Treze - Keline
Eramos treinados para proteger nossos superiores. Por conta disso, todos os imediatos prostraram-se na frente seus tenentes-capitães. Porém, eu não precisava que Elandro me protegesse, algo que Jacal não podia se gabar de ter.
— Leve o Jacal para um local seguro, ou faça alguém de outra aliança o proteger.— Dei a ordem, firmemente. O homem concordou com a cabeça, desaparecendo na confusão que vinte alianças fizeram no palco de pedra.
Tinha descoberto o por quê das Orethel estarem por ali.
Nunca achei que bruxas sujariam seu nome e suas mãos apenas por raiva das minha escolhas e da existência de Alexandrer.
— Calissa! Marine!— Chamei, as duas prostrando-se ao meu lado um momento depois.— As Orethel, Calissa com as mães, Marine com as filhas. Elementares do fogo.— A sombra e a mulher corpulenta desapareceram palco abaixo. Procurei com o olhar minha família. Era instinto de uma bruxa proteger sua matriarca, mas acho que Aretha Reverdon não precisava disso. As três mulheres Reverdon caminhavam calmamente para a saída mais próxima, minha bisavó no meio, como se a cerimônia apenas tivesse acabado. Reprimi um sorriso de satisfação.— Alexandrer!— Como qualquer outro, o bruxo ouviu meu chamado, prestando total atenção mesmo estando a alguns metros.— As Orethel.
Foi suficiente para que entendesse tudo. Apenas por desencargo, procurei o pai e a mãe de Elandro. Não era exatamente satisfatório ver o próprio Elandro conduzir sua família para fora, mas ao ver Jacal rodeado pro três alianças inteiras, a preocupação se fora.
Voltei minha atenção para as Orethel. Calissa e Marine dominaram as duas filhas da matriarca, e as duas netas mais novas. Alexandrer rodeou a matriarca, com seu fogo, mantendo a força de tal forma que a mesma não conseguia tomar as chamas para si. As facas e as armas apontadas para o pescoço e cabeças das mães e filhas também as inibiam de tentar qualquer coisa. Foi fácil dominar a herdeira. As pedras de areia era fáceis de manusear, e prenderam os pés da moça no chão, de forma simples.
E diziam que Alexandrer não era digno. Aquelas bruxas caíram praticamente sem luta. A Deusa puniria aquela desonra para as Orethel, pela justiça da nossa raça.
Os humanos pararam de correr. Kirk e Elandro me flanquearam, enquanto levávamos as Orethel para cima do palco. Minha matriarca havia parado perto da saída, observando aquilo tudo, minha mãe e avó ainda ao seu lado, agora com expressões idênticas de tédio.
— Apenas sete adagas.— Kirk anunciou no meu ouvido.
— Covardes.— Reprimi um grunhido de asco.— Atacar um grupo de humanos, uma premiação onde não estão esperando um ataque. Deveriam ter vergonha de manchar seu nome...
Estava preparada para discursar e destruir o nome das Orethel, quando palmas surgiram do fundo do auditório, se sobrepondo à minha voz. Centenas de cabeças humanas olharam para o mesmo ponto que eu, virando-se ao mesmo tempo. Prendi minha respiração, torcendo para ter disfarçado bem a ação.
Larya Yuriquer jogou as tranças completamente brancas pra trás, caminhando devagar pelo corredor do meio do auditório.
Minha primeira reação foi reverência-la profundamente, ajoelhando no chão e esquecendo completamente das Orethel. Vi minha aliança repetir meu gesto, em formação.
A Sub-General barbara subiu calmamente no palco, o rosto incrivelmente lindo sério e impassível. Larya piscou os cílios escuros como a sua pele, alternando o olhar entre minha aliança e minhas prisioneiras.
— Levantem-se.— Ordenou, imponente, a voz extremamente melodiosa e leve, e a obedecemos em meio segundo. Jacal praticamente correu para prestar suas reverências à General Larya, segunda no comando de todo o império.— Essa demonstração de poder foi muito mais verídica do que qualquer prêmio ou condecoração recebida. Liberte as Orethel. — Direcionou um olhar fulminante para Jacal.— Serviram ao seu General muito bem.— As bruxas Orethel reverenciaram Larya, e Jacal as direcionou para uma saída. Escondi minha expressão de indignação por trás da mascara impassível, sabendo que minha aliança fazia o mesmo.— As bruxas foram muito bem pagas para essa tentativa de assassinato, mas que era extremamente necessário para que vocês fossem testados, e escolhidos para uma missão especial.— Não tinha permissão para contesta-la, pois tinha amor à minha vida. Larya virou-se para a multidão de humanos, e para as outras alianças que continuavam por ali.— Obrigada pela presença de vocês por aqui, mas o show acabou. Podem ir para a casa e seguir suas vidas.
Todas as pessoas presentes no auditório, com exceção da minha aliança, reverenciaram Larya profundamente, e então seguiram para as saídas.
Minha aliança se posicionou em formação às minhas costas. Pude ver a satisfação faiscando por um momento nos olhos antigos e poderosos da Sub-General, e então a mulher disse, suavizando sua expressão.
— Me acompanhem.
Eu não sabia realmente o que esperar de Larya Yuriquer. Mas podia dizer que não era a expressão impassível, que parecia costurada naquele rosto incrivelmente bonito, ou os ombros aparentemente relaxados que ela jamais tirava do corpo. A bruxa assoprou a fumaça que saia do café que duas trabalhadoras humanas haviam servido para ela casualmente, o mesmo café que eu recusei quando nos sentamos.
A Sub-General nos levou a uma sala da qual jamais tivemos permissão de entrar, e assim que a bruxa abriu as portas duplas e pesadas de madeira de lei, como se não passassem de uma pluma, descobri a razão. Era uma sala destinada apenas à pessoas do alto escalão, um privilégio que a segunda no comando de todo o império devia ter. A sala era enorme, decorada com o brasão do império bordado em tapeçarias que cobriam as paredes, revestidas de madeira de lei. O chão, ao invés da pedra polida do resto da grande arena, era completamente acarpetado. Um sofá enorme e uma poltrona de veludo eram responsáveis pela aparência de sala de estar, junto às mesinhas de canto e aos tapetes no chão.
Não era o que eu deveria estar fazendo, e me recriminei de todos os jeitos pelo ato, mas meus instintos apitavam de todas as maneiras para analisar a mulher, uma incógnita se formando na minha mente. Observei a Sub-General, que estava deitada em uma espreguiçadeira de veludo e madeira de lei, tomando seu café com uma calma absurda. Me recostei no sofá, uma pergunta para Kirk, que ao entrar havia escolhido se recostar na parede de madeira de lei, os braços cruzados. Bateu o pé no chão quase inaudivelmente dezoito vezes. Dezoito adagas invisíveis. Apesar do número alto, não estava surpresa. Percorri com os olhos os cabelos trançados na altura da cintura, brancos naturalmente e não pela idade, pela pele negra não muito característica da raça das bruxas, as botas grossas e poderosas, chegando até o meio das coxas, as roupas simples mas adornadas de couro muito mais caro do que o que cobria minhas vestes, o tecido a tornando casual.
Mas nada em Larya Yuriquer era naturalmente casual.
Cada poro daquela mulher era calculado, cada ação era medida, de uma maneira nada amadora. O único motivo que consegui enxergar a falsa casualidade, é que algo se sobrepunha a toda a máscara extremamente bem esculpida. Ela exalava imponência e poder em cada gesto, até mesmo enquanto sorvia café com os lábios carnudos e o corpo curvilíneo jogado em uma espreguiçadeira. A escolha da joia que contornava seu pescoço foi a última confirmação que precisava. Não era como a minha, a joia de uma herdeira, mas muito mais imponente, muito mais poderosa. A joia de uma rainha. Um arrepio subiu pela minha coluna quando constatei que Larya era exatamente isso para os Bárbaros.
O equivalente à uma rainha.
Minha aliança percebeu minhas costas eretas. Elandro, sentado a minha direita no grande sofá como sempre estava, apoiava-se contra o braço do móvel, jogando um jogo parecido com o da Sub-General. Muito mais medíocre, não podia negar. Calissa ocupava o lugar que normalmente tinha o nome de Marine ou de Kirk tatuado, à minha esquerda, pois a sombra sabiamente escolhera se posicionar perto das duas trabalhadoras humanas, tornando-se quase esquecida. Alexandrer fazia seu trabalho bem, sentando-se na poltrona entre o sofá e a espreguiçadeira, observando com uma atenção despudorada. Se Larya, com sangue de bruxa correndo pelas veias se incomodou com a proximidade do bruxo, não transpareceu.
A primeira emoção pura que vi aquele rosto de traços escuros e olhos profundos emitir, foi um sorriso satisfeito.
— Vocês são bons no que fazem, é inegável.— Ela colocou a xícara de café na mesinha ao seu lado. Então me encarou profundamente, analisando-me. Se fosse qualquer outro ser na grande arena a fazer a ação, Alexandrer deixaria o ar praticamente irrespirável, apenas como um aviso. Mas ele tinha amor a própria vida, e principalmente, dar o aviso seria assinar a minha declaração de óbito.— Tenente-Capitã Keline Reverdon, apresente sua aliança à seus superiores.
Não era um pedido.
— Keline Reverdon, líder da aliança, tenente-capitã 57, atiradora de elite com besta e infantaria nível 6, bruxa elementar da terra. Elandro Wisnton, tenente-imediato 57, infantaria nível 9, humano. Marine Patreon, sombra, soldado-espiã, sub-imediata, infantaria nível 3, humana. Kirk Harolmel, soldado-flanqueador expecializado em venenos, mercenário, infantaria nível 5, humano. Calissa Yacal, soldado-flanqueador, mercenária, infantaria nível 13, humana. Alexandrer Voltan, soldado-retaguarda, infantaria nível 4, bruxo elementar do fogo.— Larya concordou com a cabeça devagar ao ouvir a raça de Alexandrer, mas não parecia indignada.— Legião Escuridão, aliança 19, área três dos desertos, Wonderfull. Status de missões: Invicta.
— Preciso dizer que a escolha dos membros de sua aliança é curiosa Keline.— Disse. O som do meu nome saindo casualmente de seus lábios arrepiou-me.— Curiosa, porém, dentre todas, a mais eficiente. Por essa eficiência, General Sombra é condolente com seu povo, qualquer um que se dobre ao império é bem aceito.— Analisou um por um dos membros da minha aliança.— Uma sombra como terceira no comando é uma decisão arriscada, eu escolheria um dos mercenários, mas está dando resultado. Kirk não é?— Voltou sua atenção para meu mercenário. Com um movimento rápido demais para a minha visão acompanhar, ela atirou uma adaga contra Kirk, a arma sendo fincada no espaço imediatamente ao lado do soldado.— Vocês tem bons códigos. E são dezenove, prefiro números impares. Não afie suas armas no dia anterior ou durante uma missão, o cheiro de pedra e metal se torna muito mais perceptível à soldados como você, Kirk. Essa adaga está afiada a meses.— Kirk concordou com a cabeça. Com os olhos brilhando de assombro, arrancou a adaga da parede, entregando-a à Larya.— Esqueceu um detalhe na apresentação tenente-capitã.— E encarou o colar que cobria meu pescoço.
— Herdeira.— Completei.
Larya sentou-se. A postura ereta dava muito mais imponência e poder à ela. O tom de voz a seguir foi baixo e firme, quase irônico.
— Sua família deve apreciar muito a escolha de profissão.
— Me negariam o título se a matriarca permitisse.
A bruxa trocou um olhar comigo que quase poderia ser chamado de amigável. Calissa e Elando sentaram-se mais eretos ao meu lado. Uma proteção inegável da minha aliança, da qual mais tarde agradeceria corretamente.
— Temos negócios a tratar.— Anunciou em alto e bom som, e não nos demos ao trabalho de esconder a curiosidade por meio de mascaras impassíveis. Larya recostou-se na espreguiçadeira.— Vocês conhecem a lenda da criação da realidade, certo?— Assentimos por um momento.— Portanto, devem conhecer a arma criada por Destino, divididas em sete pedras, e toda essa situação complexa. Não são da legião usada para a proteção do labirinto, mas conhecem o que percorre todo o subsolo deste planeta. E o que esse labirinto protege.
— É só uma lenda.— Clarissa murmurou, o assombro na voz um tanto quanto plantada, deixando a afirmação menos insolente. Inteligente.— São só lendas.
— Toda lenda tem um fundo de verdade.— Anunciei. Calissa calou-se, sem dar sinais de que continuaria falando. Era melhor assim, algo grande estava para ser posto em nossas mãos.— O que quer de nós, Sub-General Larya?
— As Orethel foram pagas para aplicar um último teste na sua aliança Keline, para confirmar todas as missões concluídas com sucesso que empunham com orgulho. Para confirmar que são bons o suficiente para servir à uma missão especial do império.— Um sorriso lascivo cortou o rosto da bruxa. Alexandrer se remexeu desconfortável na poltrona, a magia claramente se agitando.— Estamos com um problema. Alguns deuses estão indo contra planos de General Sombra para nosso império, colocando todas as fichas em sete jovens humanos. Apenas jovens humanos.— Me recostei no sofá, deixando um sorriso de canto de boca surgir nos lábios. Coloquei uma mecha do cabelo verde cor de sangue de dragão atrás da orelha, cruzando as pernas. Informantes nossos afirmam que esses jovens já possuem uma das joias, e que a próxima na mira é a joia que as lendas apontam estar escondida e muito bem guardada pelo labirinto de Wonderfull. Acho que entendem o que deve ser feito.
— Devemos dar um fim a eles.— Anunciei, deixando um largo e sádico sorriso cortar meu rosto.
— Exatamente, Keline Reverdon. E garanto que você e sua aliança serão muito bem recompensados pelos seus serviços.— Uma das trabalhadoras serviu mais uma xícara de café para a bruxa, que sorveu rapidamente um longo gole. Então, me encarou profundamente por cima da xícara, a porcelana branca brilhando.— Claro, se prestarem bem seus serviços...— A trabalhadora me ofereceu o café também.
Desta vez aceitei.
Aproveitei enquanto todos eram servidos de uma xícara de porcelana para sopesar os prós e contras.
Minha aliança era a melhor nesta área, talvez a melhor deste planeta. Ferimentos eram pouco para a visibilidade que poderíamos conseguir, que receberíamos por concluir uma missão vinda direto do império. Concluiríamos. Afinal, eram apenas sete jovens humanos.
Larya me observava sem muita discrição, a pergunta flutuando na escuridão daqueles olhos, brilhando contra a pele igualmente escura. Sorvi um pouco mais do líquido energizantes, antes de dar o veredicto.
— Prestaremos bem o serviço, não se preocupe.
A bruxa apenas sorriu.
AIIINNN, Larya e Keline, igual os amores da minha vida. Eu amo essas mulheres, sinceramente, mesmo que elas sejam do lado Bárbaro da história, falando nisso, o que vocês acham da visão do lado dos Bárbaros? Coloquem suas opiniões e teorias nos comentários, e não se esqueçam da estrelinha que me ajuda pra caramba!!!
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