcarias em um posto de gasolina. — apontou novamente o cartão em minha direção.
— Como você mesmo disse, são porcarias em uma lojinha de posto de gasolina, não preciso do seu dinheiro. — sibilei abrindo a porta do carro pegando a minha bolsa no banco de trás e saindo.
Matthew não contestou, mas pude ouvi-lo bufar.
Entrei na lojinha e fui olhar as opções. Achei o Cheetos que Matt queria, peguei também batatas chips, chocolates — no lugar das gomas, já que não tinha —, refrigerantes e água.
Depois de pagar, saí da lojinha e encontrei Matthew tirando foto com uma fã, ela aparentava ter em torno dos treze ou quatorze anos e estava acompanhada do pai. Não queria interromper, muito menos trazer atenção para mim, então segui lentamente para perto do carro ficando sempre fora do campo de visão de qualquer um deles. Mas quando segurei na maçaneta do carro para abri-la, a garota já tinha conseguido sua foto e se distanciado, dando logo de cara comigo. Olhei assustada para ela, porém disfarcei meu nervosismo lhe dando um sorrisinho e entrando rapidamente no carro.
Droga. Espero que ela ignore a minha presença.
Matthew entrou no carro logo depois colocando seu cinto e girando a chave na ignição.
— O que você comprou? — perguntou olhando para as sacolas em meu colo e ignorando totalmente o fato de que uma fã real sua me viu entrar em seu carro.
— Hmmm... — pigarreei abrindo as sacolas para lhe mostrar o que eu havia comprado. — Cheetos, batatas, refrigerantes.... Ah, comprei chocolate no lugar das gomas, não tinha na loja.
— Não sou muito fã de chocolate.
Olhei para ele espantada.
— Qual ser humano não gosta de chocolate? — perguntei abismada.
— Eu mesmo, Matthew Finley. — olhou para mim, sorrindo. — Agora abra esse Cheetos porque estou morrendo de fome.
Dirigindo calmamente pela estrada, comemos em silêncio enquanto devorávamos um saco de Cheetos e de batatas. Matthew estava pensativo, provavelmente pensando no que vai dizer assim que chegarmos lá, ou no que vai acontecer. Eu só esperava que no final ele não se arrependesse e que nada de errado possa fazer com que ele acabe me odiando por isso.
— Está olhando pra mim. — murmurou desviando sua atenção do trânsito para mim. Senti seu olhar caloroso sobre cada detalhe do meu rosto.
Sorri envergonhada, desviando meu olhar.
— Só queria tentar decifrar você.
— Me decifrar? — perguntou curioso. — Por que tentaria me decifrar?
— Você está pensativo e não falou nada até agora... — dei de ombros. — Quero saber no que está pensando.
— Bom... — se remexeu em sua poltrona, inquieto. — Estou pensando no que vou encontrar assim que eu chegar lá e em como será a reação das pessoas.
— E mesmo assim você está aqui enfrentando isso, fico feliz.
Sorri para ele que retribuiu o sorriso.
— Gosto de você, Katherine. — falou inesperadamente, me pegando de surpresa. Acho que a minha reação deve ter sido tão evidente que ele rapidamente reformulou o que disse. — Digo... me sinto bem estando perto de você, sinto que é uma boa amiga, então, obrigado! — sorriu calorosamente.
Soltei um suspiro e sorri, aliviada.
Imagina que louco seria, nos conhecemos há semanas, seria loucura demais.
Não seria?
— Agora eu quero saber no que você está pensando.
Merda. Isso me fez lembrar que eu estava falando mais palavrões em pensamentos do que o normal. Efeito Matthew Finley. Era como se ele bloqueasse os meus sentidos certos e só os errados florescessem, ou me fizesse esquecer das coisas certas que precisavam ser ditas. Com ele eu sempre me encontrava em situações em que eu não sabia lidar, e eu sempre sei lidar com as situações, seja ela qual for.
Porém, Matt causava esse efeito de me fazer perder as palavras.
— Nada demais, eu só... — eu só pensei que você estivesse dizendo que gostava de mim, não só como amiga, nada demais. — Só estava pensando no que me disse.
— E qual a conclusão que você chegou?
— Que eu espero que o que esteja lhe aguardando possa ter valido essas horas no carro e todos esses Cheetos e batatinhas. — peguei as embalagens vazias e as joguei nele.
Ele riu. Uma risada tão gostosa que senti meu coração se aquecer.
Estávamos aqui. Nova Iorque. Quatro horas de viagem.
Já estávamos a meia hora parados em frente a grande casa que pertencia a sua mãe, mas desde que chegamos, Matt só desligou o carro e ficou parado, intacto, observando a fachada da casa. Decidi não interromper, talvez ele precisasse criar coragem antes de entrar lá e fazer o que ele precisava fazer. Não sabia que isso seria tão difícil para ele até chegarmos aqui.
O que será que aconteceu de tão grave para ele estar assim?
— Antes de fazermos isso... — começou cortando o silêncio e me tirando dos meus devaneios, sem tirar sua atenção para a entrada da casa. — Eu preciso que saiba o que eu fiz no ano passado. Não posso deixar que entre comigo, encare todos da minha família sem saber de toda a humilhação que eu os fiz passar. — agora ele olhava para mim. — Se achar humilhante demais e não quiser encarar eles comigo, eu vou entender perfeitamente. Continuarei grato por ter me feito vir até aqui.
Ele estava sendo tão sincero, tão cauteloso, que eu de fato estava ficando preocupada com o que havia acontecido. Eu sabia que era coisa ruim, e mesmo não querendo mais saber, eu precisava. Precisava saber o que estava o atormentando, e principalmente, precisava ajudá-lo a superar.
Se eu consegui convencê-lo de vir até aqui, consigo ajudá-lo a superar seus demônios. Eu acho.
— Matt... — murmurei quase como um sussurro, apoiando minha mão levemente em seu braço. Suas íris azuis acompanharam minha mão, olhando por um tempo o meu gesto. Droga. Devia estar sendo invasiva demais. Retirei a minha mão, sentindo minhas bochechas corarem, mas então ele me surpreendeu ao pegar a minha mão e entrelaçar seus dedos nos meus. Meu coração acelerou. — Pode contar comigo, não se preocupe, seja o que for, não é mais você agora.
Ele sorriu, um sorriso que era capaz de melhorar o seu dia por semanas.
— Estive aqui para o seu aniversário no ano passado. Eu estava no auge da minha fase turbulenta, completamente perdido, não que eu ainda não esteja, mas eu estava mais perdido que agora — riu ironicamente — Eu cheguei bêbado e estava drogado naquele dia. — sua cabeça estava baixa, não queria me encarar enquanto falava sobre seus piores temores. — Eu simplesmente fui um completo babaca. Quebrei várias decorações, destruí o bolo, chamei todos de oportunistas, chamei minha mãe de oportunista. — ele olhou para mim, com uma mistura de raiva e desolação. — Justo ela que fez de tudo por mim, como pude estragar tudo por causa dos meus vícios?
Seu olhar estava tenebroso, com raiva, desolado, frustrado... era um conjunto de emoções ruins, mas também tinha perdão, amor e remorso.
Segurei forte sua mão e olhei bem em seus olhos.
— Nós vamos entrar lá. Você vai rever sua família, vai rever sua mãe, e dessa vez não vai ser como um viciado, vai ser como Matthew Finley, quem você é de verdade.
NOTAS FINAIS:
Espero que tenham gostado, eu AMEI esse capítulo e mal posso esperar para vocês surtarem com o próximo (hihihi). Desejo a todos vocês um feliz ano novo, que possa ser um ano cheio de conquistas para todos nós. Obrigada por estarem lendo Intenso e me dando todo o seu apoio, sou muito grata por tudo isso. Feliz ano novo meus amores <3
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