Quatorze - Lucas
Não conseguia tirar Gael da minha mente. Os olhos puxados, que sempre tinham aquela expressão brincalhona me preocupavam. Por que, da última vez que olhei pra eles, estavam suspeitando daquilo que temos que esconder.
— Lucas, se você realmente quer esconder que provavelmente mostrou nosso segredo, é melhor mudar essa cara.— Jesse me cutucou por baixo da mesa da sala de jantar, resmungando baixinho, e revirou os olhos.
Genezis e Kille estavam sentadas do outro lado da mesa, parecendo preocupadas demais com os papéis que estavam espalhados do que com a nossa conversa, mas não eram bom arriscar.
—Desculpa cara, mas não consigo tirar isso da cabeça.— Passei as mãos no rosto, tirando a tensão.
— Acho bom você começar a se acalmar.— Trincou os dentes.— Você sabe como seres humanos são, nem se ela contar pra toda a cidade, poucos acreditariam em uma adolescente que jura ter visto a água subindo no braço de outro surfista magicamente. Relaxa e se acalma.
Balancei a cabeça, encarando o notebook de Jesse aberto na nossa frente, fingindo pesquisar alguma coisa importante. Ia tentar me distrair, mas sinceramente, aquilo era preocupante, e imaginar que a nossa missão tinha ganhado um problema por minha causa... Essa possível culpa estava me matando. E além de tudo isso, era fácil me distrair com a lembrança do último olhar de Gael... Na verdade era fácil se distrair com qualquer lembrança daquela garota...
Só levantei o olhar do notebook quando Hugo entrou na sala de jantar, Madi, Helena e Rosh vindo junto. O que significava que o comunicado era importante. Me arrepiei inteiro, mas Hugo não disse nada até todo mundo estar sentado, e prestando atenção nele.
— Anne comunicou algo importante para nós a mais ou menos duas horas... Mas claro, não consegui dar a informação no mesmo momento, por que parece que é muito difícil encontrar os sete em casa no mesmo momento...— Ele lançou um olhar que poderia matar alguém na direção da Helena.— O fato, é que nosso informante infiltrado nos Bárbaros, avisou que um grupo foi mandado para dentro do labirinto de Wonderfull.
Hugo deu um momento de silêncio pra digerirmos tudo.
— Descobriram que já temos uma das pedras.— Rosh disse. Nós sete demos um suspiro coletivo de decepção.
— Agora é uma corrida contra o tempo, esperamos demais para mandar vocês, esperando que estivessem melhor treinados. A equipe que mandaram é nativa dos desertos, deve conhecer melhor as lendas e o próprio labirinto. Não vou mentir, vocês estão em desvantagem...— A cara que Hugo fez não era muito motivadora.— Vocês serão mandados para a missão amanhã.— Concordamos com a cabeça.— Vocês devem tomar cuidado, e aproveitar essa pequena carta na manga que tem, a magia. São humanos, não esperam que vocês consigam controlar a magia, usem isso a favor de vocês!— Eu, Helena e Genezis concordamos com a cabeça.— E como não foram todos que realmente desbloquearam e usaram essa magia que tem, Kortry e Felin se ofereceram para ensinar a canalizar o rio de magia em feitiços simples. Elas juram que vocês conseguirão fazer alguns feitiços até o anoitecer, e é isso que farão hoje. Desçam até a Sala de Aço.
— Eu vou desmarcar uns compromissos, já desço.— Genezis avisou.
Hugo concordou com a cabeça, mas parecia nem ter ouvido. Ele e Madison tinha a mesma expressão na cara. Preocupação.
As duas irmãs nos colocaram sentados em um círculo no chão da Sala de Aço. Felin tinha transformado a sala em um campo enorme de flores. A magia tinha feito até o vento do campo, e sumido com o cheiro de maresia.
— Prestem atenção.— Felin disse, firme, os quatro braços pousados nas pernas.— Magia é idealização, pensamentos. Idealize o que você quer que aconteça, esse é o primeiro passo. Mas existem ferramentas que tornam a magia mais simples de ser feita, como poções, ou palavras ditas em voz alta. Palavras, é o que vocês vão aprender agora. Chamamos isso, no meio magico, de feitiços. Qualquer magia feita com uma palavra condutora, é considerada um feitiço.— Ela passou os olhos completamente negros, vendo se estávamos prestando atenção.— Alguns feitiços são simples, requerem um nível baixo de conhecimento e da própria magia, como alguns feitiços de cura e de proteção. Normalmente, qualquer feitiço que ataque, é mais complicado de aprender, requer mais tempo. Por isso, hoje, o que vamos ensinar hoje, são feitiços de cura e escudos mágicos simples.— Eu fiz cara de surpreso, e Felin sorriu, vendo que estávamos confusos.— Helena pode fazer um escudo muito mais forte e grosso de gelo, Genezis poderia transformar qualquer arma em um escudo de metal, mas não acho que Lucas consiga uma quantidade suficiente de água para parar um golpe no meio do deserto. Mesmo assim, todos prestem atenção.
Felin puxou um pequeno punhal, bem simples, e rasgou um bom arranhão no braço vermelho, fazendo todos se encolherem de agonia por causa do sangue mais escuro do que sangue humano. A mulher não parecia muito preocupada, nos encarou, e disse bem alto.
— Costure-se.— E como se uma agulha tivesse realmente costurando, o arranhão se fechou, pedaço por pedaço, sem deixar nem cicatriz no lugar. Felin abriu um sorriso quase obsceno, estendendo o punhal.— Quem se voluntaria?
O silêncio foi tão grande que nem dava pra ouvir a respiração de nenhum de nós.
— Eu.— Me voluntariei, pegando o punhal. Olhei pra faca, a coragem diminuindo. Respirei fundo, cortando um pedaço bem dolorido da parte de cima do meu braço, trincando os dentes, mas mesmo assim soltei um gemido de dor.
— Vai ser mais fácil, pode ser de olhos abertos mesmo, conduza a magia para seu braço e diga a palavra.— Fiz o que Felin mandou, vendo o corte se fechar rapidamente, a dor virou um formigamento leve.
Vendo como foi simples, Helena e Genezis fizeram a mesma coisa, os cortes se costurando rápido. Rosh também tentou, demorando um pouco mais e várias tentativas pra conseguir fechar o corte, mas conseguindo. Kille e Jesse tentaram juntos, demorando o suficiente pra deixar pingos de sangue na grama.
Madison foi a última a tentar. Fazer o corte não foi a parte difícil, ela nem gemeu ou fez uma careta de dor, mas sim a parte de cicatrizar. Madi fechou os olhos, e tentou várias vezes, sem que nada acontecesse. Quando Madison começou a ficar um pouco desesperada, Felin disse:
— Cure-se, ou cicatrize, também podem funcionar, se for mais intuitivo pra você. Respire fundo, imagine a pele se fechando, não é difícil, só é preciso calma.— Madison concordou.
Ela respirou fundo, e disse bem baixinho, cure-se. Então deu um sorriso largo, vendo o corte se fechar devagar.
— Isso foi bom, demoraram apenas uma hora para conseguir fazer um feitiço.— A mulher de pele vermelha disse.— Como já são duas da tarde, vocês precisam descansar e o próximo feitiço é mais complexo, não vamos fazer vários testes. Agora prestem atenção de novo, esse feitiço é um pouco mais complexo e precisa de um pouco mais de foco.— Ela levantou, fazendo sinal para seguirmos. Kortry pegou um galho jogado no chão e entregou para Felin.— Esse feitiço é mais complicado pelo fato da magia precisar "sair" do corpo, ser transmitida para fora, como aconteceu na hora que alguns desbloquearam. Mas não é a mesma coisa, por conta da palavra condutora. Algumas raças de seres mágicos, consideram o feitiço algo impuro, por que usa justamente palavras para conduzir ao invés da magia pura. Feiticeiros e magos, que usam desse recurso não são muito bem vistos no mundo magico por essas pessoas. Nossa raça, como acho que repararam, não é uma delas.— Felin apontou para si mesma, com o par de braços superior.— Feitiços simples podem ser conduzidos por palavras diferentes, mas terem o mesmo fim, como o que Madison fez. Mas apenas feitiços simples, como os que estamos ensinando pra vocês. Jamais troquem a palavra de um feitiço caso não saibam se é seguro, isso pode consumir sua magia e faze-la se voltar contra você. Para esse feitiço de escudo, vocês devem idealizar uma bolha da sua magia em volta, ou ao menos imaginar algo parecido com um escudo. Coisas como proteja-me ou escudo são as mais adequadas. Mas é um feitiço que alguma outra palavra pode funcionar, podem tentar sem medo.
De novo, eu, Helena e Genezis começamos tentando fazer o feitiço. Não foi difícil, Kortry atirou o graveto pra cima de mim, e foi fácil deixar a magia fluir pelos dedos rápido e dizer escudo. O graveto ricocheteou em uma parede invisível, quicando pro chão. Aconteceu a mesma coisa com a Genezis, mas Helena, dois segundos depois do graveto ricochetear, o escudo de magia se revestiu de gelo, quase formando uma bolha em volta dela.
— Ok, quando vocês voltarem vamos precisar controlar um pouco mais a magia...— Felin resmungou, quando Helena fez o gelo cair e quebrar na grama.
Jesse e Rosh demoraram quarenta minutos cada um, e umas trinta gravetadas na cara, pra finalmente o graveto ricochetear no escudo e Felin se dar por satisfeita. Já Kille, conseguiu depois de quinze minutos, e dava pra sentir seu escudo chegando até o chão.
Mas o verdadeiro problema foi a Madi... Na primeira hora de tentativas, Felin não disse muita coisa, só esperou a irmã jogar o graveto várias vezes e ele cair na Madi em todas as tentativas. Depois dessa primeira hora, ela estava suada e com a cara toda vermelha, e Felin tinha cruzado os braços de cima e colocado os de baixo na cintura.
— Acho melhor o resto de vocês irem descansar, e nós continuamos por aqui. Pode ser que demore um pouco...— A mulher de pele vermelha suspirou, encarando a Madi.— Podem subir, raspem a mão na arvore que a maçaneta da porta está lá.
Eu e Helena ficamos sentados na grama falsa, enquanto os outros saíram, abrindo a porta da Sala de Aço na arvore, uma cena muito estranha na verdade. Madi se jogou na grama também, no meio de mim e da Helena. Ela piscou os olhos pro céu falso, cansada, mas dava pra ver a tristeza no olhar também. Kortry se sentou também, olhando pra grama.
— Se eu for apostar em alguma coisa, diria que você tem uma trava de magia Madison, provavelmente emocional.— A mulher de pele azulada disse, dando um surto em mim e em Helena. Nunca tinha ouvido mais de duas palavras saírem de uma vez da boca de Kortry. Mas Madi não pareceu se preocupar com isso, perguntando:
— O que é uma trava de magia? Mais esse problema agora, bem agora, sério?
— Calma, você ficar nervosa não vai ajudar, só vai piorar a situação.— Kortry fez Madi deitar de novo.— A trava de magia é alguma coisa que te impede de usar sua magia de algum jeito, seja algo físico, ou como eu acho que é o seu caso, algo emocional. Alguma coisa em você Madi, deixa muito difícil usar magia, talvez você se autossabote, ou sinta alguma coisa muito forte que te sabota.— Madi concordou.— Você vai ter que se ajudar.
Madi fechou os olhos, cansada, e ficou. Só percebi o que ela estava fazendo quando disse, bem baixinho ajuda, e Felin soltou o graveto em cima dela. Mas ricocheteou. Helena começou a rir.
— Calma, é o segredo disso tudo.— Madi respirou fundo, abrindo um sorrisinho.
— Vão descansar, vocês precisam.— Felin resmungou. A Sala de Aço começou a voltar a ser só uma sala, a grama desaparecendo. Estava nos expulsando educadamente.
Nós três saímos. Mas, quando a gente entrou no elevador, reparei que mesmo Madi estando com um sorrisinho no rosto, ela não estava feliz de verdade.
De manhã, Ametista fez questão de acordar a casa inteira assim que amanheceu, antes da gente tomar café até, abrindo o redemoinho de areia que conhecíamos tão bem. Nós sete aparecemos na varanda, as caras amassadas e todos ainda de pijama.
— Bom, sinceramente, achei que vocês estariam mais preparados de manhã.— A deusa disse, olhando pra nós, que corremos rápido pra sentar nos sofás da varanda.
— Nós temos um treino antes do café da manhã, e se você perguntar pro Hugo, ele vai confirmar que a gente fica com essa mesma cara.— Kille disse, amarrando o cabelo.
— Vocês terão que tirar essas caras, se quiserem sobreviver.— Encarou um a um, a cara irritada.— Ou já esqueceram do que aconteceu na última missão? Já esqueceram que quase morreram? Vão precisar estar alertas para saírem desse deserto com o coração batendo, ou os próprios Bárbaros engolirão vocês vivos! Isso não é mais a primeira missão de vocês, sabem o que vão poder encontrar, e a cada planeta, vão achar um desafio diferente. Levantem-se!— Sem contestar, todo mundo se levantou, de cabeça baixa com um pouco de vergonha.— Wonderfull vai fazer de tudo para engolir vocês, destruir cada pedaço da mente e da sanidade, e como é um planeta controlado pelo império Bárbaro, duvido que não tentem matar vocês a cada esquina.— Ametista fez sinais com as mãos que brilhavam um pouco, fazendo feitiços enquanto murmurava baixinho. Ela trocou nossas roupas, deixando todos nós com uma versão diferente do macacão de treino, mais parecido com o que usam em desertos, o tecido muito leve cor de creme com uma listra da cor que representávamos dando um detalhe, parecia nem encostar na pele. Por baixo, dava pra sentir a regata contra o corpo e, ao contrário do resto das roupas, as botas era um pouco pesadas. Pegamos as armas e as mochilas que Ametista conjurou no chão. Embainhei Anêmona nas minhas costas, no compartimento que tinha na mochila.— As mochilas estão pesadas, por que, apesar de Wonderfull ser apenas um pouco maior que um satélite natural, esperamos que vocês passem mais tempo lá do que na primeira missão, e mandamos mais suprimentos. Tomem cuidado! Os desertos são enormes, e tem grandes perigos neles, os vilarejos costumam ter pessoas hostis à viajantes.— Ametista tirou de dentro da roupa, o mesmo colar que servia para avisar quando a missão estivesse terminada.— Madison, pegue.
Mas ela deu um passo pra trás, negando.
— Da ultima vez não deu certo... Não quero quase destruir nossas chances de voltar para casa nessa missão.— Ela olhou Incandescente, balançando a cabeça enquanto negava tudo.
— Bobagem. Vamos Madison, o colar é responsabilidade sua, e estamos perdendo tempo, cada segundo é precioso.— Ametista praticamente passou o colar com a joia pelo pescoço de Madi.
Ela estava irritada com alguma coisa naquele dia, tanto que Madi nem contestou, guardando o colar dentro da roupa desanimada. Ametista fez novos movimentos com a mão, e o portal de areia se abriu na prainha, girando mais rápido do que o normal.
— Se alguma coisa acontecer, e estivermos quase morrendo, acho bom você estar a postos para abrir um portal para nós.— Madison encarou Ametista, franzindo as sobrancelhas com a mesma irritação da deusa. Ametista respirou fundo, deixando a expressão mais leve.— Caso contrário, nossa morte vai ser totalmente culpa sua.
Todos nós sentimos a crueldade naquelas frases. Ametista se encolheu. Caminhamos, descendo pra areia e formando um círculo em volta do portal que fazia os grãos rodopiarem ao redor da gente.
— Vou mandar vocês para uma antiga vila destruída, que foi abandonada a muito tempo segundo nosso informante. E devem tomar cuidado, a vila foi destruída por uma besta, que ainda deve estar por lá. Alguns guardas patrulham as vilas abandonadas, prestem atenção neles também.— Ametista encostou na cerca da varanda, nos olhando.
Concordamos. Nós sete pegamos a mão um do outro, olhando para o portal rodopiante. Senti Madi apertar minha mão, e puxar o ar pra falar. Mas surpreendentemente, não foi só a voz dela que soou na prainha, mas a de todos nós, em uníssono.
— Pelo universo, por este planeta, e por todos nós.
Antes até da gente terminar de falar, pulamos, rodopiando portal a dentro.
AHHH!!! Meu coração ta quentinho de voltar a postar aqui!!! Já faz um tempo né? Mas hoje a gente tem MUITOS capítulos novos, kkkk Acho que dei uma certa endoidada. Eu ia postar mais cedo, mas ontem fiquei completamente sem internet, e isso rendeu a vocês mais um capítulo.
Gente, coloquem suas opiniões e teorias nos comentários, por que eu respondo todos eles e AMOOO ler, kkk. Também não esqueçam da estrelinha marota, por que ela é INCRÍVEL!! Até mais milhos pra pipoca!!! <3
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