O ano sabático - 1
Pedro viajou durante alguns meses pelo norte e nordeste do país. Ficou impressionado com a dura realidade de algumas localidades, a desigualdade era enorme. Pôde observar grandes mansões incrustadas em favelas, locais totalmente insalubres onde crianças jogavam bola ao lado de valetas com esgoto a céu aberto. Ficou pensando porque isso acontecia. Um país tão rico! Esses locais recebiam dinheiro do governo federal, então para onde iam esses recursos?
Essas experiências o fizeram pensar que realmente o trabalho do Bureau era indispensável.
Ele passou oito meses viajando por essas regiões, depois foi para o sul, passou mais dois meses e voltou para o sudeste onde decidiu dar uma passada na capital de São Paulo, ele conhecia bem o interior, localização do CCO14 e seus principais pontos de apoio, mas não muito a capital.
Lourenço, Dênis e Augusto tentavam acompanhar os passos de Pedro e ao mesmo tempo entender qual seria o rumo que ele estava pensando em tomar.
Pedro hospedou-se em um hotel da zona norte próximo ao metrô. À noite, decidiu conhecer a famosa noite da cidade que não para. Ele perguntou para os atendentes do hotel e eles indicaram um bar bem movimentado e muito concorrido entre os frequentadores da região. Era um local que tinha som ao vivo e sempre lotava. Pedro chegou no bar e pediu um chope ao garçom e ficou observando o local buscando os olhares mais amigáveis.
Depois de algum tempo ele já estava trocando umas ideias com um pessoal, já tinha tomado vários chopes e pensava em pedir algo para comer, quando viu de longe uma moça de cabelos curtos que lhe fez lembrar de alguém muito especial. Ela levantou e começou a caminhar em direção a saída, estava acompanhada por um cara. Pedro estava do outro lado da pista de dança e se levantou para ver melhor a moça, "Não pode ser! Érica!". Ela e seu parceiro já estavam chegando à porta de saída e Pedro se apressou em levantar e ir atrás da moça, mas alguém da mesa o segurou pela jaqueta e disse:
- Pô aonde você vai cara, deixa eu terminar de contar a piada...
Pedro pediu educadamente para a pessoa lhe soltar pois ele precisava falar com alguém que estava saindo do bar. Ele então tentou correr até a porta, mas demorou um pouco até atravessar a pista, pois estava muito cheia, e quando finalmente chegou na porta de saída não conseguiu mais ver a moça. Naquela noite Pedro iria demorar muito para conseguir dormir.
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No outro dia ele retornou ao bar e trouxe consigo um retrato da moça que ele tinha feito à mão, perguntou aos garçons se alguém a conhecia, mas não obteve o que queria. Decidiu então ficar a noite ali esperando que ela aparecesse, guardou o desenho em sua jaqueta jeans, e pensou que isso tinha sido uma idiotice.
Numa certa altura, chegou um homem aparentando ter uns 60 anos de idade e sentou-se ao seu lado no balcão. Ele parecia ter a barba e os cabelos pintados para esconder os fios brancos. Também pediu um chope e, além disso, um steinhaeger. Pedro sente algo diferente na presença daquele estranho, mas estava mesmo preocupado em ficar de olho na entrada do local, sua esperança era ver Érica.
- Ah, as mulheres...
- Que tem as mulheres amigo? - indaga Pedro.
- Você sabe, elas viram nossas vidas de perna pro ar, por elas a gente acaba perdendo a cabeça... - continua a falar o estranho.
- Como sabe que eu estou esperando alguém?
- O meu trabalho é esse bicho... ajudar as pessoas a descobrir o que procuram. Mas nesses casos é muito mais fácil... dá pra sentir quando alguém está desesperado por uma mulher, e esse com certeza é o seu caso amigo.
- Qual é seu nome?
- Espíndola, e o seu?
- Pedro.
Pedro achou estranho o jeito daquele homem, todo sombrio e misterioso. Todo aquele papo sobre as mulheres, mas era como se eles se conhecessem, havia algo de familiar que ele não conseguia dizer o que era.
Espíndola ficou no bar por mais uma hora e depois se despediu desejando boa sorte na espera.
Já eram altas horas da noite quando apareceram algumas pessoas que Pedro havia conhecido na madrugada anterior, e ele decidiu se juntar a eles para as horas passarem mais rápido.
Ele retornaria todas as noites durante algumas semanas na esperança de ver Érica, mas ela nunca aparecia. Ele começou a ficar pensando que talvez estivesse enganado, talvez fosse alguém muito parecido.
Pensou em ir procurá-la na praia, ela poderia estar por lá pois tinha a nova fábrica para tocar e com a morte de seu pai só restaria seus amigos. Mas se o Bureau soubesse disso ele provavelmente teria problemas, então decidiu tentar por mais uma semana.
Numa dessas noites Pedro decidiu voltar um pouco mais cedo para o hotel e como o clima estava muito agradável, ele voltou um trecho a pé para ver o movimento. Ao passar por uma marquise ficou intrigado ao ver um mendigo falando sozinho. Ele pensou, "será que meu trabalho no Bureau faz alguma diferença para esse homem?". O mendigo andava de um lado para o outro dizendo que iria terminar o trabalho que só precisava de mais tempo, mas não havia ninguém ali além do sem teto. Ao ir se aproximando Pedro se assustou ao ver que se tratava de Espíndola e então diz:
- Ei Espíndola, o que você tá fazendo aqui cara? Eu já não te vejo a três noites você tá precisando de alguma coisa?
- Eu te conheço por um acaso seu filho da puta! - Grita o homem.
Pedro ficou confuso, pois a voz do homem era diferente da voz de Espíndola, e como era noite e os dois homens tinham barba ele pensou que talvez fosse apenas alguém muito parecido. Como o homem estava agressivo Pedro não conseguiu se aproximar muito para fazer um reconhecimento mais apurado. Decidiu seguir seu caminho. Se desculpou por tê-lo confundido e continuou a caminhar. O homem ficou gritando palavrões em meio a rua e Pedro se arrependeu por falar com ele.
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Após várias tentativas frustradas Pedro decidiu arrumar suas malas para seguir sua viagem agora em direção ao Rio. Quando chegou ao espelho lhe veio um pensamento: "cara você vai desistir assim?"; "mais eu já tentei demais, hoje já não sei se realmente era ela que estava lá". Ele parou um momento e se observou mais um instante, lembrou do sorriso dela. "Cara você sabe que era ela, além do mais se ela faz viagens esporádicas aqui pra capital pode ser que ela esteja voltando pra uma nova visita, te peço mais essa chance... vamos esperar mais essa semana e se ela não aparecer vamos embora...". Pedro ficou imerso em seus pensamentos. "Amigos eu também concordo que deveremos esperar mais uma semana, também estou com uma forte intuição que ela deve estar chegando perto", disse uma terceira voz na cabeça de Pedro. Ele decidiu deixar as malas e se preparar para mais uma noite de vigília.
Ao chegar ao bar pôde ver que Espíndola estava acompanhado por uma mulher, mas não era possível ver daquele ângulo se era uma das mulheres que costumava frequentar a turma de amigos que vez por outra estavam por ali. Apenas pôde ver que ela tinha cabelos curtos.
Quando Pedro foi chegando mais perto seus batimentos foram aumentando e um forte e reconfortante calor começou a lhe invadir o peito. Ao sentir alguém se aproximar a mulher se virou e abriu um sorriso. Pedro também sorriu, a espera tinha acabado.
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