A Chave
Pedro apresenta febre intensa e sente fortes dores em seu antebraço que foi ferido pelos porcos e também é levado ao CCO14 (centro de controle operacional do Bureau, localizado no interior do estado de São Paulo) para se tratar com Dr. Lourenço, o médico que o cuidou desde sempre. Chegando lá o velho médico retira o curativo e pode verificar que o ferimento estava bem infeccionado. Ele pede a uma assistente que faça a assepsia e depois o chame de volta.
Pedro percebe que os gatos de Lourenço não estavam no local. Isso explica a pressa do médico em se afastar.
- Onde estão os gatos do Dr.? – pergunta à assistente.
- Estão no veterinário, parece que eles mataram um morcego... Precisam tomar umas injeções e fazer exames...
Pedro sente uma enorme curiosidade em tentar escanear o cérebro do antigo pesquisador, quem sabe conseguir alguma informação a respeito de Dênis, afinal já faz tempo que eles não dão uma informação mais concreta... A assistente termina e vai avisar o médico.
Dr. Lourenço entra, olha para Pedro esboça um sorriso para disfarçar seu incômodo. O médico pede para que Pedro mostre o ferimento, ele põe seus óculos na ponta do nariz e gira o braço machucado do paciente de um lado para o outro várias vezes.
- Dói quando eu faço esse movimento?
- Um pouco doutor. A sensação é mais de calor.
- Hum! Você passou um mau bocado nessa hein!?
- Pois é... Dênis costuma dizer que a tendência é sempre aumentar a emoção, parece que ele está certo.
Pedro faz a leitura do encéfalo do velho médico, ele pode perceber certo estresse no homem. Um desconforto, medo. Pedro fica preocupado.
- Dr., e sobre o Dênis... eu realmente gostaria de ter informações mais concretas sobre ele, quando poderemos vê-lo? O tratamento está dando certo?
- Meu rapaz, eu estou tão preocupado quanto você. Nós pensamos que era apenas um probleminha à toa com estresse, mas parece que a coisa é muito séria, tão séria que o pessoal da esfera superior ainda não descobriu como resolver isso. Já faz um tempo que também não o vejo. Só posso lhe garantir que estão cuidando da segurança e da saúde dele. Nesse estado se ele estivesse aqui conosco poderíamos correr riscos desnecessários... você entende isso?
- Eu juro que tento doutor, eu juro... - responde o operador com um ar descontente.
Apesar da secura da resposta Pedro pode ler através de seu implante que o médico provavelmente estava falando a verdade sobre Dênis, ou talvez meias verdades.
O médico o encara com certo olhar de desaprovação por não obter uma resposta mais submissa por parte de seu operador.
O rapaz acha estranho ler as emanações elétricas do encéfalo do médico, ele só pôde fazer isso por causa da ausência dos felinos, pois se eles estivessem ali isso não seria possível devido à forte presença mental que esses animais possuem, funcionando como bloqueadores naturais. Se ele tentasse, isso lhe causaria fortíssimas dores de cabeça e até hoje nenhum operador consegui romper a barreira dos felinos, a não ser por curtíssimos espaços de tempo.
O velho pesquisador evitava ao máximo conversar com operadores implantados sem a presença de seus amigos felinos, mas como Pedro era um soldado devoto e estava debilitado, o velho médico abriu uma exceção, mas acabou se arrependendo ao ver o comportamento atrevido do rapaz.
Se fosse em outra situação Dr. Lourenço exigiria atender na sala de encriptação, pois o local é blindado contra esse tipo investida, mas o local estava sendo usado pelo médico psiquiatra Dr. Oliveira e Cássia.
O médico examina o ferimento e pede para a assistente aplicar uma pomada, receita comprimidos e caminha até um armário onde apanha duas ampolas, uma marrom e outra azul.
- Pra que serve isso doutor?
- Pedro, meu caro... hoje você está fazendo perguntas demais...
O médico pede para a assistente aplicar a injeção e sai da sala sem se despedir. Pedro pode ler que o médico ficou bastante nervoso com as perguntas. Ele nunca havia sido tratado de um modo tão frio por ele quanto nesse dia... Pensa: "deve ser por causa dos gatos... ele deve estar se sentindo nu".
- O senhor sabe que o Dr. Lourenço não gosta de falar com os operadores quando está desprotegido, ele tem medo de vocês lerem a mente dele...
- E você tem medo?
- Eu não, não tenho nada pra esconder...
- Então me responda: pra que serve esse medicamento? Já faz algum tempo que não tomo essas coisas, mas consigo me lembrar que toda vez que tomo isso eu fico mau pra caramba...
- Eu não sei... o senhor sabe que eu não sei...
Pedro pode ler, através de seu implante, que a moça falava a verdade. Como uma forma de proteger seus segredos, o Bureau deixa alguns dos empregados da área de saúde totalmente ignorantes quanto aos procedimentos médicos, farmacêuticos e psicológicos de alguns setores.
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Na sala de encriptografia Dr. Delson não quis escrever nada e perguntou por que eles simplesmente não o matavam.
- Nós não somos assassinos, pelo menos ninguém desse CCO, além disso, se algum dia nós julgarmos que você não oferece mais perigo, talvez devolvamos um pouco da sua consciência, um pouco mas não toda. Explica Dr. Oliveira.
- De colega pra colega, posso lhe perguntar como isso funciona?
- Pois não colega! Nós vamos injetar em você algumas substâncias que vão abrir alguns receptores em seu cérebro para que possamos acessar seu subconsciente. A combinação das drogas certas encriptará o seu cérebro, ou seja, as informações estarão lá no seu subconsciente, mas sua consciência não poderá acessá-las.
- Mas você disse que talvez um dia vocês poderiam me devolver o controle de minha mente! Como poderiam fazer isso?
- Quando administramos as drogas também temos que trancar o seu subconsciente com uma chave caso contrário quando o efeito das drogas passassem sua mente funcionaria do mesmo modo que antes.
- E como essa chave será inserida? Cirurgia?
Dr. Oliveira solta uma larga gargalhada.
- Não, isso já não é usado faz tempo, cirurgias, choques elétricos e tortura são coisas do passado, a chave que utilizamos hoje em dia usa a tecnologia de frequência. Ela pode entrar em seu cérebro por qualquer um dos seus sentidos, mas por uma questão de praticidade escolhemos a audição e a chave é geralmente uma música. Espero que goste de Pink Floyd...
Pedro continua o tratamento mas agora presta muita atenção a respeito dos medicamentos que lhe são administrados. Ele tenta obter alguma informação a respeito da composição das drogas, mas os frascos não tem nenhuma descrição.
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Após alguns dias Cássia e Raimundo soltam o ex-médico na orla de uma famosa praia de Fortaleza. Dão-lhe uns trocados e desejam-lhe boa sorte. O homem está vestindo calça e camisa social e chinelos de dedos, sua barba já está por fazer há alguns dias, não porta nenhum documento.
Ele pergunta pra onde deve ir e eles dizem para que espere por sua família pois iriam buscá-lo. Cássia e Raimundo saem caminhando sem olhar para trás dobram a primeira esquina e dão uma volta no quarteirão passando novamente pelo homem.
- Tem horas amigo? – Pergunta Raimundo.
O homem olha para seu pulso e diz:
- Não, eu estou sem relógio... – o olhar do homem se perde em direção ao mar, ele fecha um pouco os olhos de modo a protege-los do brilho do sol forte, a brisa sopra em seu rosto e ele parece estar maravilhado com o local.
- Eu já não te conheço de algum lugar? – Indaga Cássia.
- Eu não sei, eu não consigo me lembrar de nada, eu nem sei como vim parar aqui...
Cássia e Raimundo sorriem e vão para o hotel, eles ainda tem dois dias para curtir aquele paraíso e observar como o ex-médico do prefeito irá se virar.
No outro dia o homem já estava junto de mais três novos amigos moradores de rua, ele carregava um saco preto consigo, eles estavam sentados na sombra de uns coqueiros.
- Agora ele já não morre mais de fome, os novos amigos vão cuidar dele, acho que podemos aproveitar o restante da estadia. – Raimundo concordou com a colega.
O segurança teve um destino parecido no Tocantins.
De volta à cidade onde essa missão se iniciou, o ex deputado Fontoura foi eleito como o novo prefeito. E dessa vez o governante governará realmente em favor do desenvolvimento de seu povo, respeitando as leis e atendendo aos anseios dos cidadãos, é o fim de uma era de exploração onde a população era tratada como gado.
O Bureau continuará cuidando bem de perto dos senhores Mendonça e Fontoura.
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