O nome
É chegado o momento em que é revelado o nome da criança. O garoto agora com seus seis anos de idade viaja com Dr. Lourenço e seus atuais tutores a uma ilha da Bahia. Eles são apresentados aos anciões daquele CCO. Passam dois dias no local para se ambientar, estavam ali outras crianças de outras localidades, Dr. Lourenço fica curioso e tenta descobrir se alguma garota poderia ser a outra criança que fora gerada nesse projeto, ele procura por uma criança com os traços parecidos com a de seu garoto. Ele não chega a nenhuma conclusão, fica angustiado.
Descansar a cabeça naquela ilha não era fácil. Não era permitido a presença de gatos para não atrapalhar a preparação dos futuros operadores. Dr. Lourenço se sente invadido o tempo todo. Não consegue dormir a noite devido a grande força psíquica que tantas crianças especiais juntas podiam causar. Existia apenas um local blindado onde ele conseguia ter algum arrego par descansar, mas só funcionava durante o dia.
Os anciões se reúnem para a grande cerimonia. Dr. Lourenço acompanha os pais adotivos preparando a vestimenta do garoto, era apenas uma túnica vermelha. Dr. Lourenço e os demais adultos vestiam roupas verdes escuras. São oito da noite quando eles começam a se dirigir para um grande barracão em frente à praia, a lua cheia começa a nascer, majestosa no horizonte do mar. Seu brilho magnífico gerava uma aura fantasmagórica na crista das ondas quando a espuma se formava, era como se uma luz neon fosse emitida pela água. O cheiro da maresia era fresco e suave e por algum motivo isso lhe fazia lembrar de uma infância esquecida nos primórdios de seus pensamentos. O vento litorâneo brincava com as folhas dos coqueiros.
Eles caminharam sem se falar para o barracão. O garoto olhou na volta e viu outras crianças sendo acompanhadas pelos seus mentores indo para a mesma direção.
Ao chegar no local eles se sentaram nas cadeiras preparadas em volta do barracão. Havia algumas pessoas no fundo tocando vários tipos de instrumentos tribais entre flautas de madeira, atabaques, tambores e berimbaus, a música era suave e relaxante.
Após alguns poucos minutos uma anciã anunciou o início da cerimônia, foi servida uma bebida preparada com uma mistura de raízes, folhas e flores. Dr. Lourenço já havia participado de algumas cerimonias como essa, porém ele nunca havia experimentado a tal substância, mas dessa vez ele foi convidado a provar do preparado. Após todos terem bebido o líquido eles foram instruídos a relembrar seu passado, até as lembranças mais antigas quando elas se misturam com o mundo dos sonhos, cantaram cânticos de uma língua africana ancestral, evocaram forças que Dr. Lourenço não conseguia entender, ele somente sabia que tudo aquilo tinha uma força tão grande que pessoas comuns como ele não poderiam compreender. O garoto podia sentir o ar solene que emanava das pessoas, além de sentir uma grande ansiedade emanando do Dr. Lourenço.
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Depois de algumas horas da administração da substancia as crianças dançaram numa espécie de transe. Era como se elas estivessem em comunhão, os anciões continuavam a entoar seus cânticos até a madrugada, agora as crianças também cantavam os versos. Era como se elas fossem apenas um organismo, cada um podia sentir a forte presença dos pensamentos uns dos outros. Dr. Lourenço, como cientista que era, ficava tentando controlar sua mente e entender o que eram aquelas estranhas sensações que sentia. Vez por outra seus pensamentos lhe escapavam e ele apenas era apanhado por imagens familiares misturadas com figuras surreais. Mesmo assim ele tentava fazer uma leitura da situação, não se permitindo embarcar totalmente no passeio que sua mente estava lhe convidando a dar.
Num determinado momento a mais velha das anciãs levantou os braços para cima e todos ficaram em silêncio. Ela pediu para que todos realizassem um exercício respiratório, controlando a inspiração e a expiração, eles ficaram nesse ritmo por alguns instantes. Ela pediu que as crianças dessem as mãos umas para as outras e assim foram conduzidas para o mar.
A água estava bem calma e fresca, a lua já estava bem alta no céu, as crianças foram colocadas uma a uma a boiar na água pela mulher. Duas mulheres estavam com algumas toalhas na beira da praia em prontidão. Um dos músicos que estava a tocar na cerimônia agora segura uma grande concha de caracol e ao sinal da velha mulher começa a soprar o objeto produzindo um belo e suave som de trombeta. É chegado o momento da revelação dos nomes das crianças. Após sete longos toques do instrumento a velha diz:
- Maria!
Uma das meninas que estava boiando bate os braços na água como se estivesse acordando de um transe e é amparada pela velha, a criança a encara e a velha repete seu nome:
- oi Maria.
Acriança sorri e diz oi. A velha lhe beija a testa e elas caminham até a beira da água e ela entrega Maria para as mulheres com as toalhas. As mulheres retiram suas vestimentas molhadas, a enrolam na toalha e fazem um sinal para seus responsáveis virem busca-la.
- Hermes!
A segunda criança repete o mesmo ritual.
Outras crianças vão saindo da água e Dr. Lourenço fecha seus olhos e tenta adivinhar qual seria o nome de seu garoto. Havia umas quinze crianças vindas de todas as localidades do Brasil, de todos os CCOs, Dr. Lourenço pensou: talvez todas aquelas crianças estivessem competindo entre si, sem saber, para ser o novo trunfo do Bureau. Talvez meu projeto não tenha sido o único...
Finalmente restava apenas uma criança na água. A velha mulher abria seus braços e virava seu rosto marcado pelo tempo para a lua ela dava fortes suspiros, ficou nesse transe por longos minutos, Dr. Lourenço já não conseguia distinguir se o que via era realidade ou fruto de sua percepção alterada. Ela volta sua atenção para as pessoas na beira da água e faz um sinal para o homem com a concha ele toca o instrumento por mais três vezes, Dr. Lourenço se aproxima das pessoas dentro da água, as mulheres com as toalhas fazem um sinal para ele não se aproximar mais. A velha então segura a cabeça da última criança que ainda estava na água e diz:
- qual o seu nome querido?
Um silêncio dominou o local por alguns instantes.
- meu querido qual é seu nome?
- Pedro!
- muito bem Pedro, vamos sair agora.
Dr. Lourenço ajudou seu garoto a sair da água e ficou preocupado se algo havia dado errado. Seguindo o que fizera com as outras crianças a velha retirou a roupa molhada do garoto e o embrulhou na toalha.
Ela diz a Dr. Lourenço.
- meu filho leve Pedro para dentro, ele precisa descansar.
Dr. Lourenço obedece.
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