Já se passaram três dias sem notícias do bebê e de Ângela, Dr. Lourenço está muito angustiado e liga de hora em hora para a esfera superior sem obter resposta. Nessas horas ele se sentia muito mal e ficava imaginando se aqueles longos anos trabalhando como apoiador do Bureau valeram a pena. Como ele poderia ser tratado daquela maneira, quanta falta de consideração... Temia ter perdido todo o seu tempo e empenho mais uma vez, noutros tempos outras crianças lhe foram levadas e ele não obteve mais informações.

- será que serei deixado de lado mais uma vez? O que vai acontecer com essas crianças? Será que conseguimos atingir o nível que era necessário?

Após alguns dias já sem tentar contato com a esfera superior e sendo convencido pelo conselho local que deveria dar tempo ao tempo, o médico se dedica a rever seus arquivos e atualizar seus diários.

O homem caminha no bosque do CCO14 enquanto pensa nas crianças que ajudara a gerar, apenas uma pequena parte delas continuou a ter contato com suas origens. Essa dupla de crianças realmente está mexendo com seu sossego, mesmo que ele não queira pensar nelas, sempre vêm em sua mente a vontade se segurá-los nos braços...

À tarde já de volta a seu consultório, ele está sentado na sua confortável cadeira com Rouge, seu gato de estimação no colo quando o telefone toca:

- Lourenço! Mande alguém pro aeroporto eles estarão chegando em duas horas. Deu tudo certo. Quando nosso pessoal chegar aí você receberá todos os dados.

- mas como está o garoto? Ele melhorou? E a mãe está com ele?

- quando a comitiva chegar você receberá todas as informações! Tenha um bom dia!

O médico pesquisador vai pessoalmente ao aeroporto buscar seu tesouro.

Ao retornar ao CCO14 a comitiva informa ao Dr. Lourenço que a criança teve que passar por dois procedimentos, o médico vai despindo sua criação para ir verificando as informações com seus próprios olhos. Ele vê que o garoto possuía uma sutura próximo à pélvis e outra na lateral da nuca, as incisões apresentavam um grande inchaço. Ângela vai acompanhando as informações e concordando com a cabeça, ela parece bem à vontade com as pessoas que a trouxeram de volta ao CCO14. Lourenço embrulha a criança com um cobertor, a entrega para Ângela, pede que elas saiam do consultório. Pergunta à comitiva qual era o real motivo das incisões. Eles informam que ele receberia o relatório completo no momento certo. Por hora ele deveria seguir o tratamento que consistiria em dar um medicamento injetável duas vezes por dia, um de manhã e outro a noite. Ângela também deveria tomar alguns medicamentos nas próximas semanas em que ainda estaria com a criança.

A comitiva se despede depois de dois dias de estadia no CCO14.

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Dr. Lourenço fica curioso sobre as cicatrizes do bebê e decide realizar algumas investigações por sua conta. Faz algumas radiografias e descobre que objetos esféricos foram inseridos nos locais das cirurgias. Ele não se lembra de algum operador ter recebido algum tipo de implante em uma idade tão tenra. Mas com certeza isso faria parte do projeto da Esfera Superior.

Continuando com sua investigação Dr. Lourenço tenta arrancar alguma informação de Ângela.

- minha cara, como você está? Está se sentindo bem?

- sim doutor! Estou ótima e o bebê também está bem melhor.

- que bom! Tem falado com a sua família?

- sim, telefonei para minha irmã a uns dois dias, achei estranho ela não me ter perguntado nada sobre o tempo que passei fora do ar.

- não se preocupe com isso às vezes as pessoas também ficam fora do ar por outros motivos – diz o médico colocando as mãos nos ombros da mulher e dando um sorriso.

- é deve ser a correria do dia a dia...

O médico havia solicitado uma equipe para cuidar da família de Ângela de modo que não tentassem interferir no projeto. Eles realmente ficaram meio fora do ar por uns tempos.

- Minha querida, eu gostaria de saber do que você lembra essa viagem que você fez com esse pessoal que atendeu o bebê.

- Dr. não participei de muita coisa, quando ele foi atendido eu fique um dia inteiro sem vê-lo e finalmente quando o reencontrei ele já estava com aquelas suturas.

- eles disseram alguma coisa que lhe chamou a atenção?

- eles falaram alguma coisa sobre uma menina, eles estavam comparando as crianças mas eu não entendia muito bem, parecia que eles estavam falando por códigos...

- tente se lembrar de alguma coisa curiosa, com certeza deve ter algo que você ouviu e ficou pensando depois.

- bom agora que o senhor me falou eu acho que eles disseram que por enquanto a menina estava se saindo melhor, mas eu não sei no que exatamente...

- hum, isso ajuda um pouco. Você chegou a ver outros bebês no local?

- não, ninguém... parecia que o local estava preparado apenas para nos receber o local estava bem deserto, apenas mais algumas pessoas além da equipe que nos atendeu.

- tudo bem querida, você me ajudou bastante. Mas se lembrar de mais alguma coisa me diga.

Após algumas semanas Ângela já bem recuperada ouviu a informação de que o acerto final seria realizado. Ela recebeu a outra parte do pagamento e teve o restante do dia para se despedir da criança. Após isso, como prometido ela partiu para o Sul.

A criança foi colocada aos cuidados de um casal de operadores de dentro do CCO14 e criada até seu aniversário de um ano. Após isso o casal e a criança foram enviados para uma aldeia indígena ao norte do país onde o Bureau tinha contatos.

O casal acompanhou o garoto por mais três meses quando sua guarda foi passada para o chefe espiritual da tribo. O homem era casado e tinha mais um casal de filhos pequenos. Essa estadia funcionaria como um estágio onde a criança iria ser iniciada no conhecimento dos mistérios da natureza.

E assim foi, o garoto ficou nesse local até seu aniversário de seis anos. Todo mês Dr. Lourenço ia visitá-lo e verificar suas condições de saúde. As injeções faziam parte do pacote das visitas, mas curiosamente o garoto não associava a figura do médico com algo negativo e ficava muito feliz quando o revia. O garoto participou de rituais que apenas crianças mais velhas participariam. Aprendeu a ler os sinais da floresta e dos animais.

Os homens da floresta fizeram relatos de coisas muito interessantes que o garoto fez junto a animais perigosos, demonstrando grande coragem e autocontrole que muitos membros da tribo não tinham.

O treinamento com os indígenas estava completo.

Após este aprendizado em sua vida a esfera superior ordenou que já seria hora da criança voltar.

Na sua despedida a tribo realizou uma grande festa onde Dr. Lourenço e a nova família que o iria acolher participaram. A nova família era composta por um casal de operadores franceses que estavam no CCO14 para realizar um intercambio.

https://youtu.be/b8ri14rw32c

Dr. Lourenço conversa com o homem que fora o tutor do garoto por aqueles anos, o agradece e ouve atentamente os conselhos do indígena sobre a forma de agir com o garoto. Eles trocam mais algumas ideias e depois se despedem para dormir, no outro dia eles retornariam para o estado de São Paulo.  

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