O ano sabático - 3
Já eram altas horas e a maioria das pessoas já tinha se despedido, restando na casa apenas alguns que acabaram pegando no sono espalhados pelos sofás e os tapetes da sala. Os três amigos ainda estavam na varanda da casa. Érica perguntou a Espíndola se ele não poderia servir algo para beber.
- Boneca, eu vou buscar algo especial para nós.
O homem foi até a cozinha e começou a mexer numas garrafas que estavam em cima de um armário, o casal podia ouvir o tilintar que vinha de dentro da casa. Pegou três copos e voltou para a varanda.
- Prontinho pessoal! Isso aqui é muito especial. Eu mesmo preparei esse licor.
- Um licor! É de que? - pergunta Érica.
- Frutas do cerrado.
O homem coloca os três copos na mesinha e serve três boas doses. Os amigos brindam e tomam a bebida.
- Puxa é um gosto muito peculiar! Lembra um pouco caju... misturado com ervas que não consigo distinguir... mas é muito bom. - diz Pedro.
- Realmente é muito bom! - diz Érica.
- Que bom que vocês gostaram. Eu preparei com muito carinho para uma ocasião especial, é uma receita secreta que eu venho aprimorando ha alguns anos.
O som que vinha da sala já tinha parado há alguns minutos.
Algum tempo depois, e umas doses a mais, os três amigos começam a ficar com muito sono e Pedro percebe que aquilo não era apenas um simples licor.
- Pô Espíndola o que você colocou aqui amigão? - disse Pedro com a voz alterada.
Érica já parecia estar num sono profundo, seu rosto estava sereno e ela esboçava um leve sorriso como se estivesse tendo um sonho bom.
- Você sabe Pedro, eu ajudo as pessoas. Então eu só quero te ajudar. Desde o primeiro dia em que te vi eu sabia que deveria te ajudar. Apenas relaxe e deixe sua mente viajar.
Pedro apesar de tentar mover o seu corpo para se levantar fica imóvel e uma leve sensação de formigamento vai invadindo a ponta de seus dedos. Com o tempo essa sensação vai se irradiando para seus braços e pernas até chegar a seus olhos - "poxa eu realmente preciso parar com essas drogas, estou baixando a guarda demais... fiquei desprotegido e não consegui perceber essa cilada" - pensou. Ele olha novamente para Espíndola e pode ver que o homem também parecia estar num sono profundo, Pedro luta para seus olhos não fecharem, esforço em vão, então não consegue mais se controlar e também cai no sono.
x-x-x
Pedro acorda com o sol esquentando levemente seu rosto, uma leve brisa com cheiro praiano lhe varre o corpo. A areia parece muito macia e envolve toda a parte de trás de seu corpo. Ele dá um suspiro bem profundo e se senta, pode ver o mar calmo a sua frente, um paredão formado por um banco de corais corta a lamina d'água. Olha para o seu lado direito e pode ver a imensidão do local, a praia estava deserta. Vira-se para o lado esquerdo e vê duas pessoas se aproximando, elas estavam rindo e felizes. Pedro esfrega seus olhos com as costas das mãos e olha para a esquerda novamente, agora ele consegue enxergar Espíndola e Érica. Ela dá um aceno, joga um beijo e começa a voltar ao lugar de onde viera, Espíndola sorri para ela e continua a caminhar em direção a Pedro. Eles pareciam se mover em câmera lenta.
- Pra onde ela está indo Espíndola?
- Não se preocupe com ela Pedro! Vamos caminhar um pouco?
Pedro concorda com a cabeça e eles começam a caminhar para o lado direito. No caminho Pedro pode ver uma grande mancha vermelha nadar sob a água da praia. A sombra parecia os acompanhar.
- Eu estou me sentindo tão bem aqui Espíndola... mas eu gostaria que a Érica estivesse conosco.
- Pedro, meu amigo, tenha calma. Vocês estão sendo observados. Você sabe que há pessoas que não querem ver vocês juntos não é mesmo?
- Como você sabe disso?
- Acho que um amigo me disse. Eu não te conheço direito mas sinto que você precisa de mim e eu vou precisar muito de você. Espero que você lembre desse dia. Por favor não me abandone.
- Mas do que você está falando Espíndola?
- Eu falo de tempos difíceis que estão por voltar para mim Pedro. Eu terei que voltar no tempo... se lembra da viagem no tempo...
- Cara lá vem você de novo com essa conversa... parece um louco falando desse jeito.
- Pois é amigão, me falaram num sonho que você me levaria de volta ao passado, mas na real... eu não sei se eu serei eu mesmo, pode me entender bicho?
- Não cara, desculpe mas não posso.
- Tudo bem! Só te peço que não me abandone quando eu precisar ok?
- Tá bom então... como queira senhor viajante do tempo.
- Vamos dar um mergulho?
Espíndola pula na água e chama Pedro, ele pensa em dizer que não iria entrar, mas se assusta ao ver Érica também correndo já com a água nos joelhos para entrar no mar, então ele também entra.
Espíndola dá umas braçadas e vai se afastando para o fundo deixando o casal a sós. Pedro beija Érica e ela o aperta fortemente contra o seu peito. Ela dá um sorriso e começa a nadar em direção aos arrecifes. Pedro observa por um instante maravilhado com a magia do instante e logo começa a segui-la. Eles nadam por algum tempo, Pedro olha em direção ao horizonte em busca de Espíndola, mas ele não consegue ver o amigo. Ele olha novamente para Érica e fica admirado com a beleza dos seus movimentos enquanto ela nada, Pedro sente um forte deslocamento de água ao seu lado e ao olhar para baixo pode ver uma enorme mancha vermelha que vai em direção a Érica, ela continua a nadar de forma bem despreocupada.
- Érica! - grita Pedro com desespero.
Ao se virar ela entra em pânico ao ver um grande peixe vermelho nadando em sua direção. Pedro olha para a criatura e mentaliza toda a sua energia para tentar parar o animal, o peixe dá um grande salto no ar em direção a Érica, e o esforço dele em tentar dominar o animal parece ser em vão, sua cabeça começa a doer. O tempo parece passar em câmera lenta e cada vez mais que Pedro tenta deter o grande animal vermelho mais sua cabeça parece que vai explodir, mesmo assim ele continua tentando, mas parece que ele apenas está conseguindo controlar o tempo o deixando passar cada vez mais lento. Quanto mais ele se esforçava mais sua cabeça doía e apesar de seu esforço o destino de Érica parecia estar traçado, seu corpo agora começava a formigar de tanto esforço mental. A sensação de cansaço começava a lhe dominar todo o corpo e ele já não sabia por quanto tempo mais conseguiria aguentar aquela situação. A sensação de formigamento agora começava a chegar em sua língua e o ar parecia lhe faltar, sua vista foi ficando escurecida e Pedro temia não conseguir livrar Érica do animal, seu coração estava quase explodindo quando ele começou a ouvir uma voz:
- Pedro! Pedro!... Pedro! Chega! Acabou Pedro!
Pedro abre os olhos desesperado e grita o nome de Érica. Ao acordar do pesadelo vê sua garota assustada ao lado de Espíndola.
Ela parecia muito apavorada e Pedro, ainda um pouco confuso, começou a se acalmar.
- Cara que foi isso Espíndola? - perguntou Érica choramingando.
- Bom meus amigos, nós tínhamos que passar por essa experiência. - disse o homem com um ar solene.
- Pedro você também estava lá? Na praia? Viu o peixe?- Perguntou Érica.
- Sim lindinha, eu também estava lá.
Já era dia e Espíndola foi acordando os gatos pingados que haviam tomado a sua sala como dormitório. Pedro e Érica ficaram abraçados por um longo tempo sem falar nada, ainda impressionados com o ocorrido. Pedro tentava encontrar alguma explicação para aquela experiência, em vão.
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