No dia depois da cerimônia o médico procura a velha senhora para pedir explicações a respeito do ocorrido. Pedro ainda estava dormindo e só acordaria no começo da tarde pois a cerimônia ocorrida na madrugada anterior havia consumido muita energia das crianças.

- senhora, aconteceu algo errado? Porque ele não lhe disse seu nome como fizeram as outras crianças?

- não há nada de errado com Pedro.

- porque ele disse este nome?

- ele é especial.

- como a senhora sabe?

- é só sentir... você não sente isso quando está perto dele?

- não, eu na verdade não tenho certeza... Sofro uma terrível dúvida. Não sei se a senhora sabe, mas há uma garota também que está sendo preparada para um grande projeto que foi gerada junto com ele, mas ela já não está mais comigo...

- uma coisa não tem nada a ver com outra, cada um é um indivíduo diferente, e ele continua sendo especial. Você tem que se preocupar, nesse momento, apenas com ele.

- a senhora sabe alguma coisa sobre a garota? Sabe se tem outras crianças sendo preparadas para um novo projeto de operadores?

- o senhor sabe que não pode me perguntar isso. Eu só posso lhe responder perguntas a respeito da criança que está sobre sua responsabilidade. Eu só posso falar com você a respeito de Pedro.

- ok, a senhora tem razão. Mas então, eu ainda não entendi o porquê da senhora não ter sentido qual era o nome dele.

- eu fiz isso porque ele mesmo queria dizer qual era seu nome.

- eu vi isso, mas ninguém o chamava assim, como ele sabia que esse era seu nome?

- ele não sabia, apenas sentiu. Ele veio pra trazer as coisas para o caminho certo, muitos que estavam desgarrados de volta ao caminho.

- desgarrados? O que a senhora quer dizer com isso? A senhora se refere às missões que ele irá realizar?

- o senhor terá que esperar pra ver. Quando chegar o momento confie nele, ele tem os instintos muito apurados e seu coração é límpido e leve. Apenas confie nele.

Dr. Lourenço fica por um bom tempo tentando entender o que aquela conversa significava, e a cada vez que ele tentava mais difícil era chegar numa conclusão. Ele era apenas um cientista, um apoiador. Havia coisas que apenas os operadores e os anciões conseguiam entender, estava no sangue deles. Para eles era claro e cristalino como água, mas para os demais mortais essas questões eram tidas como coisas além da compreensão, não eram óbvias.

De noite depois que Pedro havia acordado a senhora pediu para ficar um tempo sozinha com o garoto. Dr. Lourenço o levou para a velha, ela pediu para que o médico saísse. Os dois ficaram por duas horas dentro da casa da mulher, ela lhe serviu chá e doces. Do lado de fora Dr. Lourenço estava muito curioso em saber o que estava acontecendo. Quando os dois saíram, Pedro estava sorrindo e a mulher chamou seu tutor.

- Lourenço, aconteça o que acontecer, tome o maior cuidado com essa criança. Nós sempre deveremos apoiá-lo, confie nos instintos dele e tenha cuidado na administração dos medicamentos inibidores, não o deixe cego.

- como assim, ele disse algo? A senhora conseguiu sentir algo de errado?

- pare de perguntar se há algo de errado com ele, isso não ajuda em nada o seu desenvolvimento! Apenas obedeça minhas palavras.

- sim senhora.

Lourenço dá as mãos ao garoto, lhe dirige um sorriso paterno e começa a conduzi-lo de volta para o alojamento. No caminho ele ia perguntar o que havia acontecido dentro da casa da mulher quando é avisado:

- não faça perguntas sobre isso a ele!

O médico se vira e olha espantado para velha mulher encostada na porta de sua casa, "como ela sabia que eu iria fazer isso?" pensou o médico pesquisador.

Pedro olha para trás e sorri para a velha mulher.

Depois de alguns dias eles retornam para São Paulo.

O garoto continuou com sua preparação, entre treinamento, testes e administração de medicamentos que a esfera superior enviava de tempos em tempos. Dr. Lourenço ia acompanhando de perto o desenvolvimento do garoto, às vezes o menino sofria muito com os tratamentos que lhe eram administrados e o médico ficava pensando se realmente Pedro seria a escolha da esfera superior.

Num dos treinamentos realizados em outro CCO, um fato estranho acontece, depois de passar a manhã inteira interagindo com outras crianças, Pedro sente-se mal e sua pressão arterial fica fraca, o garoto fica sonolento por dois dias.

De volta ao CCO14 Dr. Lourenço realiza alguns exames e verifica que o garoto estava com uma forte anemia, o médico achou isso muito estranho pois ele havia sido examinado a poucos dias e suas condições estavam ótimas. Isso causou uma grande angústia e Lourenço se lembrou do dia em que as sete crianças nasceram, e apenas duas sobreviveram, Pedro e uma menina.

O médico informou os conselheiros daquele CCO, mas eles não conseguiram chegar a uma conclusão sobre o ocorrido. Houve quem especulasse que a garota que havia sido gerada no CCO14 pudesse estar entre as crianças do encontro e caso isso fosse confirmado ela poderia ter um poder mental fortíssimo, tão forte que poderia afetar, mesmo sem querer, a saúde de seu irmão de sangue. Isso poderia explicar alguns fatos ocorridos no dia do nascimento das crianças... Ainda teve os sonhos que as mães tiveram com os peixes... Muita especulação foi gerada, mas não se chegou a nenhuma conclusão.

Depois de alguns dias Pedro já estava totalmente recuperado e ele pôde retornar às suas atividades.    

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