Gladson
Acuado, Pedro não pensou que o Bureau o encontraria tão rapidamente e tão facilmente. Pensou que talvez o implante que havia retirado há alguns dias fosse o motivo do rastreamento. Mas o Bureau está infiltrado em todos os lugares e certamente sua foto já estava circulando por inúmeras mãos com um carimbo de "procurado". Daqui pra frente todo o cuidado é pouco. Queria ir até um dos lugares onde Dênis havia indicado como tábua de salvação caso as coisas saíssem do controle, mas agora já não sabia se eram seguros.
"O Bureau sabe desses lugares?" - pensou uma voz dentro de sua cabeça. "Você sabe que sim" - afirmou uma segunda voz. Os operadores de linhagens mais avançadas como as de Pedro têm três vozes dentro da cabeça ao invés de duas, como na maioria das pessoas. A terceira voz da consciência trouxe a solução: "temos que procurar Espíndola, o louco viajante do tempo". Então ele pegou uma alça de acesso para poder sair na rodovia que o levaria até Espíndola.
Após várias horas dirigindo Pedro finalmente chegou na cidade do viajante do tempo, mas achou que não seria prudente ir direto na casa do amigo. Primeiro era necessário sentir o terreno. Todo cuidado seria pouco. Decidiu passar a noite num motel na beira da estrada.
Pedro dormiu até quase a hora do almoço, pois ficou acordado até tarde na noite anterior revirando os arquivos que havia tirado do escritório do Dr. Lourenço, o velho médico pesquisador, a quem Pedro tinha um respeito enorme como se fosse seu pai.
No começo da noite, Pedro pegou um casaco, pediu um táxi e foi ao bar que habitualmente se encontrava com Espíndola. Desceu do carro algumas quadras antes, queria dar uma caminhada e sentir o lugar, lembrar das noites que esteve com Érica.
A lua se levantava no horizonte com uma cor alaranjada, com as mãos nos bolsos ele caminhava. Caminhava e olhava paras as pessoas que cruzavam seu caminho. Comércios fechando suas portas barulhentas de metal. Atravessou a rua hipnotizado por uma garota de cabelos bem curtos, magra alta e morena. Seu coração começou a bater mais forte. Mas, conforme a luz foi revelando o rosto daquela jovem mulher a repentina esperança dele foi se apagando, não era a Érica. Olhou novamente para a lua, agora já estava toda revelada e mais clara. "Será que ela também está olhando pra Lua nesse momento?".
O bar estava cheio como sempre, Pedro caminha até o balcão.
- Boa noite amigo! Você conhece o Espíndola?
- Boa noite! Sim conheço, porque? - responde o barman.
- Ele está por aqui hoje?
- Cara, já tem uns dias que eu não o vejo. Você sabe o coroa é meio doidão...
- Pois é... - Pedro dá um sorriso sem graça e tenta não demonstrar sua decepção nem sua preocupação.
Depois de comer e beber ele decide começar a caminhar de volta ao lugar onde estava hospedado. Foi andando despreocupado, a hora que visse um táxi desocupado ele o pegaria. Perdido em seus pensamentos e depois de caminhar por várias quadras ele dá de cara com o mendigo que era o sósia de Espíndola. Hoje parecia que o homem estava mais calmo, ele segurava uma bíblia e ficava lendo uma passagem e resmungando com uma cara de quem estivesse tentando descobrir uma charada.
- 144 mil... 144 mil - o mendigo lia e perdia o olhar no horizonte, franzia a testa e lia... perdia o olhar na calçada...
- Boa noite! - Disse Pedro enquanto cruzava o caminho do mendigo.
- Boa noite Pedro! - respondeu o homem com a bíblia.
Pedro parou, se virou bem devagar e perguntou.
- Como o senhor sabe meu nome?
- 144 mil... 144 mil... vai ser só 144? mil?
- Amigo, por favor, o senhor me lembra alguém. O senhor conhece o Seu Espíndola?
- 144 mil... cento... e... quarenta... e... quatro... mil... - respondeu o mendigo olhando para Pedro com seus olhos arregalados ao mesmo tempo em que apontava para a bíblia.
Por favor, vote clicando na estrela abaixo. 144 mil...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro