Dênis tenta falar com o velho médico pesquisador.

- Dr. Lourenço, estou muito preocupado com Pedro, já tem algum tempo que ele vem apresentando sérios problemas de saúde por causa dessa maldita preparação! E se de alguma forma ele for prejudicado nesse processo, realmente vale a pena arriscar a vida dele por causa desse novo projeto? O rapaz se submete a tudo isso, se doa, sofre e parece que ninguém liga. Tem alguma coisa errada ai...

- Dênis, Dênis... você não aprende nunca meu jovem... você sabe porque que nossa organização funciona tão bem através dos séculos? Cada um trabalha na sua área, cada um respeita o trabalho do outro, e principalmente as pessoas respeitam a hierarquia. Eu não fico dando pitacos em seu trabalho e gostaria que você não se intrometesse no meu, para o seu próprio bem - diz calmamente Dr. Lourenço alisando seu gato preto de estimação no colo.

- Dr. Eu jamais iria questionar a sua competência ou querer me intrometer em seus assuntos. Acontece que eu sou o tutor do cara e realmente a saúde dele é uma coisa que me assusta no atual momento. Gostaria muito de poder compreender o porquê disso tudo. Porque ninguém mais demonstra alguma consideração com o estado do rapaz. Esses projetos nunca vão parar? Quando vocês vão considerar que atingimos a perfeição? Qual o preço que estamos dispostos a pagar?

- Dênis, se fosse alguma coisa mais séria já teríamos detectado. É que Pedro é uma pessoa muito sensível e às vezes, mesmo sem querer, quando uma pessoa não está muito disposta a realizar alguns tipos de trabalho estas questões psicológicas sempre acabam por se manifestar. Quanto aos projetos, infelizmente ele não é tudo aquilo que esperávamos então vamos ter que continuar a tentar.

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Dênis ficou irritado, olhou para o gato que o Dr. alisava no colo, depois desviou seu olhar para a janela, pôde ver o vento balançar suavemente os galhos das árvores do pátio, o sol, assim como sua paciência, já estava indo embora. O médico continuava a falar coisas para tentar tranquilizá-lo, Dênis se sentia como um idiota tendo que ouvir toda aquela baboseira. Tinha que haver algo a ser feito, ele não poderia simplesmente ouvir aquelas palavras evasivas e ver o amigo passar por aquela situação. O operador deu um longo suspiro se despediu do médico pesquisador e se retirou do recinto. Foi caminhando cabisbaixo para a portaria do CCO14, ele precisava dar uma caminhada fora dali.

Conforme andava Dênis se lembrava de histórias escabrosas que ouvira em sua época de treinamento, ainda na adolescência, elas contavam fatos que teriam acontecido no Bureau e envolviam devotos operadores que haviam se submetido a procedimentos acreditando que iriam melhorar suas capacidades ou simplesmente participar de projetos para melhorar a linhagem dos operadores. Esses relatos diziam que muitos desses procedimentos eram experimentais, sendo assim alguns davam certo, mas na maioria das vezes nem tanto. Alguns indivíduos desenvolveram doenças mentais, outros problemas crônicos que os levou a definhar. Vidas de homens e mulheres que, assim como Pedro estava fazendo, teriam se doado para que o Bureau se tornasse mais forte. Aquilo que era tratado apenas como uma lenda urbana entre operadores adolescentes, agora aos seus olhos talvez não parecessem conversas tão fantasiosas.

Ao terminar de atravessar o pátio pôde ver uma enfermeira entrando apressada na sala do pesquisador. Ele pode sentir uma adrenalina no ar, depois de alguns instantes Dr. Lourenço sai apressadamente em direção ao centro médico. Dênis segue de longe.

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